Por Miguel de Rosário
Eu adoro o Merval Pereira. Ele é o imbecil perfeito. Se todos os colunistas de direita fossem tão débeis mentais como ele, as coisas seriam muito mais fáceis para o país. A sua diadribe de hoje é comparar o governo Lula com o governo Geisel. Tudo bem, liberdade de imprensa é isso aí. Cada um tem o direito de falar a asneira que quiser. Mas que guentem a porrada quando falam merda.
Bem, não é preciso QI elevado para saber as diferenças. Lula foi eleito, duas vezes, com a maior votação da história da democracia brasileira. Geisel chegou ao poder caminhando sobre o cadáver de nossa liberdade.
Mas saltemos esse detalhe. Merval fala sobre o programa nuclear brasileiro. Lula aprovou a construção da Angra 3 e liberou mais 1 bilhão para pesquisas no setor.
E aí vem seu primeiro erro, que beira um ato de traição. O colunista do Globo presta um belíssimo desserviço aos interesses nacionais. Nem Larry Rother, aquele agente da CIA travestido de jornalista do New Times, faria tão bem. Vocês acreditam que Merval junta dois ou três caquinhos e conclui que o programa nuclear brasileiro pode despertar suspeitas de que estaríamos querendo produzir a bomba atômica? Não basta as dores de cabeça que tivemos há alguns anos, quando tivemos que provar e reprovar ao mundo que não se tratava disso. A Agência da ONU veio aqui, como lembra Merval, e confirmou o que todo mundo sabia. O Brasil é de paz.
O domínio da tecnologia nuclear é fundamental para um país do tamanho do Brasil, com um potencial enorme de crescimento. Não podemos depender somente da energia elétrica, que nos deixa à mercê do regime de chuvas. Segurança energética é isso.
A estupidez de Merval, no entanto, vai ainda mais longe. Ele lembra que o governo Geisel também tinha um programa de álcool e faz uma observaçãozinha quase mal criada, de que não é verdade que tudo começou no governo Lula. Ora, qual o problema de Merval? Ele ainda trabalha para a campanha de Alckmin? CLARO QUE TUDO NAO COMEÇOU COM O GOVERNO LULA. Se o Lula fala isso de vez em quando é porque ele é político e quer vender o peixe dele. Se o Geisel teve programa de álcool e teve programa nuclear, ótimo. Se Lula retomou esses programas, remodelou-os, atualizou-os, excelente. Deixa de ser bobo, Merval. Lula não é cientista para inventar programa de álcool ou biodiesel ou nuclear. O que conta aqui é a inteligência de sua vontade política de retomar determinados programas interessantes ao país.
O pior ainda vem, esperem. É absolutamente inacreditável. Merval lembra que Geisel tinha uma estratégia para o crescimento econômico do Brasil voltada para três eixos: substituição das importações, aumento das exportações e estímulo à demanda interna.
Ora, ora, ora. De vez em quando o diabo também encaçapa a bola 7. A estratégia citada por Geisel é simplesmente a única que existe para um país crescer. De Margareth Tatcher, Roosevelt, Júlio César, Napoleão, Bill Clinton, qualquer governante que já existiu no mundo, e que assistiu algum tipo de crescimento em seu país ou império, fez parecido. Pois bem, Merval encerra a coluna lançando a pergunta mais besta que algum jornalista já lançou nos cinco mil anos da história da escrita ocidental. Ou Geisel estava certo ou Lula está retrocedendo ao passado? Escolham. Ponto final. Merval não dá outras opções. Não dá, por exemplo, a opção mais óbvia: a de que tanto Geisel quanto Lula estavam certos nas opções econômicas adotadas. Com a diferença que Geisel mentiu. O consumo interno no Brasil cresceu apenas entre as classes médias durante o regime militar. Nunca houve crédito popular durante a ditadura. Não havia combate à corrupção. Se um jornal denunciasse um coronel por desvio de verba, era taxado de comunista, preso, torturado e lançado do alto de um helicóptero.
Merval, fala sério! Respeita um pouco a inteligência de seus leitores.
Escrito por Miguel do Rosário