domingo, 15 de maio de 2011

Colorado, o campeonato ainda não tem vencedor


Manhã de domingo em Porto Alegre. Entre nesgas de sol e nuvens derramando esporádicos pingos de chuva, saio à rua. Em todos os cantos, vejo azul. Noto euforia tricolor. Colorado, fico constrangido. Não botei nenhuma das minhas camisetas do Inter. Será que entrei na farra gremista antes do jogo, marcado para às 16h? Esqueci que não existe jogo ganho na véspera? Não, colorado eu sou. Acredito!
A história mostra que nem sempre o "favorito" é o vencedor depois dos 90 minutos. Acompanho este negócio chamado futebol desde a década de 70 e já vi muitas reversões. Assim como o sol briga agora com a chuva nos céus porto-alegrenses, também veremos isso à tarde. Ao final da peleia, se vencedor, farei festa. Se perdedor, cumprimentarei os amigos do outro lado. Não posso fazer nada disso agora, quando faltam poucos mais de cinco horas para a bola rolar.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Travesseiro de Penas - Horacio Quiroga

Ofereço a vocês o pequeno (grande) conto do escritor uruguaio Horário Quiroga, publicado primeiramente em 1907. O Travesseiro de Penas é um dos melhores que já li e traduz os efeitos do ambiente sobre o ser humano. Ele não poupa situações de terror, morte e sofrimento. Com certeza, é um jogo sutil entre a realidade, as desventuras e o macabro. Aproveitem, sofrendo junto ou não.

Sua lua-de-mel foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva. Ela o amava muito, no entanto, às vezes, sentia um ligeiro estremecimento quando, voltando à noite juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta estatura de Jordão, mudo havia mais de uma hora. Ele, por sua vez, a amava profundamente, sem demonstrá-lo.

Durante três meses — tinham casado no mês de abril — viveram numa felicidade especial.


Sem dúvida ela teria desejado menos severidade nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta ternura; mas a impassível expressão do seu marido a reprimia sempre.


A casa em que viviam influenciava um pouco nos seus estremecimentos. A brancura do pátio silencioso — frisos, colunas e estátuas de mármore — produzia uma outonal impressão de palácio encantado. Por dentro, o brilho glacial do estuque, sem o mais leve arranhão nas altas paredes, acentuava aquela sensação de frio desagradável. Ao atravessar um quarto para outro, os passos encontravam eco na casa toda, como se um longo abandono tivesse sensibilizado sua ressonância.


Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar.


Não é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias; Alicia não melhorava nunca. Por fim uma tarde pôde sair ao jardim apoiada no braço dele. Olhava indiferente para um e outro lado. De repente Jordão, com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça, e Alicia em seguida se quebrou em soluços, e o abraçou. Chorou demoradamente seu discreto pavor, redobrando o choro diante da menor tentativa de carícia. Depois, os soluços foram-se acalmando, e ainda ficou um longo tempo escondido no seu ombro, quietinha, sem pronunciar uma palavra.


Foi o último dia que Alicia esteve de pé. No dia seguinte amanheceu desacordada. O médico de Jordão a examinou com toda a atenção, recomendando muita calma e repouso absolutos.


— Não sei — disse para Jordão na porta da casa, em voz ainda baixa. — Tem uma grande debilidade que não consigo explicar, e sem vômitos, nada... Se amanhã ela acordar igual a hoje, você me chama depressa.


No dia seguinte ela piorou. Houve consulta. Constatou-se uma anemia agudíssima, completamente inexplicável. Alicia não teve mais desmaios, mas ia visivelmente andando para a morte. Durante o dia todo, o quarto estava com as luzes acesas e em total silêncio. As horas se passavam sem se ouvir o mínimo barulho. Alicia dormitava. Jordão vivia quase que definitivamente na sala, também com as luzes acesas. Andava sem cessar de um extremo para outro, com incansável obstinação. O tapete abafava seus passos. Algumas vezes entrava no quarto e continuava seu mudo vaivém ao longo da cama, olhando para sua mulher cada vez que caminhava na sua direção.


Não demorou muito para Alicia passar a sofrer alucinações, confusas e flutuantes no início, e que desceram depois até o chão. A jovem, de olhos desmesuradamente abertos, não fazia senão olhar para os tapetes que se encontravam a cada lado da cama. Uma noite ela ficou repentinamente com o olhar fixo. Em seguida abriu a boca tentando gritar, e suas narinas e lábios se molharam de suor.


— Jordão! Jordão! — gritou, rígida de espanto, sem parar de olhar o tapete.


Jordão correu para o quarto, e, ao vê-lo aparecer, Alicia deu um brado de horror.


— Sou eu, Alicia, sou eu!


Alicia olhou para ele com olhar extraviado, olhou para o tapete, voltou a olhar para ele, e depois de um longo momento de estupefata confrontação, serenou. Sorriu e pegou entre as suas as mãos do marido, fazendo carícias e tremendo.


Entre suas alucinações mais obstinadas, houve um antropóide, apoiado no tapete sobre os próprios dedos, que mantinha os olhos fixos nela.


Os médicos voltaram inutilmente. Havia ali, diante deles, uma vida que se acabava, dessangrando-se dia após dia, hora após hora, sem se saber absolutamente por quê. Na última consulta, Alicia jazia em estupor, enquanto eles a pulseavam, passando de um para outro o pulso inerte. Observaram-na um longo momento em silêncio e encaminharam-se para a sala.


— Pst... — Deu de ombros, desanimado, seu médico. — É um caso sério... pouco se pode fazer...


— Era só o que me faltava! — gritou Jordão. E tamborilou bruscamente sobre a mesa.


Alicia foi-se extinguindo no seu delírio de anemia, que se fazia mais grave pe!a tarde, mas que cedia sempre nas primeiras horas da manhã. Durante o dia, sua doença não avançava, mas de manhã ela amanhecia lívida, quase em síncope. Parecia que unicamente à noite a sua vida se fosse em novas asas de sangue. Tinha sempre ao acordar a sensação de sentir-se derrubada na cama com um milhão de quilos por cima. A partir do terceiro dia esse desmoronamento não a abandonou mais. Apenas podia mexer a cabeça. Não deixou que pegassem na sua cama, nem sequer que arrumassem a almofada. Seus terrores crepusculares avançaram na forma de monstros que se arrastavam até sua cama e subiam com dificuldade pela colcha.


Perdeu depois o conhecimento. Nos dias finais, delirou sem cessar a meia-voz. As luzes continuavam fúnebres e acesas no quarto e na sala. No silêncio agônico da casa, não se ouvia mais que o delírio monótono que saía da cama, e o rumor abafado dos eternos passos de Jordão.


Alicia morreu, por fim. A empregada, que entrou depois para desfazer a cama, já vazia, olhou um momento com estranheza para a almofada.


— Senhor! — chamou ao Jordão em voz baixa. — Na almofada há manchas que parecem ser de sangue.


Jordão se aproximou rapidamente. Também se agachou. Efetivamente, sobre a fronha, de ambos os lados da cavidade que tinha deixado a cabeça de Alicia, se viam algumas manchinhas escuras.


— Parecem picadas — murmurou a empregada depois de um momento imóvel na observação.


— Aproxime-o da luz - disse Jordão.


A moça levantou a almofada, mas em seguida deixou-a cair, e ficou olhando para ele, lívida e trêmula. Sem saber por quê, Jordão percebeu que seus cabelos se eriçavam.


— O que é que há? — murmurou com voz rouca.


— Pesa muito — falou a empregada, sem parar de tremer.


Jordão levantou a almofada; pesava extraordinariamente. Saíram com ela, e sobre a mesa da sala Jordão cortou a fronha e a capa. As penas superiores voaram, e a empregada deu um grito de horror com a boca inteiramente aberta, levando as mãos crispadas às bandós. Sobre o fundo, entre as penas, mexendo devagar os pés aveludados, havia um animal monstruoso, uma bola viva e viscosa. Estava tão inchada que quase não se lhe via a boca.


Noite após noite, a partir do dia em que Alicia tinha ficado doente, ele tinha aplicado sigilosamente sua boca — sua tromba, melhor dizendo — às têmporas da mulher, chupando-lhe o sangue. A mordida era quase imperceptível. A remoção diária da almofada tinha impedido sem dúvida seu desenvolvimento, mas assim que a jovem não conseguiu mais se mexer, a sucção foi vertiginosa. Em apenas cinco dias e cinco noites, tinha esvaziado Alicia.


Esses parasitos das aves, diminutos no seu meio habitual, chegam a adquirir proporções enormes em certas condições. O sangue humano parece ser para eles particularmente favorável, e não é raro encontrá-los nas almofadas de penas.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Suficiente

Observe meu olhar, sinta minha atenção, valorize minha aproximação...
Então, me abrace e fique em silêncio. É o suficiente!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Vamos ao concerto da OSPA

É hoje - 5° Concerto Oficial da OSPA - 20h30min - na Igreja Nossa Senhora das Dores (Rua Riachuelo, 630 - Porto Alegre). Entrada Franca
Obras:
- J.S.Bach – Concerto de Brandenburgo n° 3
- J.S.Bach - Suíte Orquestral n° 1
- W.A. Mozart – Sinfonia n° 40

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Me exercitando novamente

Cinco meses depois da ruptura no menisco, que me obrigou a realizar cirurgia, voltei hoje às atividades físicas normais, como musculação, bicicleta e hidroginástica. Isso é muito bom porque a barriga vai diminuir...

Apresentação gratuita da OSPA

Curtam a excelente programação para amanhã. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre estará na Igreja Nossa Senhora das Dores (Rua Riachuelo, 630) apresentando obras de dois dos compositores mais importantes e influentes do ocidente – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Johann Sebastian Bach (1685 - 1750). O 5º Concerto Oficial será regido pelo Diretor Artístico da OSPA, maestro Tiago Flores. O concerto tem início com a execução do Concerto de Bran...denburgo n° 3, um dos mais conhecidos e populares de Bach. Na sequência está a Suíte Orquestral n° 1, a primeira de quatro suítes da carreira do compositor. Apesar da religiosidade presente, as peças estão entre as poucas obras de Bach que não são sacras.

O espetáculo termina com uma das obras mais famosas de Mozart, a Sinfonia nº 40, conhecida como a Grande Sinfonia. Dividida em quatro movimentos, é marcada por grandes contrastes e momentos de instabilidade, numa obra vigorosa em que se percebe a maturidade do compositor. A temporada 2011 da OSPA conta com uma programação bastante abrangente, contemplando um repertório que vai do barroco ao contemporâneo. Para o maestro Tiago Flores, é uma forma de atingir diferentes públicos.
– Nesta apresentação teremos uma boa amostra do período Barroco e Clássico, com peças muito conhecidas. É uma bela oportunidade para apreciar essas grandes composições – explica.
Graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob a orientação de Arlindo Teixeira, Tiago Flores se especializou em regência orquestral em São Petersburgo, na Rússia. Participou de cursos, oficinas e festivais com Kurt Redel (Alemanha) e Lutero Rodrigues. Atuou à frente de orquestras do Brasil, Venezuela, México, Itália e Áustria. Entre 1999 e 2011, foi diretor artístico da OSPA. Recebeu o prêmio "Melhores da Cultura 2005" da Secretaria de Estado da Cultura - RS, prêmio Açorianos de Melhor CD Instrumental, em 2006, e Melhor Espetáculo 2008, concedidos pela Secretaria da Cultura de Porto Alegre. Atualmente, além de Diretor Artístico da OSPA, é regente da Orquestra de Câmara da ULBRA desde sua fundação e vêm recebendo inúmeros elogios da crítica especializada. 
Os Concertos da OSPA têm patrocino da Lei Federal de Incentivo a Cultura, Vonpar, Ipiranga, Gerdau, Souza Cruz e Brasília Guaíba. A realização é da OSPA e Secretaria de Estado da Cultura - Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Acesse: www.ospa.org.br

domingo, 8 de maio de 2011

Matemática norte-americana

Depois de 10 anos (2001-11), matamos mais de 919 mil pessoas no Iraque, Afeganistão, Paquistão, etc... Gastamos US$ 1,2 trilhão em gastos militares. Finalmente, conseguimos assassinar mais uma pessoa. (Michael Moore, escritor e cineasta norte-americano)

Reconhecimento

Parabéns aos gremistas pela vitória de hoje. O time de vocês mostrou como um clube pode superar-se diante de resultados adversos. Meu Inter, ao contrário, revelou-se passivo, sem reação, amorfo...

sábado, 7 de maio de 2011

Suely, minha mãe

Ela, Suely, me trouxe ao mundo.
Exibiu seu imenso amor e disposição
para me mostrar os caminhos do bem.
Ela, Suely, deixou de pensar nela
para pensar em mim.
Ela, Suely, sorriu e chorou ao meu lado,
independente do momento.
Ela, Suely, é minha amada mãe,
a quem homenageio neste domingo.
E, por extensão, abraço todas as minhas amigas mães.
Vocês, como Suely, são corajosas e dignas de muito amor.

Publicar ou não as fotos

A mídia mundial transformou-se na quinta-feira, dia 5 de maio, num gigantesco Observatório da Imprensa: junto com os fatos está discutindo como tratá-los. Publicar ou não publicar, eis a questão.
O dilema ficou mais nítido nas últimas horas de quarta-feira, quando os portais de internet dos grandes veículos de comunicação do mundo receberam da Reuters as fotos dos três acompanhantes de Osama bin Laden mortos junto com ele em Abbottabad e obtidas por intermédio da generosa polícia paquistanesa.
 O portal do Estadão preferiu não chocar os seus leitores e leitoras: vetou a reprodução das horrorosas imagens. Já os portais da Folha, El País e The Guardian compreenderam que era seu dever publicá-las. Não porque sejam adequadas – certamente não são – mas como uma tomada de posição antecipada diante da decisão da Casa Branca de não mostrar o crânio esfacelado do inimigo público nº 1, o ex-comandante da Al-Qaida.
Vítima potencial
Convém lembrar que este debate sobre a divulgação de imagens chocantes ficou agudo a partir do momento em que o terrorismo tornou-se cotidiano. Os terroristas precisam do apoio da mídia para intimidar e apavorar. Nos dias seguintes ao 11 de setembro de 2001, o grosso da mídia americana evitou a exposição de corpos despedaçados para não aumentar o desespero da nação e foi acusada – sobretudo por setores da esquerda – de promover a autocensura.
Texto de Alberto Dines, publicado no Observatório da Imprensa

Câmara dos Deputados promove chat sobre diploma de Jornalismo

A Câmara dos Deputados promove na segunda-feira, dia 9 de maio, um chat sobre a Proposta de Emenda à Constituição 386/2009, que restabelece a exigência do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão. O bate-papo tem início às 15h, tendo como convidado o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), autor da PEC.
Para participar e fazer perguntas, é necessário cadastro no site www.edemocracia.camara.gov.br, do Portal da Câmara dos Deputados, e acessar a comunidade 'Obrigatoriedade do diploma de Jornalismo'. Um fórum de discussão já foi aberto e ficará à disposição dos internautas para debate preliminar até o início do chat. O  Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul colocará sua estrutura à disposição para que a categoria possa acompanhar o evento.
O coordenador do Programa e-Democracia da Câmara dos Deputados, Cristiano Ferri, diz que o portal busca, por meio da Internet, incentivar a participação dos cidadãos no debate de temas legislativos importantes para o país. "Acreditamos que o envolvimento social na discussão de novas propostas de lei contribui para a formulação de políticas públicas mais realistas e implementáveis", diz Ferri.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Angelina


Angelina,  querida prima e companheira de luta, sinto imensa tristeza pela tua falta. Foste uma mulher lutadora, de fibra e consciente de seu papel em defesa de um mundo melhor. Farás falta em todos os locais onde circulavas: na família, no campo educacional, na defesa dos oprimidos, na militância política, nos momentos alegres que transmitia aos que a rodeavam. Dizem que não existe pessoa perfeita, mas nos momentos em que convivi contigo notei que esta regra não se aplicava a ti. Nenhum defeito vislumbrei. Por isso, lamento que Deus tenha sido exagerado ao levar-te aos 65 anos. Ainda tinhas muito para produzir.

O jantar


                                O jantar na casa de Leda tinha sido marcado há um mês.  Foi um "parto" reunir as amigas mais afinadas para o encontro que ela considerava de aproximação. Afinal, tinham se formado em nutrição fazia dois anos e depois nunca mais se viram. Apenas tinham trocado palavras no Orkut e no Facebook, mas as redes sociais pareciam tão distantes e vazias. Muita gente se metia, pensava.
                               Primeiro chegou Catarina, toda vistosa em um terninho vermelho, com detalhes em branco. Parecia feliz, contrastando com a dona da casa, metida em um jeans e uma blusa branca discreta. Não estava mal vestida, mas andava carente desde a separação de Augusto em agosto do ano passado. Achava-se desleixada, para baixo, mesmo que o emprego em uma rede de restaurante exigisse rigor no vestir.
                               – Que chique estás, Leda. Pareces remoçada – disse a amiga, contrariando com o que pensava de si.
                               – Tu também, amiga. De namorado novo? – perguntou, mesmo sabendo que a resposta seria positiva (o Orkut tinha denunciado Catarina).
                               – É, tu sabes. Hoje, é difícil arranjar um homem legal – concordou a visitante – E tu, sozinha?  
                               – É. Não – respondeu, sem saber definir os papos virtuais – alguns interessantes –  que passara a manter nos últimos meses.
                                Foi salva pela chegava de Valquíria, alegre como sempre e passando o espírito para a maneira de vestir (saia acastanhada e blusa bege, deixando os seios médios à mostra levemente). Era a mesma garota imberbe do tempo de aula. Tanto que trouxe, a tiracolo, um cão da raça yorkshire que, ao seu estilo, não parava de latir.
                                – Gente, apresento o Léo. É o cachorrinho mais gracioso do mundo. Não quis deixá-lo sozinho, mas não se preocupem. Já arranjo um lugar para ele – definiu, sem cumprimentar formalmente as amigas.
                                 Leda não gostava de cachorros dentro de casa, mas não poderia contrariar a amiga. Ofereceu o banheiro da empregada, mas Valquíria rejeitou, com ar de nojo. Tudo que ela queria para o totó era uma cama bem confortável. Conseguiu. Léo foi acomodado no quarto de Lucas, filho mais novo de Leda, que naquela noite fora dormir na casa do pai.
                                 Mal a porta do quarto do cachorro – ou melhor, de Lucas – foi fechada, a campainha tocou. Era Paula, uma morena alta que trabalha numa empresa fornecedora de alimentação. Era o tipo de mulher fadada a desfilar nas passarelas, à moda de Gisele Büdchen. O salto do sapato a agigantava ainda mais.
                                  – Amigas, desculpe o atraso, mas o trânsito estava péssimo. Levei mais de meia hora de casa até aqui – desculpou-se, cumprimentando uma a uma as amigas.
                                  – Nossa, vamos ter desfile hoje ­ – gritou Valquíria, não perdendo tempo para brincar com a altura da colega.
                                   – Menos, menos Valquíria – pediu Leda, já prenunciando um clima de atrito de atrito.
                                   Tudo calmo, coquetéis servidos com canapés, e nada da Susana. É verdade que ela mora em outra cidade, mas poderia ter saído antes.
                                  – Vai ver o marido não a deixou sair – provocou Valquíria, recebendo o sinal positivo de Paula.
                                  Falaram no homem e ouvem uma batida na porta. Era, certamente, a última das amigas. De fato, ela apareceu, mas trazendo junto o marido. Susana quase voltou ao ver os olhos arregalados das colegas.
                                  – Gente, eu posso explicar. Só pude vir porque aceitei que o Juarez viesse junto. É nosso pacto agora; quanto um sai, o outro sai também.
                                  – Mas... – disseram quase que juntas as outras quatro, numa espécie de corrente de concordância. Afinal, era um encontro de mulheres.
                                  – Não se preocupem, ele não ficará conosco. Ele quer ver o jogo de futebol – explicou Susana.
                                  – Mas onde? – perguntou a dona de casa.
                                  – Não tem outro televisor além deste? – retribuiu Susana, olhando para todos os cantos.
                                  ­­– Só o do meu quatro...
                                  – Serve. Ou não queremos ficar sozinhas? – comandou Susana, como se a casa fosse dela.
                                 – Bem, então está. Ele senta na poltrona e nós ficamos aqui – concorda, com certo ar de impaciência, a dona da casa.
                                  E lá foi Juarez, sem emitir qualquer palavra, nem mesmo cumprimento. Estava louco pelo jogo.
                                  Pronto, finalmente ficaram sós as cinco mulheres. O papo poderá rolar solto, as fofocas poderão fluir e os drinques passarem de mão em mão.  
                                  – Mas o que este homem veio fazer aqui? Nunca tinha visto isso – diz a até então quieta Catarina – Eu poderia ter trazido o meu.
                                  – Mas quem disse que tu tens homem – ataca Susana.
                                  – Olha, é melhor que o teu. Pelo menos fala – retribui Catarina.
                                  – Tu cala a boca. Na faculdade, nem falavas com os rapazes – diz, cada vez mais furiosa, Susana.
                                  – E depois me olharam com estranheza quando apareci com o Léo – proclama Valquíria.
                                 – O quê? Tem mais homem aqui. E depois falam do meu. Vocês são umas vagabundas – agride Susana.
                                  – Vagabunda és tu...
                                  – Não, és tu...
                                  – És tu...
                                  Trocaram acusações, insultos, rolaram pelo chão, trocaram tapas, quebraram copos e deixaram sujas de capanés as roupas que tinham aprontado para o encontro de aproximação.
                                  – Vou embora desta casa agora – adiantou-se Catarina, seguida por Valquíria, Paula e Susana. Leda, sentada no chão, não sabia o que fazer. Pensou em deitar no sofá para relaxar quando ouviu barulhos estranhos vindos dos quatros. Foi conferir. No aposento do filho Lucas, o yorkshire de Valquíria latia e corria e para todos os lados, derrubando o que encontrava pela frente.
                                  Leda fechou a porta e foi conferir o outro sinal – ainda mais estranho – que vinha de seu quarto. Abriu e quase caiu de susto ao ver Juarez deitado em sua cama. Pior: dormia, exibindo uma pança saliente e roncava tal como Augusto, seu ex-marido. No televisor, o locutor gritava gol de maneira frenética. A dona da casa fechou as janelas e portas da casa e saiu gritando:
                                – Agora, quem sai deste inferno sou eu.

* Conto produzido em laboratório da disciplina Escrita Criativa, na PUCRS, em  abril de 2011.

terça-feira, 3 de maio de 2011

FENAJ: "É preciso desprivatizar as liberdades de imprensa e de expressão"

Este 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, tem significado especial para os jornalistas brasileiros porquanto estão em pauta, no Congresso Nacional, duas questões de fundamental importância para o exercício profissional do Jornalismo com democracia. Paralela à agressão cotidiana contra jornalistas, buscando impedir ou censurar a livre circulação de informações, a extinção da exigência de diploma como requisito para o exercício da profissão desprotege o exercício do Jornalismo ético e responsável e destitui da sociedade seu direito à informação com qualidade.

Não por acaso a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado pautou para este 3 de maio uma audiência pública sobre a liberdade de imprensa e a violência contra jornalistas. A escalada de agressões a profissionais de comunicação vem se manifestando em episódios de manutenção de repórteres, repórteres fotográficos e cinematográficos em cárcere privado, agressões físicas, ameaças de morte, em casos de censura prévia e mesmo nos locais de trabalho, quando ao denunciarem casos que ferem interesses econômicos e políticos os profissionais são “premiados” com demissão.

Se no 3 de Maio do ano passado o debate sobre liberdade de imprensa no Congresso Nacional se deu sob a ótica patronal, a audiência pública de hoje na CDH dá voz aos trabalhadores e suas organizações, com manifestações de representantes da FENAJ, de Sindicatos de Jornalistas, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial e de profissionais da área.

Para a FENAJ é fundamental desparticularizar e desprivatizar os conceitos de liberdade de expressão e liberdade de imprensa. A liberdade de expressão tem que ser assegurada como um direito universal de todos os seres humanos manifestarem seu pensamento. E a liberdade de imprensa é condição necessária para a livre circulação de informações com responsabilidade, ética, pluralismo, respeito às diferenças e sem discriminações.

O Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra que "toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. Neste contexto, evidentemente os veículos e os profissionais de comunicação têm papel destacado. Mas além de uma mídia livre, independente e pluralista, é fundamental que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário não negligenciem em seu papel de coibir iniciativas que comprometem as liberdades civis e a democracia.

Igualmente faz-se necessário reconhecer que as liberdades de expressão e de imprensa não são direitos absolutos. Seu limite é o respeito aos direitos dos cidadãos e usuários. É inadmissível recorrer a tais liberdades para proteger quem oculta ou distorce fatos, macula a honra das pessoas ou atropela direitos e obrigações.

Por isso, a FENAJ sustenta que o vazio jurídico deixado com a extinção da autoritária Lei 5.250, de 1967, não pode prosseguir e que é urgente uma nova e democrática lei de imprensa, com a regulação das relações entre o estado, os veículos de comunicação, os profissionais do setor e a sociedade. A entidade defende a aprovação do substitutivo do ex-deputado Vilmar Rocha ao PL 3.232/92, que está pronto para votação há 13 anos.

Registramos, também, que demissões, precarização das relações de trabalho, censura empresarial e autocensura são fatos que acontecem diariamente nas redações e que configuram violências. A elas somou-se a decisão do STF de 17/06/2009, que pôs fim a exigência do diploma como requisito para o exercício do Jornalismo, e entregando às empresas de comunicação a definição do acesso à profissão de jornalista. Cabe ao Congresso Nacional consertar este erro com a aprovação das Propostas de Emenda Constitucional que restabelecem a exigência do diploma como condição básica para acesso ao exercício profissional do Jornalismo assegurando o direito da sociedade à informação de qualidade.

Brasília, 03 de maio de 2011.
Diretoria da FENAJ

A violência contra jornalistas no Brasil e no mundo

Conforme relatório da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), foram registrados 55 casos de violência no Brasil em 2009, sendo dois assassinatos, ambos em Pernambuco. Do total, 40% são agressões físicas e verbais; 27%, censura e processos e 15%, ameaças.

A federação registrou ainda detenção e tortura (5%); atentados (5%); e violência contra sindicalistas (4%). De acordo com o estudo, agentes do Estado são responsáveis pela maioria dos casos de agressões a jornalistas.

Em 2010, foram contabilizadas 94 mortes de jornalistas por atos violentos em todo o mundo durante o exercício da profissão - 45 a menos do que em 2009 -, conforme relatório divulgado pela Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). A entidade registrou a morte de um total de 2.271 profissionais de imprensa no exercício da atividade profissional a partir de 1990 - quando começou a fazer o relatório anual desses dados - até 2010.

Segundo informações dessa entidade, o Paquistão ficou com o pior índice de segurança para os trabalhadores de comunicação em 2010, com 16 mortes, seguido do México e de Honduras, que registraram, cada um, dez mortes de jornalistas. Apesar da redução da quantidade de mortes com relação a 2009, a direção da FIJ alega que esse número ainda é alto, denotando haver grandes riscos em determinadas regiões para o exercício do jornalismo.

A organização não Governamental (ONG) internacional Repórteres Sem Fronteiras informa que o Paquistão continua sendo um dos países mais perigosos para o exercício da profissão. Segundo a entidade, além dos jornalistas naquele país serem muito mal pagos, estão expostos a todo o tipo de perigo - desde a tensão do país com a Índia até ameaças terroristas, violência policial, e conflitos tribais. De acordo com a FIJ, a maioria dos jornalistas foi vítima de atos violentos causados pelas guerras contra as milícias no Paquistão, os cartéis das drogas no México e os conflitos políticos em Honduras.

A lista dos jornalistas assassinados em 2010 divulgada pela FIJ aponta duas mortes no Brasil, do jornalista da área esportiva Clóvis Silva Aguiar, da Rede TV, no dia 24 de junho; e do jornalista Francisco Gomes de Medeiros, da Rádio Caicó (AM), no dia 18 de outubro.

Fonte: Agência Senado

As soluções mágicas em tempo de crise

Pensem nas relações destes momentos:
- Monarquia em ritmo lento e economia em pedaços na Inglaterra. Solução: casamento real, com uma plebeia tornando-se princesa.
- Igreja católica perdendo fiéis e denúncias de todos os lados rondando o Vaticano. Solução: canonização de uma papa controverso, João Paulo II, em tempo recorde.
- Obama questionado, economia em baixa e próximo da próxima eleição nos EUA. Solução: morte de Osama bin Laden, o inimigo número 1 dos EUA.
As três situações, provocadas ou não, aconteceram num intervalo de tempo próximos e levaram às ruas milhares de pessoas.
Soluções mágicas!!!

domingo, 1 de maio de 2011

Inter ganha Gre-Nal com dez em campo e nos pênaltis


Eu gostaria que o Internacional tivesse vencido o Grêmio no tempo normal e sem ninguém expulso. Estava melhor que o adversário, mas o destino quis que Guiñazu saísse mais cedo e o colorado mostrou-se aguerrido no período que restava. E, depois,  foi competente com Renan defendendo um pênalti e os quatro batedores acertando as cobranças. Vencemos a Taça Farroupilha - segundo turno do campeonato rtegional - e vamos para novas decisões com mais força. Na quarta-feira, tem a partida pela Libertadores contra o Peñarol, e depois dois Gre-Nais para decidir o Gauchão. Confio que seremos vitoriosos nos dois. Vamos, Inter.


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1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador

Abraço a todos os trabalhadores em seu dia. Que o dia seja de reflexão e disposição para a luta como a que teve origem em 1886, em Chicago, quando operarários fizeram greve geral reivindicando a limitação da jornada de trabalho a oito horas diárias. Que a repressão e as mortes originárias desta mobilização fiquem apenas na nossa memória.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O velho e o baú

                             Nesta manhã invernal, como sempre faz, Alberto vislumbra o horizonte cinzento e pisa na areia fofa da Praia de Pinhal, espremida num canto do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Coça a cabeça, toca o nariz gelado, abotoa o casaco de lã e faz menção de voltar para casa. Afinal, ainda é 6h da matina, como dizem neste território sem gente (na areia, é bom frisar). E a atitude mais prudente para um idoso de 70 anos é ficar embaixo das cobertas até o sol dar o ar da graça. Até espirrando está, o que prenuncia a chegada de um resfriado. Ou coisa pior.
                             Não. Não fará isso, mesmo que o vento bata forte e a areia teime em levantar mais de meio metro do chão. Se abaixar, os olhos serão atingidos e a situação ficará deveras ruim. Desde que resolveu morar naquele lugar, levado por um amigo que o visita com frequência, mantém a rotina de caminhadas à beira-mar. Muitas vezes, sem destino. Em outras, seguindo o rumo de um boteco, o único das redondezas que, por coragem do dono, fica aberto o ano todo.
                            Alberto, contador por ofício e aposentado por idade, aproveita os passos lentos e pesados que dá na areia para fazer o balanço de uma vida que lhe foi benéfica em alguns momentos e madrasta em outros. Nenhum morador da praia sabe que o homem alto e grisalho que mora na casa verde e branca da Rua Borborema foi casado. Mais do que isso: tem um casal de filhos quarentões que não vê há mais de 20 anos. Não sabem pela simples razão de que ele nunca fez questão de dizer.
                           A situação aperta o coração do velho quando ele vê passar a primeira alma na beira da praia. Trata-se da manca Sofia, uma misteriosa negra que muitas vezes divide com ele a mesa no boteco do Joaquim, sem nunca lhe dirigir a palavra. Apenas o olha da cabeça aos pés, empina um martelinho de cachaça e observa o mesmo horizonte que Alberto espia agora com o canto do olho. São conhecidos que o desconhecido aproxima mais uma vez.
                          – Bom dia – arrisca dizer, sem ganhar ao menos uma palavra ou um balançar da cabeça.
                          Em seguida, porém, olha para trás e vê presente e passado se cruzarem de forma alucinante, velozmente. Pensa que aquela desconhecida está ali em carne e osso e, vez por outra, faz parte de sua vida. Ou melhor, todos os dias no boteco. Dos filhos, não sabe nada. A última vez que falou com eles foi no início de 1991, quando Marlene, que ele recusa chamar de ex-mulher, lhe procurou levando Marcelo e Fernanda, os filhos, de arrasto. Não fora cobrar a pensão, que ele pagava religiosamente, mas buscar alguns objetos e pertences do trio.
                         Quando selaram o divórcio, depois de algumas brigas cinematográficas e mediações da polícia, ele encheu um baú e o levou para a nova casa. Nem se lembrava mais, tanto que foi à dispensa e encontrou o móvel intacto, sem qualquer sinal de violação. Dentro, encontraram jóias, talhares, livros, discos, canetas, roupas íntimas e tudo que não lhe servia ou interessava. Não tinha saída senão confessar o erro, alegando que fizera aquilo por compulsão. Um mal menor, mas que se transformou em uma mania que o acompanharia o resto da vida. Os três não exibiram qualquer sinal de complacência, viraram as costas, pegaram o baú e o enfiaram numa camionete. Desprezo era o que sentia Alberto.
                        – Bom dia – disse, recebendo, em troca, uma saraivada de insultos que ressoam nos seus ouvidos até hoje.
                         Por isso, a indiferença de Sofia era também um mal menor. E ela estava ali todos os dias e não a mil quilômetros de distância, em São Paulo, onde supostamente moram a ex e os filhos – ele soube por amigos.
                         Vinte anos e Alberto não esquece o episódio do baú, da mesma forma como busca na memória os laços que poderá ter com a moça com quem beberica no mesmo bar e passeia na mesma praia. Num impulso, volve o corpo e imprime um retorno apressado para casa. Não pensa em mais nada, nem mesmo quando passa novamente por Sofia, agora acompanhada de um menino de uns três anos.
                        – Será filho dela? – pensa, mantendo a velocidade dos passos.
                        Chegando em casa, vai direto à garagem, como se já soubesse o que encontraria. Tira o casaco de lã, pois a caminhada apressada e o sol que já brilhava o fizeram suar. Mira tudo que vê no local. Pronto: atrás do automóvel Voyage, encontra um baú, devidamente fechado. Tenta abrir, mas não lembra onde está a chave. Encontra um pé-de-cabra, que usa como alavanca para destrancar o móvel.
                        Aberto o baú, Alberto tonteia, vê o mundo girar à sua volta e quase cai no piso de concreto da garagem. Recuperado, tira de dentro utensílios de cozinha (panelas, talhares, pratos), roupas femininas e artesanato. Nada é seu. Mas de quem será? Puxa pela memória e recorda que a calada e introspectiva Sofia vive praticamente na rua, ora morando sob a marquise do prédio da rodoviária, ora na área de alguma casa de veranista.
                      Mas esta lembrança é recente, pois antes a vira vendendo artesanato e roupas para turistas na praia durante o verão. Caminha rapidamente até a areia e novamente avista Sofia e o menino. Aproxima-se com cuidado, como se faz com um desconhecido, e a convida para ir até sua casa. A resposta é negativa.
                    – Não, não o conheço. Me deixa em paz – defende-se Sofia.
                    – Mas eu quero te mostrar alguma coisa que talvez te pertença – esclarece Alberto.
                     – Não tenho nada – retruca Sofia.
                     – Mas não vendias artesanato? – pergunta o velho, cheio de remorso.
                     – Sim, mas fui roubada. A polícia nem deu bola ­ – lamenta a moça.
                      – Eu roubei. Estão lá em casa. Venha ver – adianta Alberto, com olhos marejados de lágrimas.
                      – Mas então...
                      – Olha, pego as coisas dos outros, mesmo sem utilizá-las. Entenda-me – pede.
                      Sofia não entendeu o que estava ouvindo, mas decide conferir o que o velho que tanto observava no boteco tinha para lhe mostrar. Os três caminham calados até a casa da Rua Borborema, onde Sofia não esconde o espanto ao rever o artesanato e outros utensílios domésticos que tinha quando morava com o pai de Francisco, o menino que observava tudo com olhos arregalados.
                       – Ladrão. Com esta casa e tu rouba de pobre – grita, tapeando Alberto, sem parar.
                       – Desculpe, estou te devolvendo tudo. Não me queira mal – suplica, pedindo que a visitante fale um pouco de sua vida.
                        Refeita da surpresa e mais calma, Sofia explica que morava de aluguel e que o ex-companheiro, operário da construção civil, a abandonou e se mandou para local ignorado. Precisou entregar a casa e vendeu os móveis. Antes, porém, ALberto surrupiara algumas coisas que poderiam manter o seu sustento e do filho. O velho fica comovido com a história.
                        – Façamos o seguinte: tenho algumas economias e posso te ajudar. Podes morar na casinha que tenho aqui nos fundos, e eu compro alguns móveis. É a forma de retribuir o que te fiz – sugere, abraçando Sofia e Francisco.
                       – Não sei o que dizer, mas...
                       – Não precisa. Agora, vamos dar uma caminhada. O boteco já deve estar aberto – convida.
                       Enquanto voltam à praia, um Corsa com placas de Florianópolis e um homem na direção chega lentamente à casa de Alberto, que se vira, sorri e faz sinal positivo.

* Conto produzido na disciplina Escrita Criativa, na PUCRS, em abril de 2011
                          

sábado, 23 de abril de 2011

Coração pulsando

Nada, mas nada mesmo, arrancará o coração do meu peito.
Ele bate, pulsa, acelera...
Vive!
Tudo, mas tudo mesmo, conquistará o coração que tenho no peito.
Ele acelera, pulsa, bate...
Vive em eterno compasso de espera
Como se esta espera estivesse logo ali,
ao meu alcance.

Cutucar

Cutuco porque me cutucas.
Mas este cutucar virtual carrega virtudes e defeitos.
Sabes que penso em ti, mas não sei onde estou cutucando.
Sei que pensas em mim, mas não sabes onde estás cutucando.
Se estivesses na minha frente, talvez não cutucasse.
Ou não soubesse cutucar.
E assim ando:
cutucando, cutucando.
Para não deixar de cutucar.

O que é, o que é? - Gonzaguinha

















Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Leilões de primavera

Recordações de um remate em uma cabanha de Uruguaiana. 
Era um tempo em que íamos em comitiva para cobertura jornalística destes eventos. 
Na foto, Thais, eu, Lisiana, Adriana e Teixeira. Grandes colegas!!!