domingo, 19 de setembro de 2010

Na onda patronal

Colegas jornalistas - não todos - continuam se pautando pelo que dizem os porta-vozes da grande mídia. Ou seja, embarcam na onda dos patrões. Já li sobre isso na época da ditadura militar...

Vamos participar desta semana sem carro



Eu estou nesta porque defendo um mundo menos poluído, com mais ar para respirarmos.
Pegarei minha bike e vou pedalar. 
Vamos?

Brasil é exemplo na Assembléia Geral da ONU

O fato de o Brasil ter retirado 27,3 milhões de cidadãos da faixa da pobreza extrema, no período de 1990 a 2008, vai ser exemplo na  65ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que começa nesta semana em Nova York. O destaque da experiência brasileira está nas parcerias entre os órgãos públicos e privados. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, vai detalhar os programas de transferência de renda executados no país.
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Rômulo Paes, afirmou à Agência Brasil que o objetivo é mostrar que isoladamente os programas de transferência de renda não são eficientes. Segundo ele, é necessário trabalhar um conjunto de elementos que influenciam na redução da pobreza e, consequentemente, da fome.
“A redução de 81% dos brasileiros que deixaram os níves de pobreza extrema, de 1990 a 2008, foi possível por vários fatores aliados aos programas de transferência de renda, como o crescimento de trabalhadores no emprego formal, o aumento do salário mínimo e a redução das desigualdades regionais”, disse Paes.
Amanhã (20), a ministra Márcia Lopes participa das reuniões destinadas exclusivamente à discussão dos programas de combate à pobreza e à fome. Ao apresentar os programas desenvolvidos no país, a ministra deve destacar o Bolsa Família, que atende cerca de 60 milhões de pessoas, repassando, em média, R$ 90 mensais.
A ministra também pretende citar o Programa Benefício de Prestação Continuada, que envolve  3,5 milhões de pessoas portadoras de deficiência, idosas (cuja renda mensal é inferior a R$  127,00 – o equivalente a um quarto do salário mínimo) e incapacitadas para o trabalho. Essas pessoas recebem um mínimo mensal (R$ 510,00).
Marcia Lopes quer mencionar ainda o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), destinado a atender as crianças e adolescentes com menos de 16 anos. Cerca de 820 mil pessoas são atendidas pelo projeto em 3,5 mil municípios. “Em todas essas situações, de execução dos programas, há uma integração entre os órgãos federais, estaduais e municipais, além do apoio da iniciativa privada. Isso é fundamental”, disse o secretário.
Na última terça-feira (13), a organização não governamental  (ONG) ActionAid, divulgou o relatório Quem Realmente Está Combatendo a Pobreza?, analisando as ações desenvolvidas em 28 países para combater o problema. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil lidera o ranking que mede o progresso de países em desenvolvimento na luta contra a pobreza.
A ONG considerou o desempenho dos países em categorias, como presença de fome, o apoio à agricultura em pequenas propriedades e a proteção social. O Brasil é seguido pela China e pelo Vietnã. Em último na lista está a República Democrática do Congo.
O relatório ressalta ainda que a fome causa um prejuízo anual de US$ 450 bilhões aos países mais pobres. Segundo a ONG, dos 28 países emergentes analisados no relatório, apenas oito estão a caminho de conseguir cumprir, no prazo previsto, as metas de desenvolvimento do Milênio, da ONU, para a redução da fome. As metas estabelecem que, em relação aos níveis de 1990, os países devem diminuir à metade, até 2015, o número de pessoas subnutridas e de crianças que estão abaixo do peso ideal.

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

sábado, 18 de setembro de 2010

Inédita entrevista de Lula no Portal IG: "Sou um homem de rua"

Graças à relação inédita estabelecida com a sociedade civil, empresários e governantes de todos os espectros políticos, o governo ganhou solidez e pode implementar com sucesso as políticas públicas tão necessárias ao País, avalia o presidente Lula em entrevista exclusiva concedida ao portal IG e publicada nesta sexta-feira (17/9), lembrando que é, antes de tudo, um homem de rua:
"Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados."
Foto do movimento sindical dos anos 80, do qual Lula já era é o ícone

 Na entrevista, o presidente conversou sobre a sua relação com diversos setores da sociedade brasileira, suas maiores realizações no governo, as maiores decepções, os momentos difíceis, a importância de saber falar a língua do povo e também de saber interpretar a cabeça do eleitor. Afirmou que sentirá falta da agitação do dia-a-dia do exercício da Presidência, ainda que admita ser essa rotina bastante dura.
Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.
Confira abaixo os destaques da entrevista, cuja transcrição pode ser lida aqui – para ler a edição publicada pelo portal IG, clique aqui.

 "Sou um homem de rua"
Porque eu sou um homem de rua. Eu sou um homem de rua. Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados, é dali que algumas pessoas insinuam bobagens, como o Fernando Henrique Cardoso insinuou. Porque eu seria maravilhoso, seria maravilhoso se eu já tivesse esquecido de onde eu vim e para onde eu vou voltar. Seria maravilhoso, para ele, se eu tivesse esquecido quem são meus amigos originários, quem é que vai me chamar de companheiro, essa coisa está no sangue. Eu sei o meu lado, sei da minha obrigação como Presidente, que eu tenho que governar para todos, eu tenho que tratar o mais rico igual eu trato o outro, todo mundo tem direito à cidadania. Agora, eu tenho que governar tentando favorecer os mais pobres.
A língua do povo
Olhe, a primeira coisa que você tem que ter na sua relação com o povo é ser muito verdadeiro com o povo. Normalmente, a classe política, ela adora ir para o meio do povo quando ela está bem na pesquisa, e ela tem muito medo do povo quando ela está mal na pesquisa. Quando você é candidato, você adora andar em carro aberto, dando a mão para todo mundo; quando você se elege, você é doido para andar em um carro blindado, sem ninguém te ver. Eu estabeleci uma relação com o povo que era a única que eu sabia fazer e a única que é melhor. Quando eu deixar a Presidência da República, eu quero ser tratado, eu quero ser chamado de “companheiro Lula”, pelos que me chamavam de “companheiro Lula” antes de eu ser presidente da República.
(…) Então, conversar com o povo é ser sincero, é você ter coragem de dizer não, quando precisa dizer não; dizer sim, quando precisa dizer sim; fazer um esforço necessário para atender às pessoas; se não puder atender, dizer que não; estabelecer uma relação leal, uma relação de parceria, que ele se sinta…
(…) Não ter medo, nunca, do povo. Porque o que nós temos que compreender, gente? Mesmo quando você encontra um pessoal nervoso, reivindicando, aquilo faz parte do povo brasileiro. O que nós, políticos, precisamos ter noção é que Deus, quando colocou a gente com duas orelhas, é para a gente ouvir mais do que falar. E, para mim, o aplauso tem a mesma importância da vaia. O cara vaia porque não gosta; o cara aplaude porque gosta. De vez em quando, eu acho uma loucura um político ficar brigando com quem está vaiando. O cara dedica o discurso dele a quem está vaiando, a brigar com quem está vaiando; a vaia só aumenta. Você tem que falar o que você tem que falar, acreditando que você vai convencer as pessoas. Eu nasci assim, aprendi a fazer sindicalismo assim, construí o PT assim, exerço a Presidência assim e quero morrer assim, sendo o mais verdadeiro possível na minha relação humana.
Eu gosto de pegar no braço das pessoas. Tem gente que acha que eu quebro muito protocolo. Eu, às vezes, já cheguei a dar tapinha na cabeça de pessoal que caiu a peruca, já… “Presidente, não faça mais isso”. Paciência, eu vou lá, pego e levanto. Mas eu vou ser assim o resto da vida.
Saudade da agitação
Eu acho que eu vou sentir saudade é da agitação do cargo. Eu lembro que, quando eu fui preso e eu voltei para o Sindicato, eu estava cassado, eu levantava de manhã e ficava que nem uma barata tonta, sem ter o que fazer. Eu não tinha para onde ir. O Felipe González disse uma coisa que é uma coisa verdadeira: ex-presidente é que nem um vaso chinês; quando você está no palácio, você tem um monte de lugar para colocar o vaso chinês, mas, quando você sai, você vai para o seu apartamentozinho, não tem onde colocar vaso chinês. O que você faz com um vaso chinês? Um ex-presidente é sempre um vaso chinês. O que ele precisa tomar cuidado é para não atrapalhar os outros, ou seja, tem que deixar espaço para os outros morarem.
Dura rotina
O ritual de ser presidente é muito pesado. Ou seja, você tem um ajudante de ordem que diz o que você tem que fazer a cada hora. Você tem um chefe de cerimonial que escolhe a cadeira para você sentar. Você tem a equipe que prepara… É um negócio que você… Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.
Veja, eu vou terminar o meu mandato, eu nunca fui num restaurante jantar. Eu nunca fui num aniversário, eu nunca fui numa janta, eu nunca fui num casamento, a não ser de um sobrinho meu, num bairro lá em São Bernardo do Campo, sem ninguém saber. Por quê? Porque eu resolvi fazer do meu mandato um sacerdócio, ou seja, isso aqui, eu briguei muito para chegar aqui, então eu tenho que me dedicar de corpo e alma a isso aqui. Noventa e nove por cento do meu tempo, com a dona Marisa é eu sair daqui dez horas da noite e ir lá para casa, é passar sábado e domingo sozinho, eu não convido nenhum ministro, porque são muitos, se eu convidar um o outro vai ficar com ciúme, então eu não convido ninguém. Mas eu vou gostar de me livrar do sufoco, do Cezar Alvarez que todo dia diz o que eu tenho que fazer, “9 horas isso, 10 horas isso, 11 horas isso. Não tem um minuto que eu falo: “Meu, deixa esse minuto para mim, pelo amor de Deus.” As pessoas não se lembram de que você tem que ir ao banheiro, não se lembram. Se vocês fizerem uma agenda comigo, vocês vão perceber que não é fácil.
Populismo
Um populista não tem uma relação como eu tenho com o povo. O populismo, o populismo é uma coisa… É um ato de fazer política de propostas de cima para baixo, sem nenhuma relação orgânica como eu tenho com a sociedade. Sinceramente, eu acho que a pessoa que fala isso não conhece nem de populismo e nem de popular. A pessoa sabe… A pessoa precisa saber o que é uma coisa populista. Populista é uma coisa fictícia. O populismo é quase uma mentira. Você fica… Você faz uma pesquisa e fica inventando proposta de cima para baixo. “Pobrezinho”. Eu não faço isso. A minha relação é direta, é direta. Eu não tenho nenhum problema de almoçar na casa de um companheiro meu, que mora em uma favela, e, de noite, comer com o empresário mais rico deste país. Não tenho nenhum problema de fazer um discurso na porta da Volkswagen e, à noite, repetir esse discurso na reunião da Febraban, nenhum. E fazer o mesmo discurso. Como não tive nenhum problema de fazer um discurso no Fórum Social, em Porto Alegre, e ir para Davos e fazer o mesmo discurso. Não tenho nenhum problema, eu sou sincero com os dois lados.
Relação com empresários
Eu acho que ela foi bem mais fácil do que eu imaginava, porque tinha muitos empresários que tinham medo, tinham dúvidas e era normal que tivessem dúvida, o que falavam de mim, o que falavam do PT, o medo do sindicalista, o medo da República sindical, falava-se um monte… São coisas… Porque em um país que tem liberdade, cada um fala o que quer e na hora que quer. E nós construímos… Primeiro, nós fizemos um fórum, o Fórum do Desenvolvimento Social, trazendo empresários trabalhadores, ou seja, que o fórum hoje está consagrado como um fórum que contribuiu muito com as políticas públicas que nós colocamos em prática. Os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como ganham no meu governo, nunca ganharam tanto dinheiro. Ou seja, se você pegar o histórico dessas empresas todas, você vai perceber que as empresas, sobretudo a construção civil, ou seja, esse setor, desde o final do governo Geisel estava praticamente sem obras públicas neste país. Difícil você lembrar uma grande obra pública feita no país nos últimos 25 anos. Ou seja, eles, hoje, estão ganhando dinheiro como nunca, porque tem obras como nunca, porque hoje está faltando pedreiro, está faltando maquinista, está faltando uma série de coisas, e é uma coisa importante. Está faltando, nós precisamos formar mais.
E, hoje, eu posso dizer para você que pode ter ainda empresário que desconfie, que não goste, porque aí é uma questão ideológica, às vezes pode ser uma questão de pele. Mas do ponto de vista das políticas feitas pelo governo, sinceramente, eu acho que os empresários nunca tiveram… Eu falo isso, eu sei que muita gente pode virar o nariz, mas os cientistas políticos vão ter que explicar por que é exatamente um operário metalúrgico que chega à Presidência e que mantém uma relação com os empresários que nenhum outro Presidente teve, mesmo quando era empresário. Eu ouço isso todo dia dos empresários.
Relação com a imprensa
Eu duvido, eu duvido que tenha alguém da imprensa no Brasil que possa dizer que houve algum momento de maior liberdade de imprensa do que o que nós estamos vivendo hoje. Neste país, todos vocês, jornalistas, sabem que vocês podem escrever o que vocês quiserem, publicar o que vocês quiserem, que não haverá a menor interferência do governo. No meu governo, a gente aprendeu que o juiz é o leitor, é o telespectador e é o ouvinte e, agora, o internauta, esse é o juiz.
Lição da internet
E a grande imprensa ainda não aprendeu a lição que, hoje, hoje, 68 milhões de brasileiros acessam a internet, onde a informação é mais rápida, mais ágil, e ela não aparece com gosto de pão velho, que é a imprensa tradicional. Aconteceu uma coisa hoje, nove horas da manhã, você vai comprar um jornal e ler amanhã, nove horas da manhã. Não, na internet, é “pão, pão; queijo, queijo”. Falou, está lá, no dia, na hora, todo mundo vendo, acompanhando, com uma vantagem, que eu acho que é importante, é a vantagem que é uma coisa interativa. Ou seja, o cidadão participa do processo, ele participa. Quer dizer, eu não sei onde nós vamos chegar, mas o dado concreto é que eu acho uma revolução, que acho que nenhum de nós tinha noção do que iria acontecer.
Informação em tempos de internet
Se dependesse de algumas capas de jornais, eu, nessas alturas do campeonato, teria zero, na pesquisa. Ibope: “Lula, zero”; “Ruim e péssimo, 90”. Seria assim, mas não é. Por quê? Porque o povo tem outros instrumentos de comunicação, outros e muitos. Eu tenho experiência com os meus filhos, em casa. O que eles navegam nessa internet o dia inteiro, o que eles dão de palpite, o que eles divergem, o que eles debatem em política é um negócio que jamais a gente viu neste país. É preciso apenas os donos dos meios de comunicação compreenderem que algo está mudando neste país e atentem para isso. Vocês já existem há dez anos, desde 2000, e vocês, muitas vezes, dão coisas na frente de tudo o que é meio de comunicação. Daqui a pouco a gente tem 100 milhões navegando; daqui a pouco a gente vai ter 120 milhões navegando.
Marco Regulatório de Comunicação
Nós obviamente que queremos a contribuição de todo mundo no debate que nós vamos fazer sobre o Marco Regulatório de Comunicação. Vocês sabem que não pode ficar do jeito que está, porque nós temos o Marco Regulatório de 1962, quando não tinha TV digital, quando não tinha TV a cabo, quando não tinha internet, quando não tinha nada. Então, nós não podemos continuar com o Marco Regulatório de 62, e queremos fazer discutindo com a sociedade. Não é uma coisa do governo. Nós queremos que a sociedade construa para ela algo que lhe dê segurança, sem censura, porque, de vez em quando, aparece um malandro querendo, em nome da moralidade, censurar a internet, e, pelo menos enquanto eu for Presidente, isso não vai acontecer.
Então, no Marco Regulatório é que a gente pode balizar uma coisa que dê garantia para vocês que trabalham, que dê garantia para o usuário e que dê garantia para a sociedade brasileira. Os velhos padrões da televisão vão ficar cada vez mais cansativos, os velhos padrões do jornal vão ter que se modernizar, as revistas semanais, que vivem um sufoco danado. Porque eu compreendo a dificuldade de fazer uma revista semanal. Antigamente você tinha um jornal que superava ela todo dia, a televisão e o rádio todo dia, mas, agora, você tem a internet, que supera a todo minuto. Quase tudo que você fizer ficou velho. Então, tudo isso é um processo que nós precisamos juntos…
Tem muita gente aí que entende muito disso. O que nós queremos é pegar a inteligência brasileira que conhece do assunto, para a gente tentar fazer uma coisa na dimensão do que o Brasil precisa.
A imagem que fica
Eu, sinceramente, não sei. Veja, eu, às vezes, vejo pessoas que são casadas há 30 anos, e se separam, e depois de 29 anos dizendo bem, a pessoa é lembrada pelo dia que errou, que provocou o desquite. Então, eu acho que tem muitas, muitas imagens para as pessoas lembrarem do governo Lula. Acho que… E cada um vai ter uma. É como se fosse uma fotografia pessoal, você vai ter uma imagem, você vai ter outra, o Nelson vai ter outra, você vai ter outra, cada um vai ter uma fotografia do governo Lula. O resultado que vai balizar o comportamento da sociedade, são os resultados finais do governo. E os resultados finais do governo, ele não termina em 2010, porque parte das coisas que nós fizemos começa a aparecer pelo IBGE de 2011 e 2012. Então, o tempo é que vai dar essa fotografia final do governo Lula. Eu te diria uma coisa, eu penso que nós mudamos a relação governo e sociedade; governo, Estado e sociedade.
Maior realização
Olha, é difícil. Se vocês me permitissem, eu diria para vocês o seguinte: a maior realização que eu tenho é poder terminar o meu governo tendo vencido todos os preconceitos que foram colocados como obstáculos para que eu chegasse à Presidência da República. Nunca, na vida, os empresários brasileiros ganharam tanto dinheiro de todos os segmentos. Nunca os trabalhadores fizeram tantos acordos com aumentos reais e, nunca, os pobres, tiveram tanta ascensão como tem agora. Está resolvido tudo? Não, apenas começamos. Vai algumas décadas para que a gente possa transformar este país em um país realmente justo. Daí porque o novo marco regulatório do pré-sal e daí porque criar o fundo para cuidar da educação, da pobreza, da ciência e tecnologia, da questão da cultura.
Então, eu acho que tem muitas coisas, tem muitas coisas que as pessoas vão lembrando. Quem sabe se a gente, um dia, conversar, seis meses depois que eu deixar a Presidência da República, quem sabe eu já tenha maturado, na minha cabeça, as coisas que você deu muita importância pelo que você fez e as coisas que você lamenta não ter feito.
Pior momento
Agora, do ponto de vista da política, política, o período do Mensalão foi o pior possível. Eu quero estar vivo para ver o desfecho de tudo isso. Porque tem coisa um pouco esquisita, que eu não consigo entender. Talvez a minha sabedoria não me permita entender. Mas o acusador do Mensalão, ele foi cassado por falta de prova. O texto da cassação dele, na Câmara dos Deputados, diz que o cidadão fulano de tal vai ser cassado por falta de decoro parlamentar, porque não provou as acusações que fez, e o processo continuou como se nada tivesse acontecido. Ou seja, se criou um clima político no Brasil, eu diria, muito temeroso e muito desconfortável. Eu, um dia, comecei a meditar e eu disse o seguinte: “Olha, o Getúlio Vargas foi muito forte entre 30 e 45, mas não aguentou quatro anos de democracia e se matou. O João Goulart… O Jânio Quadros, que era representante de um setor atrasado da política brasileira, foi eleito presidente da República e, com seis meses, puxou o carro. O João Goulart foi convidado… (incompreensível) não vou fazer isso, vão ter que me vencer é na rua. Então, porque, a partir daí, a partir daí, ou seja, quando você… Tinha um clima político muito… Ah, vamos ser francos, os setores mais conservadores no Congresso Nacional pensaram em chegar ao impeachment, pensaram. Não chegaram porque não tiveram coragem ou porque acharam que eu ia… que era o meu fim.
Eu não vou contar o santo, mas vou contar o milagre. Uma vez eu tive uma janta com um pessoal de imprensa. E conversa vai, conversa vem, eu estava muito otimista, estava falando coisa, falando coisa, tal. Quando eu saí, uma das pessoas que estava no jantar falou: “Puxa, o Presidente está bem. Eu achei que o Presidente estava abatido. O Presidente está muito otimista”. E aí um cidadão, influente naquele meio de comunicação: “É fingimento. Ele sabe que ele não vai ser candidato, ele não tem coragem de ser candidato e ele sabe que ele vai ser massacrado se ele for candidato”. Olha, se um cidadão desse ganhar bônus para dar informação para o seu chefe, ele vai levar o jornal à falência. Porque foi um momento de muitas verdades, de muitas mentiras, de muitas insinuações, de muitas… Bom, que tudo isso termina na Justiça. Tudo isso termina na Justiça, que é o bom da democracia, que é o bom da democracia. A gente só dá valor à democracia quando a gente está sendo atacado. Quando a gente está sendo atacado, como é bom ter justiça!
Então, você veja uma coisa: todo regime autoritário começa assim. Todo. O regime militar não sabe esperar, não sabe esperar apuração, a Justiça. Pego você, Tales e desapareço com você. Está feita a justiça, acabou, ninguém vai saber.
Cabeça de eleitor
A cabeça do povo é um cofre de informações, que está à espera de coisas para ele captar, para guardar ou para jogar fora imediatamente. Então, muitas vezes, a gente pensa que um discurso nosso abafou. Sabe aquele negócio: “Eu me amo”? Você faz um discurso e você fala: “Ah, foi…”. Tem gente que fala assim: “Eu arrasei”. Aí, quando você coloca aquele discurso em uma qualitativa, às vezes, de dez pessoas que estão no grupo, nove jogam fora o discurso. Quando você faz campanha e você acompanha… Por exemplo, você vai para um debate na televisão e você acompanha em tempo real os debates… No debate que eu fiz com o Alckmin, em 2006, em que ele estava muito agressivo, naquele… Aquele da Bandeirantes. Eu recebia, a cada intervalo, a informação: quanto mais agressivo o Alckmin ficava, mais ponto ele perdia. Ele não se deu conta que ele estava diante, não de um adversário, ele não se deu conta que ele estava diante do presidente da República. E, para o povo, você respeitar a instituição tem um valor importante. E ele não se deu conta disso.
Na hora do debate, nós tínhamos 12 grupos reunidos, em vários lugares do país. Então, qual foi o grande erro do Alckmin? Ele se deixou seduzir pelos aplausos de meia dúzia de pessoas dele, que estavam na frente dele. E eu aprendi que, quando você está falando para a televisão, não é a pessoa que está do seu lado que importa, é o cidadão que está sentado em um sofá, um aposentado, um adolescente, uma senhora que acabou de brigar com o marido ou uma menina que acabou de receber um telefonema do namorado, convidando ela para casar. Você está falando para milhões, mas individualmente, e isso a gente vai aprendendo.
Pesquisas
Hoje em dia, esse negócio de a gente falar que não acredita em pesquisa é só quando a gente está por baixo. Em 82, eu era candidato a governador, o Estadão publica uma pesquisa, faltando acho que uns três ou quatro dias para as eleições: “Montoro, não sei quanto; Reynaldo de Barros, não sei quanto; Jânio, não sei quanto; Lula, 10%”. Eu tinha feito um comício no Pacaembu, que eu saí de lá com a convicção que eu ia ganhar as eleições. E aí você já fala: “Porque essa imprensa burguesa, porque essa imprensa e tal”. Bom, o dado concreto é que, depois das eleições, eu tive exatamente os 10% da pesquisa (risos). A partir dali eu comecei a acreditar em um certo critério científico e em uma certa… Muita importância para a pesquisa. Hoje eu acredito muito em pesquisa, dou muita importância. Obviamente que ela pode ser mudada.
Lições da derrota
Eu aprendi com muita derrota, aprendi com muita derrota e com muita humildade. Por exemplo, eu lembro que, na campanha de 2002, tinha uma pesquisa que dizia o seguinte: “O povo quer reforma agrária pacífica e tranquila”. E eu tinha sido educado durante 30 anos para fazer um discurso: “Reforma Agrária ampla e radical sob o controle dos trabalhadores”. Eu levei mais de cinco dias para a minha boca conseguir dizer: “Reforma Agrária tranquila”. E aí, quando você faz essas coisas, você percebe que nem sempre a tua verdade é absoluta, que é sempre bom você ouvir as pessoas. De dez conselhos que você ouve, um pode ser bom para você, dois podem ser bom, pode te ajudar.
Comportamento de ex-presidente
É fechando a boca e deixando quem foi eleito governar. Quem governou teve a sua chance, fez o que tinha que fazer, dá palpite se pedido, se for para ajudar, para atrapalhar, nunca. E tem que deixar quem foi eleito governar. Até o direito de errar, quem é eleito, tem o direito de errar até para
aprender com seus erros. Quem é eleito presidente da República não precisa de tutor, a pessoa tem que navegar e aprender.
(…) Então, quando essa ficha cair, aí eu estou preparado para tocar a vida para frente. Eu não quero nem tomar decisão, eu não quero nem tomar decisão do que fazer antes de alguns meses, porque eu não quero ficar tomando decisão errada. Então, eu tenho que maturar. Maturar, calejar, para, depois, tomar decisão.
Bom humor
Hoje eu acredito em coisas que eu não acreditava, eu sou um homem… Eu só tenho motivo para ter alegria. Eu, todo santo dia, agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo, porque eu pude provar coisas que pareciam ser impossíveis de serem provadas em um mandato. Eu pude conhecer outros governantes que a gente vendo daqui… Porque nós, brasileiros, sempre nos víamos como inferiores, era quase natural, da herança colonial que nós recebemos, que tudo o que acontecesse nos States era melhor do que nós, tudo que acontecesse na França era melhor do que nós, tudo que acontecesse na Alemanha. De repente, a gente começa a conviver com esses dirigentes, começa a conviver com os problemas, e a gente percebe que, na política, nós somos mais nós, que você tem questões importantes para serem feitas em cada país, a soberania de cada país, o respeito de cada país, e que a gente não pode abdicar disso.
Então, eu sou uma pessoa, hoje, muito, muito, muito, muito feliz, muito… Sairei da Presidência pela porta da frente, com a consciência tranquila de que eu fiz muito, mas, ao mesmo tempo, com a consciência tranquila de que esse muito que nós fizemos apenas descobriu que nós temos muito mais para fazer, que é a coisa extraordinária da democracia. Ou seja, quanto mais a sociedade conquista, mais ela quer; quanto mais conquista, mais ela quer. É quase uma criança na fase de pré-adolescente, pode pôr quantos pratos quiser que ele tritura e não tem azia, não tem dor de estômago, não tem nada. Então, a sociedade, ela está ávida por conquista, muito, mas muito, muito, muito, muito. Então, ela aprendeu a conquistar. Eu acho que isso é muito bom para o Brasil e todo mundo vai aprender.
A coisa boa do capitalismo
Eu trabalhei em linha de produção, e, na linha de produção, às vezes, dois companheiros, parceiros, um de noite e um de dia, faz a mesma peça, e, quando você chega para trabalhar de noite, você fica doido para contar as peças do teu parceiro que trabalhou de dia, que é o adversário, porque você não pode produzir menos do que ele. Então, a primeira coisa que você começa a fazer é ir lá, onde estão as peças, contar quantas peças fez… “Ah, ele fez 18; então, vou ter que fazer 19”. Essa é a coisa boa do capitalismo, é que ele impulsiona a competitividade entre os seres humanos, que não se dão conta que cada dia vão produzindo um pouco a mais e o salário continua o mesmo. Então, essa coisa, essa coisa, para mim, é extraordinária: a sociedade pressionar para que quem vier depois de mim… tem que fazer mais, porque tem que fazer mais, porque nós já aprendemos a fazer mais, está provado que é possível, e aí, se todo mundo fizer um pouco mais, o Brasil vai, no século 21, tirar todo o atraso que ele teve no século 19 e no século 20. Veja, se a gente tiver mais um presidente que faça mais 14 universidades, outro fizer mais veja, Olhe, precisamos nós consolidar 14, outro fizer mais 200 escolas técnicas, outro fizer mais 1,6 mil creches, aí, daqui a dez, 15 anos, nós vamos ter um país, do ponto de vista da Educação, comparado a um país de primeiro mundo.

Contra a baixaria na mídia. Contra o golpismo midiático. A favor da democracia

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na “presunção da culpa”, numa afronta à Constituição que fixa a “presunção da inocência”.
Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.
Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.
A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.
Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – já mostraram seu desapreço pela democracia.
É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão – com apoio do movimento de blogueiros progressistas – um ato em defesa da democracia.
Participe! Vamos dar um basta às baixarias da direita!
Abaixo o golpismo midiático!
Viva a democracia!

Data: 23 de setembro, 19 horas
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo -
Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista.
Presenças: dirigentes do PT, PCdoB, PSB, PDT, de representantes da CUT, FS, CTB, CGTB, MST e UNE e de blogueiros progressistas.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sai a sogra, entre o genro

Sensacional da charge do amigo Kayser. Espelha uma grande verdade...

domingo, 12 de setembro de 2010

Sem medo de ser feliz

Me intrigo ao ver como a felicidade amedronta.
Medo de que seja tão verdadeira quanto queremos.
Ou efêmera como tanto tememos.
Prefiro ser feliz, independente do medo.

A parcialidade e o golpismo da mídia

A grande mídia - que o colega Paulo Henrique Amorim apelidou de PIG (Partido da Imprensa Golpista) - continua agindo como investigadora. Seus "jornalistas", lamentavelmente, são os investigadores do momento, com o intuito de ajudar um candidato moribundo. A isenção, essencial no bom jornalismo, foi esquecida. Continuarão agindo desta forma durante o Governo de Dilma? O espírito golpista será mantido? Espero que não, mas tudo é possível ante a fúria do PIG.

11 de setembro, outra data para lembrar

Os norte-americanos e o mundo lembram do 11 de setembro como o dia em que o terror derramou sangue para conseguir seus objetivos. Não esqueçamos que eles - governo dos EUA - foram cúmplíces de um atentado semelhante na mesma data, mas que preferem ignorar.

"Quando os aviões, naquela terça-feira, 11 de setembro, aproximavam- se do edifício que simbolizava a liberdade de toda uma nação, vinham carregados da mais fria ânsia assassina, prontos para por em terra não somente o poder que ele simbolizava, mas também todas as esperanças de soberania e justiça que trazia consigo. No entanto, se a morte alada, patrocinada por grupos estrangeiros, logrou seu objetivo imediato, não conseguiu matar a utopia de uma vida verdadeiramente livre e justa, que permaneceu e permanece viva no coração de todos aqueles que, a partir daquele dia, sabiam que a vida de toda uma nação - e do mundo - nunca mais seria a mesma".


11 de setembro de 1973 - 11 de setembro de 2010.
37 anos do assassinato de Salvador Allende, presidente eleito do Chile

Até agente da ditadura militar serve à Folha contra Dilma

Importante análise feita pelo blog Tijolaço.com, de Brizola Neto, sobre a parcialidade da mídia na atual campanha eleitoral. Ele faz referência ao uso de um torturador da ditadura militar, que tornou-se fonte "confiável" da Folha de São Paulo. Com certeza, trata-se da confirmação de que a grande mídia tranformou a informação em investigação. Contra o governo Lula e a candidata Dilma. Lamentável...
Depois a ombudswoman da Folha fica se queixando quando acontece uma reação indignada na internet contra o papelão a que o jornal está se prestando.
Está mandando gente para tudo o que é canto para tentar levantar informações que possa usar para explorar contra Dilma. Depois de mandar um enviado à Bulgária para ver se achava umas histórias escabrosas do pai da candidata, antes que este viesse para o Brasil nos anos 30(!!!), agora mandou um repórter a Porto Alegre para entrevistar um agente da ditadura, um espião da chamada “comunidade de informações” que diz ter sido encarregado de vigiar Dilma Rousseff.
Sim, acredite, o jornalzinho vai ouvir um ex-coronel da Brigada Militar, expulso da corporação por roubo de tijolos, é a fonte em que ele se ampara para tentar fazer uma contrapropaganda de Dilma.
Este cidadão, que não tem um pingo de autoridade moral e desonra a Brigada Militar – a força que resistiu à tentativa de golpe em 61 – ganha o direito de dar palpites sobre a personalidade de sua “espionada”:
“O ex-coronel relembra a Dilma que vigiou: cabelos armados, óculos de lente grossa, com personalidade forte para intervir em discussões entre esquerdistas e fazer valer sua opinião.”Pessoas desse tipo são duras, amargas. Ela é uma mulher amarga. Não é aquilo que está aparecendo na televisão. É lobo em pele de cordeiro”. “Lula vai se enganar com ela”, pontifica o espiãozinho.
Desde quando espião, araponga, agente da repressão tem o direito de ver um jornal sair publicando suas “análises” psicológicas? Ao que eu saiba, as únicas técnicas de “psicologia” usadas pelos agentes da repressão eram bordoadas, choques elétricos, chicotadas, sufocamento e outras barbaridades, que os colegas deste tal Sílvio Carriço Ribeiro, que a Folha de S. Paulo elevou à condição de “formador de opinião” sobre Dilma.
Que vergonha para a imprensa brasileira, que nojo para os democratas deste país!



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Para salvar a vida: as mulheres no poder

Leonardo Boff

Há uma feliz singularidade na atual disputa presidencial no Brasil: a presença de duas mulheres, Marina Silva e Dilma Rousseff. Elas são diferentes, cada qual com seu estilo próprio, mas ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder, geralmente, em benefício da própria vaidade ou de interesses elitistas que ainda predominam na democracia que herdamos.

Elas emergem num momento especial da história do pais, da humanidade e do planeta Terra. Se pensarmos radicalmente e chegarmos à conclusão como chegaram notáveis cosmólogos e biólogos de que o sujeito principal das ações não somos nós mesmos, num antropocentrismo superficial, mas é a própria Terra, entendida como superorganismo vivo, carregado de propósito, Gaia e Grande Mãe, então diríamos que é a própria Terra que através destas duas mulheres nos está falando, conclamando e advertindo. Elas são a própria Terra que clama, a Terra que sente e que busca um novo equilíbrio.
Esse novo equilíbrio deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens. Estes, depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta. Os encontros internacionais mostram-nos despreparados para lidar com temas ligadas à vida e à preservação da Casa Comum. Nesse momento crucial de graves riscos, são invocados aqueles sujeitos históricos que estão, pela própria natureza, melhor apetrechados a assumirem missões e ações ligadas à preservação e ao cuidado da vida. São as mulheres e seus aliados: aqueles homens que tiverem integrado em si as virtudes do feminino. A evolução as fez profundamente ligadas aos processos geradores e cuidadores da vida. Elas são as pastoras da vida e os anjos da guarda dos valores derivados da dimensão da anima (do feminino na mulher e no homem) que são o cuidado, a reverência, a capacidade de captar, nos mínimos sinais, mensagens e sentidos, sensíveis aos valores espirituais como a doação, o amor incondicional, a renúncia em favor do outro e a abertura ao Sagrado.
O feminismo mundial trouxe uma crítica fundamental ao patriarcalismo que nos vem desde o neolítico. O patriarcado originou instituições que ainda moldam as sociedades mundiais como: a razão instrumental-analítica que separa natureza e ser humano e que levou à dominação sobre os processos da natureza de forma tão devastadora que se manifesta hoje pelo aquecimento global; criou o Estado e sua burocracia, mas organizado nos interesses dos homens; projetou um estilo de educação que reproduz e legitima o poder patriarcal; organizou exércitos e inaugurou a guerra. Afetou outras instâncias como as religiões e igrejas cujos deuses ou atores são quase todos masculinos. O “destino manifesto” do patriarcado é do dominium mundi (a dominação do mundo), com a pretensão de fazer-nos “mestres e donos da natureza”(Descartes).
Atualmente, os homens (varões) se fizeram vítimas do “complexo de deus” no dizer de um eminente psicalista alemão K. Richter. Assumiram tarefas divinas: dominar a natureza e os outros, organizar toda a vida, conquistar os espaços exteriores e remodelar a humanidade. Tudo isso foi simplesmente demais. Não deram conta. Sentem-se um “deus de araque” que sucumbe ao próprio peso, especialmente porque projetou uma máquina de morte, capaz de erradicá-lo da face da Terra.
É agora que se faz urgente a atuação salvadora da mulher. Damos razão ao que escreveu anos atrás o Fundo das Nações Unidas para a População:”A raça humana vem saqueando a Terra de forma insustentável e dar às mulheres maior poder de decisão sobre o seu futuro pode salvar o planeta a destruição”. Observe-se: não se diz “maior poder de participação às mulheres”coisa que os homens concedem mas de forma subalterna. Aqui se afirma: “poder de decisão sobre o futuro.” Essa decisão, as mulheres devem assumir, incorporando nela os homens, pois caso contrário, arriscaremos nosso futuro.
Esse é o significado profundo, diria, providencial, das duas candidatas mulheres à presidência do Brasil: Marina Silva e Dilma Rousseff.

Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro Feminino e masculino.Uma nova consciência para o encontro das diferenças (2002).

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ministério do Planejamento confirma: jornalistas têm direito à jornada especial

Em nota técnica emitida no dia 10 de agosto, a Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento emitiu parecer reconhecendo o direito dos jornalistas no serviço público federal à jornada especial de 25 horas semanais. A medida atende às manifestações da FENAJ e do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal sobre o tema. No dia 4 de agosto o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, foi informado por representantes da FENAJ e do Sindicato dos Jornalistas do DF que diversos órgãos federais vinham adotando procedimentos que feriam a regulamentação profissional da categoria e portarias sobre a jornada dos jornalistas do serviço público federal. Surpreso, Pereira prometeu um posicionamento dentro de 15 dias.
Encaminhada à apreciação da Coordenadoria Geral de Elaboração, Sistematização e Aplicação das Normas da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, a matéria teve parecer favorável aos jornalistas. Na Nota Técnica 762/2010 a Coordenadoria manifestou que a Portaria SRH 1.100/2006, alterada pela Portaria 222/2008, que relaciona a carga horária a ser cumprida pelos ocupantes dos cargos de Técnico em Comunicação Social (área de Jornalismo, especialidade em redação, revisão e reportagem)”, permanece em vigor, “gerando todos os efeitos legais”.
A nota reafirma expressamente que a jornada a ser cumprida pelos técnicos em comunicação social é de 25 horas semanais. No dia 10 de agosto Pereira determinou o encaminhamento da matéria para providências do Departamento de Recursos Humanos do Ministério da Justiça e para o Departamento de Administração de Sistemas de Informação e Recursos Humanos “para conhecimento e providências subseqüentes”.

Fonte: FENAJ

Comitê de resistência em defesa do Jornal Já

O momento é de extrema gravidade na história do Jornal JÁ, um ícone do jornalismo independente em Porto Alegre. Uma ação movida pela família Rigotto, que se arrasta por 10 anos, pode falir o JÁ e o jornalista Elmar Bones. Não podemos assistir a essa truculência de braços cruzados.
Precisamos agir. Por isso estamos convocando todos interessados que se importam com a sobrevivência e a dignidade do Jornal JÁ, que faz parte da nossa história de lutas por liberdades, para um encontro de formação do COMITÊ RESISTÊNCIA JÁ.
Precisamos da criatividade, inteligência, boa vontade, sentimento de justiça, indignação e um pouquinho de tempo de cada um e de cada uma para traçarmos estratégias que livrem o Jornal JÁ das garras da família Rigotto!!!!

LEIAM ENTREVISTA DO ELMAR NO BLOG do Paulo Henrique Amorim - www.conversaafiada.com.br/

Vamos pensar juntos!!

Aguardamos vocês na Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Marque na sua agenda:
DIA 11 DE SETEMBRO, SÁBADO, 10 HORAS
AUDITÓRIO DA ARI  -Av. Borges de Medeiros, 915

Gabriel, neto de Dilma Rousseff, é apresentado ao Brasil


Gabriel nasceu hoje em Porto Alegre e recebe o colo da futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
Foto para a posteridade - de Roberto Stuckert Filho/Divulgação

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

TRT suspende sindicalização e carteiras de não-jornalistas

Em fevereiro último, o juiz Rafael da Silva Marques, da 29ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, concedera liminar em Mandado de Segurança obrigando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul a filiar duas pessoas não formadas em Jornalismo, o bacharel em Direito Edwin Rudyard Wolff Dick e a médica Elisete Pereira de Souza. Nesta quarta-feira, 8 de setembro, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, por unanimidade de votos, publicou acórdão tornando sem efeito a decisão anterior.
"É uma vitória para a categoria, e fortalece as PEC pró-jornalistas para chegarem ao plenário do Congresso Nacional", comemora o presidente do Sindicato, José Maria Rodrigues Nunes. "Segundo o Supremo Tribunal Federal, todos podem exercer a profissão de jornalista, mas no nosso entender nem todos são jornalistas - somente os diplomados. E a sindicalização e a carteira de jornalista jamais foram requisitos para exercer a profissão", explica.
O presidente da entidade viu o mandado de segurança como uma interferência jurídica dentro do associativismo, inadmissível em um país onde todos têm direitos sociais. "Conceder carteira a quem não é jornalista profissional banalizaria um documento civil com validade nacional, permitindo seu uso impróprio", aponta.
Para o advogado do Sindicato, Antonio Carlos Porto Junior, é a primeira decisão importante do TRT sobre um tema polêmico e problemático, que ajuda a desfazer a má interpretação entre trabalhar no Jornalismo e ser jornalista. "Foi decidido pelo STF que o Jornalismo pode ser exercido por quem não é bacharel, sendo possível trabalhar no Jornalismo sem ser jornalista, mas isso nao faz a pessoa jornalista. Ao mesmo tempo, não pode haver sindicalização compulsória, e vale para ambos os lados. O Sindicato é de bacharéis em Jornalismo, e não pode ser obrigado a aceitar quem não é bacharel", explica Porto.
Agora, as carteiras expedidas para Dick e Elisete deverão ser recolhidas. "Ao conferir carteira de jornalista a quem não seja bacharel, está se cometendo uma ilegalidade brutal", declara o advogado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dilma ignora Serra


"Eu não comento o candidato José Serra. Ele resolveu baixar o nível, deixa ele com o baixo nível dele. Tem gente que torce contra o Brasil, tem gente que acha que sempre quanto pior melhor, tem gente que passou o governo inteiro do presidente Lula torcendo para que o Brasil desse errado", disse a candidata petista, Dilma Rousseff, durante coletiva concedida à imprensa em Brasília.

Foto: Ricardo Stuckert/divulgação

Tracking Vox Populi/Band/iG: Dilma 56%, Serra 21%

Cientistas políticos afirmam que o caso da violação de sigilo da filha de José Serra (PSDB) não alterou a escolha do eleitor

No sétimo dia das medições do tracking Vox Populi/Band/iG para a eleição presidencial, a petista Dilma Rousseff obteve 56% e o tucano José Serra 21% das intenções de voto. Em relação ao primeiro dia da medição, no dia 1 º de setembro, a petista oscilou positivamente cinco pontos percentuais. O candidato tucano teve oscilação negativa de quatro pontos percentuais. A margem de erro é de 2,2 pontos. No dia 1º de setembro, Dilma tinha 51% e Serra 25%.
A candidata Marina Silva (PV), terceira colocada, manteve-se com 8% das intenções de voto. Brancos e nulos são 4%, indecisos somam 10%, mesmo índice do levantamento do dia anterior, e os outros candidatos têm 1%.
A pesquisa, publicada diariamente pelo iG, ouve novos 500 eleitores a cada dia. A amostra é totalmente renovada a cada quatro dias, quando são totalizados 2.000 entrevistados.
Na pesquisa espontânea, quando o nome do candidato não é apresentado ao entrevistado, Dilma oscilou positivamente um ponto e tem 45%, Serra por sua vez oscilou negativamente e marca 16%, um ponto a menos que na sondagem anterior. Marina Silva manteve-se com 6%.
A petista apresentou melhora de três pontos da região Sudeste, onde tem 49%. Serra oscilou negativamente três pontos, para 22%. Na região Centro-Oeste/Norte, Dilma passou de 55% para 54%, enquanto Serra ficou estável em 25%. Na região Sul, Dilma oscilou de 53% para 51% e Serra, de 25% para 24%. No Nordeste, Dilma passou de 71% para 70% e Serra, de 15% para 16%.

Violação de sigilo não mudou escolha

De acordo com cientistas políticos ouvidos pelo iG, o movimento apresentado pelo tracking evidencia que a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e de Verônica Allende Serra, filha do presidenciável tucano, não interferiu na escolha do eleitor. “A Dilma ficou uma semana sob fogo cruzado, mas a crise (da quebra do sigilo) não colou na campanha”, afirma Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e pesquisador da PUC-SP e da Fundação Getúlio Vargas.
Para Murilo de Aragão, cientista político e presidente da Arko Advice Consultoria, “a maioria esmagadora dos eleitores já optou pela candidata do Lula e o episódio do sigilo, em que pese a gravidade do assunto, não teve repercussão para o eleitorado”. Segundo Aragão, os eleitores tendem a enxergar o mundo político como uma realidade à parte. E, por isso, o escândalo da violação do sigilo está distante do eleitorado.
“A tendência das eleições está dada”, afirmou o presidente da Arko Advice. Ele diz que desde o ano passado já esperava uma vitória da candidata petista no primeiro turno, mas a grande surpresa no processo eleitoral “é a tamanha vantagem da Dilma”. Com relação ao candidato tucano, Aragão vaticina: “Serra está perdido. Hoje ele é um passageiro da campanha”.
Ainda em relação ao escândalo do sigilo, Teixeira diz que “Serra deu um tiro no pé” ao atribuir a Dilma a quebra do sigilo e, logo no início, pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a impugnação da candidatura petista. “Ao negar o pedido, o TSE sinalizou que o problema pode ser do PT, mas não é da campanha da Dilma”, diz o cientista político. Segundo ele, os tucanos também caíram em uma saia justa com as denúncias, no Rio Grande do Sul, de que um sargento que atuava na Casa Militar responsável pela segurança da governadora Yeda Crusius (PSDB) teria acessado dados confidenciais do candidato Tarso Genro (PT).
Murilo de Aragão também busca no passado uma explicação. “A derrota de Serra começou a ser escrita oito anos atrás”. De acordo com ele, o PSDB não traçou uma estratégia para voltar ao poder. “O PSDB se organizou apenas em torno do prestígio dos seus cardeais e não soube explorar as falhas do governo Lula”, afirma. Segundo ele, as únicas ocasiões em que os tucanos tiveram alguma chance de ganhar eleições aconteceram em “episódios fortuitos”, como o mensalão.
O presidente da Arko Advice faz uma analogia para ilustrar em que situação está a disputa eleitoral. “Imagine uma luta de boxe. A Dilma está vencendo por seis a três e falta apenas um último assalto para terminar o embate. O que ela tem que fazer é evitar o choque. E o Serra só pode vencer por nocaute”.

Fonte: IG

Adeus, Jornal do Brasil...

A foto de Márcia Foletto seria mais uma retratando uma banca de jornais. Não é. Significa a morte de um dos mais importantes jornais do Brasil. E fim do emprego para centenas de jornalistas, gráficos e todos os empregados que gravitam em torno de uma redação. Momento triste para o jornalismo. Esta foi a última edição impressa do Jornal do Brasil, centenário veículo carioca que marcou época.

Tarso: cultura para o Rio Grande do Sul crescer




Os gaúchos são sua cultura. Poucos povos no Brasil têm o sentimento tão forte deste dado fundamental de sua vida coletiva. Somos conhecidos no País afora tanto pela força de nossos símbolos, por nossa história coletiva, quanto pela solidez da formação dos artistas gaúchos – em suas expressões individuais ou não – e a intensidade de nosso ativismo cultural. Ao longo dos anos, consolidaram-se no Rio Grande eventos com história e impactos em praticamente todas as linguagens. Por aí vão décadas de festivais nativistas, da Feira do Livro de Porto Alegre, da Jornada de Literatura de Passo Fundo, da Bienal do Mercosul, do Porto Alegre em Cena, do Festival de Cinema de Gramado. Entre diversos outros, estes eventos são hoje processos que desencadeiam desenvolvimento turístico, educacional, econômico, cidadão e, claro, estético.
Um enorme número de gaúchos são artistas e intelectuais reconhecidos em suas áreas. Homens e mulheres cuja força criativa produz comoção, riso, reconhecimentos, percepções e afeições com seu trabalho dentro e fora do Rio Grande do Sul. Isso numa ponta, naquela que já está de certa forma inserida no mercado ou na academia, e que consegue viver de seu talento criativo, muitas vezes a duras penas, principalmente neste início de milênio, em que transformações radicais ocorrem nas indústrias culturais tradicionais (da música, do livro, do cinema etc). Artistas cuja enorme produção merece um reconhecimento à altura por parte do Estado do Rio Grande do Sul, por meio de políticas que facilitem a circulação de seu trabalho no mercado gaúcho e ampliem a presença de sua produção no Brasil e no Exterior. A cultura é direito de todos, mas este direito só se completa realmente com a valorização dos artistas. E o Rio Grande do Sul precisa retribuir, com uma política cultural abrangente, a seus talentos o que estes fazem pelo Rio Grande.
Este é um problema numa ponta, mas também na outra, onde um sem-número de criadores ainda sem inserção de sua produção amarga a falta total de apoio a projetos, a falta de formação na área da cultura, a inexistência de um programa de intercâmbio cultural e possibilidades de mostrar sua produção a públicos maiores. E há milhares deles no Estado. Em cada uma dessas quase 500 cidades do Rio Grande do Sul, existem corais, bandas, escritores, artistas plásticos, atores e atrizes, que, sem apoio, muitas vezes desistem do caminho das artes para encaixarem-se em um lugar “produtivo” na periferia de nosso capitalismo.
E há ainda os milhões de jovens a quem muitas vezes sequer é dada a oportunidade de saber o que é o mundo das artes. O Estado, que desde a constituição de 1988 deveria garantir-lhes seus direitos culturais, não lhes oferece sequer o acesso a bens e serviços dessa natureza, quanto mais o mínimo contato com a técnica em oficinas e cursos iniciais. Corta-se, no começo da vida intelectual e criativa desses meninos e meninas, a possibilidade de, se não de se tornarem artistas, pelo menos de participarem com mais qualidade do mundo da fruição simbólica. Entregues em massa ao deus-dará do mercado e dos conglomerados de entretenimento, viram peças de consumo de superficialidades espetacularizadas, sem qualquer balanceamento de alguma esfera crítica, a qual um Estado republicano deveria sempre ter como objetivo desenvolver.
Ocorre que, ao contrário do que aconteceu no Brasil, o Rio Grande do Sul ainda não entrou no paradigma da política cultural e, por isso, não desenvolveu os instrumentos necessários para dar conta da produção e do acesso do povo gaúcho a ela. E o fato crucial é que a falta de política cultural decorre, na verdade, de uma visão inadequada de cultura, que a vê como eventual, como a cereja do bolo, e não com suas potencialidades de rebatimentos econômicos, sociais e criativos. Os minguados orçamentos para a Cultura refletem a importância que o atual governo dá para ela. Assim, exime-se de fazer política cultural com uma isenção fiscal utilizada na verdade como isenção do papel do Estado na Cultura. Não aproveitar o que de mais rico um povo pode ter, sua criatividade e sensibilidade, é desperdiçar a chance de se ter o Rio Grande do Sul realmente como um “Estado criativo”, como acontece hoje em diversas partes do mundo, entre cidades, estados e países que colocam este “ativo” que possuem como fator importante de seu desenvolvimento, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, mas também no Canadá e em outras nações do Globo.
Com a falta de política cultural, há o desperdício das muitas chances de um desenvolvimento do Rio Grande do Sul com mais impacto ético, estético, social e individual, dimensões amplamente desenvolvidas pelas artes. No mundo contemporâneo, esse poder inventivo de que a arte se origina e alimenta é percebido tanto pela sua importância para a qualificação dos ambientes sociais quanto como elemento gerador de uma economia que hoje, no mundo, soma cerca de 7% do PIB e, no Brasil, chega bem perto disso. O Rio Grande do Sul tem a energia criativa para esta transformação de seu perfil. O que falta é circulação. Faltam fomento e incentivo. Falta ação do Estado. Inclusive para chegar a outros setores da cultura, para descobrir novos talentos, fomentar circuitos e eventos e estimular linguagens novas.
Abafando esta potencialidade, o que há hoje é um enorme vazio do papel do Estado no setor. O fato indiscutível não é apenas que não existe planejamento da área da cultura pelo Estado, que sua Secretaria finalística está desestruturada, que o financiamento é nulo, mas a própria ideia de cultura está ultrapassada, principalmente se compararmos com o que aconteceu no Brasil do governo Lula, nos últimos sete anos e meio. Um país que vem implantando e modernizando bibliotecas em todo o seu território; que investe no poder do crescimento da dimensão do simbólico das populações com seus Pontos de Cultura; que avança em direção ao interior de seus rincões com ações nas mais diversas áreas, via editais públicos que descentralizam de maneira republicana o acesso aos recursos; que amplia de R$ 359 milhões (0,2% da receita do país) para R$ 2,2 bilhões (0,7%) em 2010, o maior orçamento da história brasileira para a cultura; que faz os benefícios da Lei Rouanet chegar pela primeira vez às suas regiões mais distantes; que estrutura uma rede de museus de Norte a Sul…
Enfim, o Brasil mudou desde 2003. E mudou estruturalmente em se tratando de políticas culturais. Ultrapassamos diversos paradigmas de lá para cá. O primeiro é o redutor paradigma da Identidade (herdeiro do positivismo, do nacionalismo e do militarismo), pelo paradigma da Diversidade Cultural. Com a ratificação, em 2007, pelo Congresso Nacional, da Convenção da Unesco pela Promoção e Proteção da Diversidade Cultural, o Brasil disse ao mundo que a identidade de seu povo não é uma cultura homogênea, mas um rico conjunto de diversidades.
O Rio Grande do Sul, estado diverso que é, de cultura híbrida, de fronteira, também precisa compreender-se a partir do atual paradigma e dar visibilidade, por meio de políticas públicas, às diferenças internas e externas de sua cultura. Para isso, precisa desenvolver ações que promovam todas as identidades do Rio Grande do Sul (gaúcho do pampa, imigrante europeu da Alemanha, Rússia, Itália etc, rural, urbano, suburbano, negro, índio, serrano, litorâneo, missioneiro – diverso), com editais adequados a cada um desses e de outros segmentos.
O segundo paradigma ultrapassado pelo governo Lula é o da cultura como artigo supérfluo, ornamental ou ostentatório de uma sociedade. Agora, reconhece-se o conjunto simbólico gerado pela cultura como importante fator de qualificação do ambiente social, do desenvolvimento coletivo e individual, gerador de oportunidades, ao ampliar repertórios, de emprego e de renda. Diferentemente tanto das políticas tradicionais verticalistas quanto das horizontalistas, baseadas na ampliação do acesso, mas muitas vezes não no desenvolvimento das linguagens. No governo Lula, a cultura está sendo desenvolvida de maneira sistêmica em três dimensões: como direito de cidadania, como valor simbólico e como economia.
Também no Rio Grande do Sul, a cultura precisa passar a ser vista não apenas como entretenimento ou distinção (de massas ou das elites), mas como “coisa séria”, com rebatimentos na dimensão cidadã, no valor criativo, compondo uma contemporânea estratégia de desenvolvimento. É essa estratégia de desenvolvimento que a candidatura Tarso Genro representa no Rio Grande do Sul e que Dilma Roussef dará continuidade em todo o nosso País. Tarso é realmente comprometido com a Cultura. Quando foi prefeito de Porto Alegre, em 1993, criou o primeiro edital de fomento à cultura sem renúncia fiscal do Brasil, o Fumproarte. Também criou o Mercocidades, em 1995, promovendo a articulação de Porto Alegre com as outras cidades do Mercosul. São dessa época os projetos de intercâmbio Porto Alegre em Buenos Aires e o Porto Alegre em Montevidéu, por exemplo. Com a descentralização da cultura, implementou dezenas de oficinas nos bairros da cidade, promovendo a milhares de crianças, jovens e adultos um contato ativo com o mundo da arte. E foi com Tarso que se realizou em Porto Alegre a primeira Conferência Municipal de Cultura do Brasil.
Como ministro da Educação, Tarso deu importantes contribuições à Cultura, exatamente porque tem noção exata da importância da cultura para a educação. Como educação sem cultura é ensino, ativou uma série de programas entre MEC e MinC nesta intersecção; revolucionou o país com o Pró-Universidade (Prouni) e promoveu uma virada cultural no País ao estabelecer um sistema de cotas para a população negra chegar à universidade. Como ministro da Justiça, criou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), em cuja base está uma série de ações culturais. Nos Territórios da Paz, as armas são os Pontos de Leitura, as bibliotecas modernizadas, as oficinas culturais, os estúdios comunitários e os agentes de leitura. Isso porque segurança sem cultura é repressão.
Tarso, que muito já fez pela Cultura no Rio Grande e no País, sabe que, para desenvolver a cultura no ritmo do Brasil, o Rio Grande do Sul precisa atualizar sua ideia de cultura, a partir dos fatores que foram fundamentais para o crescimento da importância da área na agenda política nacional. Pela primeira vez na história brasileira, a cultura passa a compor o conjunto de políticas sociais do País. E é o que queremos ver acontecer também no Rio Grande do Sul, com um governo que a reconheça não apenas como bom negócio para as empresas privadas via isenção de impostos. É preciso política cultural para sair de vez da ideia de que cultura é o residual, o ornamental, o elemento de distinção, o supérfluo, e não o necessário.
Com Tarso Genro, o Estado compreenderá a cultura como um elemento central de desenvolvimento e trabalhará ampliando o orçamento da Sedac. O governo atualizará a institucionalidade da cultura, com a reforma da Sedac, diversificando as fontes de financiamento (com parcerias nacionais e internacionais), mediante planejamento a longo prazo, com um Plano Estadual de Cultura, diálogo, articulação e formulação de políticas por meio de Colegiados Setoriais em todas as áreas, criação de um Sistema Estadual de Cultura que dialogue permanentemente com os municípios de todas as regiões do Estado, mas também com o restante do País e do mundo, rompendo o atual isolamento cultural do Rio Grande.
Há uma revolução cultural acontecendo no Brasil e, nela, o Rio Grande não está contribuindo à altura de sua importância. Na contramão do Rio Grande atual, o Brasil do governo Lula está implantando milhares de pontos de cultura, uma geração mais nova dos equipamentos culturais que avançam no sentido do poder do crescimento da dimensão do simbólico dos indivíduos e da democratização, muito mais que as casas de cultura ou os centros culturais estatais, ou os espaços culturais, privados, importantes, mas insuficientes. Infelizmente, dos mais de quatro mil pontos de cultura espalhados pelo País, apenas 50 ficam no Rio Grande do Sul. E isso só aconteceu porque municípios gaúchos romperam o isolamento e partiram eles próprios para o convênio direto com o governo federal. Mas está na hora de mudar esta história. Até o fim do governo Tarso, o Rio Grande terá…
500 pontos de cultura, de leitura, pontinhos de cultura, pontos de memória e Cine Mais Cultura.
500 bibliotecas públicas modernizadas em todo o Estado, transformando-as em centros culturais.
500 projetos em todas as cidades do Estado, entre Teatro na Escola, Música na Escola, Autor Presente, Cinema na Escola, Cultura na Escola.
E é por isso que nós, artistas, profissionais das artes, produtores culturais, intelectuais, ativistas, trabalhadores da cultura e da promoção ao acesso a bens e serviços culturais…
… Queremos Tarso Genro governador do Rio Grande. E Dilma Roussef, presidente do Brasil!

E assim era FHC...

Neste cartum do Bessinha, lembramos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, idolatrado pela mídia, cometia alguns desatinos. E era sempre perdoado pelos jornalões e pela rede Globo. Imaginem como eles se comportam quando Lula se excede ou ataca o vernáculo. Não perdoam.