Blog destinado ao Jornalismo, com informações e opiniões nas seguintes áreas: política, sindical, econômica, cultural, esportiva, história, literatura, geral e entretenimento. E o que vier na cabeça... Leia e opine, se quiseres!
domingo, 26 de setembro de 2010
Mentiras e manipulações
O Clube Militar serviu de cenário na semana que passou para um espetáculo dos mais deprimentes e que confirmou a quantas anda a saúde do jornalismo de mercado. Lá falaram, sem o menor constrangimento, para um público constituído sobretudo de militares da Reserva, a maioria apoiadora do golpe de 64, Merval Pereira, de O Globo, Reinaldo Azevedo, da revista Veja e um tal de Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert).
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
A histórica influência do jornalismo na vida política brasileira
Rachel Duarte
“Vou derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos”. Talvez este tenha sido o ápice do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último final de semana, durante comício em Campinas (SP). Não precisava nem ser ano de eleição para a declaração repercutir como uma bomba ao longo desta semana. A posição da Associação Nacional de Jornais (ANJ) foi dada pela sua presidente. Judith Britto afirmou que, por falta de uma oposição ao governo de Lula, a imprensa ocuparia este papel.
Hoje, diferentes grupos estão nas ruas da capital paulista fomentando o debate sobre liberdade de imprensa. Porém, os confrontos entre imprensa e governantes e até mesmo entre imprensa e candidatos à presidência da República não é novidade no Brasil Republicano. Em 1954, quando foi anunciado o suicídio do presidente Getúlio Vargas, defensores do seu governo invadiram e depredaram as redações dos Diários e Emissoras Associados (DEA), que criticavam duramente as ações do presidente trabalhista. Segundo o historiador gaúcho Voltaire Schilling, a campanha O Petróleo é Nosso pautou a imprensa, liderada pelo influente Francisco de Assis Chateaubriand, dono dos DEA. Ele alegava que a Petrobras seria uma concessão aos comunistas. “Este foi o caso mais famoso e que levou a um desenlace dramático: o suicídio de Getúlio. O argumento da imprensa era o de que estava sendo criada uma estatal contra o país. A iniciante TV Tupi impulsionou esta crise”, disse.
Em defesa de Getúlio surgiu o jornal Última Hora, do jornalista Samuel Wainer. A ideia inicial do jornal foi de Vargas, que conheceu Wainer quando o jornalista o entrevistou em 1949. Vargas estava “exilado” na sua fazenda em São Borja desde que fora deposto, mas já planejava o retorno. Em 50, voltou ao poder, eleito democraticamente. A UH defendeu o governo durante todo o seu mandato (1951-54). Por conta disso, enfrentou uma série de campanhas que ameaçavam a sua própria existência.
Durante o governo de João Goulart, a Última Hora permaneceu fiel à sua tradição trabalhista, apoiando o presidente até as vésperas do movimento militar que o depôs, em 1º de abril de 1964. Depois do golpe, a Última Hora foi apedrejada e Samuel Wainer teve seus direitos políticos cassados. Mas o jornal prosseguiu na sua trajetória popular e nacionalista até 1971, quando foi vendido por Wainer. A antiga redação foi desmantelada e o jornal passou por vários proprietários até 91, quando encerrou definitivamente suas atividades.
Segundo o historiador Schilling, no caso de Jango, “a grande mídia também se revoltava contra os propósitos de transformar o Brasil em uma democracia de massas”. Ele conta que foi feito um trabalho de corrosão pelo rádio. “Eram programas humorísticos, onde claramente era posto que o governo era corrupto”, conta. A diferença do que era feito no começo do Brasil República para a era Lula, segundo o professor, é que hoje a imprensa não pede o golpe de estado. “Por mais que a mídia faça manifestações contra o Lula, como sempre fez com os governantes com projetos que defendam os interesses das classes mais populares, eles não pedem o golpe”, argumentou. Ele salienta ainda que os interesses dos veículos de comunicação mais influentes do país nunca foram os mesmos dos modelos de gestão de partidos socialdemocratas. “Os grandes patrocinadores destes veículos não têm a preocupação social e é a estes que eles servem. O interesse patronal predomina na pauta destes veículos”, afirma.
O jornalista e doutor em Comunicação, editor da Revista da ADUSP (Associação dos Docentes da USP), Pedro Pomar, explica que o surgimento dos jornais no Brasil teve forte motivação política e, no período republicano, essa vocação se mantém mesmo após o processo de transformações dos grandes jornais, que deixaram de ser empreendimentos familiares para serem modernas empresas capitalistas. “Iniciou com o Jornal do Brasil, depois alcança A Província de S. Paulo (que se tornará O Estado de S. Paulo), o Correio Paulistano e diversos outros. O Correio Paulistano, sólido jornal diário que foi um dos maiores da capital paulista por várias décadas, é uma boa expressão da imprensa da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20, pois era o jornal oficial do Partido Republicano Paulista (PRP), a mais fina representação dos grandes cafeicultores”.
Como exemplo da notória influência dos grandes jornais e emissoras de rádio e, depois, das emissoras e redes de TV, nas crises políticas nacionais, o jornalista voltou ao exemplo de 64, também referido pelo historiador Voltaire Schilling. “Um exemplo sempre lembrado é a participação dos grandes jornais no cerco golpista da UDN (e de outras forças reacionários) a Vargas, participação essa que depois recebeu o devido troco da população revoltada. E, também citou um caso mais recente: a eleição de Fernando Collor de Mello. “Houve uma adesão de importantes setores da mídia, TV Globo à frente, à candidatura de Collor de Mello, em 1989. Esse engajamento midiático foi decisivo para a derrota de Lula”, recordou.
Quanto aos interesses que levam a este comportamento de parte da mídia, ele generaliza: “Existe um interesse pecuniário direto, uma relação de troca. Por exemplo, o governo de São Paulo acaba de adquirir, sem licitação, 34 milhões de reais em publicações da Editora Abril. É um negócio interessante para a Abril. Por outro lado, existem os interesses de classe desse setor do empresariado, que sempre se alinhou às forças políticas mais conservadoras do país. Assim, quando a Folha de S. Paulo fala em “ditabranda” para definir a Ditadura Militar de 1964, isso remete imediatamente ao apoio que essa empresa deu àquele regime”, falou.
O jornalista vai mais além e questiona: “Quando a TV Globo abre campanha contra os quilombolas e se recusa a publicar matéria paga favorável às cotas étnicas na universidade, isso reflete ou não uma posição de classe, ideológica e também política?”
Regulamentação e entrelinhas
Para o presidente da FENAJ, Celso Schröder, a alternativa para evitar o que considera “uma relação ambígua dos grandes meios de comunicação com o centro do poder no país” seria efetivar o que já foi pactuado com os empresários destes veículos e o restante da categoria na 1ª Conferência Nacional de Comunicação. “O melhor modelo seria o norte-americano, que combate, entre outras coisas, os cartéis das concessões para as empresas jornalísticas”, defendeu.
Schröder afirma que, mundialmente, há veículos que ultrapassam o seu papel de comunicadores e fiscalizadores dos poderes, mas, reconhece alguns excessos ocorridos no Brasil. “Existem dois grupos de jornais impressos que têm candidato e isto não é assumido”, mas é nítido. O presidente da Fenaj alega que existem duas razões por trás deste comportamento da imprensa do eixo do país: brecar a regulamentação do sistema de comunicação do Brasil e influenciar no resultado da eleição presidencial. “A interferência no processo eleitoral cria um ambiente negativo, influenciando no resultado das pesquisas”, justifica.
Neste mesmo sentido, o fundador do Movimento dos Sem Mídia (MSM), Eduardo Guimarães, que colaborou na organização do ato desta quinta-feira em SP, afirmou ao Sul21, nesta quarta-feira, 22, que há uma posição velada adotada por parte da imprensa neste pleito. “Há uma clara tentativa de influir no processo eleitoral e, na legislação do Brasil, veículos que têm concessão pública, como emissoras de rádio e televisão, não podem, por lei, manifestar apoio a qualquer candidato. Há veículos que têm concessão pública e que estão fazendo campanha para José Serra. E, mesmo os veículos impressos têm que agir com responsabilidade durante as eleições. Vamos pedir oficialmente, no ato público, respeito à população. Pediremos um processo eleitoral limpo”, antecipou.
Na avaliação do doutor em Comunicação, Pedro Pomar, “a ANJ é um órgão do patronato e representa os interesses desse setor do capital e a pretensão de falar em nome da oposição conservadora, e até de assumir a liderança nos ataques ao governo Lula, revela uma dicotomia. “Por um lado, é a eterna pretensão de um setor da imprensa brasileira de agir como partido político e por outro lado, um certo desespero diante da constatação de que seus aliados tradicionais, os partidos conservadores, em especial o PSDB, não conseguem se firmar como uma alternativa política consistente diante da sociedade brasileira”, afirmou.
Os donos da comunicação no Brasil
Na manhã desta quinta-feira, 23, o presidente Lula concedeu entrevista sobre este tema ao site Terra. Ele criticou o comportamento da imprensa que “ao disseminar bobagens vai despolitizando a sociedade”. Entre outras coisas declarou: “Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores”.
Para Lula, críticas à falta de liberdade na área de comunicação, mais do que injustas, não têm sentido. Ele diz duvidar que outros países tenham mais liberdade de informação do que o Brasil. “A verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais”, disparou.
Segundo o presidente da FENAJ, Celso Schröder, o discurso do presidente, bem como as críticas da imprensa são legítimos no processo democrático, porém, questiona a decisão de determinados veículos em ser a oposição do governo Lula. “Não dá para a imprensa ser um partido. Mas, há de se preservar a neutralidade da objetividade jornalística que a imprensa deve exercer. Mas, nós temos dados assustadores de senadores e deputados federais ou mesmos presidentes, que são proprietários de veículos de comunicação”, confirmou.
Sobre a regulamentação do sistema de comunicação do país, o editor da Revista da ADUSP Pedro Pomar salienta que é fundamental o debate na sociedade. “No que diz respeito às mídias eletrônicas de massa, o simples cumprimento dos dispositivos da Constituição Federal já seria um avanço em matéria de regulamentação”, afirma. Pomar recordou que, entre as prioridades aprovadas na I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em dezembro de 2009, “a regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal e sua observância no que tange aos quesitos que as emissoras de rádio e TV devem preencher para obter outorgas e renovação de outorgas, ou seja: preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente; regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”.
“Vou derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos”. Talvez este tenha sido o ápice do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último final de semana, durante comício em Campinas (SP). Não precisava nem ser ano de eleição para a declaração repercutir como uma bomba ao longo desta semana. A posição da Associação Nacional de Jornais (ANJ) foi dada pela sua presidente. Judith Britto afirmou que, por falta de uma oposição ao governo de Lula, a imprensa ocuparia este papel.
Hoje, diferentes grupos estão nas ruas da capital paulista fomentando o debate sobre liberdade de imprensa. Porém, os confrontos entre imprensa e governantes e até mesmo entre imprensa e candidatos à presidência da República não é novidade no Brasil Republicano. Em 1954, quando foi anunciado o suicídio do presidente Getúlio Vargas, defensores do seu governo invadiram e depredaram as redações dos Diários e Emissoras Associados (DEA), que criticavam duramente as ações do presidente trabalhista. Segundo o historiador gaúcho Voltaire Schilling, a campanha O Petróleo é Nosso pautou a imprensa, liderada pelo influente Francisco de Assis Chateaubriand, dono dos DEA. Ele alegava que a Petrobras seria uma concessão aos comunistas. “Este foi o caso mais famoso e que levou a um desenlace dramático: o suicídio de Getúlio. O argumento da imprensa era o de que estava sendo criada uma estatal contra o país. A iniciante TV Tupi impulsionou esta crise”, disse.
Em defesa de Getúlio surgiu o jornal Última Hora, do jornalista Samuel Wainer. A ideia inicial do jornal foi de Vargas, que conheceu Wainer quando o jornalista o entrevistou em 1949. Vargas estava “exilado” na sua fazenda em São Borja desde que fora deposto, mas já planejava o retorno. Em 50, voltou ao poder, eleito democraticamente. A UH defendeu o governo durante todo o seu mandato (1951-54). Por conta disso, enfrentou uma série de campanhas que ameaçavam a sua própria existência.
Durante o governo de João Goulart, a Última Hora permaneceu fiel à sua tradição trabalhista, apoiando o presidente até as vésperas do movimento militar que o depôs, em 1º de abril de 1964. Depois do golpe, a Última Hora foi apedrejada e Samuel Wainer teve seus direitos políticos cassados. Mas o jornal prosseguiu na sua trajetória popular e nacionalista até 1971, quando foi vendido por Wainer. A antiga redação foi desmantelada e o jornal passou por vários proprietários até 91, quando encerrou definitivamente suas atividades.
Segundo o historiador Schilling, no caso de Jango, “a grande mídia também se revoltava contra os propósitos de transformar o Brasil em uma democracia de massas”. Ele conta que foi feito um trabalho de corrosão pelo rádio. “Eram programas humorísticos, onde claramente era posto que o governo era corrupto”, conta. A diferença do que era feito no começo do Brasil República para a era Lula, segundo o professor, é que hoje a imprensa não pede o golpe de estado. “Por mais que a mídia faça manifestações contra o Lula, como sempre fez com os governantes com projetos que defendam os interesses das classes mais populares, eles não pedem o golpe”, argumentou. Ele salienta ainda que os interesses dos veículos de comunicação mais influentes do país nunca foram os mesmos dos modelos de gestão de partidos socialdemocratas. “Os grandes patrocinadores destes veículos não têm a preocupação social e é a estes que eles servem. O interesse patronal predomina na pauta destes veículos”, afirma.
O jornalista e doutor em Comunicação, editor da Revista da ADUSP (Associação dos Docentes da USP), Pedro Pomar, explica que o surgimento dos jornais no Brasil teve forte motivação política e, no período republicano, essa vocação se mantém mesmo após o processo de transformações dos grandes jornais, que deixaram de ser empreendimentos familiares para serem modernas empresas capitalistas. “Iniciou com o Jornal do Brasil, depois alcança A Província de S. Paulo (que se tornará O Estado de S. Paulo), o Correio Paulistano e diversos outros. O Correio Paulistano, sólido jornal diário que foi um dos maiores da capital paulista por várias décadas, é uma boa expressão da imprensa da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20, pois era o jornal oficial do Partido Republicano Paulista (PRP), a mais fina representação dos grandes cafeicultores”.
Como exemplo da notória influência dos grandes jornais e emissoras de rádio e, depois, das emissoras e redes de TV, nas crises políticas nacionais, o jornalista voltou ao exemplo de 64, também referido pelo historiador Voltaire Schilling. “Um exemplo sempre lembrado é a participação dos grandes jornais no cerco golpista da UDN (e de outras forças reacionários) a Vargas, participação essa que depois recebeu o devido troco da população revoltada. E, também citou um caso mais recente: a eleição de Fernando Collor de Mello. “Houve uma adesão de importantes setores da mídia, TV Globo à frente, à candidatura de Collor de Mello, em 1989. Esse engajamento midiático foi decisivo para a derrota de Lula”, recordou.
Quanto aos interesses que levam a este comportamento de parte da mídia, ele generaliza: “Existe um interesse pecuniário direto, uma relação de troca. Por exemplo, o governo de São Paulo acaba de adquirir, sem licitação, 34 milhões de reais em publicações da Editora Abril. É um negócio interessante para a Abril. Por outro lado, existem os interesses de classe desse setor do empresariado, que sempre se alinhou às forças políticas mais conservadoras do país. Assim, quando a Folha de S. Paulo fala em “ditabranda” para definir a Ditadura Militar de 1964, isso remete imediatamente ao apoio que essa empresa deu àquele regime”, falou.
O jornalista vai mais além e questiona: “Quando a TV Globo abre campanha contra os quilombolas e se recusa a publicar matéria paga favorável às cotas étnicas na universidade, isso reflete ou não uma posição de classe, ideológica e também política?”
Regulamentação e entrelinhas
Para o presidente da FENAJ, Celso Schröder, a alternativa para evitar o que considera “uma relação ambígua dos grandes meios de comunicação com o centro do poder no país” seria efetivar o que já foi pactuado com os empresários destes veículos e o restante da categoria na 1ª Conferência Nacional de Comunicação. “O melhor modelo seria o norte-americano, que combate, entre outras coisas, os cartéis das concessões para as empresas jornalísticas”, defendeu.
Schröder afirma que, mundialmente, há veículos que ultrapassam o seu papel de comunicadores e fiscalizadores dos poderes, mas, reconhece alguns excessos ocorridos no Brasil. “Existem dois grupos de jornais impressos que têm candidato e isto não é assumido”, mas é nítido. O presidente da Fenaj alega que existem duas razões por trás deste comportamento da imprensa do eixo do país: brecar a regulamentação do sistema de comunicação do Brasil e influenciar no resultado da eleição presidencial. “A interferência no processo eleitoral cria um ambiente negativo, influenciando no resultado das pesquisas”, justifica.
Neste mesmo sentido, o fundador do Movimento dos Sem Mídia (MSM), Eduardo Guimarães, que colaborou na organização do ato desta quinta-feira em SP, afirmou ao Sul21, nesta quarta-feira, 22, que há uma posição velada adotada por parte da imprensa neste pleito. “Há uma clara tentativa de influir no processo eleitoral e, na legislação do Brasil, veículos que têm concessão pública, como emissoras de rádio e televisão, não podem, por lei, manifestar apoio a qualquer candidato. Há veículos que têm concessão pública e que estão fazendo campanha para José Serra. E, mesmo os veículos impressos têm que agir com responsabilidade durante as eleições. Vamos pedir oficialmente, no ato público, respeito à população. Pediremos um processo eleitoral limpo”, antecipou.
Na avaliação do doutor em Comunicação, Pedro Pomar, “a ANJ é um órgão do patronato e representa os interesses desse setor do capital e a pretensão de falar em nome da oposição conservadora, e até de assumir a liderança nos ataques ao governo Lula, revela uma dicotomia. “Por um lado, é a eterna pretensão de um setor da imprensa brasileira de agir como partido político e por outro lado, um certo desespero diante da constatação de que seus aliados tradicionais, os partidos conservadores, em especial o PSDB, não conseguem se firmar como uma alternativa política consistente diante da sociedade brasileira”, afirmou.
Os donos da comunicação no Brasil
Na manhã desta quinta-feira, 23, o presidente Lula concedeu entrevista sobre este tema ao site Terra. Ele criticou o comportamento da imprensa que “ao disseminar bobagens vai despolitizando a sociedade”. Entre outras coisas declarou: “Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores”.
Para Lula, críticas à falta de liberdade na área de comunicação, mais do que injustas, não têm sentido. Ele diz duvidar que outros países tenham mais liberdade de informação do que o Brasil. “A verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais”, disparou.
Segundo o presidente da FENAJ, Celso Schröder, o discurso do presidente, bem como as críticas da imprensa são legítimos no processo democrático, porém, questiona a decisão de determinados veículos em ser a oposição do governo Lula. “Não dá para a imprensa ser um partido. Mas, há de se preservar a neutralidade da objetividade jornalística que a imprensa deve exercer. Mas, nós temos dados assustadores de senadores e deputados federais ou mesmos presidentes, que são proprietários de veículos de comunicação”, confirmou.
Sobre a regulamentação do sistema de comunicação do país, o editor da Revista da ADUSP Pedro Pomar salienta que é fundamental o debate na sociedade. “No que diz respeito às mídias eletrônicas de massa, o simples cumprimento dos dispositivos da Constituição Federal já seria um avanço em matéria de regulamentação”, afirma. Pomar recordou que, entre as prioridades aprovadas na I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em dezembro de 2009, “a regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal e sua observância no que tange aos quesitos que as emissoras de rádio e TV devem preencher para obter outorgas e renovação de outorgas, ou seja: preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente; regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”.
Lula: "nove ou dez famílias" dominam a comunicação no Brasil
A três meses e meio do término de seu governo, o presidente Lula está certo da vitória de sua candidata à presidência da República, Dilma Rousseff, mas recomenda: "cautela". Numa conversa exclusiva de uma hora com o Terra no Palácio do Planalto, Lula, provocado, esmiúça o que pensa da mídia e sobre a mídia. Diz que, de alguma forma, o país tem, terá que discutir e legislar - no Congresso, ele ressalva - sobre o assunto. Para definir como percebe o olhar da chamada grande mídia, Lula resume:
-Eles têm preconceito, até ódio...
A ênfase, a contundência no julgamento e comentários quando o tema é este, mídia, são permeadas por gestos e palavras que mostram um presidente da República disposto e pronto para o próximo comício. Bem humorado, carregado de adrenalina. Antes do início da entrevista, Lula quer conversar, diluir ansiedades e tensões.
"Baby...", diz a um jornalista, "pô, que gravador é esse, não tinha um digital?", provoca outro. Segura a gravata de um terceiro, parece admirar o tecido, os desenhos, e opina:
-Mas essa gravata... esses desenhos parecem uma ameba!
O presidente da República faz as honras da casa, pede que se sirva um cafezinho, uma água antes de, atraído para o tema, partir para o ataque:
- Na campanha passada, os caras diziam porque o avião do Lula... porque o Aerolula... (Estavam) disseminando umas bobagens... vai despolitizando a sociedade. Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores...
Para Lula, críticas à falta de liberdade na área de comunicação, mais do que injustas, não têm sentido. Ele diz duvidar que outros países tenham mais liberdade de informação do que o Brasil:
-Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação? Eu duvido. Eu quero até que vocês coloquem em negrito isso aqui. Eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo.
O presidente se mostra disposto a um duro embate com setores da mídia: - A verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais.
"No Brasil - foi o Cláudio Lembo que disse isso para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", cobra Lula.
O presidente sinaliza que mudanças nessa área deverão ser discutidas no Congresso Nacional e poderão ser viabilizadas no próximo governo:
-O Brasil, independentemente de que de quem esteja na Presidência da República, vai ter que estabelecer o novo marco regulatório de telecomunicações desse País. Redefinir o papel da telecomunicação. E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável.
Terra - Presidente, em 1978 o senhor era um líder operário, estava na Bahia em um encontro de petroleiros, no Hotel da Bahia, eu era um estudante de comunicação, ainda tinha AI-5, censura à imprensa. Na década seguinte, nos anos 80 e 90, em inúmeras conversas com o senhor o assunto acabava de alguma forma passando pelo monopólio na mídia. No ano 2002, na véspera da eleição, de novo conversamos sobre isso. Em 2006, a uma semana do senhor ser reeleito presidente, numa conversa o senhor disse que não iria "tirar nada" de ninguém, que isso não seria democrático, mas que a ideia era redistribuir meios, ajudar os meios, ter uma maior diversidade de opinião. Chegando agora, nesta reta final (em 2010) o senhor tem feito críticas duras, dizendo que a imprensa, a mídia tem um candidato e não tem coragem de assumir e, ao mesmo tempo, o contraditório diz que existiria um Projeto Político, projeto vocalizado outro dia pelo José Dirceu, para "enquadrar meios de comunicação". Então, queria que o senhor dissesse o que o senhor realmente pensa disso, e se realmente existe uma expectativa, se existe alguma coisa em relação a isso...
Luiz Inácio Lula da Silva - Olha, primeiro, na nossa passagem pela Terra... não pelo Terra, pela Terra, a gente ouve coisas absurdas, que a gente gosta e que a gente não gosta. Veja, qualquer coisa nesse País tem o direito de me acusar de qualquer coisa. É livre. Aliás, foi o PT que, no congresso de São Bernardo do Campo, decidiu que era proibido proibir. Era esse o slogan do PT no congresso de 1981.
Terra - O Caetano vai dizer que é dele...
O que acontece muitas vezes é que uma crítica que você recebe é tida como democrática e uma crítica que você faz é tida como antidemocrática. Ou seja, como se determinados setores da imprensa estivessem acima de Deus e ninguém pudesse ser criticado. Escreveu está dito, acabou e é sagrado, como se fosse a Bíblia sagrada. Não é verdade. A posição de um presidente é tomada como ser humano, jornalista escreve como ser humano, juiz julga como ser humano. Ou seja, temos um padrão de comportamento e julgamento e, portanto, todos nós estamos à mercê da crítica. No Brasil - , e foi o Cláudio Lembo que disse para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido, que falasse. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada. Muitas vezes fica explícita no comportamento que eles têm candidato e gostariam que o candidato fosse outro. Tiveram assim em outros momentos. Acho que seria mais lógico, mais explícito. Mas, eles preferem fingir que não têm lado e fazem críticas a todas as pessoas que criticam determinados comportamentos e determinadas matérias.
Terra - Então, não existiria nenhum projeto futuro...
Se existir uma idéia, ela será discutida pelo próximo governo. Pelos próximos governos. Ela será decidida pelo Congresso Nacional , porque é impossível você imaginar fazer uma coisa que discuta comunicação se você não passar pelo Congresso. Quando nós tomamos a decisão de fazer a Conferência da Comunicação - nós já fizemos conferências de tudo que você possa imaginar, até de segurança pública -, quando fizemos a Conferência de Comunicação, alguns setores das comunicações participaram, algumas tevês participaram, algumas empresas telefônicas participaram e muitos jornais participaram. Ela foi feita a nível municipal, a nível estadual e nível nacional. Determinados setores da imprensa não quiseram participar e começaram a achar que aquilo era antidemocrático, que aquilo era não sei das contas. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação. Uma legislação que está regulamentada em 1962. Portanto, não tem nada a ver com a realidade que nós temos hoje, com os meios de comunicação que nós temos hoje. Com a agilidade da internet, por exemplo. Então, o que nós achamos é que o Brasil, independentemente de quem esteja na Presidência da República, vai ter que estabelecer o novo marco regulatório de telecomunicações desse País. Redefinir o papel da telecomunicação. E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável. Ninguém tinha a dimensão há 15 anos atrás do que seria a internet hoje. Ninguém tinha. Ninguém tem a dimensão ainda do que pode ser a TV digital. E a pluralidade que ela pode permitir de utilização dos canais de televisão. Então, discutir isso é uma necessidade da nação brasileira. Uma necessidade dos empresários, dos especialistas, dos jornalistas, ou seja de todo o mundo para ver se a gente se coloca de acordo com o que nós queremos de telecomunicações para o futuro do País.
Terra - Como essa discussão quase sempre se dá em meio a campanha, a gente não tem a oportunidade de falar assim tão claramente. O que mais incomoda o senhor: é a cobertura (ser) crítica de um lado e não existir a investigação sobre os demais candidatos? Seria isso?
Não, não. Veja, Bob você me conhece há muito tempo e sabe o que eu tenho afirmado. Só existe uma possibilidade no meu governo de alguém não ser investigado. É não cometer erro. Se cometer erro, tem de ser investigado. Isso vale para todo mundo. Agora, eu acho que a imprensa presta um papel importante.
Terra - O senhor está dizendo que ela é desequilibrada? Só está cobrindo um lado e não está cobrindo...
É que eu acho que a imprensa está cumprindo um papel importante quando ela denuncia. Por que? Ou você sabe porque alguém denunciou, ou você sabe porque alguém cobriu ou você sabe porque saiu na imprensa. Quando sai alguma coisa na imprensa você vai atrás. Você vai, então, apurar. De tudo aquilo que é uma feijoada, o que é feijão, o que é carne, o que é costela, o que é carne seca. Você vai separar as coisas para saber o peso de cada uma. E é exatamente o que a gente faz nesse governo. Ou seja, eu vou te dar um exemplo, sem citar jornal. Na campanha passada, os caras diziam, "porque o avião do Lula...", porque o Aerolula... Passando para a sociedade, disseminando umas bobagens, vai despolitizando a sociedade. Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores. Agora, uma TV para um presidente que está terminando o mandato daqui a três meses, é a TV Lula. Ou seja, esse carregamento de...composto de ...de muita ...de muita, eu diria, de muito preconceito ou de muita até, eu diria até, às vezes, ódio, demonstra o que? O velho Frias (Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, falecido em abril de 2007) me dizia: "Lula, o pessoal do andar de cima não vai permitir você subir lá...". Quem me dizia isso era o velho Frias repetidas vezes: "Lula, cuidado, o pessoal do andar de cima não vai permitir você chegar naquele andar...". Sabe? Então, o pessoal se comporta como se o pessoal da Senzala tivesse chegando à Casa Grande. E ficam transmitindo uma coisa absurda. Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação....? Nesse momento do Brasil! Eu duvido, duvido. Eu quero até que vocês coloquem em negrito isso aqui: Eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo. Agora, a verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é essa. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais...
Terra - Nos municípios, isto tem uma capilaridade: o chefe político tal...
Então, muita gente não gostou quando, no governo, nós pegamos o dinheiro da publicidade e dividimos para o Brasil inteiro. Hoje, o jornalzinho do interior recebe uma parcela da publicidade do governo. Nós fazemos propaganda regional e a televisão regional recebe um pouco de dinheiro do governo. Quando nós distribuímos o dinheiro da cultura, por que só o eixo Rio-São Paulo e não Roraima, e não o Amazonas, e não o Pernambuco, e não o Ceará receber um pouquinho? Então, os homens da Casa Grande não gostam que isso aconteça.
Terra - A propósito de "Casa Grande", sociologia etc..., na semana passada um importante sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, evocou Mussolini ao se referir ao senhor como chefe de uma facção. Chegando ao final desses 16 anos (governos FHC e Lula), o senhor acha que ainda existe...
Eu acho que, sinceramente, as pessoas deveriam olhar para o Brasil e olhar para os outros países. E todo o mundo deveria agradecer a Deus o Brasil ser do jeito que ele é, o Brasil ter o governo que ele tem e ter o povo que tem. Eu lembro que o João Roberto Marinho, quando voltou da eleição do México passada, numa conversa que teve comigo falou: "Ô presidente, eu estava no México e foi de lá que eu aprendi a valorizar a democracia no Brasil. Porque, aqui no Brasil, todo mundo acata o resultado. Lá no México, eu vi um milhão de pessoas na rua contra o resultado eleitoral". Ou seja, aqui no Brasil nós não corremos esse risco. Porque esse País tem um outro jeito de exercitar a democracia. E a democracia ela só será exercitada - vocês estão lembrados que eu dizia quando era líder sindical ainda -, democracia não é o povo ter o direito de gritar que está com fome, democracia é o povo ter direito de comer. Nós estamos chegando lá, estamos chegando lá, então as pessoas, sabe, que talvez tenham problemas ideológicos, problemas de preconceito, ou seja, que não admite que...meus queridos, vejam o que vai acontecer amanhã, sexta-feira; a Bovespa, que tinha ódio de mim, e quando tinha medo de mim ela tinha apenas 11 mil pontos, hoje já chegou a 72 (mil pontos), já chegou a 68 (mil pontos). Ou seja, acima dos 60 mil pontos. E vai exatamente um presidente da República, que tanta gente tinha medo, fazer a maior capitalização da história da humanidade. Ouso dizer: nunca antes na história do planeta Terra houve uma capitalização da magnitude do que vai acontecer na sexta-feira, sabe, com a minha presença.
Terra - E isso lhe dá um prazer especial?
Me dá. Me dá um prazer especial porque é um sucesso do Brasil, é um sucesso da Petrobrás, é um sucesso do investimento em tecnologia, é um sucesso de acreditar neste País. Mas na verdade é o sucesso da ascensão do Brasil no mundo. Ou seja, quem acompanha a imprensa internacional percebe que hoje nós ocupamos na imprensa internacional num mês aquilo que a gente não ocupava em três décadas, há pouco tempo atrás. Porque no Brasil, as pessoas precisam aprender uma coisa: ninguém respeita quem não se respeita. E muita gente do Brasil costumava chegar nos Estados Unidos ou na Europa de cabeça baixa, se achando um ser inferior.
Terra - Tirava o sapato...
É. Eu, quando eu tomei posse, disse para os meus meninos: se alguém tirar o sapato, se eu souber, porque também não vou, não estou com eles, mas também se chegar lá para tirar o sapato é melhor vir embora. Porque eu mando embora. A única coisa que eu acho que vai acontecer lá é o seguinte: o Brasil vai sair mais honrado deste processo, o Brasil vai sair mais forte e não vai ser o Lula que vai ganhar, o Lula está fora disso em dezembro, meu filho.
Terra - O senhor está se referindo a isso por causa da pergunta, Mussolini...?
É, por causa disso, ou seja, eles confundem populismo com popular. Eles não sabem o que é popular porque eles nunca tiveram perto do povo. Essa gente, essa gente que não gosta de mim, na época das eleições até sorri pros pobres, até fazem promessa pros pobres, mas depois das eleições... o pobre passa perto deles um quilômetro. Então, sabe, isso é uma confusão maluca entre o populismo e o popular. O que é o populismo? É um cara, sabe, que não tem nada a ver com ninguém e aparece fazendo promessas, aparece fazendo política demagógica. Não é o nosso caso. Todas as políticas minhas são decididas, Bob... Já foram 72 conferências nacionais, conferências que começam lá no município, vai para o Estado e vem pra cá. Algumas conferências participaram 300 mil pessoas até chegar na conferência nacional. E aí nos decidimos as políticas públicas. Então eles...obviamente eu acho que tem muita gente incomodada e eu não tenho culpa, eu não tenho culpa. Sabe, tirar deles incomodou muita gente no Brasil. A Coroa Portuguesa durante muito tempo ficou incomodada por conta daqueles que diziam que era preciso mudar. Ficaram incomodados até com Dom Pedro quando ele quis mudar. Por que não ficar comigo?
Terra - O Brasil mudou e eu faço a seguinte pergunta, quer dizer, a política brasileira mudou? O senhor antigamente falava muito em reforma política, que era uma das bandeiras e hoje a gente vê os partidos enfraquecidos. Como o senhor avalia hoje a política, a necessidade da reforma política e um adendo: em uma viagem ao Pará, nas vésperas da eleição passada, em um vôo o senhor disse na entrevista que uma das suas primeiras medidas que o senhor tentaria seria a reforma política. Por quê não saiu? Por que é tão difícil de fazer?
Porque a reforma política não é uma coisa do presidente da República. A reforma política é uma coisa dos partidos políticos. E do jeito que os partidos se comportam parece que a gente tem um monte de partidos , todos criticando, sabe, a legislação que regulamenta a política no Brasil. Todo mundo quer uma reforma política, mas ninguém mexe. Porque desagrada a muita gente. Então, veja, eu mandei duas propostas de reforma, de coisas que precisariam mudar para poder melhorar a política brasileira e que não foi votado. Nós mandamos, por exemplo, a regulamentação do financiamento de campanha, para acabar com o financiamento privado e ficar com financiamento público, que na minha opinião é a forma mais honesta de se fazer campanha neste País, a fidelidade partidária... porque o que é o ideal? É você ter partido forte para você negociar com partido. Isso faz parte da democracia. Quando você faz coalizão com partido político você estabelece regras nesta coalizão, você partilha um poder com essa coalizão. Agora, do jeito que está é quase que impossível, porque a direção dos partidos não representa mais os partidos. O líder da bancada não representa mais a bancada, ou seja se criou grupos de deputados, grupos por região, grupos...ou seja, e está muito difícil para eles próprios...então, o que eu acho? Quando eu deixar a presidência, eu quero, primeiro dentro do PT, convencer o PT da necessidade de fazer uma reforma política, convencer os partidos da base aliada do governo da necessidade de se fazer uma reforma política neste País pra que a gente não fique com legenda de aluguel, como nós temos agora.
Terra - Na semana passada, o Lembo disse até naquela entrevista, primeiro que a oposição vai estar em frangalhos nas urnas e ele é do DEM, e que na verdade não vão existir praticamente partidos, só o movimento social e que seria liderado pelo senhor. O senhor concorda?
Eu não concordo porque eu não sou líder do movimento social, eu sou um dirigente partidário. O movimento social tem suas lideranças próprias. Agora, eu acho que...eu não concordo com o Lembo que não tenha partido político, o PT é um grande partido político. Nas pesquisas da opinião pública, o PT aparece com 30% de preferência em qualquer pesquisa que se faça. Demonstração de que isso é um partido, sabe, como poucas vezes no mundo você teve um partido assim, você teve um PRI, um partido comunista mexicano que era extremamente forte e aí sim era populismo, você tinha um partido comunista italiano que tinha 30% dos votos e que era um baita de um partido na Itália, embora nunca tenha chegado no poder, você tinha a social democracia que revezava o poder em uma parte da Europa, os socialistas franceses que revezavam. E você tem no Brasil o PT que é um partido organizado nacionalmente e muito forte. Agora, eu acho que as reformas, elas se darão por dentro dos partidos políticos, dentro do Congresso Nacional. E ela se dará porque nós não precisamos ter uma legenda que aluga na época da eleição, que tem horário de televisão...
Terra - Tiririca é um símbolo disso?
Veja, eu acho...eu não sou contra...
Terra - Como representação, não é demonizando...
Ele tem um partido, ele pode ser filiado no partido como qualquer outra pessoa. Deixa eu lhe falar... o Tiririca é um cidadão que representa uma parcela da sociedade brasileira.
Terra - Mas um voto de protesto...
Eu não sei se é voto de protesto, ele pode surpreender, sabe...eu acho legal o Romário estar entrando na política, acho legal o Bebeto estar entrando na política, o Marcelinho...porque, veja, a política antigamente o que era? Antigamente a política era advogado, professor, funcionário público e empresário. Ora, se você tem jogador de futebol, você tem movimento indígena, você tem...todo mundo tem que se apresentar e o Congresso estará melhor representado . Se eles trabalharem corretamente, serão valorizados. Se as pessoas não trabalharem corretamente, no próximo mandato cairão fora como já provou a história da humanidade e aqui neste País. Então, eu estou tranquilo com relação à necessidade da reforma política, ou seja, a cada dia uma pessoa só cria um partido político. Agora, na época da eleição você precisa normatizar quem é que participa do que, porque quando nós fomos criados em 80 nós tínhamos que legalizar o partido em 15 Estados e dentro de cada Estado em 20% dos municípios. Era um trabalho imenso e ter 3% de voto, sabe, para governo em 82. Não foi fácil chegar e nós fizemos. Então é preciso criar parâmetros para as pessoas organizarem. Você não pode, ou seja, você não tem um partido político, daqui a pouco os deputados são eleitos por um partido tal, antes de tomar posse, já mudaram de partido. Ou seja, você fez uma negociação com o partido que tinha 20 deputados, daqui a pouco esse partido tem 10 e a negociação está feita. Como é que fica?
Terra - Presidente, que PT é esse que neste momento da política brasileira sairá das urnas? E, segunda pergunta, onde o PT, que teve momentos de altos e baixos acentuados durante o seu mandato, onde acertou e onde errou?
Primeiro, o PT tem pouca ingerência no governo, sabe. Quando você ganha um governo, você governa, e na minha o partido tem até liberdade de em vários momentos não concordar com o governo e até fazer oposição ao governo, criticar o governo, sabe? Nós perdemos muita gente que foi do PT porque não concordou com a reforma da previdência do setor público que nós começamos a fazer em 2003. Isso faz parte também da história política do mundo inteiro. Foi assim no partido socialista francês, no alemão, no sueco, no partido democrata americano, acontece em todos os partidos políticos. Eu acho que o PT deu uma ajuda muito grande agora quando aceitou a indicação da ministra Dilma como presidente, ou seja, havia quem dissesse que o PT queria criar caso, que o PT queria uma liderança histórica, alguém com mais vínculo, e o PT aceitou tranquilamente a Dilma e eu acho que PT tomou a decisão madura e coerente, sabendo a minha relação com o PT e o peso do governo na decisão do processo eleitoral. Eu acho que foi uma decisão madura e, obviamente que, muitas vezes aceitando aquilo que a gente fazia no governo. Porque, qual é o problema do governo? Quando você chega no governo, você não participa mais da decisão de um partido. Eu, faz oito anos, sete anos, que eu não vou numa reunião do partido. Porque eu tomei como decisão de que, ao ser eleito presidente da República, eu não poderia governar para o PT, eu não poderia enxergar o mundo apenas pelo PT, eu tenho que enxergar o mundo pela pluralidade da política brasileira e da sociedade brasileira. Então, eu estabeleci uma forte relação com os trabalhadores, é verdade. Mas estabeleci também uma forte relação com os empresários, estabeleci uma relação muito forte com os setores médios da sociedade, porque é isso que é a sociedade brasileira. Ela não é apenas, sabe, vermelha ou azul ou verde. Ela é muito mais colorida do que tudo isso e o presidente da República tem que ficar com uma espécie de magistrado. Agora, quando chega época de eleição não é possível o presidente da República ficar como magistrado porque eu tenho um lado. Eu tenho um partido e tenho candidato.
Terra - O senhor tem sido muito cobrado por estar interferindo na eleição....
Deveria ser, deveria ser cobrado quem perdeu. Quem não conseguiu fazer o sucessor, porque o sucessor é uma das prioridades de qualquer governo para dar continuidade a um programa que você acredita que vai acontecer. Imagina se entra no Brasil para governar alguém que resolve querer voltar e privatizar a Petrobrás? (pausa) Onde vai o pré-sal? Ou alguém que resolva não mudar a lei e permitir que a lei do petróleo continue a mesma? A gente sabendo...o contrato de risco é quando a gente corre riscos. Mas quando a gente sabe onde tá bichinho do ouro preto, por que a gente vai fazer contrato de risco? Então, nós temos que se apoderar desta riqueza a bem do povo brasileiro, é um patrimônio do povo, não é um patrimônio da Petrobrás. Então, nós temos medo de que este País sofra um retrocesso. Por isso que eu tenho candidato. Seria inexplicável para a sociedade se eu entrasse numa redoma de vidro e falasse: olha, aconteça o que acontecer nas eleições, o presidente da República não pode dar palpite. Mas nem para escolher o Papa acontece isso.
Terra - Presidente, essas eleições já estão definidas?
Olha, nunca existe eleição decidida. Eu sempre acho que eleições e mineração a gente só sabe disso depois do resultado. Abriu a urna, agora não tem urna para abrir...
Terra - Mas tem o negócio de identidade (carteira de identidade) que pode complicar...
Olha, teria problema de identidade se você não tivesse elevado 36 milhões de pessoas da classe C. Esse povo agora está comprando, esse povo está entrando na loja, está fazendo crédito esse povo tem documento, fotografia... O que eu acho extremamente importante é que nesse processo eleitoral, a gente precisa primeiro ter muita cautela. Esse é o momento de um time que está ganhando de dois a zero. O adversário está dando botinada, está chutando no peito, está chutando na canela, o juiz não está apitando falta e nós não podemos perder a cabeça, porque o que eles querem é expulsar alguém do nosso time, para a gente ficar em minoria. Então, agora é muita cautela, vamos fazer troca de passes entre nós, vamos fazer a bola correr. Como dizia o Parreira, quando estava dirigindo o Corinthians, nós vamos ficar dominando a bola, ou seja, o tempo que a gente estiver com a bola é o tempo que a gente não toma gol...
"Erenice jogou fora a chance de ser uma grande funcionária"
O chamado "Caso Erenice" irrompeu na cena da sucessão presidencial há duas semanas e, há uma semana, levou à queda a Chefe da Casa Civil da presidência da República, Erenice Guerra. Pela primeira vez desde então o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz claramente o que pensa acerca do episódio e dos seus desdobramentos. Nesta segunda parte da entrevista exclusiva ao Terra, Lula avança:
-(...)Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E quando acontece, a pessoa perde.
Além das denúncias de nepotismo por parte da ex-chefe da Casa Civil, um dos filhos de Erenice, Israel Guerra, foi acusado, em reportagem da revista Veja, de participar de um esquema de lobby para favorecer uma empresa aérea em contratos com os Correios. Ainda a respeito do rumoroso assunto, disse Lula:
- O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País.
O presidente faz ressalvas, no entanto, quanto à extensão das responsabilidades de Erenice Guerra no episódio. Vale-se, para tanto, de metáfora gastronômica. Lembra que "uma feijoada trem trezentas coisas", e que é preciso saber o que é feijão, o que caldo, o que é carne seca... e por ai afora.
O presidente também aponta a revolução que a internet vem provocando na maneira como as pessoas se informam. E anuncia: "...pode ficar certo de que eu serei um internauta vigoroso a partir de 1° de janeiro".
Sobre José Serra, o adversário de sua candidata na eleição presidencial, o presidente comenta: "está hoje na situação em que eu estive nas duas eleições que perdi". E admite que foi muito difícil ser um candidato contra o Plano Real, em 1994.
Terra - Na prática, falta uma semana... E conseguiram a expulsão da Erenice...
Luiz Inácio Lula da Silva - Não, eles não conseguiram a expulsão da Erenice. Veja, a Erenice saiu porque se ela cometeu um erro, que ainda vai ser investigado...porque, veja, as pessoas, todos nós seres humanos precisamos aprender o seguinte: nós nascemos, crescemos e morremos. Neste período de tempo, a gente tem oportunidade, a gente aproveita ou não aproveita. Tem gente que poderia ser um baita jogador de futebol, eu conheci trezentos que eram "o novo Pelé", nenhum foi. Eu conheci trezentos que iam ser grandes políticos, nenhum foi. Então, as pessoas, na medida em que têm uma oportunidade, as pessoas estão aqui para prestar serviço à sociedade. Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo ao mesmo tempo. E quando acontece, a pessoa perde. O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País.
Terra - Nesse caso o senhor admite que as denúncias estavam, ao menos em parte, corretas?
Veja, eu sempre admito de que muitas vezes tem coisas que você tem que investigar. Agora, porque eu comecei falando da feijoada? Porque a feijoada tem ingredientes, você quando vai na panela de feijoada, você tem o feijão e tem lá trezentas coisas para escolher. O que eu acho é que toda notícia de denúncia ela vem como se fosse uma feijoada. Depois que você faz um processo de investigação, escolhe o que você quer ali, você vai perceber que a quantidade de coisas, você vai perceber o que é cada um. Tem coisa que tem dimensão séria, tem coisa que é boato, especulação, tem coisa que não tem profundidade. Então, qual é o papel de um presidente da República? Ou seja, na hora que você sabe de uma situação dessa, a primeira coisa que você faz é criar uma sindicância interna, ou seja, a CGU, a Casa Civil começa a investigar e a Polícia Federal abre inquérito. A partir desse momento, o presidente da República fecha a boca, certo? Porque, a partir daí, não pode ter mais nenhuma influência do governo no processo de investigação. Quando tiver resultado de todas as pessoas darem depoimento, aí você então comunica a sociedade o que aconteceu de fato e de direito.
Terra - E as denúncias não vão interferir no resultado eleitoral?
Eu não acredito. Porque tem uma coisa que as pessoas precisam começar a aprender. Se essas denúncias são manipuladas eleitoralmente porque...
Terra - Ainda que verdadeiras?
O povo percebe. Mesmo aquilo que seja verdadeiro, o povo percebe. Agora, o povo aprendeu a julgar, isso é uma coisa interessante.
Terra - Por quê mudou, presidente?
Ah, porque o povo tem acesso à informação que ele não tinha antes. Hoje, eu acho que a internet joga um papel extraordinário. Eu digo pelos meus filhos.
Terra - O senhor acessa ou acompanha ali?
Não, mas pode ficar certo de que eu serei um internauta vigoroso a partir do dia 1º de janeiro.
Terra - O senhor vai acessar até o Twitter?
Eu não sei. Eu acho que o Twitter é uma escravização. Tem gente que acorda duas horas da manhã para ficar tuitando. Tem gente que levanta para falar: ai, acordei, perdi o sono. O que eu tenho a ver com isso? Vai dormir, pô!
Terra - Mas tem ministro seu que tuita...
Ah, eu dou bronca em ministro, porque às vezes você está em um comício, o cara está tuitando lá, o cara nem prestou atenção, já pensou jogador de bola se estiver tuitando e a bola passar do lado dele... (risos) Acho um absurdo, acho uma escravização. Mas deixa eu contar uma coisa para vocês... Acho que as pessoas não estão entendendo ainda o que aconteceu na comunicação nesse País. Lá em casa, ninguém compra mais jornal. Em casa, a molecada toda lê o que tiver que ler na internet, em tempo real, sem ter que esperar: "ah, vamos ver o que vai acontecer amanhã ou depois de amanhã". São 68 milhões de brasileiros que acessam a internet. Um quarto das residências brasileiras que já tem computador. A tendência natural é isso crescendo de uma forma tão rápida, que daqui a pouco serão 150 milhões brasileiros... é por isso que o governo se interessou tanto na questão da banda larga. Porque você sabe que no Brasil é assim... todo mundo fala que vai resolver o problema, mas todo mundo só quer cuidar daquilo que tem rentabilidade. Então vamos fazer as coisas no Rio de Janeiro, vamos fazer em São Paulo, nas capitais, cidades grandes, mas quando vai se afastando e não tem rentabilidade, as pessoas não querem. Por exemplo, veja se não fosse o programa Luz Para Todos... ele está custando ao governo federal talvez o investimento de quase R$ 14 bilhões. Que governo doido iria fazer um programa Luz Para Todos se não fosse o meu? Quem das pessoas que governaram esse País estavam preocupadas em levar luz para uma aldeia indígena? Então, nós fizemos um investimento, que é o seguinte: nós já colocamos mais de 1,1 milhão km de fio neste País. Já colocamos 6 milhões de postes neste País. Já colocamos mais de um milhão de transformadores. Às vezes uma ligação custa R$ 10 mil, mesmo assim... muita gente diria: "Lula, você é louco. Gastar R$ 10 mil para atender um cara que está lá não sei onde!". Esse "cara" é tão brasileiro quanto quem mora em Copacabana ou mora na avenida Paulista. Ele tem direitos. E se a iniciativa privada não faz porque não é rentável, o governo tem de fazer. Então, esse "cara" vai ter internet. Daqui a pouco a gente vai ter numa tribo indígena de qualquer lugar deste País um cidadão (bate na mesa simulando um teclado de computador) navegando. Sabe? Vendo o portal Terra...
Terra - Mas índio não vai tuitar às duas horas da manhã...
Pode! Pode tuitar, vai que ele perde o sono! (risos).
Então, essa é uma revolução que eu acho extraordinária. Acho um bem muito importante que nós não fiquemos dependendo apenas de um. Triste era o tempo que o Brasil só tinha um canal de televisão. Triste era o tempo que o Brasil só tinha uma grande rádio. Triste era o tempo que nós tínhamos dois ou três jornais. Hoje você percebe que os grandes jornais do País não são aqueles que acham que são grandes. São os populares que existem em vários lugares. Os jornais a R$ 0,50, jornais a R$ 1, jornais de graça, jornais de Metrô... sabe? Por quê? Porque antigamente até a publicidade brasileira era feita apenas para 35%, 40% dos consumidores! Agora entrou uma gama de gente no mercado de consumo que todo mundo quer atingir essas pessoas! E aí, eu penso que uma coisa é o cidadão passar na banca, ver uma manchete e ir embora trabalhar. Outra coisa é o cidadão saber o seguinte: eu posso tirar R$ 0,50 do meu bolso e comprar um jornal ou eu posso acessar a internet e qualquer portal e ter minhas informações.
Terra - Esse crescimento me leva a um outro assunto. Todas as grandes cidades do Brasil estão estranguladas. Todas. Você chega e nem entra. Porque teve acesso à classe C, porque tem apartamento sendo vendido e comprado, porque tem muito automóvel (sendo comprado) e aí entra a Copa 2014. Não será uma pena que essas obras de infraestrutura que poderiam ou poderão ser extremamente úteis para essa nova fase do País, que isso não seja levado em consideração?
Estarão todas prontas...
Terra - Mas que não se leve em consideração que essas cidades aproveitem a oportunidade de desestrangular...
Deixa eu dizer uma coisa... Primeiro, nós temos que ter em conta o seguinte: a geração que está governando o Brasil nesse momento, os prefeitos, os governadores, o presidente da República e as que virão. Nós estaremos fazendo quase que um reparo aos acontecimentos da década de 70 no País, da década de 60. Ou seja, o êxodo rural quando milhões de brasileiros se locomoveram de suas casas e vieram para os grandes centros urbanos. Por conta disso, a irresponsabilidade dos administradores públicos da época que foram permitindo que o povo fosse ocupando espaços inadequados, espaços proibidos, espaços à beira de córregos, nas encostas de morros... e foram se constituindo as grandes favelas e junto com as favelas os grandes problemas. Nós estamos num processo de fazer reparação nisso. Reconstruindo a cidadania a partir das favelas. A primeira tomada de decisão foi acabar com as palafitas, que é o projeto mais degradante de habitação humana. Aí depois urbanização de favela. Eu até gostaria que se vocês pudessem, antes de terminar meu mandato, visitarem comigo o Complexo do Alemão, do Pavão-Pavãozinho, Manguinhos... que vocês vão ver o que é que está acontecendo nesses lugares e no Brasil inteiro. Eu estou falando esses lugares porque aparecem mais na televisão. Estamos fazendo teleférico no Complexo do Alemão, que vai ter seis estações. Cada estação vai ter biblioteca, vai ter escola funcional, delegacia, vai ter internet... Nós vamos levar para o morro a polícia com objetivo de proteger a sociedade, e não entrar de forma inadequada como se fazia sempre. Nós vamos levar cidadania. Quero que vocês vejam o que está acontecendo com as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) nas favelas, com a geração de emprego, com a geração de oportunidades... e essas coisas a gente só vê se a gente for. Se a gente quiser fazer jornalismo sentado no gabinete e não sair para ver o que está sendo feito no Brasil, nós podemos cometer o erro das pessoas que foram exiladas e voltaram e não deram conta que o Brasil tinha mudado. Ficaram achando que o Brasil era o de 64. É preciso arejar a cabeça para ver o que está acontecendo no Brasil. O povo está feliz, o povo está percebendo que tem futuro. Não sei se isso incomoda algumas pessoas... tem gente que não gostaria que tivesse tudo assim, né? "Tem muita gente bem! Esse governo vai terminar seu mandato com mais de 80% de bom e ótimo e onde que existe isso?" (diz, mudando o tom de voz)
Terra- Sim...
Eu acho normal, não fico com raiva quando o cidadão de classe média, seja no Rio de Janeiro, seja em São Paulo ou em Belo Horizonte, tomando seu uísque com os amigos critica o Bolsa Família de assistencialista. Eu acho normal. Ele dá de gorjeta o Bolsa Família. Agora para uma pessoa que está com fome, R$ 100, meu filho... Quando a gente determina que 30% da alimentação escolar tem de ser comprada no local, o que acontece naquele município? Uma revolução!
Terra - O que você acha da oposição ter criticado o Bolsa Família e agora quer até 13° para o programa?
O problema é o seguinte: essas pessoas que são oposição hoje não estavam habituadas a fazer oposição. Tinha alguns que fizeram muito atrás. Já faz tempo que o Serra fez oposição, foi 1970, porque depois já virou secretário do Planejamento do (Franco) Montoro. Então as pessoas desabituaram a fazer oposição e fazem isso com certo preconceito, com uma certa raiva. Eu antigamente ficava ofendido com o preconceito. Hoje, eu acho que nós já vencemos todos os preconceitos. O PT também errou muito quando era oposição. Nós erramos muito. Se você pegar o projeto da Constituição que nós fizemos era um projeto tão severo, tão rígido (bate na mesa), que nós não conseguiríamos governar. Mas é próprio de quem é oposição.
Terra - Errou no Plano Real...
O Plano Real é uma coisa que nós perdemos uma eleição. Eu tinha quarenta e poucos por cento no mês de março, eu fui caindo, caindo, caindo... e o Fernando Henrique, que talvez não se elegesse deputado federal por São Paulo, começou... Aquilo não foi uma campanha entre dois homens. Aquilo foi campanha entre a estabilização e a moeda e o outro lado. A gente não acertou o discurso como eles não estão acertando agora.
Terra - No que eles estão errando politicamente?
Não posso dizer o que eles estão errando (risos). Não posso dar dica... não vou dizer qual canto que vou chutar o pênalti.
Terra - Qual é a avaliação do senhor sobre o comportamento do Serra?
Eu, para ser muito sincero, poderia dizer para vocês que o Serra está hoje na situação que eu estive nas duas eleições que perdi. O Serra foi candidato contra mim em 2002 quando o povo queria mudança e eu era mudança e ele, situação. Agora, ele quer mudança quando o povo quer continuidade. Então, foram dois momentos muito delicados. A mesma coisa fui eu. Fui candidato contra o Plano Real e era um massacre. Não precisava ninguém falar mal de mim era só a história daquele pãozinho batendo no prato, a história daquele engraxate em Nova York, que o engenheiro era um engraxate... Aquilo não deu resultado porque a gente não conseguiu gerar os empregos que eram necessários. Aí depois quando chegou em 98 eu já sabia qual era o discurso do Fernando Henrique Cardoso: "olha, quem estabilizou, vai gerar emprego". E a gente não tinha como desfazer isso. Se bem que em 94 eles fizeram uma sacanagem comigo. Fizeram uma decisão de não permitir que houvesse imagem externa que era para impedir que eu colocasse as imagens das Caravanas da Cidadania na televisão. Mas, de qualquer forma, eu não lamento. Hoje, para ser muito sincero, agradeço a Deus por ter chegado à presidência quando eu cheguei. Cheguei mais maduro, mais preparado. Cheguei sabendo mais coisas que eu sabia em 1989, em 1994 e 1998. Apesar de ficar lamentando, eu agradeço a Deus. Meus adversários deveriam agradecer a Deus também. Todo dia! Porque eles imaginavam que ia ser um fracasso para eles voltarem e eles estão com bronca do sucesso. Você veja uma coisa... ô gente, quando nós chegamos nesse País, em 2003, o crédito total disponibilizado para 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 190 milhões de habitantes era de R$ 380 bilhões. Hoje, só o Banco do Brasil tem isso. O nosso crédito hoje é R$ 1,6 trilhão. A Caixa Econômica financiava R$ 5 milhões e esse ano vai financiar R$ 70 bilhões ou mais. O Banco do Nordeste emprestou, em 2002, R$ 262 milhões e esse ano vai emprestar quase R$ 30 bilhões. Esse é o País que mudou e que as pessoas precisam compreender e ao invés de ficar triste, ficarem alegres. Quando eu deixar a presidência não ficará um bando de miseráveis como eles largaram para mim, mas ficarão milhões de brasileiros que estão ascendendo na sua vida social, na possibilidade de emprego.
Terra - Então, que América Latina o senhor encontrou e como é que acha que ela está hoje? O que poderia ter avançado nas tarifas, nas moedas?
Primeiro vou contar uma coisa para vocês. Esse é um fato histórico importante para as pessoas aprenderem. Em 1990, eu tinha perdido as eleições para o (Fernando) Collor, mas eu tinha me convencido que nós tínhamos criado uma força política importante no Brasil. E resolvi propor a convocação de uma reunião de toda a esquerda na América Latina. Tinha regiões em que se discutia muito que a única saída era pela via armada, tinha lugares que começavam a discutir mais fortemente a democracia... O dado concreto é que nós fizemos uma reunião em junho de 1990, no Hotel Danúbio, em São Paulo, eu lembro que era Copa do Mundo, era um sucesso, lembro que a única coisa que unia os argentinos era o Maradona. E lembro de países pequenos que tinham 18 organizações de esquerda, que foram para a reunião. Treze, doze, quatorze. E essas pessoas não conversavam entre si. Ali nós começamos a estabelecer um debate sobre a necessidade das pessoas acreditarem que pela via democrática era possível chegar ao poder. Eu era a prova de que era possível chegar ao poder pelas eleições diretas. Nós criamos o Foro de São Paulo. De lá para cá, todos os países da América Latina e América Central, com exceção de Cuba que já tinha seu regime anterior, chegaram ao poder pela via eleitoral. Todos. O mais recente foi El Salvador, que o Mauricio Funes chegou ao poder. O Evo Morales... você quer bem maior para a Bolívia do que um índio ser presidente da República? Antes era eleita gente que nem sequer falava a língua deles! Eram loiros de olhos azuis. De repente, você elege um companheiro como o Evo Morales, que crescem as reservas, cresce o PIB, cresce a distribuição de renda... Por quê? Porque ele tem vínculo com aquele povo e sabe que tem que cuidar da parte mais pobre. Então, eu acho que houve um avanço excepcional na América Latina. Também acho que a rotatividade no poder é importante. Defendo isso porque acho importante a prática democrática. Se vai ser dois mandatos, três mandatos, quatro mandatos, cinco mandatos... Nenhum americano hoje se queixa do (Franklin) Roosevelt ter sido presidente quatro vezes. Ninguém.
Terra - Presidente, quais são as principais barreiras para que a América Latina tenha um papel preponderante como mercado, essa questão que o Mercosul discute muito e não consegue avançar?
Oh, gente! Pelo amor de Deus! Deixa eu falar uma coisa para vocês. O problema hoje é que quem está em crise são os ricos. Nós estamos muito bem aqui na América Latina. Você sabe quanto que a gente tinha de balança comercial com a Argentina? Nove bilhões. Agora a gente chegou a R$ 30 bilhões. O maior parceiro comercial do Brasil hoje não é a Europa, não é os Estados Unidos, é a América Latina como um todo. Então o que acontece, nós fizemos um trabalho de diversificar as relações e a América do Sul está se fortalecendo. Quanto tempo você acha que a França conseguiu chegar ao que é, que a Alemanha chegou ao que é? Nós demos passos importantes. A economia chilena cresce, a Argentina cresce, o Uruguai cresce, o Paraguai cresce... Todo mundo está crescendo.
Terra - O senhor pretende ter um papel formal na América Latina, na América do Sul?
Não, não... Primeiro, essa coisa de líder... ninguém se auto-indica. Quando você é levado ao posto de líder é porque os teus liderados reconhecem força em você. Se eles não reconhecem, não adianta você dizer: "eu sou líder, eu sou líder!". Não existe isso.
Entrevista concedida a Antonio Prada, Bob Fernandes eGilberto Nascimento
-Eles têm preconceito, até ódio...
A ênfase, a contundência no julgamento e comentários quando o tema é este, mídia, são permeadas por gestos e palavras que mostram um presidente da República disposto e pronto para o próximo comício. Bem humorado, carregado de adrenalina. Antes do início da entrevista, Lula quer conversar, diluir ansiedades e tensões.
"Baby...", diz a um jornalista, "pô, que gravador é esse, não tinha um digital?", provoca outro. Segura a gravata de um terceiro, parece admirar o tecido, os desenhos, e opina:
-Mas essa gravata... esses desenhos parecem uma ameba!
O presidente da República faz as honras da casa, pede que se sirva um cafezinho, uma água antes de, atraído para o tema, partir para o ataque:
- Na campanha passada, os caras diziam porque o avião do Lula... porque o Aerolula... (Estavam) disseminando umas bobagens... vai despolitizando a sociedade. Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores...
Para Lula, críticas à falta de liberdade na área de comunicação, mais do que injustas, não têm sentido. Ele diz duvidar que outros países tenham mais liberdade de informação do que o Brasil:
-Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação? Eu duvido. Eu quero até que vocês coloquem em negrito isso aqui. Eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo.
O presidente se mostra disposto a um duro embate com setores da mídia: - A verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais.
"No Brasil - foi o Cláudio Lembo que disse isso para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", cobra Lula.
O presidente sinaliza que mudanças nessa área deverão ser discutidas no Congresso Nacional e poderão ser viabilizadas no próximo governo:
-O Brasil, independentemente de que de quem esteja na Presidência da República, vai ter que estabelecer o novo marco regulatório de telecomunicações desse País. Redefinir o papel da telecomunicação. E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável.
Terra - Presidente, em 1978 o senhor era um líder operário, estava na Bahia em um encontro de petroleiros, no Hotel da Bahia, eu era um estudante de comunicação, ainda tinha AI-5, censura à imprensa. Na década seguinte, nos anos 80 e 90, em inúmeras conversas com o senhor o assunto acabava de alguma forma passando pelo monopólio na mídia. No ano 2002, na véspera da eleição, de novo conversamos sobre isso. Em 2006, a uma semana do senhor ser reeleito presidente, numa conversa o senhor disse que não iria "tirar nada" de ninguém, que isso não seria democrático, mas que a ideia era redistribuir meios, ajudar os meios, ter uma maior diversidade de opinião. Chegando agora, nesta reta final (em 2010) o senhor tem feito críticas duras, dizendo que a imprensa, a mídia tem um candidato e não tem coragem de assumir e, ao mesmo tempo, o contraditório diz que existiria um Projeto Político, projeto vocalizado outro dia pelo José Dirceu, para "enquadrar meios de comunicação". Então, queria que o senhor dissesse o que o senhor realmente pensa disso, e se realmente existe uma expectativa, se existe alguma coisa em relação a isso...
Luiz Inácio Lula da Silva - Olha, primeiro, na nossa passagem pela Terra... não pelo Terra, pela Terra, a gente ouve coisas absurdas, que a gente gosta e que a gente não gosta. Veja, qualquer coisa nesse País tem o direito de me acusar de qualquer coisa. É livre. Aliás, foi o PT que, no congresso de São Bernardo do Campo, decidiu que era proibido proibir. Era esse o slogan do PT no congresso de 1981.
Terra - O Caetano vai dizer que é dele...
O que acontece muitas vezes é que uma crítica que você recebe é tida como democrática e uma crítica que você faz é tida como antidemocrática. Ou seja, como se determinados setores da imprensa estivessem acima de Deus e ninguém pudesse ser criticado. Escreveu está dito, acabou e é sagrado, como se fosse a Bíblia sagrada. Não é verdade. A posição de um presidente é tomada como ser humano, jornalista escreve como ser humano, juiz julga como ser humano. Ou seja, temos um padrão de comportamento e julgamento e, portanto, todos nós estamos à mercê da crítica. No Brasil - , e foi o Cláudio Lembo que disse para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido, que falasse. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada. Muitas vezes fica explícita no comportamento que eles têm candidato e gostariam que o candidato fosse outro. Tiveram assim em outros momentos. Acho que seria mais lógico, mais explícito. Mas, eles preferem fingir que não têm lado e fazem críticas a todas as pessoas que criticam determinados comportamentos e determinadas matérias.
Terra - Então, não existiria nenhum projeto futuro...
Se existir uma idéia, ela será discutida pelo próximo governo. Pelos próximos governos. Ela será decidida pelo Congresso Nacional , porque é impossível você imaginar fazer uma coisa que discuta comunicação se você não passar pelo Congresso. Quando nós tomamos a decisão de fazer a Conferência da Comunicação - nós já fizemos conferências de tudo que você possa imaginar, até de segurança pública -, quando fizemos a Conferência de Comunicação, alguns setores das comunicações participaram, algumas tevês participaram, algumas empresas telefônicas participaram e muitos jornais participaram. Ela foi feita a nível municipal, a nível estadual e nível nacional. Determinados setores da imprensa não quiseram participar e começaram a achar que aquilo era antidemocrático, que aquilo era não sei das contas. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação. Uma legislação que está regulamentada em 1962. Portanto, não tem nada a ver com a realidade que nós temos hoje, com os meios de comunicação que nós temos hoje. Com a agilidade da internet, por exemplo. Então, o que nós achamos é que o Brasil, independentemente de quem esteja na Presidência da República, vai ter que estabelecer o novo marco regulatório de telecomunicações desse País. Redefinir o papel da telecomunicação. E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável. Ninguém tinha a dimensão há 15 anos atrás do que seria a internet hoje. Ninguém tinha. Ninguém tem a dimensão ainda do que pode ser a TV digital. E a pluralidade que ela pode permitir de utilização dos canais de televisão. Então, discutir isso é uma necessidade da nação brasileira. Uma necessidade dos empresários, dos especialistas, dos jornalistas, ou seja de todo o mundo para ver se a gente se coloca de acordo com o que nós queremos de telecomunicações para o futuro do País.
Terra - Como essa discussão quase sempre se dá em meio a campanha, a gente não tem a oportunidade de falar assim tão claramente. O que mais incomoda o senhor: é a cobertura (ser) crítica de um lado e não existir a investigação sobre os demais candidatos? Seria isso?
Não, não. Veja, Bob você me conhece há muito tempo e sabe o que eu tenho afirmado. Só existe uma possibilidade no meu governo de alguém não ser investigado. É não cometer erro. Se cometer erro, tem de ser investigado. Isso vale para todo mundo. Agora, eu acho que a imprensa presta um papel importante.
Terra - O senhor está dizendo que ela é desequilibrada? Só está cobrindo um lado e não está cobrindo...
É que eu acho que a imprensa está cumprindo um papel importante quando ela denuncia. Por que? Ou você sabe porque alguém denunciou, ou você sabe porque alguém cobriu ou você sabe porque saiu na imprensa. Quando sai alguma coisa na imprensa você vai atrás. Você vai, então, apurar. De tudo aquilo que é uma feijoada, o que é feijão, o que é carne, o que é costela, o que é carne seca. Você vai separar as coisas para saber o peso de cada uma. E é exatamente o que a gente faz nesse governo. Ou seja, eu vou te dar um exemplo, sem citar jornal. Na campanha passada, os caras diziam, "porque o avião do Lula...", porque o Aerolula... Passando para a sociedade, disseminando umas bobagens, vai despolitizando a sociedade. Agora, estão dizendo que a TV pública é a TV do Lula. Nunca disseram que a TV pública de São Paulo é do governador de São Paulo e as outras são dos outros governadores. Agora, uma TV para um presidente que está terminando o mandato daqui a três meses, é a TV Lula. Ou seja, esse carregamento de...composto de ...de muita ...de muita, eu diria, de muito preconceito ou de muita até, eu diria até, às vezes, ódio, demonstra o que? O velho Frias (Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, falecido em abril de 2007) me dizia: "Lula, o pessoal do andar de cima não vai permitir você subir lá...". Quem me dizia isso era o velho Frias repetidas vezes: "Lula, cuidado, o pessoal do andar de cima não vai permitir você chegar naquele andar...". Sabe? Então, o pessoal se comporta como se o pessoal da Senzala tivesse chegando à Casa Grande. E ficam transmitindo uma coisa absurda. Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação....? Nesse momento do Brasil! Eu duvido, duvido. Eu quero até que vocês coloquem em negrito isso aqui: Eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo. Agora, a verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é essa. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais...
Terra - Nos municípios, isto tem uma capilaridade: o chefe político tal...
Então, muita gente não gostou quando, no governo, nós pegamos o dinheiro da publicidade e dividimos para o Brasil inteiro. Hoje, o jornalzinho do interior recebe uma parcela da publicidade do governo. Nós fazemos propaganda regional e a televisão regional recebe um pouco de dinheiro do governo. Quando nós distribuímos o dinheiro da cultura, por que só o eixo Rio-São Paulo e não Roraima, e não o Amazonas, e não o Pernambuco, e não o Ceará receber um pouquinho? Então, os homens da Casa Grande não gostam que isso aconteça.
Terra - A propósito de "Casa Grande", sociologia etc..., na semana passada um importante sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, evocou Mussolini ao se referir ao senhor como chefe de uma facção. Chegando ao final desses 16 anos (governos FHC e Lula), o senhor acha que ainda existe...
Eu acho que, sinceramente, as pessoas deveriam olhar para o Brasil e olhar para os outros países. E todo o mundo deveria agradecer a Deus o Brasil ser do jeito que ele é, o Brasil ter o governo que ele tem e ter o povo que tem. Eu lembro que o João Roberto Marinho, quando voltou da eleição do México passada, numa conversa que teve comigo falou: "Ô presidente, eu estava no México e foi de lá que eu aprendi a valorizar a democracia no Brasil. Porque, aqui no Brasil, todo mundo acata o resultado. Lá no México, eu vi um milhão de pessoas na rua contra o resultado eleitoral". Ou seja, aqui no Brasil nós não corremos esse risco. Porque esse País tem um outro jeito de exercitar a democracia. E a democracia ela só será exercitada - vocês estão lembrados que eu dizia quando era líder sindical ainda -, democracia não é o povo ter o direito de gritar que está com fome, democracia é o povo ter direito de comer. Nós estamos chegando lá, estamos chegando lá, então as pessoas, sabe, que talvez tenham problemas ideológicos, problemas de preconceito, ou seja, que não admite que...meus queridos, vejam o que vai acontecer amanhã, sexta-feira; a Bovespa, que tinha ódio de mim, e quando tinha medo de mim ela tinha apenas 11 mil pontos, hoje já chegou a 72 (mil pontos), já chegou a 68 (mil pontos). Ou seja, acima dos 60 mil pontos. E vai exatamente um presidente da República, que tanta gente tinha medo, fazer a maior capitalização da história da humanidade. Ouso dizer: nunca antes na história do planeta Terra houve uma capitalização da magnitude do que vai acontecer na sexta-feira, sabe, com a minha presença.
Terra - E isso lhe dá um prazer especial?
Me dá. Me dá um prazer especial porque é um sucesso do Brasil, é um sucesso da Petrobrás, é um sucesso do investimento em tecnologia, é um sucesso de acreditar neste País. Mas na verdade é o sucesso da ascensão do Brasil no mundo. Ou seja, quem acompanha a imprensa internacional percebe que hoje nós ocupamos na imprensa internacional num mês aquilo que a gente não ocupava em três décadas, há pouco tempo atrás. Porque no Brasil, as pessoas precisam aprender uma coisa: ninguém respeita quem não se respeita. E muita gente do Brasil costumava chegar nos Estados Unidos ou na Europa de cabeça baixa, se achando um ser inferior.
Terra - Tirava o sapato...
É. Eu, quando eu tomei posse, disse para os meus meninos: se alguém tirar o sapato, se eu souber, porque também não vou, não estou com eles, mas também se chegar lá para tirar o sapato é melhor vir embora. Porque eu mando embora. A única coisa que eu acho que vai acontecer lá é o seguinte: o Brasil vai sair mais honrado deste processo, o Brasil vai sair mais forte e não vai ser o Lula que vai ganhar, o Lula está fora disso em dezembro, meu filho.
Terra - O senhor está se referindo a isso por causa da pergunta, Mussolini...?
É, por causa disso, ou seja, eles confundem populismo com popular. Eles não sabem o que é popular porque eles nunca tiveram perto do povo. Essa gente, essa gente que não gosta de mim, na época das eleições até sorri pros pobres, até fazem promessa pros pobres, mas depois das eleições... o pobre passa perto deles um quilômetro. Então, sabe, isso é uma confusão maluca entre o populismo e o popular. O que é o populismo? É um cara, sabe, que não tem nada a ver com ninguém e aparece fazendo promessas, aparece fazendo política demagógica. Não é o nosso caso. Todas as políticas minhas são decididas, Bob... Já foram 72 conferências nacionais, conferências que começam lá no município, vai para o Estado e vem pra cá. Algumas conferências participaram 300 mil pessoas até chegar na conferência nacional. E aí nos decidimos as políticas públicas. Então eles...obviamente eu acho que tem muita gente incomodada e eu não tenho culpa, eu não tenho culpa. Sabe, tirar deles incomodou muita gente no Brasil. A Coroa Portuguesa durante muito tempo ficou incomodada por conta daqueles que diziam que era preciso mudar. Ficaram incomodados até com Dom Pedro quando ele quis mudar. Por que não ficar comigo?
Terra - O Brasil mudou e eu faço a seguinte pergunta, quer dizer, a política brasileira mudou? O senhor antigamente falava muito em reforma política, que era uma das bandeiras e hoje a gente vê os partidos enfraquecidos. Como o senhor avalia hoje a política, a necessidade da reforma política e um adendo: em uma viagem ao Pará, nas vésperas da eleição passada, em um vôo o senhor disse na entrevista que uma das suas primeiras medidas que o senhor tentaria seria a reforma política. Por quê não saiu? Por que é tão difícil de fazer?
Porque a reforma política não é uma coisa do presidente da República. A reforma política é uma coisa dos partidos políticos. E do jeito que os partidos se comportam parece que a gente tem um monte de partidos , todos criticando, sabe, a legislação que regulamenta a política no Brasil. Todo mundo quer uma reforma política, mas ninguém mexe. Porque desagrada a muita gente. Então, veja, eu mandei duas propostas de reforma, de coisas que precisariam mudar para poder melhorar a política brasileira e que não foi votado. Nós mandamos, por exemplo, a regulamentação do financiamento de campanha, para acabar com o financiamento privado e ficar com financiamento público, que na minha opinião é a forma mais honesta de se fazer campanha neste País, a fidelidade partidária... porque o que é o ideal? É você ter partido forte para você negociar com partido. Isso faz parte da democracia. Quando você faz coalizão com partido político você estabelece regras nesta coalizão, você partilha um poder com essa coalizão. Agora, do jeito que está é quase que impossível, porque a direção dos partidos não representa mais os partidos. O líder da bancada não representa mais a bancada, ou seja se criou grupos de deputados, grupos por região, grupos...ou seja, e está muito difícil para eles próprios...então, o que eu acho? Quando eu deixar a presidência, eu quero, primeiro dentro do PT, convencer o PT da necessidade de fazer uma reforma política, convencer os partidos da base aliada do governo da necessidade de se fazer uma reforma política neste País pra que a gente não fique com legenda de aluguel, como nós temos agora.
Terra - Na semana passada, o Lembo disse até naquela entrevista, primeiro que a oposição vai estar em frangalhos nas urnas e ele é do DEM, e que na verdade não vão existir praticamente partidos, só o movimento social e que seria liderado pelo senhor. O senhor concorda?
Eu não concordo porque eu não sou líder do movimento social, eu sou um dirigente partidário. O movimento social tem suas lideranças próprias. Agora, eu acho que...eu não concordo com o Lembo que não tenha partido político, o PT é um grande partido político. Nas pesquisas da opinião pública, o PT aparece com 30% de preferência em qualquer pesquisa que se faça. Demonstração de que isso é um partido, sabe, como poucas vezes no mundo você teve um partido assim, você teve um PRI, um partido comunista mexicano que era extremamente forte e aí sim era populismo, você tinha um partido comunista italiano que tinha 30% dos votos e que era um baita de um partido na Itália, embora nunca tenha chegado no poder, você tinha a social democracia que revezava o poder em uma parte da Europa, os socialistas franceses que revezavam. E você tem no Brasil o PT que é um partido organizado nacionalmente e muito forte. Agora, eu acho que as reformas, elas se darão por dentro dos partidos políticos, dentro do Congresso Nacional. E ela se dará porque nós não precisamos ter uma legenda que aluga na época da eleição, que tem horário de televisão...
Terra - Tiririca é um símbolo disso?
Veja, eu acho...eu não sou contra...
Terra - Como representação, não é demonizando...
Ele tem um partido, ele pode ser filiado no partido como qualquer outra pessoa. Deixa eu lhe falar... o Tiririca é um cidadão que representa uma parcela da sociedade brasileira.
Terra - Mas um voto de protesto...
Eu não sei se é voto de protesto, ele pode surpreender, sabe...eu acho legal o Romário estar entrando na política, acho legal o Bebeto estar entrando na política, o Marcelinho...porque, veja, a política antigamente o que era? Antigamente a política era advogado, professor, funcionário público e empresário. Ora, se você tem jogador de futebol, você tem movimento indígena, você tem...todo mundo tem que se apresentar e o Congresso estará melhor representado . Se eles trabalharem corretamente, serão valorizados. Se as pessoas não trabalharem corretamente, no próximo mandato cairão fora como já provou a história da humanidade e aqui neste País. Então, eu estou tranquilo com relação à necessidade da reforma política, ou seja, a cada dia uma pessoa só cria um partido político. Agora, na época da eleição você precisa normatizar quem é que participa do que, porque quando nós fomos criados em 80 nós tínhamos que legalizar o partido em 15 Estados e dentro de cada Estado em 20% dos municípios. Era um trabalho imenso e ter 3% de voto, sabe, para governo em 82. Não foi fácil chegar e nós fizemos. Então é preciso criar parâmetros para as pessoas organizarem. Você não pode, ou seja, você não tem um partido político, daqui a pouco os deputados são eleitos por um partido tal, antes de tomar posse, já mudaram de partido. Ou seja, você fez uma negociação com o partido que tinha 20 deputados, daqui a pouco esse partido tem 10 e a negociação está feita. Como é que fica?
Terra - Presidente, que PT é esse que neste momento da política brasileira sairá das urnas? E, segunda pergunta, onde o PT, que teve momentos de altos e baixos acentuados durante o seu mandato, onde acertou e onde errou?
Primeiro, o PT tem pouca ingerência no governo, sabe. Quando você ganha um governo, você governa, e na minha o partido tem até liberdade de em vários momentos não concordar com o governo e até fazer oposição ao governo, criticar o governo, sabe? Nós perdemos muita gente que foi do PT porque não concordou com a reforma da previdência do setor público que nós começamos a fazer em 2003. Isso faz parte também da história política do mundo inteiro. Foi assim no partido socialista francês, no alemão, no sueco, no partido democrata americano, acontece em todos os partidos políticos. Eu acho que o PT deu uma ajuda muito grande agora quando aceitou a indicação da ministra Dilma como presidente, ou seja, havia quem dissesse que o PT queria criar caso, que o PT queria uma liderança histórica, alguém com mais vínculo, e o PT aceitou tranquilamente a Dilma e eu acho que PT tomou a decisão madura e coerente, sabendo a minha relação com o PT e o peso do governo na decisão do processo eleitoral. Eu acho que foi uma decisão madura e, obviamente que, muitas vezes aceitando aquilo que a gente fazia no governo. Porque, qual é o problema do governo? Quando você chega no governo, você não participa mais da decisão de um partido. Eu, faz oito anos, sete anos, que eu não vou numa reunião do partido. Porque eu tomei como decisão de que, ao ser eleito presidente da República, eu não poderia governar para o PT, eu não poderia enxergar o mundo apenas pelo PT, eu tenho que enxergar o mundo pela pluralidade da política brasileira e da sociedade brasileira. Então, eu estabeleci uma forte relação com os trabalhadores, é verdade. Mas estabeleci também uma forte relação com os empresários, estabeleci uma relação muito forte com os setores médios da sociedade, porque é isso que é a sociedade brasileira. Ela não é apenas, sabe, vermelha ou azul ou verde. Ela é muito mais colorida do que tudo isso e o presidente da República tem que ficar com uma espécie de magistrado. Agora, quando chega época de eleição não é possível o presidente da República ficar como magistrado porque eu tenho um lado. Eu tenho um partido e tenho candidato.
Terra - O senhor tem sido muito cobrado por estar interferindo na eleição....
Deveria ser, deveria ser cobrado quem perdeu. Quem não conseguiu fazer o sucessor, porque o sucessor é uma das prioridades de qualquer governo para dar continuidade a um programa que você acredita que vai acontecer. Imagina se entra no Brasil para governar alguém que resolve querer voltar e privatizar a Petrobrás? (pausa) Onde vai o pré-sal? Ou alguém que resolva não mudar a lei e permitir que a lei do petróleo continue a mesma? A gente sabendo...o contrato de risco é quando a gente corre riscos. Mas quando a gente sabe onde tá bichinho do ouro preto, por que a gente vai fazer contrato de risco? Então, nós temos que se apoderar desta riqueza a bem do povo brasileiro, é um patrimônio do povo, não é um patrimônio da Petrobrás. Então, nós temos medo de que este País sofra um retrocesso. Por isso que eu tenho candidato. Seria inexplicável para a sociedade se eu entrasse numa redoma de vidro e falasse: olha, aconteça o que acontecer nas eleições, o presidente da República não pode dar palpite. Mas nem para escolher o Papa acontece isso.
Terra - Presidente, essas eleições já estão definidas?
Olha, nunca existe eleição decidida. Eu sempre acho que eleições e mineração a gente só sabe disso depois do resultado. Abriu a urna, agora não tem urna para abrir...
Terra - Mas tem o negócio de identidade (carteira de identidade) que pode complicar...
Olha, teria problema de identidade se você não tivesse elevado 36 milhões de pessoas da classe C. Esse povo agora está comprando, esse povo está entrando na loja, está fazendo crédito esse povo tem documento, fotografia... O que eu acho extremamente importante é que nesse processo eleitoral, a gente precisa primeiro ter muita cautela. Esse é o momento de um time que está ganhando de dois a zero. O adversário está dando botinada, está chutando no peito, está chutando na canela, o juiz não está apitando falta e nós não podemos perder a cabeça, porque o que eles querem é expulsar alguém do nosso time, para a gente ficar em minoria. Então, agora é muita cautela, vamos fazer troca de passes entre nós, vamos fazer a bola correr. Como dizia o Parreira, quando estava dirigindo o Corinthians, nós vamos ficar dominando a bola, ou seja, o tempo que a gente estiver com a bola é o tempo que a gente não toma gol...
"Erenice jogou fora a chance de ser uma grande funcionária"
O chamado "Caso Erenice" irrompeu na cena da sucessão presidencial há duas semanas e, há uma semana, levou à queda a Chefe da Casa Civil da presidência da República, Erenice Guerra. Pela primeira vez desde então o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz claramente o que pensa acerca do episódio e dos seus desdobramentos. Nesta segunda parte da entrevista exclusiva ao Terra, Lula avança:
-(...)Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E quando acontece, a pessoa perde.
Além das denúncias de nepotismo por parte da ex-chefe da Casa Civil, um dos filhos de Erenice, Israel Guerra, foi acusado, em reportagem da revista Veja, de participar de um esquema de lobby para favorecer uma empresa aérea em contratos com os Correios. Ainda a respeito do rumoroso assunto, disse Lula:
- O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País.
O presidente faz ressalvas, no entanto, quanto à extensão das responsabilidades de Erenice Guerra no episódio. Vale-se, para tanto, de metáfora gastronômica. Lembra que "uma feijoada trem trezentas coisas", e que é preciso saber o que é feijão, o que caldo, o que é carne seca... e por ai afora.
O presidente também aponta a revolução que a internet vem provocando na maneira como as pessoas se informam. E anuncia: "...pode ficar certo de que eu serei um internauta vigoroso a partir de 1° de janeiro".
Sobre José Serra, o adversário de sua candidata na eleição presidencial, o presidente comenta: "está hoje na situação em que eu estive nas duas eleições que perdi". E admite que foi muito difícil ser um candidato contra o Plano Real, em 1994.
Terra - Na prática, falta uma semana... E conseguiram a expulsão da Erenice...
Luiz Inácio Lula da Silva - Não, eles não conseguiram a expulsão da Erenice. Veja, a Erenice saiu porque se ela cometeu um erro, que ainda vai ser investigado...porque, veja, as pessoas, todos nós seres humanos precisamos aprender o seguinte: nós nascemos, crescemos e morremos. Neste período de tempo, a gente tem oportunidade, a gente aproveita ou não aproveita. Tem gente que poderia ser um baita jogador de futebol, eu conheci trezentos que eram "o novo Pelé", nenhum foi. Eu conheci trezentos que iam ser grandes políticos, nenhum foi. Então, as pessoas, na medida em que têm uma oportunidade, as pessoas estão aqui para prestar serviço à sociedade. Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo ao mesmo tempo. E quando acontece, a pessoa perde. O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País.
Terra - Nesse caso o senhor admite que as denúncias estavam, ao menos em parte, corretas?
Veja, eu sempre admito de que muitas vezes tem coisas que você tem que investigar. Agora, porque eu comecei falando da feijoada? Porque a feijoada tem ingredientes, você quando vai na panela de feijoada, você tem o feijão e tem lá trezentas coisas para escolher. O que eu acho é que toda notícia de denúncia ela vem como se fosse uma feijoada. Depois que você faz um processo de investigação, escolhe o que você quer ali, você vai perceber que a quantidade de coisas, você vai perceber o que é cada um. Tem coisa que tem dimensão séria, tem coisa que é boato, especulação, tem coisa que não tem profundidade. Então, qual é o papel de um presidente da República? Ou seja, na hora que você sabe de uma situação dessa, a primeira coisa que você faz é criar uma sindicância interna, ou seja, a CGU, a Casa Civil começa a investigar e a Polícia Federal abre inquérito. A partir desse momento, o presidente da República fecha a boca, certo? Porque, a partir daí, não pode ter mais nenhuma influência do governo no processo de investigação. Quando tiver resultado de todas as pessoas darem depoimento, aí você então comunica a sociedade o que aconteceu de fato e de direito.
Terra - E as denúncias não vão interferir no resultado eleitoral?
Eu não acredito. Porque tem uma coisa que as pessoas precisam começar a aprender. Se essas denúncias são manipuladas eleitoralmente porque...
Terra - Ainda que verdadeiras?
O povo percebe. Mesmo aquilo que seja verdadeiro, o povo percebe. Agora, o povo aprendeu a julgar, isso é uma coisa interessante.
Terra - Por quê mudou, presidente?
Ah, porque o povo tem acesso à informação que ele não tinha antes. Hoje, eu acho que a internet joga um papel extraordinário. Eu digo pelos meus filhos.
Terra - O senhor acessa ou acompanha ali?
Não, mas pode ficar certo de que eu serei um internauta vigoroso a partir do dia 1º de janeiro.
Terra - O senhor vai acessar até o Twitter?
Eu não sei. Eu acho que o Twitter é uma escravização. Tem gente que acorda duas horas da manhã para ficar tuitando. Tem gente que levanta para falar: ai, acordei, perdi o sono. O que eu tenho a ver com isso? Vai dormir, pô!
Terra - Mas tem ministro seu que tuita...
Ah, eu dou bronca em ministro, porque às vezes você está em um comício, o cara está tuitando lá, o cara nem prestou atenção, já pensou jogador de bola se estiver tuitando e a bola passar do lado dele... (risos) Acho um absurdo, acho uma escravização. Mas deixa eu contar uma coisa para vocês... Acho que as pessoas não estão entendendo ainda o que aconteceu na comunicação nesse País. Lá em casa, ninguém compra mais jornal. Em casa, a molecada toda lê o que tiver que ler na internet, em tempo real, sem ter que esperar: "ah, vamos ver o que vai acontecer amanhã ou depois de amanhã". São 68 milhões de brasileiros que acessam a internet. Um quarto das residências brasileiras que já tem computador. A tendência natural é isso crescendo de uma forma tão rápida, que daqui a pouco serão 150 milhões brasileiros... é por isso que o governo se interessou tanto na questão da banda larga. Porque você sabe que no Brasil é assim... todo mundo fala que vai resolver o problema, mas todo mundo só quer cuidar daquilo que tem rentabilidade. Então vamos fazer as coisas no Rio de Janeiro, vamos fazer em São Paulo, nas capitais, cidades grandes, mas quando vai se afastando e não tem rentabilidade, as pessoas não querem. Por exemplo, veja se não fosse o programa Luz Para Todos... ele está custando ao governo federal talvez o investimento de quase R$ 14 bilhões. Que governo doido iria fazer um programa Luz Para Todos se não fosse o meu? Quem das pessoas que governaram esse País estavam preocupadas em levar luz para uma aldeia indígena? Então, nós fizemos um investimento, que é o seguinte: nós já colocamos mais de 1,1 milhão km de fio neste País. Já colocamos 6 milhões de postes neste País. Já colocamos mais de um milhão de transformadores. Às vezes uma ligação custa R$ 10 mil, mesmo assim... muita gente diria: "Lula, você é louco. Gastar R$ 10 mil para atender um cara que está lá não sei onde!". Esse "cara" é tão brasileiro quanto quem mora em Copacabana ou mora na avenida Paulista. Ele tem direitos. E se a iniciativa privada não faz porque não é rentável, o governo tem de fazer. Então, esse "cara" vai ter internet. Daqui a pouco a gente vai ter numa tribo indígena de qualquer lugar deste País um cidadão (bate na mesa simulando um teclado de computador) navegando. Sabe? Vendo o portal Terra...
Terra - Mas índio não vai tuitar às duas horas da manhã...
Pode! Pode tuitar, vai que ele perde o sono! (risos).
Então, essa é uma revolução que eu acho extraordinária. Acho um bem muito importante que nós não fiquemos dependendo apenas de um. Triste era o tempo que o Brasil só tinha um canal de televisão. Triste era o tempo que o Brasil só tinha uma grande rádio. Triste era o tempo que nós tínhamos dois ou três jornais. Hoje você percebe que os grandes jornais do País não são aqueles que acham que são grandes. São os populares que existem em vários lugares. Os jornais a R$ 0,50, jornais a R$ 1, jornais de graça, jornais de Metrô... sabe? Por quê? Porque antigamente até a publicidade brasileira era feita apenas para 35%, 40% dos consumidores! Agora entrou uma gama de gente no mercado de consumo que todo mundo quer atingir essas pessoas! E aí, eu penso que uma coisa é o cidadão passar na banca, ver uma manchete e ir embora trabalhar. Outra coisa é o cidadão saber o seguinte: eu posso tirar R$ 0,50 do meu bolso e comprar um jornal ou eu posso acessar a internet e qualquer portal e ter minhas informações.
Terra - Esse crescimento me leva a um outro assunto. Todas as grandes cidades do Brasil estão estranguladas. Todas. Você chega e nem entra. Porque teve acesso à classe C, porque tem apartamento sendo vendido e comprado, porque tem muito automóvel (sendo comprado) e aí entra a Copa 2014. Não será uma pena que essas obras de infraestrutura que poderiam ou poderão ser extremamente úteis para essa nova fase do País, que isso não seja levado em consideração?
Estarão todas prontas...
Terra - Mas que não se leve em consideração que essas cidades aproveitem a oportunidade de desestrangular...
Deixa eu dizer uma coisa... Primeiro, nós temos que ter em conta o seguinte: a geração que está governando o Brasil nesse momento, os prefeitos, os governadores, o presidente da República e as que virão. Nós estaremos fazendo quase que um reparo aos acontecimentos da década de 70 no País, da década de 60. Ou seja, o êxodo rural quando milhões de brasileiros se locomoveram de suas casas e vieram para os grandes centros urbanos. Por conta disso, a irresponsabilidade dos administradores públicos da época que foram permitindo que o povo fosse ocupando espaços inadequados, espaços proibidos, espaços à beira de córregos, nas encostas de morros... e foram se constituindo as grandes favelas e junto com as favelas os grandes problemas. Nós estamos num processo de fazer reparação nisso. Reconstruindo a cidadania a partir das favelas. A primeira tomada de decisão foi acabar com as palafitas, que é o projeto mais degradante de habitação humana. Aí depois urbanização de favela. Eu até gostaria que se vocês pudessem, antes de terminar meu mandato, visitarem comigo o Complexo do Alemão, do Pavão-Pavãozinho, Manguinhos... que vocês vão ver o que é que está acontecendo nesses lugares e no Brasil inteiro. Eu estou falando esses lugares porque aparecem mais na televisão. Estamos fazendo teleférico no Complexo do Alemão, que vai ter seis estações. Cada estação vai ter biblioteca, vai ter escola funcional, delegacia, vai ter internet... Nós vamos levar para o morro a polícia com objetivo de proteger a sociedade, e não entrar de forma inadequada como se fazia sempre. Nós vamos levar cidadania. Quero que vocês vejam o que está acontecendo com as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) nas favelas, com a geração de emprego, com a geração de oportunidades... e essas coisas a gente só vê se a gente for. Se a gente quiser fazer jornalismo sentado no gabinete e não sair para ver o que está sendo feito no Brasil, nós podemos cometer o erro das pessoas que foram exiladas e voltaram e não deram conta que o Brasil tinha mudado. Ficaram achando que o Brasil era o de 64. É preciso arejar a cabeça para ver o que está acontecendo no Brasil. O povo está feliz, o povo está percebendo que tem futuro. Não sei se isso incomoda algumas pessoas... tem gente que não gostaria que tivesse tudo assim, né? "Tem muita gente bem! Esse governo vai terminar seu mandato com mais de 80% de bom e ótimo e onde que existe isso?" (diz, mudando o tom de voz)
Terra- Sim...
Eu acho normal, não fico com raiva quando o cidadão de classe média, seja no Rio de Janeiro, seja em São Paulo ou em Belo Horizonte, tomando seu uísque com os amigos critica o Bolsa Família de assistencialista. Eu acho normal. Ele dá de gorjeta o Bolsa Família. Agora para uma pessoa que está com fome, R$ 100, meu filho... Quando a gente determina que 30% da alimentação escolar tem de ser comprada no local, o que acontece naquele município? Uma revolução!
Terra - O que você acha da oposição ter criticado o Bolsa Família e agora quer até 13° para o programa?
O problema é o seguinte: essas pessoas que são oposição hoje não estavam habituadas a fazer oposição. Tinha alguns que fizeram muito atrás. Já faz tempo que o Serra fez oposição, foi 1970, porque depois já virou secretário do Planejamento do (Franco) Montoro. Então as pessoas desabituaram a fazer oposição e fazem isso com certo preconceito, com uma certa raiva. Eu antigamente ficava ofendido com o preconceito. Hoje, eu acho que nós já vencemos todos os preconceitos. O PT também errou muito quando era oposição. Nós erramos muito. Se você pegar o projeto da Constituição que nós fizemos era um projeto tão severo, tão rígido (bate na mesa), que nós não conseguiríamos governar. Mas é próprio de quem é oposição.
Terra - Errou no Plano Real...
O Plano Real é uma coisa que nós perdemos uma eleição. Eu tinha quarenta e poucos por cento no mês de março, eu fui caindo, caindo, caindo... e o Fernando Henrique, que talvez não se elegesse deputado federal por São Paulo, começou... Aquilo não foi uma campanha entre dois homens. Aquilo foi campanha entre a estabilização e a moeda e o outro lado. A gente não acertou o discurso como eles não estão acertando agora.
Terra - No que eles estão errando politicamente?
Não posso dizer o que eles estão errando (risos). Não posso dar dica... não vou dizer qual canto que vou chutar o pênalti.
Terra - Qual é a avaliação do senhor sobre o comportamento do Serra?
Eu, para ser muito sincero, poderia dizer para vocês que o Serra está hoje na situação que eu estive nas duas eleições que perdi. O Serra foi candidato contra mim em 2002 quando o povo queria mudança e eu era mudança e ele, situação. Agora, ele quer mudança quando o povo quer continuidade. Então, foram dois momentos muito delicados. A mesma coisa fui eu. Fui candidato contra o Plano Real e era um massacre. Não precisava ninguém falar mal de mim era só a história daquele pãozinho batendo no prato, a história daquele engraxate em Nova York, que o engenheiro era um engraxate... Aquilo não deu resultado porque a gente não conseguiu gerar os empregos que eram necessários. Aí depois quando chegou em 98 eu já sabia qual era o discurso do Fernando Henrique Cardoso: "olha, quem estabilizou, vai gerar emprego". E a gente não tinha como desfazer isso. Se bem que em 94 eles fizeram uma sacanagem comigo. Fizeram uma decisão de não permitir que houvesse imagem externa que era para impedir que eu colocasse as imagens das Caravanas da Cidadania na televisão. Mas, de qualquer forma, eu não lamento. Hoje, para ser muito sincero, agradeço a Deus por ter chegado à presidência quando eu cheguei. Cheguei mais maduro, mais preparado. Cheguei sabendo mais coisas que eu sabia em 1989, em 1994 e 1998. Apesar de ficar lamentando, eu agradeço a Deus. Meus adversários deveriam agradecer a Deus também. Todo dia! Porque eles imaginavam que ia ser um fracasso para eles voltarem e eles estão com bronca do sucesso. Você veja uma coisa... ô gente, quando nós chegamos nesse País, em 2003, o crédito total disponibilizado para 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 190 milhões de habitantes era de R$ 380 bilhões. Hoje, só o Banco do Brasil tem isso. O nosso crédito hoje é R$ 1,6 trilhão. A Caixa Econômica financiava R$ 5 milhões e esse ano vai financiar R$ 70 bilhões ou mais. O Banco do Nordeste emprestou, em 2002, R$ 262 milhões e esse ano vai emprestar quase R$ 30 bilhões. Esse é o País que mudou e que as pessoas precisam compreender e ao invés de ficar triste, ficarem alegres. Quando eu deixar a presidência não ficará um bando de miseráveis como eles largaram para mim, mas ficarão milhões de brasileiros que estão ascendendo na sua vida social, na possibilidade de emprego.
Terra - Então, que América Latina o senhor encontrou e como é que acha que ela está hoje? O que poderia ter avançado nas tarifas, nas moedas?
Primeiro vou contar uma coisa para vocês. Esse é um fato histórico importante para as pessoas aprenderem. Em 1990, eu tinha perdido as eleições para o (Fernando) Collor, mas eu tinha me convencido que nós tínhamos criado uma força política importante no Brasil. E resolvi propor a convocação de uma reunião de toda a esquerda na América Latina. Tinha regiões em que se discutia muito que a única saída era pela via armada, tinha lugares que começavam a discutir mais fortemente a democracia... O dado concreto é que nós fizemos uma reunião em junho de 1990, no Hotel Danúbio, em São Paulo, eu lembro que era Copa do Mundo, era um sucesso, lembro que a única coisa que unia os argentinos era o Maradona. E lembro de países pequenos que tinham 18 organizações de esquerda, que foram para a reunião. Treze, doze, quatorze. E essas pessoas não conversavam entre si. Ali nós começamos a estabelecer um debate sobre a necessidade das pessoas acreditarem que pela via democrática era possível chegar ao poder. Eu era a prova de que era possível chegar ao poder pelas eleições diretas. Nós criamos o Foro de São Paulo. De lá para cá, todos os países da América Latina e América Central, com exceção de Cuba que já tinha seu regime anterior, chegaram ao poder pela via eleitoral. Todos. O mais recente foi El Salvador, que o Mauricio Funes chegou ao poder. O Evo Morales... você quer bem maior para a Bolívia do que um índio ser presidente da República? Antes era eleita gente que nem sequer falava a língua deles! Eram loiros de olhos azuis. De repente, você elege um companheiro como o Evo Morales, que crescem as reservas, cresce o PIB, cresce a distribuição de renda... Por quê? Porque ele tem vínculo com aquele povo e sabe que tem que cuidar da parte mais pobre. Então, eu acho que houve um avanço excepcional na América Latina. Também acho que a rotatividade no poder é importante. Defendo isso porque acho importante a prática democrática. Se vai ser dois mandatos, três mandatos, quatro mandatos, cinco mandatos... Nenhum americano hoje se queixa do (Franklin) Roosevelt ter sido presidente quatro vezes. Ninguém.
Terra - Presidente, quais são as principais barreiras para que a América Latina tenha um papel preponderante como mercado, essa questão que o Mercosul discute muito e não consegue avançar?
Oh, gente! Pelo amor de Deus! Deixa eu falar uma coisa para vocês. O problema hoje é que quem está em crise são os ricos. Nós estamos muito bem aqui na América Latina. Você sabe quanto que a gente tinha de balança comercial com a Argentina? Nove bilhões. Agora a gente chegou a R$ 30 bilhões. O maior parceiro comercial do Brasil hoje não é a Europa, não é os Estados Unidos, é a América Latina como um todo. Então o que acontece, nós fizemos um trabalho de diversificar as relações e a América do Sul está se fortalecendo. Quanto tempo você acha que a França conseguiu chegar ao que é, que a Alemanha chegou ao que é? Nós demos passos importantes. A economia chilena cresce, a Argentina cresce, o Uruguai cresce, o Paraguai cresce... Todo mundo está crescendo.
Terra - O senhor pretende ter um papel formal na América Latina, na América do Sul?
Não, não... Primeiro, essa coisa de líder... ninguém se auto-indica. Quando você é levado ao posto de líder é porque os teus liderados reconhecem força em você. Se eles não reconhecem, não adianta você dizer: "eu sou líder, eu sou líder!". Não existe isso.
Entrevista concedida a Antonio Prada, Bob Fernandes eGilberto Nascimento
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Movimentos sociais fazem ato contra golpismo midiático
Representantes de partidos políticos e entidades fizeram nesta quinta-feira (23), em São Paulo, um ato intitulado "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático". Participaram integrantes de centrais sindicais como CUT e CGTB, de movimentos sociais como MST, UNE e dos partidos PT, PCB, PSB e PDT. Nenhum presidente de central sindical esteve no evento, realizado na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.
De acordo com a organização, o ato reuniu 500 pessoas. Começou às 19h e terminou por volta das 21h.
Na abertura, Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, leu um documento "Pela ampla liberdade de expressão", no qual defende a mídia alternativa e propõe solicitar a abertura dos contratos e contas de publicidade de grandes empresas de comunicação.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e secretário geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Augusto Camargo, também leu uma nota, intitulada "Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação". Abaixo, leia a íntegra da nota:
"Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação
O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.
Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.
Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.
Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.
Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).
A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático a ser realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.
A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.
O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.
Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!
O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.
A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.
Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.
O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!"
Fonte: G1
De acordo com a organização, o ato reuniu 500 pessoas. Começou às 19h e terminou por volta das 21h.
Na abertura, Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, leu um documento "Pela ampla liberdade de expressão", no qual defende a mídia alternativa e propõe solicitar a abertura dos contratos e contas de publicidade de grandes empresas de comunicação.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e secretário geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Augusto Camargo, também leu uma nota, intitulada "Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação". Abaixo, leia a íntegra da nota:
"Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação
O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.
Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.
Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.
Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.
Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).
A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático a ser realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.
A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.
O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.
Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!
O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.
A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.
Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.
O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!"
Fonte: G1
Sindicato critica cerceamento ao trabalho de jornalistas
A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul repudia a atitude de algumas autoridades no trato com a Imprensa. Uma equipe de reportagem do jornal Correio do Povo e a assessora de Imprensa do Sindsepe/RS tiveram seu trabalho cerceado na manhã desta quinta-feira, 23 de setembro, quando tentava colher informações sobre a manifestação de servidores públicos da área da Saúde, na Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde - FEPPS, localizado no número 5.400 da avenida Ipiranga, em Porto Alegre. A reportagem teve seu trabalho dificultado por seguranças do local, que ameaçaram recolher a máquina fotográfica de uma jornalista. Os guardas justificaram que não liberariam o acesso dos profissionais sem a presença da assessoria de Imprensa do FEPPS.
O Sindicato entende que esta foi uma atitude isolada, mas ao mesmo tempo lamenta que situações como essa ainda ocorram em plena vigência do Estado Democrático de Direito. A direção quer também um esclarecimento público da Secretaria Estadual da Saúde no que diz respeito ao trabalho jornalístico, que em momento algum pode ser impedido, ainda mais quando este é realizado em um local público.
O Sindicato entende que esta foi uma atitude isolada, mas ao mesmo tempo lamenta que situações como essa ainda ocorram em plena vigência do Estado Democrático de Direito. A direção quer também um esclarecimento público da Secretaria Estadual da Saúde no que diz respeito ao trabalho jornalístico, que em momento algum pode ser impedido, ainda mais quando este é realizado em um local público.
Primavera socialista
Los poderosos pueden matar a uno, dos o tres rosas,
pero nunca será capaces de mantener la primavera toda.
Che Guevara pero nunca será capaces de mantener la primavera toda.
A democracia do jornal O Globo
Esta é a democracia do jornal O Globo.
Defendeu de forma entusiasmada a ditadura militar (a foto diz tudo), mas clama por liberdade de imprensa hoje (quando a expressão é ampla e irrestrita). É a velha história da liberdade de empresa, de negócio...
Coisas do amor
Por que um coração escolhe o outro, nunca vou saber. Há coisas para as quais não temos respostas, nem explicações, são mistérios da vida.
Às vezes o amor toma conta da gente sem pedir licença. Chega devagarinho, muitas vezes disfarçado, invade e pronto: se instala! E mesmo se dizemos não, ele fica lá, teimoso, empacado. E aí não tem jeito, precisamos conviver com ele, aceitá-lo. Porque ele não desiste facilmente uma vez que decidiu enviar as flechas numa determinada direção.
Ele contraria nossas regras, às vezes mesmo nossos gostos, nos faz fazer coisas que antes julgávamos ridículas, nos deixa bobos e felizes. Muda nossos hábitos, nos faz amar música lenta, sonhar acordados e passar noites em claro, ou então nos acorda em plena madrugada. E nos faz ver estrelas, gostar de lua e de poesia. Ah! O amor nos faz perder o juízo!
Torna adolescentes em adultos e velhos em adolescentes: não existe regra, não existe idade, não existe nada além dele. Se é surpresa para corações jovens, para os mais vividos é um presente dos céus, pois chegou na hora em que não se acreditava mais possível. A esse é dado mais valor, nem mesmo tem preço.
Ele nos faz andar sem ter os pés na terra, nos dá asas, nos transporta e muitas vezes nos fere. Mas de ferida boa, dessas que a gente sofre mas conhece o remédio. Ah! E esse remédio!... Cura tudo, esquece tudo. A raiva da manhã já não tem mais o mesmo sentido à noite. O amor passa esponja como ninguém, só ele mesmo é que conta.
E esse amor que nos libera e nos deixa cativos é também a razão da nossa esperança, porque nos motiva, nos incita a ir mais além, nos dá força e coragem, mesmo se às vezes parece nos deixar débeis e frágeis. Mas ele é contraditório e, por isso mesmo, fascinante. Com ele vivemos; sem ele, apenas passamos pela vida. São assim as coisas do amor.
Às vezes o amor toma conta da gente sem pedir licença. Chega devagarinho, muitas vezes disfarçado, invade e pronto: se instala! E mesmo se dizemos não, ele fica lá, teimoso, empacado. E aí não tem jeito, precisamos conviver com ele, aceitá-lo. Porque ele não desiste facilmente uma vez que decidiu enviar as flechas numa determinada direção.
Ele contraria nossas regras, às vezes mesmo nossos gostos, nos faz fazer coisas que antes julgávamos ridículas, nos deixa bobos e felizes. Muda nossos hábitos, nos faz amar música lenta, sonhar acordados e passar noites em claro, ou então nos acorda em plena madrugada. E nos faz ver estrelas, gostar de lua e de poesia. Ah! O amor nos faz perder o juízo!
Torna adolescentes em adultos e velhos em adolescentes: não existe regra, não existe idade, não existe nada além dele. Se é surpresa para corações jovens, para os mais vividos é um presente dos céus, pois chegou na hora em que não se acreditava mais possível. A esse é dado mais valor, nem mesmo tem preço.
Ele nos faz andar sem ter os pés na terra, nos dá asas, nos transporta e muitas vezes nos fere. Mas de ferida boa, dessas que a gente sofre mas conhece o remédio. Ah! E esse remédio!... Cura tudo, esquece tudo. A raiva da manhã já não tem mais o mesmo sentido à noite. O amor passa esponja como ninguém, só ele mesmo é que conta.
E esse amor que nos libera e nos deixa cativos é também a razão da nossa esperança, porque nos motiva, nos incita a ir mais além, nos dá força e coragem, mesmo se às vezes parece nos deixar débeis e frágeis. Mas ele é contraditório e, por isso mesmo, fascinante. Com ele vivemos; sem ele, apenas passamos pela vida. São assim as coisas do amor.
Letícia Thompson
terça-feira, 21 de setembro de 2010
São Paulo promove ato contra o golpismo midiático
Na próxima quinta-feira (dia 23), a partir das 19 horas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo sediará ato contra o golpismo midiático, no auditório Vladimir Herzog. Segundo a entidade, trata-se de uma atividade pluripartidária e sindical, que contará com a participação de todos aqueles que lutam pela democratização da comunicação, tais como blogueiros progressistas, participantes de redes sociais e todos aqueles que acreditam que a informação não tem dono ou proprietário, mas é um direito social e democrático do povo brasileiro. Reunirá, portanto, os defensores da imprensa livre.
Conheça a íntegra do documento convocatório elaborado por seus organizadores:
"Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na "presunção da culpa", numa afronta à Constituição que fixa a "presunção da inocência".
Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.
Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.
A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.
Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que - pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar - já mostraram seu desapreço pela democracia.
É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão - com apoio do movimento de blogueiros progressistas - um ato em defesa da democracia."
Participe!
Vamos dar um basta às baixarias!
Abaixo o golpismo midiático! Viva a Democracia!
Data: 23 de setembro, 19 horasLocal: Auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).
Para Le Figaro, Lula modernizou o Brasil
O jornal Le Figaro, o mais antigo da França, publica matéria nesta terça-feira (21), com chamada de capa, sobre o presidente Lula, apresentado como o responsável pela modernização do Brasil. A reportagem teve repercussão de vários órgãos de imprensa do mundo todo, inclusive no site da BBC Brasil, que reproduzimos abaixo:
Lula foi o presidente que modernizou o Brasil, diz jornal francês
Uma reportagem na edição desta terça-feira do jornal francês Le Figaro afirma que Luiz Inácio Lula da Silva foi o presidente responsável por “modernizar o Brasil”.
O texto, que recebeu uma chamada na capa do Le Figaro, é assinado pela correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Lamia Oualalou.
A reportagem conta a história de Ricardo Mendonça, paraibano de Itatuba que se mudou para o Rio de Janeiro em busca de emprego em 2003 e conseguiu entrar na universidade graças a uma bolsa do programa Pro-Uni, do governo federal.
O jornal atribui o sucesso de Mendonça às políticas do governo Lula.
“Histórias como esta de Ricardo o Brasil registra aos milhões. A três meses do fim do seu segundo mandato, este é um país mudado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará ao seu sucessor”, escreve o Le Figaro.
‘Barbudo onipresente’
O jornal diz que quando Lula chegou ao poder, em 2003, o Brasil era um país sem “grandes esperanças” que havia finalmente dado uma chance a um “turbulento barbudo onipresente na cena eleitoral desde o restabelecimento da democracia”.
O Le Figaro destaca que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu combater a hiperinflação com o Plano Real, mas que se tornou “muito impopular” antes de deixar o poder em 2002.
Citando analistas políticos brasileiros, o jornal diz que Lula foi responsável por ampliar políticas sociais do governo anterior.
“O chefe de Estado reagrupou algumas medidas sociais do seu antecessor e lhes deu uma dimensão inimaginável”, diz a reportagem do jornal.
“Pela primeira vez na história, o Brasil assiste a uma redução contínua e inédita das desigualdades. Em dois mandatos, 24 milhões de brasileiros saíram da miséria e 31 milhões entraram para a classe média.”
O jornal diz que o governo quer agora usar a riqueza dos novos campos de petróleo descobertos no litoral brasileiro para criar um fundo que beneficie os mais pobres.
O Le Figaro destaca que apesar dos avanços, o Brasil ainda é um dos mais desiguais da América Latina e do mundo, com altos índices de analfabetismo e problemas crônicos de saúde pública.
O jornal alerta também que as autoridades e parte dos analistas no Brasil não estão imunes à “complacência”.
Matéria da BBC Brasil
Fotos: Agência Reuters
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Cheiro de primavera
A mais bela das estações - a primavera - começa esta semana. Divido com os amigos algumas imagens que captei hoje no Parque da Redenção, meu quintal em Porto Alegre.
Amor criativo
Ensinamento de Osho:
Um coração sem amor não pode ser autenticamente criativo.
Como artista, eu posso facilmente colocar meus sentimentos de amor e alegria em meu trabalho. Por que não posso expressar os mesmos sentimentos para com outros seres humanos?
Um coração sem amor não pode ser autenticamente criativo.
Como artista, eu posso facilmente colocar meus sentimentos de amor e alegria em meu trabalho. Por que não posso expressar os mesmos sentimentos para com outros seres humanos?
domingo, 19 de setembro de 2010
Na onda patronal
Colegas jornalistas - não todos - continuam se pautando pelo que dizem os porta-vozes da grande mídia. Ou seja, embarcam na onda dos patrões. Já li sobre isso na época da ditadura militar...
Vamos participar desta semana sem carro
Eu estou nesta porque defendo um mundo menos poluído, com mais ar para respirarmos.
Pegarei minha bike e vou pedalar.
Vamos?
Brasil é exemplo na Assembléia Geral da ONU
O fato de o Brasil ter retirado 27,3 milhões de cidadãos da faixa da pobreza extrema, no período de 1990 a 2008, vai ser exemplo na 65ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que começa nesta semana em Nova York. O destaque da experiência brasileira está nas parcerias entre os órgãos públicos e privados. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, vai detalhar os programas de transferência de renda executados no país.
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Rômulo Paes, afirmou à Agência Brasil que o objetivo é mostrar que isoladamente os programas de transferência de renda não são eficientes. Segundo ele, é necessário trabalhar um conjunto de elementos que influenciam na redução da pobreza e, consequentemente, da fome.
“A redução de 81% dos brasileiros que deixaram os níves de pobreza extrema, de 1990 a 2008, foi possível por vários fatores aliados aos programas de transferência de renda, como o crescimento de trabalhadores no emprego formal, o aumento do salário mínimo e a redução das desigualdades regionais”, disse Paes.
Amanhã (20), a ministra Márcia Lopes participa das reuniões destinadas exclusivamente à discussão dos programas de combate à pobreza e à fome. Ao apresentar os programas desenvolvidos no país, a ministra deve destacar o Bolsa Família, que atende cerca de 60 milhões de pessoas, repassando, em média, R$ 90 mensais.
A ministra também pretende citar o Programa Benefício de Prestação Continuada, que envolve 3,5 milhões de pessoas portadoras de deficiência, idosas (cuja renda mensal é inferior a R$ 127,00 – o equivalente a um quarto do salário mínimo) e incapacitadas para o trabalho. Essas pessoas recebem um mínimo mensal (R$ 510,00).
Marcia Lopes quer mencionar ainda o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), destinado a atender as crianças e adolescentes com menos de 16 anos. Cerca de 820 mil pessoas são atendidas pelo projeto em 3,5 mil municípios. “Em todas essas situações, de execução dos programas, há uma integração entre os órgãos federais, estaduais e municipais, além do apoio da iniciativa privada. Isso é fundamental”, disse o secretário.
Na última terça-feira (13), a organização não governamental (ONG) ActionAid, divulgou o relatório Quem Realmente Está Combatendo a Pobreza?, analisando as ações desenvolvidas em 28 países para combater o problema. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil lidera o ranking que mede o progresso de países em desenvolvimento na luta contra a pobreza.
A ONG considerou o desempenho dos países em categorias, como presença de fome, o apoio à agricultura em pequenas propriedades e a proteção social. O Brasil é seguido pela China e pelo Vietnã. Em último na lista está a República Democrática do Congo.
O relatório ressalta ainda que a fome causa um prejuízo anual de US$ 450 bilhões aos países mais pobres. Segundo a ONG, dos 28 países emergentes analisados no relatório, apenas oito estão a caminho de conseguir cumprir, no prazo previsto, as metas de desenvolvimento do Milênio, da ONU, para a redução da fome. As metas estabelecem que, em relação aos níveis de 1990, os países devem diminuir à metade, até 2015, o número de pessoas subnutridas e de crianças que estão abaixo do peso ideal.
Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Rômulo Paes, afirmou à Agência Brasil que o objetivo é mostrar que isoladamente os programas de transferência de renda não são eficientes. Segundo ele, é necessário trabalhar um conjunto de elementos que influenciam na redução da pobreza e, consequentemente, da fome.
“A redução de 81% dos brasileiros que deixaram os níves de pobreza extrema, de 1990 a 2008, foi possível por vários fatores aliados aos programas de transferência de renda, como o crescimento de trabalhadores no emprego formal, o aumento do salário mínimo e a redução das desigualdades regionais”, disse Paes.
Amanhã (20), a ministra Márcia Lopes participa das reuniões destinadas exclusivamente à discussão dos programas de combate à pobreza e à fome. Ao apresentar os programas desenvolvidos no país, a ministra deve destacar o Bolsa Família, que atende cerca de 60 milhões de pessoas, repassando, em média, R$ 90 mensais.
A ministra também pretende citar o Programa Benefício de Prestação Continuada, que envolve 3,5 milhões de pessoas portadoras de deficiência, idosas (cuja renda mensal é inferior a R$ 127,00 – o equivalente a um quarto do salário mínimo) e incapacitadas para o trabalho. Essas pessoas recebem um mínimo mensal (R$ 510,00).
Marcia Lopes quer mencionar ainda o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), destinado a atender as crianças e adolescentes com menos de 16 anos. Cerca de 820 mil pessoas são atendidas pelo projeto em 3,5 mil municípios. “Em todas essas situações, de execução dos programas, há uma integração entre os órgãos federais, estaduais e municipais, além do apoio da iniciativa privada. Isso é fundamental”, disse o secretário.
Na última terça-feira (13), a organização não governamental (ONG) ActionAid, divulgou o relatório Quem Realmente Está Combatendo a Pobreza?, analisando as ações desenvolvidas em 28 países para combater o problema. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil lidera o ranking que mede o progresso de países em desenvolvimento na luta contra a pobreza.
A ONG considerou o desempenho dos países em categorias, como presença de fome, o apoio à agricultura em pequenas propriedades e a proteção social. O Brasil é seguido pela China e pelo Vietnã. Em último na lista está a República Democrática do Congo.
O relatório ressalta ainda que a fome causa um prejuízo anual de US$ 450 bilhões aos países mais pobres. Segundo a ONG, dos 28 países emergentes analisados no relatório, apenas oito estão a caminho de conseguir cumprir, no prazo previsto, as metas de desenvolvimento do Milênio, da ONU, para a redução da fome. As metas estabelecem que, em relação aos níveis de 1990, os países devem diminuir à metade, até 2015, o número de pessoas subnutridas e de crianças que estão abaixo do peso ideal.
Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
sábado, 18 de setembro de 2010
Inédita entrevista de Lula no Portal IG: "Sou um homem de rua"
Graças à relação inédita estabelecida com a sociedade civil, empresários e governantes de todos os espectros políticos, o governo ganhou solidez e pode implementar com sucesso as políticas públicas tão necessárias ao País, avalia o presidente Lula em entrevista exclusiva concedida ao portal IG e publicada nesta sexta-feira (17/9), lembrando que é, antes de tudo, um homem de rua:
Na entrevista, o presidente conversou sobre a sua relação com diversos setores da sociedade brasileira, suas maiores realizações no governo, as maiores decepções, os momentos difíceis, a importância de saber falar a língua do povo e também de saber interpretar a cabeça do eleitor. Afirmou que sentirá falta da agitação do dia-a-dia do exercício da Presidência, ainda que admita ser essa rotina bastante dura.
"Sou um homem de rua"
"Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados."
Foto do movimento sindical dos anos 80, do qual Lula já era é o ícone
Na entrevista, o presidente conversou sobre a sua relação com diversos setores da sociedade brasileira, suas maiores realizações no governo, as maiores decepções, os momentos difíceis, a importância de saber falar a língua do povo e também de saber interpretar a cabeça do eleitor. Afirmou que sentirá falta da agitação do dia-a-dia do exercício da Presidência, ainda que admita ser essa rotina bastante dura.
Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.Confira abaixo os destaques da entrevista, cuja transcrição pode ser lida aqui – para ler a edição publicada pelo portal IG, clique aqui.
"Sou um homem de rua"
Porque eu sou um homem de rua. Eu sou um homem de rua. Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados, é dali que algumas pessoas insinuam bobagens, como o Fernando Henrique Cardoso insinuou. Porque eu seria maravilhoso, seria maravilhoso se eu já tivesse esquecido de onde eu vim e para onde eu vou voltar. Seria maravilhoso, para ele, se eu tivesse esquecido quem são meus amigos originários, quem é que vai me chamar de companheiro, essa coisa está no sangue. Eu sei o meu lado, sei da minha obrigação como Presidente, que eu tenho que governar para todos, eu tenho que tratar o mais rico igual eu trato o outro, todo mundo tem direito à cidadania. Agora, eu tenho que governar tentando favorecer os mais pobres.A língua do povo
Olhe, a primeira coisa que você tem que ter na sua relação com o povo é ser muito verdadeiro com o povo. Normalmente, a classe política, ela adora ir para o meio do povo quando ela está bem na pesquisa, e ela tem muito medo do povo quando ela está mal na pesquisa. Quando você é candidato, você adora andar em carro aberto, dando a mão para todo mundo; quando você se elege, você é doido para andar em um carro blindado, sem ninguém te ver. Eu estabeleci uma relação com o povo que era a única que eu sabia fazer e a única que é melhor. Quando eu deixar a Presidência da República, eu quero ser tratado, eu quero ser chamado de “companheiro Lula”, pelos que me chamavam de “companheiro Lula” antes de eu ser presidente da República.Saudade da agitação
(…) Então, conversar com o povo é ser sincero, é você ter coragem de dizer não, quando precisa dizer não; dizer sim, quando precisa dizer sim; fazer um esforço necessário para atender às pessoas; se não puder atender, dizer que não; estabelecer uma relação leal, uma relação de parceria, que ele se sinta…
(…) Não ter medo, nunca, do povo. Porque o que nós temos que compreender, gente? Mesmo quando você encontra um pessoal nervoso, reivindicando, aquilo faz parte do povo brasileiro. O que nós, políticos, precisamos ter noção é que Deus, quando colocou a gente com duas orelhas, é para a gente ouvir mais do que falar. E, para mim, o aplauso tem a mesma importância da vaia. O cara vaia porque não gosta; o cara aplaude porque gosta. De vez em quando, eu acho uma loucura um político ficar brigando com quem está vaiando. O cara dedica o discurso dele a quem está vaiando, a brigar com quem está vaiando; a vaia só aumenta. Você tem que falar o que você tem que falar, acreditando que você vai convencer as pessoas. Eu nasci assim, aprendi a fazer sindicalismo assim, construí o PT assim, exerço a Presidência assim e quero morrer assim, sendo o mais verdadeiro possível na minha relação humana.
Eu gosto de pegar no braço das pessoas. Tem gente que acha que eu quebro muito protocolo. Eu, às vezes, já cheguei a dar tapinha na cabeça de pessoal que caiu a peruca, já… “Presidente, não faça mais isso”. Paciência, eu vou lá, pego e levanto. Mas eu vou ser assim o resto da vida.
Eu acho que eu vou sentir saudade é da agitação do cargo. Eu lembro que, quando eu fui preso e eu voltei para o Sindicato, eu estava cassado, eu levantava de manhã e ficava que nem uma barata tonta, sem ter o que fazer. Eu não tinha para onde ir. O Felipe González disse uma coisa que é uma coisa verdadeira: ex-presidente é que nem um vaso chinês; quando você está no palácio, você tem um monte de lugar para colocar o vaso chinês, mas, quando você sai, você vai para o seu apartamentozinho, não tem onde colocar vaso chinês. O que você faz com um vaso chinês? Um ex-presidente é sempre um vaso chinês. O que ele precisa tomar cuidado é para não atrapalhar os outros, ou seja, tem que deixar espaço para os outros morarem.Dura rotina
O ritual de ser presidente é muito pesado. Ou seja, você tem um ajudante de ordem que diz o que você tem que fazer a cada hora. Você tem um chefe de cerimonial que escolhe a cadeira para você sentar. Você tem a equipe que prepara… É um negócio que você… Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.Populismo
Veja, eu vou terminar o meu mandato, eu nunca fui num restaurante jantar. Eu nunca fui num aniversário, eu nunca fui numa janta, eu nunca fui num casamento, a não ser de um sobrinho meu, num bairro lá em São Bernardo do Campo, sem ninguém saber. Por quê? Porque eu resolvi fazer do meu mandato um sacerdócio, ou seja, isso aqui, eu briguei muito para chegar aqui, então eu tenho que me dedicar de corpo e alma a isso aqui. Noventa e nove por cento do meu tempo, com a dona Marisa é eu sair daqui dez horas da noite e ir lá para casa, é passar sábado e domingo sozinho, eu não convido nenhum ministro, porque são muitos, se eu convidar um o outro vai ficar com ciúme, então eu não convido ninguém. Mas eu vou gostar de me livrar do sufoco, do Cezar Alvarez que todo dia diz o que eu tenho que fazer, “9 horas isso, 10 horas isso, 11 horas isso. Não tem um minuto que eu falo: “Meu, deixa esse minuto para mim, pelo amor de Deus.” As pessoas não se lembram de que você tem que ir ao banheiro, não se lembram. Se vocês fizerem uma agenda comigo, vocês vão perceber que não é fácil.
Um populista não tem uma relação como eu tenho com o povo. O populismo, o populismo é uma coisa… É um ato de fazer política de propostas de cima para baixo, sem nenhuma relação orgânica como eu tenho com a sociedade. Sinceramente, eu acho que a pessoa que fala isso não conhece nem de populismo e nem de popular. A pessoa sabe… A pessoa precisa saber o que é uma coisa populista. Populista é uma coisa fictícia. O populismo é quase uma mentira. Você fica… Você faz uma pesquisa e fica inventando proposta de cima para baixo. “Pobrezinho”. Eu não faço isso. A minha relação é direta, é direta. Eu não tenho nenhum problema de almoçar na casa de um companheiro meu, que mora em uma favela, e, de noite, comer com o empresário mais rico deste país. Não tenho nenhum problema de fazer um discurso na porta da Volkswagen e, à noite, repetir esse discurso na reunião da Febraban, nenhum. E fazer o mesmo discurso. Como não tive nenhum problema de fazer um discurso no Fórum Social, em Porto Alegre, e ir para Davos e fazer o mesmo discurso. Não tenho nenhum problema, eu sou sincero com os dois lados.Relação com empresários
Eu acho que ela foi bem mais fácil do que eu imaginava, porque tinha muitos empresários que tinham medo, tinham dúvidas e era normal que tivessem dúvida, o que falavam de mim, o que falavam do PT, o medo do sindicalista, o medo da República sindical, falava-se um monte… São coisas… Porque em um país que tem liberdade, cada um fala o que quer e na hora que quer. E nós construímos… Primeiro, nós fizemos um fórum, o Fórum do Desenvolvimento Social, trazendo empresários trabalhadores, ou seja, que o fórum hoje está consagrado como um fórum que contribuiu muito com as políticas públicas que nós colocamos em prática. Os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como ganham no meu governo, nunca ganharam tanto dinheiro. Ou seja, se você pegar o histórico dessas empresas todas, você vai perceber que as empresas, sobretudo a construção civil, ou seja, esse setor, desde o final do governo Geisel estava praticamente sem obras públicas neste país. Difícil você lembrar uma grande obra pública feita no país nos últimos 25 anos. Ou seja, eles, hoje, estão ganhando dinheiro como nunca, porque tem obras como nunca, porque hoje está faltando pedreiro, está faltando maquinista, está faltando uma série de coisas, e é uma coisa importante. Está faltando, nós precisamos formar mais.Relação com a imprensa
E, hoje, eu posso dizer para você que pode ter ainda empresário que desconfie, que não goste, porque aí é uma questão ideológica, às vezes pode ser uma questão de pele. Mas do ponto de vista das políticas feitas pelo governo, sinceramente, eu acho que os empresários nunca tiveram… Eu falo isso, eu sei que muita gente pode virar o nariz, mas os cientistas políticos vão ter que explicar por que é exatamente um operário metalúrgico que chega à Presidência e que mantém uma relação com os empresários que nenhum outro Presidente teve, mesmo quando era empresário. Eu ouço isso todo dia dos empresários.
Eu duvido, eu duvido que tenha alguém da imprensa no Brasil que possa dizer que houve algum momento de maior liberdade de imprensa do que o que nós estamos vivendo hoje. Neste país, todos vocês, jornalistas, sabem que vocês podem escrever o que vocês quiserem, publicar o que vocês quiserem, que não haverá a menor interferência do governo. No meu governo, a gente aprendeu que o juiz é o leitor, é o telespectador e é o ouvinte e, agora, o internauta, esse é o juiz.Lição da internet
E a grande imprensa ainda não aprendeu a lição que, hoje, hoje, 68 milhões de brasileiros acessam a internet, onde a informação é mais rápida, mais ágil, e ela não aparece com gosto de pão velho, que é a imprensa tradicional. Aconteceu uma coisa hoje, nove horas da manhã, você vai comprar um jornal e ler amanhã, nove horas da manhã. Não, na internet, é “pão, pão; queijo, queijo”. Falou, está lá, no dia, na hora, todo mundo vendo, acompanhando, com uma vantagem, que eu acho que é importante, é a vantagem que é uma coisa interativa. Ou seja, o cidadão participa do processo, ele participa. Quer dizer, eu não sei onde nós vamos chegar, mas o dado concreto é que eu acho uma revolução, que acho que nenhum de nós tinha noção do que iria acontecer.Informação em tempos de internet
Se dependesse de algumas capas de jornais, eu, nessas alturas do campeonato, teria zero, na pesquisa. Ibope: “Lula, zero”; “Ruim e péssimo, 90”. Seria assim, mas não é. Por quê? Porque o povo tem outros instrumentos de comunicação, outros e muitos. Eu tenho experiência com os meus filhos, em casa. O que eles navegam nessa internet o dia inteiro, o que eles dão de palpite, o que eles divergem, o que eles debatem em política é um negócio que jamais a gente viu neste país. É preciso apenas os donos dos meios de comunicação compreenderem que algo está mudando neste país e atentem para isso. Vocês já existem há dez anos, desde 2000, e vocês, muitas vezes, dão coisas na frente de tudo o que é meio de comunicação. Daqui a pouco a gente tem 100 milhões navegando; daqui a pouco a gente vai ter 120 milhões navegando.Marco Regulatório de Comunicação
Nós obviamente que queremos a contribuição de todo mundo no debate que nós vamos fazer sobre o Marco Regulatório de Comunicação. Vocês sabem que não pode ficar do jeito que está, porque nós temos o Marco Regulatório de 1962, quando não tinha TV digital, quando não tinha TV a cabo, quando não tinha internet, quando não tinha nada. Então, nós não podemos continuar com o Marco Regulatório de 62, e queremos fazer discutindo com a sociedade. Não é uma coisa do governo. Nós queremos que a sociedade construa para ela algo que lhe dê segurança, sem censura, porque, de vez em quando, aparece um malandro querendo, em nome da moralidade, censurar a internet, e, pelo menos enquanto eu for Presidente, isso não vai acontecer.A imagem que fica
Então, no Marco Regulatório é que a gente pode balizar uma coisa que dê garantia para vocês que trabalham, que dê garantia para o usuário e que dê garantia para a sociedade brasileira. Os velhos padrões da televisão vão ficar cada vez mais cansativos, os velhos padrões do jornal vão ter que se modernizar, as revistas semanais, que vivem um sufoco danado. Porque eu compreendo a dificuldade de fazer uma revista semanal. Antigamente você tinha um jornal que superava ela todo dia, a televisão e o rádio todo dia, mas, agora, você tem a internet, que supera a todo minuto. Quase tudo que você fizer ficou velho. Então, tudo isso é um processo que nós precisamos juntos…
Tem muita gente aí que entende muito disso. O que nós queremos é pegar a inteligência brasileira que conhece do assunto, para a gente tentar fazer uma coisa na dimensão do que o Brasil precisa.
Eu, sinceramente, não sei. Veja, eu, às vezes, vejo pessoas que são casadas há 30 anos, e se separam, e depois de 29 anos dizendo bem, a pessoa é lembrada pelo dia que errou, que provocou o desquite. Então, eu acho que tem muitas, muitas imagens para as pessoas lembrarem do governo Lula. Acho que… E cada um vai ter uma. É como se fosse uma fotografia pessoal, você vai ter uma imagem, você vai ter outra, o Nelson vai ter outra, você vai ter outra, cada um vai ter uma fotografia do governo Lula. O resultado que vai balizar o comportamento da sociedade, são os resultados finais do governo. E os resultados finais do governo, ele não termina em 2010, porque parte das coisas que nós fizemos começa a aparecer pelo IBGE de 2011 e 2012. Então, o tempo é que vai dar essa fotografia final do governo Lula. Eu te diria uma coisa, eu penso que nós mudamos a relação governo e sociedade; governo, Estado e sociedade.Maior realização
Olha, é difícil. Se vocês me permitissem, eu diria para vocês o seguinte: a maior realização que eu tenho é poder terminar o meu governo tendo vencido todos os preconceitos que foram colocados como obstáculos para que eu chegasse à Presidência da República. Nunca, na vida, os empresários brasileiros ganharam tanto dinheiro de todos os segmentos. Nunca os trabalhadores fizeram tantos acordos com aumentos reais e, nunca, os pobres, tiveram tanta ascensão como tem agora. Está resolvido tudo? Não, apenas começamos. Vai algumas décadas para que a gente possa transformar este país em um país realmente justo. Daí porque o novo marco regulatório do pré-sal e daí porque criar o fundo para cuidar da educação, da pobreza, da ciência e tecnologia, da questão da cultura.Pior momento
Então, eu acho que tem muitas coisas, tem muitas coisas que as pessoas vão lembrando. Quem sabe se a gente, um dia, conversar, seis meses depois que eu deixar a Presidência da República, quem sabe eu já tenha maturado, na minha cabeça, as coisas que você deu muita importância pelo que você fez e as coisas que você lamenta não ter feito.
Agora, do ponto de vista da política, política, o período do Mensalão foi o pior possível. Eu quero estar vivo para ver o desfecho de tudo isso. Porque tem coisa um pouco esquisita, que eu não consigo entender. Talvez a minha sabedoria não me permita entender. Mas o acusador do Mensalão, ele foi cassado por falta de prova. O texto da cassação dele, na Câmara dos Deputados, diz que o cidadão fulano de tal vai ser cassado por falta de decoro parlamentar, porque não provou as acusações que fez, e o processo continuou como se nada tivesse acontecido. Ou seja, se criou um clima político no Brasil, eu diria, muito temeroso e muito desconfortável. Eu, um dia, comecei a meditar e eu disse o seguinte: “Olha, o Getúlio Vargas foi muito forte entre 30 e 45, mas não aguentou quatro anos de democracia e se matou. O João Goulart… O Jânio Quadros, que era representante de um setor atrasado da política brasileira, foi eleito presidente da República e, com seis meses, puxou o carro. O João Goulart foi convidado… (incompreensível) não vou fazer isso, vão ter que me vencer é na rua. Então, porque, a partir daí, a partir daí, ou seja, quando você… Tinha um clima político muito… Ah, vamos ser francos, os setores mais conservadores no Congresso Nacional pensaram em chegar ao impeachment, pensaram. Não chegaram porque não tiveram coragem ou porque acharam que eu ia… que era o meu fim.Cabeça de eleitor
Eu não vou contar o santo, mas vou contar o milagre. Uma vez eu tive uma janta com um pessoal de imprensa. E conversa vai, conversa vem, eu estava muito otimista, estava falando coisa, falando coisa, tal. Quando eu saí, uma das pessoas que estava no jantar falou: “Puxa, o Presidente está bem. Eu achei que o Presidente estava abatido. O Presidente está muito otimista”. E aí um cidadão, influente naquele meio de comunicação: “É fingimento. Ele sabe que ele não vai ser candidato, ele não tem coragem de ser candidato e ele sabe que ele vai ser massacrado se ele for candidato”. Olha, se um cidadão desse ganhar bônus para dar informação para o seu chefe, ele vai levar o jornal à falência. Porque foi um momento de muitas verdades, de muitas mentiras, de muitas insinuações, de muitas… Bom, que tudo isso termina na Justiça. Tudo isso termina na Justiça, que é o bom da democracia, que é o bom da democracia. A gente só dá valor à democracia quando a gente está sendo atacado. Quando a gente está sendo atacado, como é bom ter justiça!
Então, você veja uma coisa: todo regime autoritário começa assim. Todo. O regime militar não sabe esperar, não sabe esperar apuração, a Justiça. Pego você, Tales e desapareço com você. Está feita a justiça, acabou, ninguém vai saber.
A cabeça do povo é um cofre de informações, que está à espera de coisas para ele captar, para guardar ou para jogar fora imediatamente. Então, muitas vezes, a gente pensa que um discurso nosso abafou. Sabe aquele negócio: “Eu me amo”? Você faz um discurso e você fala: “Ah, foi…”. Tem gente que fala assim: “Eu arrasei”. Aí, quando você coloca aquele discurso em uma qualitativa, às vezes, de dez pessoas que estão no grupo, nove jogam fora o discurso. Quando você faz campanha e você acompanha… Por exemplo, você vai para um debate na televisão e você acompanha em tempo real os debates… No debate que eu fiz com o Alckmin, em 2006, em que ele estava muito agressivo, naquele… Aquele da Bandeirantes. Eu recebia, a cada intervalo, a informação: quanto mais agressivo o Alckmin ficava, mais ponto ele perdia. Ele não se deu conta que ele estava diante, não de um adversário, ele não se deu conta que ele estava diante do presidente da República. E, para o povo, você respeitar a instituição tem um valor importante. E ele não se deu conta disso.Pesquisas
Na hora do debate, nós tínhamos 12 grupos reunidos, em vários lugares do país. Então, qual foi o grande erro do Alckmin? Ele se deixou seduzir pelos aplausos de meia dúzia de pessoas dele, que estavam na frente dele. E eu aprendi que, quando você está falando para a televisão, não é a pessoa que está do seu lado que importa, é o cidadão que está sentado em um sofá, um aposentado, um adolescente, uma senhora que acabou de brigar com o marido ou uma menina que acabou de receber um telefonema do namorado, convidando ela para casar. Você está falando para milhões, mas individualmente, e isso a gente vai aprendendo.
Hoje em dia, esse negócio de a gente falar que não acredita em pesquisa é só quando a gente está por baixo. Em 82, eu era candidato a governador, o Estadão publica uma pesquisa, faltando acho que uns três ou quatro dias para as eleições: “Montoro, não sei quanto; Reynaldo de Barros, não sei quanto; Jânio, não sei quanto; Lula, 10%”. Eu tinha feito um comício no Pacaembu, que eu saí de lá com a convicção que eu ia ganhar as eleições. E aí você já fala: “Porque essa imprensa burguesa, porque essa imprensa e tal”. Bom, o dado concreto é que, depois das eleições, eu tive exatamente os 10% da pesquisa (risos). A partir dali eu comecei a acreditar em um certo critério científico e em uma certa… Muita importância para a pesquisa. Hoje eu acredito muito em pesquisa, dou muita importância. Obviamente que ela pode ser mudada.Lições da derrota
Eu aprendi com muita derrota, aprendi com muita derrota e com muita humildade. Por exemplo, eu lembro que, na campanha de 2002, tinha uma pesquisa que dizia o seguinte: “O povo quer reforma agrária pacífica e tranquila”. E eu tinha sido educado durante 30 anos para fazer um discurso: “Reforma Agrária ampla e radical sob o controle dos trabalhadores”. Eu levei mais de cinco dias para a minha boca conseguir dizer: “Reforma Agrária tranquila”. E aí, quando você faz essas coisas, você percebe que nem sempre a tua verdade é absoluta, que é sempre bom você ouvir as pessoas. De dez conselhos que você ouve, um pode ser bom para você, dois podem ser bom, pode te ajudar.Comportamento de ex-presidente
É fechando a boca e deixando quem foi eleito governar. Quem governou teve a sua chance, fez o que tinha que fazer, dá palpite se pedido, se for para ajudar, para atrapalhar, nunca. E tem que deixar quem foi eleito governar. Até o direito de errar, quem é eleito, tem o direito de errar até paraBom humor
aprender com seus erros. Quem é eleito presidente da República não precisa de tutor, a pessoa tem que navegar e aprender.
(…) Então, quando essa ficha cair, aí eu estou preparado para tocar a vida para frente. Eu não quero nem tomar decisão, eu não quero nem tomar decisão do que fazer antes de alguns meses, porque eu não quero ficar tomando decisão errada. Então, eu tenho que maturar. Maturar, calejar, para, depois, tomar decisão.
Hoje eu acredito em coisas que eu não acreditava, eu sou um homem… Eu só tenho motivo para ter alegria. Eu, todo santo dia, agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo, porque eu pude provar coisas que pareciam ser impossíveis de serem provadas em um mandato. Eu pude conhecer outros governantes que a gente vendo daqui… Porque nós, brasileiros, sempre nos víamos como inferiores, era quase natural, da herança colonial que nós recebemos, que tudo o que acontecesse nos States era melhor do que nós, tudo que acontecesse na França era melhor do que nós, tudo que acontecesse na Alemanha. De repente, a gente começa a conviver com esses dirigentes, começa a conviver com os problemas, e a gente percebe que, na política, nós somos mais nós, que você tem questões importantes para serem feitas em cada país, a soberania de cada país, o respeito de cada país, e que a gente não pode abdicar disso.A coisa boa do capitalismo
Então, eu sou uma pessoa, hoje, muito, muito, muito, muito feliz, muito… Sairei da Presidência pela porta da frente, com a consciência tranquila de que eu fiz muito, mas, ao mesmo tempo, com a consciência tranquila de que esse muito que nós fizemos apenas descobriu que nós temos muito mais para fazer, que é a coisa extraordinária da democracia. Ou seja, quanto mais a sociedade conquista, mais ela quer; quanto mais conquista, mais ela quer. É quase uma criança na fase de pré-adolescente, pode pôr quantos pratos quiser que ele tritura e não tem azia, não tem dor de estômago, não tem nada. Então, a sociedade, ela está ávida por conquista, muito, mas muito, muito, muito, muito. Então, ela aprendeu a conquistar. Eu acho que isso é muito bom para o Brasil e todo mundo vai aprender.
Eu trabalhei em linha de produção, e, na linha de produção, às vezes, dois companheiros, parceiros, um de noite e um de dia, faz a mesma peça, e, quando você chega para trabalhar de noite, você fica doido para contar as peças do teu parceiro que trabalhou de dia, que é o adversário, porque você não pode produzir menos do que ele. Então, a primeira coisa que você começa a fazer é ir lá, onde estão as peças, contar quantas peças fez… “Ah, ele fez 18; então, vou ter que fazer 19”. Essa é a coisa boa do capitalismo, é que ele impulsiona a competitividade entre os seres humanos, que não se dão conta que cada dia vão produzindo um pouco a mais e o salário continua o mesmo. Então, essa coisa, essa coisa, para mim, é extraordinária: a sociedade pressionar para que quem vier depois de mim… tem que fazer mais, porque tem que fazer mais, porque nós já aprendemos a fazer mais, está provado que é possível, e aí, se todo mundo fizer um pouco mais, o Brasil vai, no século 21, tirar todo o atraso que ele teve no século 19 e no século 20. Veja, se a gente tiver mais um presidente que faça mais 14 universidades, outro fizer mais veja, Olhe, precisamos nós consolidar 14, outro fizer mais 200 escolas técnicas, outro fizer mais 1,6 mil creches, aí, daqui a dez, 15 anos, nós vamos ter um país, do ponto de vista da Educação, comparado a um país de primeiro mundo.
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