Li ontem no Observatório de Imprensa um belo texto produzido pela colega Emanuelle Najjar, São José do Barreiro (SP). Ela fala de novelas e de Jornalismo. Ou seja: personagens falando da nossa bela profissão e fazendo comparações entre os jovens que chegavam ontem às redações e os que estão entrando hoje. Pura realidade!
Emanuelle Najjar
Ontem, quarta feira (6/5), me surpreendi assistindo a uma novela.
Não, não foi a atual menina dos olhos Caminho das Índias. A surpresa que eu tive ficou por conta de Paraíso, novela de Benedito Ruy Barbosa. E meu espanto não tem nada a ver com algo que chame a atenção na história, ou atitudes questionáveis de personagens. Pelo contrário, me surpreendi com a função social do texto apresentado em uma das cenas. Não uma função comum, ou merchandising social, como já é hábito de alguns autores. Mas a força do que foi dito e a quem essas palavras possam ter sido dirigidas.
Em uma cena, um antigo jornalista conversa com um novato recém-saído da faculdade. O jovem é sócio de um amigo na criação de uma rádio para a pequena cidade de Paraíso, cenário da trama. Não tenho a transcrição dos diálogos, mas posso oferecer algo bem próximo disso. Talvez o bastante para entender, já que prestei bastante atenção na cena, quando percebi o que ia acontecer.
As três premissas da profissão
Houve comparações...
"No meu tempo, os novatos começavam limpando o chão da redação enquanto viam os mestres trabalhando. (…) Os de hoje saem da faculdade cheios de sonhos e planos, achando que sabem tudo e querendo mudar o mundo... e no primeiro tombo, acabam desistindo."
E lamentos...
"O problema é que os outros não querem saber de mudar o mundo. Dá muito trabalho. Esse povo quer é pão e circo."
"Mas não precisamos dar o que eles querem. Podemos oferecer mais. Podemos oferecer discernimento."
"Discernimento? Mas será que esse povo sabe o que é discernimento?"
"Não sei, mas nós podemos ensinar. Ensinar é uma das funções do jornalista, não é?"
Quando eu estava na faculdade, tinha um professor que falava isso. E como ouvi. Durante dois anos, ouvi que a profissão tinha três premissas: educar, criar memória, e transformar a realidade. Essas seriam as obrigações dos jornalistas. E era justamente nessa tecla que os personagens estavam batendo.
Um desafio e tanto
E é a verdade. Parece romântico, mas a realidade é dura.
A princípio, os recém-formados saem mesmo das salas de aula com a cabeça cheia de teorias e sonhos. E no primeiro obstáculo acabam emperrando. Às vezes, por encarar como primeira função uma cobertura de crimes de rua, obituários ou plantonistas de delegacia.
E nessa profissão, os que se destacam são aqueles que não desistem ao descobrir que muito do que pensavam sobre salário, respeito e glamour eram ilusórios. Ser jornalista exige paciência e persistência. É, sim, uma profissão bela, mas é bem mais que ler notícias no JN ou apresentar a previsão do tempo.
Jornalista ganha pouco, engole muito sapo, trabalha muito e sem hora marcada. Carrega responsabilidades imensas. Mudar o mundo não é uma coisa fácil, mas faz parte das nossas funções. Por ela passamos por grandes dificuldades. Os sonhos dos novatos são necessários. Mas ter os pés no chão também é o requisito.
Ensinar, não é fácil. Oferecer discernimento idem. Transformar a realidade em plena era de "pão e circo"? Um desafio e tanto.
Quem se habilita?
Um comentário:
Correa! Está coberta d razão a colega jornalista paulistana! Em nossa profissão, mesmo "ganhando pouco, engolindo muito sapo, trabalhando muito e sem hora marcada", não podemos desanimar!
Até mais que alguns outros profissionais, cada jornalista "carrega responsabilidades imensas" em seus ombros!
E mudar o mundo não é mesmo coisa fácil nos dias que correm, "mas faz parte das nossas funções"!
Concordo plenamente com a Emanuelle que "ensinar não é fácil, oferecer discernimento idem, e transformar a realidade em plena era de "pão e circo" é "Um desafio e tanto", tanto para jornalistas como para os educadores em geral! Me incluo em ambas essas profissões...
Postar um comentário