Um bom filme gaúcho

Antes que o Mundo Acabe. Em princípio, o título chamou a minha atenção e fui conferir o cartaz e as sinopses nos jornais e sites. Tratava-se de um filme gaúcho, dirigido pela cineasta Ana Luiza Azevedo, uma das sócias da Casa de Cinema de Porto Alegre - que conheço de longa data - , e rodado em muitos lugares que reconhecemos, como Taquara, Rolante, Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre. Filmado em  2007 e no circuito a partir de 2009, a obra já ganhou reconhecimento, como o de Melhor Direção de Ficção, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Filme de Ficção (Prêmio da Crítica), no II Festival Paulínia de Cinema, 2009. também foi selecionado para o Festival do Rio, na Mostra Première Brasil hors-concours.

Mesmo com este currículo, fiquei com um pé atrás porque o filme é baseado na novela infanto-juvenil homônima do escritor gaúcho Marcelo Carneiro da Cunha, cujo título já vendeu mais de 50 mil exemplares em todo o Brasil. Filme para a gurizada, pensei. Mas fui ver numa tarde fria no Guion, a poucos metros de meu apartamento na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Saí da sala safisfeito porque trata-se de um filme muito bem feito, com bons argumentos e que me fez pensar nos momentos da adolescente em Barra do Ribeiro, antes de vir para Porto Alegre. Tudo gira em torno de um adolescente de classe média, Daniel, que vive numa pequena cidade do interior com a mãe, a irmã e o padrasto. Ele tem um relacionamento meio inseguro com a namorada e descobre que tem um pai biológico que foi correspondente de guerra (repórter-fotográfico) e que agora atua numa ONG na Tailândia. O pai aparece ao filho por meio de cartas, fotos e uma série de objetos que vão surgindo ao longo da exibição.
Não dá para narrar inteiramente o filme aqui, mas sim o ensinamento que deixa. O jovem, depois de terminar o relacionamento amoroso, se envolver em problemas na escola e aceitar o pai, precisa fazer as suas primeiras escolhas adultas. Tem que estar mais atento, mais lúcido e crítico em relação ao mundo que o cerca. Antes que o Mundo Acabe é uma história de um reencontro de um pai com um filho, é história de um rito de passagem, é a história da descoberta de que o mundo é muito maior do que a gente pensa, principalmente quando somos adolescentes. Gostei demais. E certamente os adolescentes e os adultos (alguns idosos) que viram o filme no mesmo dia que eu também apreciaram porque lembraram, em alguma passagem, momentos como os vividos por Daniel e sua família (incluindo o pai do outro lado do mundo). Valeu, Ana!