Na manifestação desta quarta-feira (21) em protesto contra o fechamento do JB, políticos, sindicalistas e jornalistas falaram sobre alternativas para que o jornal impresso continue a circular. Além do deputado federal Fernando Gabeira e de Suzana Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, outras lideranças expressaram suas opiniões, como Chico Alencar, Alessandro Molon, Aspásia Camargo, Beth Costa, Mario Augusto Jakobskind e Darby Igayara.
Crítico e criativo
Professor de História, o deputado federal Chico Alencar (Psol) contou que o livro de sua autoria, Brasil Vivo, fala de primeiras páginas históricas do Jornal do Brasil, como ao noticiar a edição do AI-5 no Brasil em 1968 e no dia seguinte ao golpe no Chile em 1973, quando estampou um texto corrido e único sobre o assunto, sem foto.
Com o livro nas mãos, falou sobre a reação do jornal. “No período mais obscurantista da ditadura, o jornal driblava a censura com textos sobre a previsão do tempo: ‘a temperatura está sufocante ou o ar está irrespirável’. O JB era sempre muito crítico e criativo”, disse.
As queixas dos manifestantes se referem ao fato de os jornais da chamada grande imprensa serem muito semelhantes em suas linhas editoriais e excessivamente opinativos nas páginas do noticiário. “O pensamento único vigora nas bancas, os jornalões estão iguais”, segundo Alencar.
Alternativa ao monopólio
Para atestar que o JB ainda é uma alternativa à pluralidade de opiniões, o deputado do Psol lembrou que o jornal realizou um debate entre os candidatos a prefeito no período que antecedeu as últimas eleições para prefeito no Rio.
“Até o Eduardo Paes (eleito e atual prefeito), que já avançava nas pesquisas, compareceu, e a edição do dia seguinte foi muito boa. Foi outra edição histórica. É lamentável o monopólio no Rio de Janeiro. Quanto menos jornais no País, mais obscurantista ele fica”, explicou.
O deputado estadual Alessandro Molon (PT) concorda que o fim do JB representa um golpe contra a pluralidade de opiniões e está preocupado com o risco das demissões e os empregados não serem indenizados corretamente.
Ajuda a um patrimônio
A intervenção do governo seria uma solução para evitar o fechamento da versão impressa do Jornal do Brasil, segundo a vereadora Aspásia Camargo (PV). A nova lei de falência, na sua opinião, abre muitas alternativas para preservar o jornal. Citou o exemplo do auxílio financeiro que o governo dá a bancos, financeiras e grandes indústrias em situação de insolvência.
“Até frigorífico quebra e o governo ajuda. Mas a gente nunca sabe por que eles foram ajudados. Agora, se houver intervenção no caso do JB aí saberemos que ela está sendo feita em nome da cultura e da preservação de capítulos importantes de nossa história. O JB está vivo e pela sua importância precisa até ser tombado. Esta é uma luta política e não devemos deixar que seja jogado fora”, completou a vereadora.
Exemplo do Le Monde
Segundo pesquisas do Dieese, os empresários mais retrógrados e menos transparentes com relação aos seus negócios são os donos dos veículos de comunicação, garantiu a jornalista Beth, diretora da Fenaj.
“A exemplo dos demais empresários, o Tanure (Nelson Tanure, dono do JB) se recusa a abrir suas contas, a chegar a um acordo com os trabalhadores. Claro que existem saídas. O Le Monde na França é um exemplo de que os jornalistas podem administrar um veículo com linha editorial independente. Mas falta transparência e eles preferem acabar com tudo, como se fosse impossível negociar”, disse Beth Costa, lembrando o fechamento recente da Gazeta Mercantil, também ligado ao grupo liderado por Tanure.
Claudia Duarte, em nome da chapa 2, Luta Fenaj!, também defendeu a possibilidade de criação de uma cooperativa formada pelos empregados do JB. “Não podemos deixar morrer esta idéia”, alertou.
Jornalismo de mercado
Nos últimos 10 anos, vários jornais faliram por inoperância administrativa, entre os quais o Monitor Campista, com 175 anos de fundação e circulação no Norte Fluminense, lembrou o jornalista Mario Augusto Jakobskind, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro.
“Os empresários decidem que é hora de acabar e não tem jeito. Essa postura é produto do jornalismo de mercado em que prevalece a ótica do pensamento único”, queixou-se.
O “clima de unidade política” da manifestação, que reuniu pessoas de variadas correntes ideológicas do pensamento, foi ressaltado por Chico Alencar e pelo presidente da CUT do Rio de Janeiro, Darby Igayara, que também criticou o risco de monopólio e de demissões e referiu-se ao caso da falência da Manchete e de Bloch Editores em 2001.
“Mais de 3 mil ex-empregados só foram indenizados 10 anos depois e muitos ainda nem receberam”, criticou Igayara.
“A parte mais trágica dessa história é o risco de haver demissões, dezenas de trabalhadores ficarem sem emprego”, observou a jornalista Paula Máiran, representante do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
“O que não se pode é defender o negócio do Tanure”, sugeriu.
Fonte: site do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Foto: Alberto Jacob Filho
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