domingo, 4 de dezembro de 2011

Morre Sócrates, meu ídolo no futebol e fora dele

Fiquei impactado com a morte de Sócrates, um dos nossos grandes jogadores. Ao lado de Falcão e Zico, formou o memorável meio-de-campo do Brasil na Copa do Mundo de 1982, onde encantamos o mundo e fomos eliminados pela Itália. Sócrates foi mais do que um jogador. Participou da conhecida Democracia Corintiana e atuou políticamente, com destaque na época das Diretas Já. Um cidadão, acima de tudo.
 Foto: Getty Images
Do Terra

Formado em medicina na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira iniciou a carreira de jogador de futebol no Botafogo-SP, clube o qual também revelou o irmão do ex-jogador Raí, campeão do mundo em 1992 e 1993 pelo São Paulo, no ano de 1974, depois de terminar o curso de graduação.
Com a camisa tricolor no interior, Sócrates mostrou um enorme talento, especialmente na troca de passes. Sem muita velocidade e explosão, o ex-meio-campista notabilizou o toque de calcanhar e a categoria com a bola nos pés. No Botafogo-SP, a principal campanha ocorreu em 1977, quando terminou como artilheiro da competição.
A boa passagem durante os quatro anos pelo clube do interior rendeu a transferência para o clube do Parque São Jorge no ano de 1978, quando se firmou no cenário nacional, conquistando espaço, inclusive, na Seleção Brasileira. Com a camisa alvinegra, o "Doutor", como ficou conhecido no mundo do futebol por conta da formação acadêmica, disputou 298 jogos e assinalou 172 gols - ocupa a oitava colocação no ranking de artilheiros da história do clube. Além das conquistas individuais, o ex-meio-campista se consagrou ao vencer os Campeonatos Paulistas de 1979, 1982, 1983
Além das conquistas esportivas com o Corinthians, Sócrates também teve um papel fundamental na política do clube, atingindo até um nível nacional. O ex-meio-campista acabou sendo um dos líderes da Democracia Corintiana, um movimento de cunho ideológico que transformou o ambiente normal do dia a dia de um clube. Os jogadores, anteriormente submissos às decisões da comissão técnica, passaram a também participar das decisões, como em caso de concentrações, viagens, entre outros.
As atitudes da equipe modificaram a hierarquia dentro do Corinthians. Sob o período da democracia, o voto do presidente em uma decisão interna teria o mesmo peso da opção de um roupeiro. Com tamanha politização fora dos gramados, o ex-jogador se tornou um símbolo, inclusive, da luta contra o regime militar, que acabou abolida no País no ano de 1985.
O movimento criado internamente no clube acabou transferido para o público, especialmente quando o Corinthians vestiu uma camisa com o "patrocínio" das "Diretas Já", variando para frases como "Dia 15, vote", por conta da eleição direta para o governo de São Paulo, e "Eu quero votar para presidente".
Um dos atletas mais influentes dentro do grupo, Sócrates nunca escondeu a insatisfação em relação à ditadura, e externava a liderança dentro da equipe com opiniões fortes em um dos períodos mais tensos da história recente brasileira.
Tal movimento não atrapalhou o desempenho da equipe alvinegra dentro dos gramados. Durante o período da "Democracia", o Corinthians venceu o bicampeonato paulista (1982 e 1983), em uma das formações mais exaltadas pela torcida. O desempenho de Sócrates, inclusive, rendeu ao meio-campista a convocação para a Copa do Mundo de 1982, quando o Brasil perdeu para a Itália nas quartas de final.
Dono de um estilo elegante dentro de campo, Sócrates deixou o Corinthians no ano de 1984 e se transferiu para a Fiorentina, da Itália. No futebol europeu, o ex-jogador não apresentou o mesmo nível de jogo, e retornou ao País um ano depois para defender o Flamengo. No Rio de Janeiro, ele acabou convocado para a Copa do Mundo de 1986.
No Mundial do México, Sócrates ficou marcado por errar a penalidade na disputa por pênaltis contra a França, nas quartas de final. Eliminado com o time nacional, o ex-meio-campista perdeu espaço no elenco. Antes de encerrar a carreira, o "Doutor" ainda vestiu a camisa do Santos e do Botafogo de Ribeirão Preto.
Em 2004, o carismático médico-jogador ainda "voltou" aos gramados. Aos 50 anos de idade, Sócrates acabou contratado pelo Garforth Town, uma equipe semi-profissional do norte da Inglaterra. Com um contrato de um mês, o ex-atleta da Seleção Brasileira atuou por menos de 15 minutos, em partida contra Tadcaster Albion, por um campeonato regional.
Apesar da aposentadoria e do estilo de vida do "momento", como declarou no último dia 19 de agosto o amigo e jornalista Juca Kfouri, Sócrates continuou perto do futebol. O ex-jogador trabalhou como articulista na revista Carta Capital, como comentarista no programa Cartão Verde, da TV Cultura, e foi blogueiro do Terra durante a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.
 

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