sábado, 20 de outubro de 2012

O mugido da vaca


Era noite de domingo no sítio Terra e Magia, no Morro da Borússia. Os hóspedes que tinham ficado no local conversavam animadamente ao redor do fogão de lenha da cozinha, mas já sinalizavam que o dia fora corrido. Uns começavam a bocejar, outros caminhavam, tentavam esconder o sono. Chegou a hora em que não deu mais e todos rumaram para seus quartos. A noite prometia: seria agradável e propícia para belos sonhos.
Nem bem deitaram, perceberam que sonho viria sob forma de pesadelo. Uma vaca leiteira, de raça mista, se aboletou entre o Espaço Fênix (casa principal) e o templo redondo destinado a atividades físicas e mentais. Chegou devagar e deu o primeiro mugido, mais parecido com um choro. Veio o segundo, o terceiro e não parava mais. Cada mugido rompia as grossas paredes rústicas e se instalava nos ouvidos de cada um. Ninguém dormiu até que os gritos da vaca ficaram distantes. Passavam duas horas da meia-noite.
Pela manhã, na hora do café, Sônia, a dona do espaço, comentou que já estava acostumada com os mugidos noturnos, que surgiam quando a fêmea estava no cio. O casal hospedado no aposento junto ao templo chegou, explicando o sumiço dos sons bovinos. Sabedores de que precisavam fazer alguma coisa, sob pena de não dormir, Emílio e Andréa abriram uma cancela e viram a vaca sair em disparada descomunal em direção à mata. Riva, funcionário faz-tudo no sítio, chegou, trazendo nova surpresa: a vaca estava de volta e acompanhada. Em plena madrugada, avançara uma propriedade vizinha e trouxera de arrasto um touro da raça nelore. Um animal que lhe dobrava o tamanho. Pela manhã, estavam calmos no potreiro. Só não permitiam qualquer aproximação. “Minha vaquinha ficou delgada perto deste macho”, brincou a proprietária.
À tarde, tudo parecia normal no sítio. Isso até até a vaca se cansar do parceiro, que passou a andar a esmo. “Jorgeeeeeeee, olha o touro!, gritou Sônia, dando de cara com o enorme animal no janelão de vidro da cozinha. Foi uma gritaria danada de funcionários e hóspedes para espantar o macho, que seguiu procurando a fêmea. Até desistir e sumir na mata. No outro dia, pastava com outros bovinos em seu território. Representava o fim de uma aventura que só acontece com quem ruma para os prazeres do interior e desfruta da companhia de animais tão ou mais sensíveis que os humanos.

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