sexta-feira, 30 de maio de 2008

Abaixo o cigarro

Pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) revela que 23% dos brasileiros fumam. Em média, 14 cigarros por dia. Além de comprometer a saúde, o cigarro representa um alto custo no bolso.
A SBC disponibiliza em seu portal um cálculo onde o fumante consegue saber o quanto ele já gastou com o cigarro. Em poucos segundos, respondendo cinco perguntas, a pessoa contabiliza o quanto é gasto por mês, em um ano e o quanto ela desperdiçou com o cigarro ao longo da vida.

Um exemplo citado no site:

Vejamos o caso de uma pessoa que começou a fumar aos
11 anos, aproximadamente um maço por dia, que custa em torno de R$ 2,60.
Considerando que essa pessoa tenha hoje 21 anos, ela teve um gasto de R$ 9.360 por causa do cigarro.
No final o cigarro, além de prejudicar a saúde do usuário, causou uma despesa alta na vida dela.

Educação? Não é com Yeda!

Os números não mentem. Por meio deles, descobre-se que o processo de deterioração da educação no governo de Yeda Crusius é incrível. As escolas estaduais gaúchas reduziram 8,3 mil turnos no decorrer deste ano, segundo balanço divulgado na manhã de quinta-feira (29 de maio) pela Secretaria Estadual da Educação, que aponta também a redução do número de escolas. Em um ano, a SEC fechou ou transferiu às prefeituras 122 instituições — a maioria localizada em áreas rurais. O processo de "enturmação" usou 47,9 mil turmas para agrupar 1,3 milhão de alunos. Estão todos enlatados.
Uma pergunta que não quer calar: o PDT - cuja principal bandeira é a educação - continua apoiando este governo?
Caro Kayser, permita que eu use uma charge tua para ilustrar bem a situação.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O que é notícia?

Parece que muita gente do meio jornalístico que ainda não aprendeu a velha e surrada lição dos tempos de faculdade: na relação entre o homem e o cachorro, só é motivo de divulgação se o primeiro morder o segundo. Ou seja, merece manchete quando o dono, acometivo de fúria, avançar sobre o animal e lhe desferir umas mordidas. O contrário é corriqueiro. Pois vejam o caso de Abel Braga, treinador do Internacional, após três derrotas consecutivas do time. Na ausência de uma notícia mais forte no Beira-Rio, a tristeza, o mau-humor e a insônia do técnico são sintomas que estão merecendo destaque em jornais, televisões e internet. Entendo que tanta badalação deveria ocorrer se o comandante colorado confessasse estar alegre, exultante e dormisse oito horas por noite, sem qualquer pesadelo. Trata-se de um típico caso de inversão da notícia!

1968 não interessa à mídia de hoje. E aos jornalistas também

O portal Observatório da Imprensa colocou uma enquete na sua página da Internet perguntando se a mídia está sabendo explicar os acontecimentos políticos de maio de 1968. O resultado parcial não me surpreende por duas razões já conhecidas no meio jornalístico:
1. Falta memória nas redações. Com a juvenilização cada vez forte, jornalistas com idades entre 20 e 30 anos não tinham nascido e nem têm interesse em ler publicações a respeito. O dia-a-dia atual lhes toma todo o tempo.
2. Se antes a direita acusava a politização das redações - que seria de esquerda na totalidade -, hoje está acontecendo o inverso. Falta politização (não confundir com militância em partido político) e, por isso, impera o superficialismo na mídia. Tratar o que aconteceu em 1968 implicaria em aprofundar o debate sobre a reação da juventude no período de uma ditadura sanguinária.
Portanto, o resultado da pesquisa abaixo até ao meio-dia de quinta-feira, 29 de maio, é o retrato do que ocorre nas redações de hoje.


Resultado

A mídia tem conseguido explicar o que ocorreu em maio de 1968, quarenta anos depois?

1. Sim 10% 30 votos

2. Não 90% 257 votos

Total: 287 votos

Ser jornalista

Tenho recebido inúmeros questionamentos de pessoas que querem fazer Jornalismo ou estão no início do curso. Os jovens têm dúvida, e entendo que a melhor lição que devemos passá-los é mostrar como é a vida do jornalista na hora em que está numa redação de jornal, na televisão, no rádio, numa assessoria de imprensa e, mais recentemente, na web. Recebi três perguntas de uma curiosa estudante e enviei as seguintes respostas. Se servir para outros jovens que acessarem este blog, estarei recompensado. Aceito também contribuições, acréscimo e contestações...

Para você o que é ser jornalista?

Ser jornalista é gostar das histórias do mundo e ter a oportunidade de transmiti-las pelos meios de comunicação. Jornalista é um dom que adquirimos em um momento de nossa vida, cabendo a nós cultivando-lo com retidão, ética e imparcialidade. Não vejo outra forma de praticarmos o Jornalismo sem paixão, dedicação e o coração pulsando. Sou repórter durante toda a minha carreira e acho esta função a mais nobre da profissão. Nesta condição, tive a oportunidade de visitar pessoas desconhecidas em lugares desconhecidos e, de um dia para o outro, a história delas e de suas atividades estavam na página do jornal.

O que te motivou a escolher esta profissão?

Gostava de ler e escrever muito, mesmo que a condição financeira de minha família não me permitisse comprar livros, jornais e revistas. Fui atrás deles. Queria ser jornalista esportivo porque eu adorava ouvir as narrações e coberturas de futebol pelo rádio. Formado, fui trabalhar em jornal e, em raras ocasiões, fiz matérias esportivas. Meu caminho se direcionou para a editoria de economia e não me arrependo de tê-lo seguido. Detalhe: não pense em ficar rico com a profissão. Este é um privilégio de poucos. O segredo é dedicar-se e fazer o melhor que se gosta para conquistar avanços em seu local de trabalho.


Dá para conciliar numa boa a corridíssima vida de jornalista com a vida pessoal?

Quem decide ser jornalista deve preparar-se para ter uma vida diferente da que é desfrutada por outros profissionais. O jornalista tem que estar disponível 24 horas porque, a qualquer momento, pode ser chamado para fazer cobertura de um fato importante. Normalmente, as pessoas falam dos bons momentos que é chegar cedo em casa ou passar em um barzinho para relaxar da labuta diária. Pois é neste momento que a maioria dos jornalistas está trabalhando duro: ou na entrega das matérias, ou na edição delas. O "baixamento" - jargão das redações - de boa parte dos jornais vai até a meia-noite. Mais: não pense em domingos e feriados. Os jornais circulam todos os dias, e o trabalho também. É claro que existem escalas e o jornalista terá folga em algum fim de semana. Por isso, quem convive com um jornalista (marido, mulher, pais e filhos) deve estar preparado para esta rotina.

Quem está em grande enrascada: a Igreja, a Ciência ou a Humanidade?

Importante a artigo deste bispo mineiro a respeito do emprego das células-tronco. Quem ler, saberá que a Igreja não tem uma posição tão consensual como parecia.

A Igreja numa grande enrascada

Dom Paulo Francisco Machado

Bispo Diocesano de Uberlândia

Continuamente a Igreja vem sendo questionada acerca do emprego das células-tronco nas pesquisas científicas para descobertas de curas e terapias de alguns graves problemas de saúde que afligem a humanidade, como: diabetes, doenças neurodegenerativas, hematológicas, renais, acidentes vasculares do coração e do cérebro, traumas na medula espinhal. O grande mérito de tais estudos é a possibilidade de livrar-nos de uma série de doenças relacionadas aos tecidos ósseos, nervoso, muscular, sanguíneos. As tão famosas células são encontradas no cordão umbilical, na placenta, na medula óssea, etc.

É claro que a possibilidade de tais conquistas, anunciadas entusiasticamente pelos meios de comunicação de massa, enchem de esperança tantas pessoas acometidas por tais males. E, é claro que a Igreja não pode de modo algum deixar de se regozijar com tão importantes conquistas da humanidade, uma vez que ela é anunciadora do Evangelho da Vida: "Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida... Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham abundantemente". Diante disso não podemos ter outro caminho que acolher a proposta do Senhor, escolhendo a vida ("Escolhe, pois a vida").

Dito isto, cabe-nos esclarecer que as células-tronco podem ser extraídas de células adultas, encontradas no sangue, no cordão umbilical, na medula óssea ou, de células embrionárias que parecem ter alto poder de diferenciação na formação de células de outros tecidos do nosso organismo. As pesquisas e aplicações das células adultas não ferem a moral, portanto merecem todo louvor os cientistas que, respeitando o valor da vida, atuam nesse campo. Já o uso de células embrionárias para pesquisas contraria a moral, porquanto, até a presente data, é necessário destruir, matar o embrião para sua aquisição.

Na verdade não há o suposto conflito entre a Igreja e a Ciência: esse se encontra entre a Ciência e a Moral. Acontece que a Ciência, junto com a sua homenageada irmã siamesa, a Tecnologia, não tem autoridade no campo Moral. A Ciência e a Tecnologia produziram as armas – pense, por exemplo, no famoso punhal de Toledo ou na bomba H – mas é a Moral que, delimitando as fronteiras do verdadeiro bem, vai nos apontar o que devemos fazer. A ela compete delimitar o campo de pesquisa de uma Ciência, dizendo-nos se essa corresponde ao bem da humanidade. Há muitos anos guardo um texto de um cientista alemão naturalizado americano, Werner von Braun, que insiste, para a sobrevivência da humanidade, na necessidade de nos atermos aos princípios Morais, Éticos. Dizia-nos: "Hoje, mais do que nunca, a sobrevivência – a sua, a minha, a dos nossos filhos – depende de nossa adesão aos princípios Éticos. Só a Ética decidirá se a energia atômica vai ser uma bênção ou a origem da destruição total da Humanidade". Continuando o pensamento desse grande cientista, tecnólogo e sábio posso dizer que a Ética já tem uma resposta quanto ao uso das células embrionárias: "Não se pode matar um embrião, destruir uma vida humana que vem se desenvolvendo, para se produzir órgãos "sobressalentes" para curar, ou mesmo, salvar um adulto". Se o primitivo antropófago se alimentava da carne dos seus inimigos com a expectativa de reter sua força, os novos antropófagos estão na ânsia de comer o fígado, cérebro, pâncreas, coração de seus irmãos para conservar suas vidas.

Não se pode interromper o misterioso processo, a audaciosa e grande aventura de prosseguir o caminho já iniciado da vida humana. O embrião não é um cristal, um tumor, não é algo, é alguém que deu a partida para o mais fantástico grande prêmio, tem amplas possibilidades de subir ao pódio do parto e, assim celebrar mais uma vitória da vida. Afinal de contas o embrião humano não é a célula mater de uma barata ou de um orangotango, pois tem a estrutura genética própria dos humanos. É, sem dúvida, um organismo imaturo, mas tem em si as potencialidades de prosseguir a sua aventura vital e, assim, um dia poderá pronunciar as mais queridas palavras forjadas na nossa linguagem: "papai...mamãe ... eu te amo...". Logo no seu início distingue-se da célula paterna e materna: é alguém único no mundo.

Talvez tenha que advertir que o desprezo da Ética e da Moral terá efeitos desastrosos para o futuro humano. Se incentivarmos a "Cultura da Morte" e, hoje, não defendermos o "Evangelho da Vida", não faltará quem irá propor uma injusta lei de eliminação de todos quantos são pesados para o erário público, que tornam os impostos tão altos.

Deixo ao caro leitor as questões para reflexão:

1. Um ser humano, no início de sua vida, de sua existência é ou não sujeito de direitos, inclusive do fundamental direito a prosseguir na sua admirável aventura de mostrar o seu rosto e fazer sua peregrinação vital, como todos nós neste mundo?

2. Quando se inicia para alguém o direito de existir?

3. A quem compete o direito de determinar quando começa a vida humana, para que essa possa gozar dos direitos de cidadania?

Não penso que possamos barrar, com as nossas ponderações, todo o processo de pesquisas com as células embrionárias. Faço votos para que se possam encontrar meios eficientes de extraí-las sem danificar ou matar o embrião, que já é sujeito do grande direito de viver, de crescer, um dia mostrar seu rosto para todos. Se não conseguirmos, a Ciência e a Tecnologia serão julgadas pela História. Há anos a Igreja reconheceu o erro de alguns de seus membros em condenar Galileu. Será que a Ciência terá a humildade de, no futuro, reconhecer seu erro e seu crime?

Afinal de contas, quem está em grande enrascada: a Igreja, a Ciência ou a Humanidade?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Ao lado das taças, com orgulho


Ontem estive no Beira-Rio e fiz algo que almejava faz tempo. Me deixei fotografar ao lado dos troféus da Libertadores e do Mundial Fifa. O guardião dos importantes das taças aceitou clicar, mas avisou que eu não poderia tocar em nada. Cumpri o trato, mas confesso que deu uma vontade de abraçar os objetos que representam as maiores conquistas do meu Sport Club Internacional. Na foto acima, da esquerda para a direita, estão as taças da Dubai Cup, do Mundial e da Libertadores da América, além de um belo prato desta última competição.

Novo vizinho, nova realidade

Um posto de gasolina e três casas não farão mais parte do cenário da rua Lima e Silva, aqui perto de casa. No lugar, em frente ao centro de compras Nova Olaria, será construído um moderno edifício com 14 andares destinados a moradia. Serão apartamentos de um, dois e três dormitórios com áreas entre 49 metros quadrados e 83 metros quadrados. Tudo pequeno, mas moderno, luxuoso. Assim vivem as famílias atualmente. Não existem mais aquelas apartamentos espaçosos, com cozinhas, salas e quartos para os moradores se esparramarem. Ah, na nova edificação não faltarão cinema, bar, lojas, piscina e todas as comodidades para quem adquirir uma unidade. Mesmo que o banheiro no interior do apartamento tenha apenas 4 ou 5 metros quadrados.

Torcida pelo adversário

O adversário do Internacional no Rio Grande do Sul, o Porto-Alegrense, está em terceiro lugar no Brasileirão, graças a duas vitórias e um empate. Ao contrário do que poderiam supor os amigos gremistas, estou torcendo pelo time deles neste início de campeonato. Com a boa colocação, o técnico Celso Roth permanece no cargo, que quase lhe foi tirado após cair fora do Gauchão. Com Roth, o Grêmio irá bem até metade do campeonato e depois despencará na tabela. É assim que acontece com todos os times treinados pelo turrão e retranqueiro Roth. Quando o Porto-Alegrense estiver em declínio, o treinador cairá. Mas o time permanecerá em posição intermediária do campeonato. Se não rondar a zona do rebaixamento. Portanto, fica Roth.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A Era Glacial do Jornalismo – Volume 2

A Era Glacial do Jornalismo volume 2 reúne autores da vertente norte-americana que compõem as Teorias Sociais da Imprensa. A coletânea organizada por Christa Berger e Beatriz Marocco mostra a força crítica de autores como Robert Park, E. Ross e W. Lippmann, voltada às práticas do jornalismo capitalista e às funções da comunicação numa democracia, mais concretamente, da imprensa como voz do povo.
Seus artigos também refletem a tensão entre os avanços da tecnologia e a prática da democracia numa sociedade em rápido processo de mudança, na qual a industrialização, a urbanização e a migração se constituíam em forças sociais motoras do desenvolvimento cultural, político e econômico, acompanhadas por uma complexidade crescente da vida e do significado do conhecimento especializado. O livro engloba ainda textos analíticos de autores contemporâneos que contribuem para enriquecer a discussão e a reinterpretação dessas teorias. Assim, esse livro se torna fundamental para compreender o jornalismo em suas complexas relações com a sociedade e para entender, como diz Park, a nossa era como “a era da notícia” e o surgimento do repórter como “um dos mais importantes eventos na civilização americana”.

Capa: Danni Calixto
Páginas: 191
Preço: R$ 32,00

domingo, 25 de maio de 2008

Memória: quando um torturador falou a verdade

Sábado, 24 de Maio de 2008

Confissões de um torturador: - Sim. Todos os depoimentos de presos que me acusam de tortura são verdadeiros.

Entrevista feita em 9 de dezembro de 1998 com Marcelo Paixão de Araújo, que, em 1968, servia como tenente no 12º Regimento de Infantaria do Exército em Belo Horizonte, um dos três centros mais conhecidos de tortura da capital mineira durante a ditadura militar. Ali, permaneceu até 1971.

Revista Durante a ditadura, em depoimentos na Justiça Militar, 22 presos políticos acusam o senhor de tortura. É verdade?
Araújo
— Quem lhe disse isso?

Revista Vi nos processos na Justiça Militar. E, pela quantidade de presos que o citaram, o senhor é o agente da repressão que mais praticou torturas. É verdade?
Araújo
— Sim. Todos os depoimentos de presos que me acusam de tortura são verdadeiros.

Revista O senhor fez isso cumprindo ordens ou achava que deveria fazê-lo?
Araújo
— Eu poderia alegar questões de consciência e não participar. Fiz porque achava que era necessário. É evidente que eu cumpria ordens. Mas aceitei as ordens. Não quero passar a idéia de que era um bitolado. Recebi ordens, diretrizes, mas eu estava pronto para aceitá-las e cumpri-las. Não pense que eu fui forçado ou envolvido. Nada disso. Se deixássemos VPR, Polop (organizações terroristas) ou o que fosse tomar o poder ou entregá-lo a alguém, quem se aproveitaria disso seriam os comunistas. Não queríamos que o Brasil virasse o Chile de Salvador Allende. Nessa época, eu tinha 21 anos, mas não era nenhum menino ingênuo (risos). O pau comia mesmo. Quem falar que não havia tortura é um idiota.

Revista Como o senhor aprendeu a torturar?
Araújo
— Vendo.

Revista O que o senhor fazia?
Araújo
— A primeira coisa era jogar o sujeito no meio de uma sala, tirar a roupa dele e começar a gritar para ele entregar o ponto (lugar marcado para encontros), os militantes do grupo. Era o primeiro estágio. Se ele resistisse, tinha um segundo estágio, que era, vamos dizer assim, mais porrada. Um dava tapa na cara. Outro, soco na boca do estômago. Um terceiro, soco no rim. Tudo para ver se ele falava. Se não falava, tinha dois caminhos. Dependia muito de quem aplicava a tortura. Eu gostava muito de aplicar a palmatória. É muito doloroso, mas faz o sujeito falar. Eu era muito bom na palmatória.

Revista Como funciona a palmatória?
Araújo
Você manda o sujeito abrir a mão. O pior é que, de tão desmoralizado, ele abre. Aí se aplicam dez, quinze bolos na mão dele com força. A mão fica roxa. Ele fala. A etapa seguinte era o famoso telefone das Forças Armadas. Tinha gente que dizia que no telefone vinha inscrito US Army (indicando que era produto das Forças Armadas americanas). Balela. Era 100% brasileiro. O método foi muito usado nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas o nosso equipamento era brasileiro.

Revista E o que é o telefone?
Araújo
— É uma corrente de baixa amperagem e alta voltagem.

Revista De quanto?
Araújo
— Posso pegar o manual para informar com certeza. Mas não tem perigo de fazer mal. Eu gostava muito de ligar nas duas pontas dos dedos. Pode ligar numa mão e na orelha, mas sempre do mesmo lado do corpo. O sujeito fica arrasado. O que não se pode fazer é deixar a corrente passar pelo coração. Aí mata.

Revista Qual era o estágio seguinte quando o preso não falava?
Araújo
— O último estágio em que cheguei foi o pau-de-arara com choque. Isso era para o queixo-duro, o cara que não abria nas etapas anteriores. Mas pau-de-arara é um negócio meio complicado. No Rio e em São Paulo gostavam mais de usar o pau-de-arara do que em Minas Gerais. Mas a gente usava, sim. O pau-de-arara não é vantagem. Primeiro, porque deixa marca. Depois, porque é trabalhoso. Tem de montar a estrutura. Em terceiro, é necessário tomar conta do indivíduo porque ele pode passar mal. Também tinha o afogamento. Você mete o preso dentro da água e tira. Quando ele vai respirar, coloca dentro de novo, e vai por aí afora. É como um caldo, como se faz na piscina. Era eficiente. Mas eu não gostava. Achava que o risco era muito alto. Afogamento não era a minha praia (risos). A geladeira, uma câmara fria em que se coloca o preso, não funcionava em Belo Horizonte. Era muito caro. O que tinha era o trivial caseiro. O menu mineiro.

Revista O que mais tinha no menu mineiro?
Araújo
— A dança da lata eu praticava muito.

Revista Como era?
Araújo
— Eu pegava duas latinhas de ervilha e abria. Depois, colocava o cara de pé, em cima.

Revista Sangrava?
Araújo
— Não. Ele falava antes disso (gargalhadas). Mas quem era mais leve agüentava mais tempo.

Revista E quem não tinha o que dizer?
Araújo
— Ia para a lata igual. Mas é muito fácil identificar quem tinha e quem não tinha o que falar.

Revista Como?
Araújo
— Militante é diferente. Jornalista é diferente de militar, que é diferente de empresário, que é diferente de militante. Ele se deixa trair por uma série de coisas. O linguajar, para começar, é diferente. Então, inocente só era torturado quando o agente era muito cru, sem conhecimento algum da práxis marxista, ou quando era um sádico. É muito fácil identificar uma pessoa que não é de esquerda. Vou dar um exemplo. Há algum tempo fui comprar dólares no Banespa, no câmbio turismo. Como até hoje tenho minha carteira militar, apresentei-a no lugar da identidade. O atendente viu a carteira, olhou para mim e perguntou:

— O senhor serviu no colégio militar?
— Tive uma época lá. Por quê? Você foi aluno lá?
— Não.
— Você foi soldado?
— Não.
— Escuta, eu te prendi?
— Não foi bem assim. Fui preso e o senhor foi o único que acreditou em mim. Apanhei com palmatória antes de o senhor chegar e me liberar.
— Sorte, hein? Já pensou se fosse o contrário? (risos).

Revista O senhor já reencontrou alguma pessoa que torturou?
Araújo
— Sim. Eventualmente, eu encontro ex-presos meus, inclusive os que apanharam. E o relacionamento não é muito ruim, não. Não é aquele negócio de dar beijinhos e abraços. Mas é um relacionamento de respeito. Há pouco tempo, aqui em Belo Horizonte, encontrei o Lamartine Sacramento Filho, que é professor em uma faculdade local. Segurei ele no ombro e disse: 'Você não me conhece, não?' Ele levou um susto. Aí eu disse: 'Você tá bom?' Ele disse que sim e não quis mais conversa. Mas também não passa batido, não (risos). Não deixo passar batido (sério).

Revista Por quê?
Araújo
— É o meu esquema. Não deixo passar batido. Não vai passar batido. Não passa batido. Vou lá, coloco a mão no ombro dele e digo: Não me esqueci de você, não. Você lembra de mim? Estamos aí. A vida continua.

Revista Quantas pessoas o senhor já torturou?
Araújo
— Não tenho idéia. Não sou igual a matador que faz talho na coronha do revólver para cada um que mata. Mas você quer um número aproximado?

Revista Sim.
Araújo
— Uns trinta.

Revista O senhor matou alguém em sessões de tortura?
Araújo
— Não. Já atirei, mas não matei.

Revista Mas morreu gente onde o senhor servia.
Araújo
— Pouca gente. O João Lucas Alves, que era um ex-sargento da FAB, foi um deles. Ele morreu na tortura.

Revista O senhor participou?
Araújo
— Não. Isso foi alguns dias antes de eu ser convocado. Depois que eu saí, se morreu alguém eu não sei.

Revista O que é besteira e o que é verdade no que já se escreveu sobre tortura no Brasil?
Araújo
— Há algumas pequenas inverdades. Mas a maioria dos fatos é correta. Há pouca besteira e muita verdade. As pessoas que participaram desse período até hoje não falaram abertamente. As altas autoridades do país foram as primeiras a tirar o seu da reta. Morri de rir ao ler o livro sobre o Geisel (refere-se ao livro que reúne as memórias do ex-presidente Ernesto Geisel, publicado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas). Segundo o depoimento de Geisel, ele não sabia de nada, mandava apurar tudo, era um inocente. É uma gracinha isso tudo. Todos os agentes do governo que escreveram sobre a época do regime militar foram muito comedidos. Farisaicos, até. Não sabiam de nada, eram santos, achavam a tortura um absurdo. Quem assinou o AI-5? Não fui eu. Ao suspender garantias constitucionais, permitiu-se tudo o que aconteceu nos porões. É claro que havia diversas pessoas envolvidas nisso. Mas eu não vou citar o nome de ninguém. Falo apenas de mim.

Bom, pra mim, chega de tortura. Confesso que me enoja e entristece saber que um sujeito como esse está solto e impune. A tortura é um crime hediondo, uma ignomínia, ainda mais quando aplicada por um agente do Estado, que existe, teoricamente, para nos proteger.

Mas, quem quiser prosseguir lendo a entrevista, depoimentos de presos que foram torturados por Paixão, e também os de outros torturadores, clique aqui e leia a reportagem de Alexandre Oltramari para a Veja, na época em que ainda valia a pena ler a revista.

Não aceito desculpas. Quero resultados!

Sou um torcedor colorado que torce e cobra resultados. Afinal, dirigentes, atletas e a imprensa têm alardeado que o Internacional tem um dos melhores plantéis do Brasil e está sempre na linha de frente para conquista de títulos. Ganhou o Gauchão com a grande goleada contra o Juventude, mas foi eliminado pelo Sport Recife ao perder por 3 a 1 na Ilha do Retiro. Lá começaram as justificativas de que o time tinha cometido algumas falhas e estava sem alguns jogadores titulares. Veio o jogo contra o Palmeiras, para quem também perdemos, e o mesmo discurso foi repetido. Passada uma semana e, diante do Flamengo, nova derrota. E o discurso? Não mudou!
Portanto, onde está um dos melhores plantéis do País? A meu ver, nesta condição estaria um clube com dois jogadores do mesmo nível para cada posição. Definitivamente, o Inter não tem. Tampouco um time é armado pelo treinador Abel, que nunca teve a minha simpatia (mesmo nos títulos da América e Mundial). No primeiro, houve o comando do Fernando Carvalho e, no segundo, superação de um grupo ante um adversário marcado pela empáfia.
Agora, eu quero plantel, time e treinador. Apenas o título do Gauchão não me serve. E não venham me dizer que a Dubai Cup tem o valor de uma Copa do Brasil ou Brasileirão. Por favor, não é por aí!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Contra o protecionismo a atletas

Leio que a ginasta Daniele Hypólito abandonou a Seleção Brasileira de ginástica, que treina no Centro de Treinamento em Curitiba, e retornou para o seu clube, o Flamengo. Alega que passa por um momento emocionalmente ruim. Vai treinar com o irmão Diego, visando recuperar a motivação. Já vi casos como estes em outros esportes e a solução foi o corte da seleção. Afinal, a atleta desrespeitou regras e ignorou que colegas suas treinam duro para as Olimpíadas de Pequim. Juntas. Não separadas.

No entanto, vejo que há uma espécie de "vistas grossas" por parte de integrantes da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mesmo que o abandono tenha pego todos de surpresa. Daniele não é nenhum gênio em seu esporte para achar que pode deixar o grupo e ter vaga garantida. Imaginem se a gaúcha Daniane dos Santos fizesse o mesmo e retornasse para o União, seu clube de origem em Porto Alegre. As entidades teriam a mesma complacência?
Aliás, lembro que a mesma Daniele já abandonou este clube em Porto Alegre para competir pelo Flamengo. Questão de caráter (ou falta dele).


Rio Grande Vermelho

O Sport Club Internacional está convocando a todos os colorados a ajudar a pintar o Rio Grande de Vermelho. Se tua cidade ainda não tem um consulado do clube, cadastre-se. Mande teu cadastro para o e-mail riograndevermelho@internacional.com.br e receba as orientações para criação do consulado. Tu és fundamental para conseguirmos chegar à meta de 100 mil sócios.
Participe!
Nosso time de consulados faz toda a diferença. Venha fazer parte desta história!

Sites copiam Globo News e noticiam falsa queda de avião

Um incêndio na Zona Sul de São Paulo colocou a imprensa da capital em uma situação delicada. Na tarde desta terça-feira (20), por volta das 17h20min, sites como Terra, UOL, Folha Online, Estadão e iG noticiaram a queda de um avião da Pantanal Linhas Aéreas em cima de um prédio no bairro do Campo Belo. Todos os portais publicaram manchetes sobre o possível acidente, alguns, inclusive, com a confirmação da Infraero, empresa responsável pelo sistema aeroviário do Brasil.
No UOL, às 17h19min, a manchete com o título "Avião da Pantanal cai na zona sul de São Paulo" informava que um avião da empresa Pantanal havia se chocado contra um prédio residencial.
De acordo com o portal, as informações eram da Globo News. "Segundo a TV, o acidente aconteceu no bairro de Campo Belo. O avião teria caído em um prédio residencial e provocado um incêndio. A Infraero ainda não confirma a informação", dizia a nota do UOL, que saiu do ar instantes depois para dar lugar à manchete "Líderes governistas selam acordo para volta da CPMF".
Na verdade, o incêndio atingiu uma loja de colchões, sem a presença do suposto avião. Dez carros do Corpo de Bombeiros foram ao local para tentar controlar o fogo e, segundo a Polícia Militar, não há notícias sobre mortos ou feridos. Já o Terra noticiava "Avião cai em prédio na região sul de São Paulo" e "Infraero não confirma queda de avião", ambas pautadas também pelas informações da Globo News.
Procurada pelo Portal IMPRENSA, a assessoria da Infraero afirmou que "em nenhum momento, confirmou a queda de um avião". "Não tínhamos nenhuma informação sobre problemas com aeronaves, de maneira nenhuma". A assessoria declara ainda que a Pantanal também não havia confirmado a queda do avião e, portanto, "nada disso saiu da gente", finaliza.
http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2008/05/20/imprensa19533.shtml

quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Veranico" de maio não surpreende gaúchos

Li recentemente em um portal do Centro do País que o calor está surpreendendo os gaúchos. Certamente, o autor do texto não conhece o Rio Grande do Sul e suas mudanças climáticas. Mesmo com o adventos dos fenômenos climáticos El Niño e La Niña, a população do Estado mais meridional do Brasil já se acostumou com o calor de maio. Tanto que já apelidou o calor da época como "veranico de maio". Está certo que, neste ano, houve oscilações climáticas, com ocorrência de frio no mês. Mas nenhum gaúcho foi pego de surpresa com o o "veranico". Ele tardou, mas chegou. Para alegria de uns e tristeza de outros.

Boa notícia: You Tube lança canal de notícias cidadãs

O portal de compartilhamento de vídeos YouTube lançou um canal de notícias cidadãs em forma de videoblog para destacar alguns dos melhores conteúdos noticiosos produzidos pelos usuários e publicados no site.
O novo videoblog noticioso, batizado de Citizen News, já reúne algumas produções feitas por pessoas comuns e faz ligação com vídeos que falam sobre o potencial do jornalismo cidadão.
Em comunicado oficial em forma de vídeo, Olivia Ma, gerente de notícias do YouTube, dá as boas vindas, explica o objetivo do canal e cita exemplos de reportagens cidadãs importantes feitas pelo mundo.

Boff com Dalai Lama: ensinamentos

BREVE DIÁLOGO ENTRE O DALAI LAMA E O TEOLÓGO BRASILEIRO LEONARDO BOFF

Leonardo Boff explica: "No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:
- "Santidade, qual é a melhor religião?"
Esperava que ele dissesse:
- "É o budismo tibetano ou são as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos, o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na minha pergunta. E afirmou:
- "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
- "O que me faz melhor?"
Respondeu ele: (e então eu senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta)
- "Aquilo que te faz mais compassivo,
aquilo que te faz mais sensível,
mais desapegado,
mais amoroso,
mais humanitário,
mais responsável...
A religião que consegue fazer isso de ti é a melhor religião..."

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável."

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Perdemos essa para nós mesmos

“O fundamental é ter seriedade no contra-ataque e não dar o contra-ataque para o adversário. Temos que estar bem posicionados”, afirmou o técnico Abel Braga, na entrada do campo, ontem na Ilha do Retiro.
O Inter tinha uma vantagem mínima contra o Sport - 1 a 0 em Porto Alegre - e dava a impressão de que, fazendo um gol, conseguiria seguir adiante na Copa do Brasil. Não aconteceu nada disso. O time foi mal no contra-ataque, permitiu que o Sport fizesse isso e tinha muita gente mal posicionada em campo.
O colorado levou um gol no início da partida, mas teve garra para buscar o empate aos 28 minutos do primeiro tempo. Pensei: "Está pelada a coruja". Não estava. Poucas vezes eu vi o Inter jogar tão mal como na etapa complementar. Mesmo com um homem a mais - um jogador do Sport foi expulso - recuou e cedeu espaço para que o razoável time do Sport arriscasse. E tanto arriscou que fez mais dois, fixando o resultado em 3 a 1, placar necessário para classificá-lo.
Abel disse que o Inter entregou o jogo. Concordo, mas será que ele não teve um pouco de responsabilidade? Agora, é continuar apostando no time no longo campeonato brasileiro, com o objetivo de ganhá-lo. Não apenas fazer figuração ou buscar uma vaga na Libertadores da América. O Inter é muito grande e tem um excelente plantel, capaz de conquistar o quarto título brasileiro.
Confio que o Inter aprenderá com o insucesso de ontem, que alegrou os gremistas de Porto Alegre. Foguetes foram estourados e as buzinas dos automóveis acionadas. Quem não tem time, torce contra os outros.

Na foto de Alexandre Lops, do Inter, aparece Sidnei, que fez um belo gol.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Amor

Não acabarão nunca

com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo firme,
fiel
e verdadeiramente.

Vladimir Mayakovski