quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Os erros da cobertura apressada

do Blog Luis Nassif Online (http://luisnassifeconomia.blig.ig.com.br)

Coluna Econômica – 02/08/2007

No meu livro "O Jornalismo dos anos 90" relato quase duas dezenas de casos de cobertura da mídia em que o "efeito manada" produziu erros gigantescos.
Aparentemente, não se aprende. A mais nova reedição do caso "Escola Base" está na cobertura do acidente com o Airbus da TAM, que vitimou mais de duzentas pessoas; o “japonês” do acidente aéreo foi um morto que não podia se defender: o piloto.
Com o choque inicial, logo após o acidente passou-se a uma busca frenética por culpados. Em um primeiro momento concentrou-se no governo, na pista de Congonhas, na falta de ranhuras no asfalto.
Deixou-se de lado o jornalismo para se ficar numa ladainha única, em que nenhuma outra hipótese era investigada. E essa algaravia escondeu outras interpretações comentadas por especialistas, mas que não chegavam às páginas dos jornais.
Nos poucos momentos em que se permitiu um pouco de jornalismo, descobriu-se que o avião em questão estava com o chamado reverso pinado - um reverso inoperante. Reverso é um sistema inverte o empuxe do motor, ajudando a frear a aeronave.
Seguiu-se um festival de explicações "técnicas", de que o reverso não era relevante, que seria apenas um luxo a mais nas aeronaves, que importante eram os freios e "spoilers".
Quando a caixa preta (que grava as conversas na cabine) foi enviada para os Estados Unidos, acompanhada por uma comitiva de deputados, o discurso começou a se inverter. De repente, o reverso passava a ser importante porque, quando não está em funcionamento, exige uma nova posição dos manetes (os instrumentos que permitem ao piloto controlar a altura da aeronave). Se, na hora de pousar, o piloto não muda a maneira tradicional de colocar os manetes, os instrumentos eletrônicos de bordo interpretam como se ele estivesse querendo decolar. Em vez das turbinas reduzirem, elas aceleram.
Ora, havia duas explicações para eventuais problemas com os manetes: ou erro humano ou problemas mecânicos. Sendo a segunda hipótese, estariam comprometidas a TAM, as autoridades aeronáuticas e, provavelmente, a Airbus.
Aí se viu na cobertura uma mudança de rota inacreditável. Publicação capaz de atribuir ao governo responsabilidades até das precipitações pluviométricas, passaram a encampar a tese do erro humano, poupando as autoridades e sequer mencionando responsabilidades da TAM. O culpado passou a ser um morto, que não podia se defender.
Com a divulgação dos diálogos registrados na cabine, muda o quadro. Um piloto alerta o outro que o reverso esquerdo estava paralisado; o outro concorda. O que significa que pousaram sabendo como proceder. Nos diálogos, descobre-se que o "spoiler" - um sistema de frenagem mais potente que o reverso - não funcionou,que os freios provavelmente não funcionaram. Pode ter sido erro dos pilotos? Pode, mas numa probabilidade muito baixa.
Semanas de cobertura intensiva desmentidas, todas as afirmações peremptórias desmascaradas, a voz do morto, saindo dos arquivos da caixa preta para absolvê-lo.

Como ficamos? Como fica o jornalismo?

Tem que haver limites para o show.

Mostrem a cara!!!!

A OAB de São Paulo e outras entidades lançaram um movimento estranho que se anunciava como apartidário, mas na primeira passeata só exibiu cartazes e faixas notoriamente partidárias. Contra o Governo Lula. Camuflado de defensor do interesse público, um grupo minguado de milionários do Estado mais endinheirado do País resolveu explorar uma tragédia — o desastre com o avião da TAM em Congonhas — para detonar o governo federal.
Basta olharmos o cartaz ao lado para notarmos qual o propósito destes senhores - e senhoras - que não têm qualquer escrúpulos em usar o dinheiro dos associados de suas entidades para promover uma nova manifestação no sábado. Tampouco para mexer com o coração dos parentes das vítimas do vôo 3054. Tentam dissimular e disfarçar, mas não conseguem enganar. O pior é ver seccionais da OAB de outros Estados desaprovando atitudes como a da Ordem paulista. Da FIESP, da Associação Comercial e da Veja já se esperava este comportamento. Mas da OAB, que deveria defender seus associados, serve de ponta de lança para outros interesses.
O tal Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros deveria ser assumido por seus verdadeiros patrocinadores. Mais: mostrar com clareza suas reais intenções, como sempre fez a elite brasileira em defesa de seus interesses patrimoniais.