domingo, 26 de abril de 2009

Rendas dos jogos lá e aqui

É impressionante a diferença das rendas nas partidas realizadas no Beira-Rio com as do campeonato paulista. Ontem, 17.259 pessoas pagaram ingresso para ver o clássico entre Santos e Corinthians, resultando em um montante de R$ 1,044 milhão. No jogo entre Inter e Guarani pela Copa do Brasil, 21.410 pagaram ingresso, o que rendeu apenas R$ 286 mil. Não sei o preço dos ingressos lá, mas aqui os valores subiram em relação aos cobrados no Gauchão. A diferença pode estar na questão dos sócios colorados. Uma parcela não paga, e outra desembolsa a metade. Sobram poucos ingressos à venda para não-sócios. De qualquer forma, chama a atenção o fato de que, no jogo paulista, a arredação foi três vezes superior com público menor.

O marketing de Ronaldo e do Corinthians, com apoio da mídia

Não há qualquer dúvida de que o gol de Ronaldo marcado hoje pelo Corinthians contra o Santos foi bonito e fruto de sua imensa intimidade com a bola. Entretanto, é preciso ressaltar que o jogador não é mais um atleta e dificilmente voltará a sê-lo. No jogo, fez duas jogadas: o primeiro gol e o segundo, ambos fruto de sua natural vocação para o chute. Foi o suficiente para programas esportivos e sites já decidissem que o segundo gol foi o mais bonito do ano, esquecendo que outros jogadores já fizerem outros tão ou mais belos que o de Ronaldo. Também não levam em conta que o goleiro do Santos, Fábio Costa, estava perdido no meio da área. Se estivesse em baixo dos paus, como era de se esperar, o gol não seria marcado.



Então, é necessário dizer que Ronaldo (na foto acima, de Adriano Vizoni, do Futura Press, publicada pelo site Terra) e o Corinthians são frutos do marketing, com a parceria da mídia. Com certeza, a imagem da jogada será repetida à exaustão durante toda a semana. Até que Ronaldo faça outro. Os gols de Ronaldo valem mais do que os de outro jogador em atividade no Brasil. Afinal, o investimento que fizeram Corinthians e a mídia parceira precisa de retorno.
Preocupa-me o momento em que esta parceria se estander aos árbitros. Estamos todos lembrados de 2005, quando o time queridinho da mídia foi favorecido por uma ridícula decisão do desembargador Luiz Zveiter, então proprietário do STJD e torcedor fanático do...Corinthians. Fiquemos de olhos bem abertos nos próximos meses, quando o time paulista, recém chegado da segunda divisão, estará disputando jogos da Copa do Brasil e do Brasileirão.

A outra luta das mulheres americanas no Iraque

CADELA, PUTA OU LÉSBICA

Eliakim Araújo, blo Direto da Redação

http://www.diretodaredacao.com/


As mulheres que servem ao exército norte-americano no Iraque têm que enfrentar dois inimigos: os iraquianos , que querem matá-las, e os próprios americanos, que querem violentá-las se elas não os atendem em seus instintos sexuais. Leia o relato de Mickiela Montoya, que passou onze meses na guerra.

Montoya conta que, certa noite, quando terminava sua guarda, o companheiro que veio substitui-la lhe disse:

"Sabe de uma coisa, eu poderia te possuir agora mesmo e ninguém te ouviria gritar ou ficaria sabendo do que aconteceu".

Com presença de espírito, Montoya respondeu: "se você tentar, eu mato você com o meu punhal ".

Ela não tinha o punhal, mas daquele dia em diante passou a andar com um punhal amarrado à perna. Não para se defender dos iraquianos, mas dos próprios companheiros.

Montoya termina seu depoimento com uma afirmação que é, ao mesmo tempo, um desafio aos comandantes militares e ao próprio governo dos EUA: “Só há três coisas que eles deixam a mulher ser no exército: cadela, puta ou lésbica”.

Essa história real está narrada no livro "O soldado solitário: a guerra particular das mulheres que servem no Iraque", da professora de jornalismo Helen Benedict, da Universidade de Columbia, recentemente lançado nos EUA.

No livro, a professora reuniu os depoimentos de quarenta mulheres soldados que foram apresentados no mês de março em teatros de NY, em forma de monólogos. Das quarenta ouvidas pela autora, todas ex-combatentes no Iraque, 28 foram violentadas, agredidas ou assediadas sexualmente.

Este é um dos lados mais sombrios e cruéis da guerra no Iraque, a que reune o maior contingente feminino da história das guerras norte-americanas, numa proporção de uma para cada dez homens.

Além da cultura machista, por si só origem do tratamento diferenciado entre os dois sexos a partir das próprias organizações militares, as mulheres são vítimas da discriminação dos homens que não as respeitam porque a elas são atribuídas tarefas de apoio, embora pelas características próprias da guerra no Iraque elas corram os mesmos riscos que os combatentes homens.

Essa discriminação e o isolamento em que vivem faz com que elas não consigam criar um espírito de camaradagem, o que as torna vulneráveis à perseguição sexual dos companheiros.

A estatística do Departamento de Veteranos, aparentemente mais favorável do que as quarenta ouvidas por Benedict, indica que 30% das mulheres que servem no Iraque foram violentadas por seus próprios companheiros. Em compensação revela que 90% dos casos de ataques não são denunciados por várias razões, a principal delas o medo de denunciar os estupradores e agressores, que são muitas vezes seus superiores hierárquicos. E assim, muito do que acontece nos bastidores da guerra no Iraque não chegam ao conhecimento do público.

Daí a importância do livro de Helen Benedict que é implacável em denunciar os vários tipos de discriminação de que são vítimas as mulheres soldados americanas. Ela aconselha as mulheres a resistirem, a denunciarem os violadores custe o que custar, como única forma de luta pela igualdade de direitos dentro das organizações militares.

Por último, Helen Benedict acusa os recrutadores de serem coniventes e mentirem para as mulheres quando elas se apresentam para o voluntariado. Eles só falam das “vantagens” de se alistar nas forças armadas, tais como carreira, boa remuneração, benefícios de saúde e ensino para ela e a família. Mas não as alertam para os riscos da guerra e a indiferença da burocracia em cumprir os compromissos assumidos.

Certamente o hábito de tratar a mulher como um ser inferior não deve ser um “privilégio” das forças armadas americanas. Penso que essa luta deve ser também das mulheres brasileiras engajadas em organizações militares. Está mais do que na hora delas se unirem e exigirem uma mudança radical na mentalidade e no comportamento masculino, para que não se ouça novamente depoimentos como este, extraido do livro de Helen Benedict:

“Acabei de lutar a minha própria guerra, contra um inimigo vestido com o mesmo uniforme que o meu”.