sábado, 18 de setembro de 2010

Inédita entrevista de Lula no Portal IG: "Sou um homem de rua"

Graças à relação inédita estabelecida com a sociedade civil, empresários e governantes de todos os espectros políticos, o governo ganhou solidez e pode implementar com sucesso as políticas públicas tão necessárias ao País, avalia o presidente Lula em entrevista exclusiva concedida ao portal IG e publicada nesta sexta-feira (17/9), lembrando que é, antes de tudo, um homem de rua:
"Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados."
Foto do movimento sindical dos anos 80, do qual Lula já era é o ícone

 Na entrevista, o presidente conversou sobre a sua relação com diversos setores da sociedade brasileira, suas maiores realizações no governo, as maiores decepções, os momentos difíceis, a importância de saber falar a língua do povo e também de saber interpretar a cabeça do eleitor. Afirmou que sentirá falta da agitação do dia-a-dia do exercício da Presidência, ainda que admita ser essa rotina bastante dura.
Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.
Confira abaixo os destaques da entrevista, cuja transcrição pode ser lida aqui – para ler a edição publicada pelo portal IG, clique aqui.

 "Sou um homem de rua"
Porque eu sou um homem de rua. Eu sou um homem de rua. Eu sou um homem que o meu forte, na política, não é dentro do gabinete com ar-condicionado recebendo… O meu forte é na rua conversando com as pessoas. É dali que eu extraio a minha energia, é dali que meus adversários ficam preocupados, é dali que algumas pessoas insinuam bobagens, como o Fernando Henrique Cardoso insinuou. Porque eu seria maravilhoso, seria maravilhoso se eu já tivesse esquecido de onde eu vim e para onde eu vou voltar. Seria maravilhoso, para ele, se eu tivesse esquecido quem são meus amigos originários, quem é que vai me chamar de companheiro, essa coisa está no sangue. Eu sei o meu lado, sei da minha obrigação como Presidente, que eu tenho que governar para todos, eu tenho que tratar o mais rico igual eu trato o outro, todo mundo tem direito à cidadania. Agora, eu tenho que governar tentando favorecer os mais pobres.
A língua do povo
Olhe, a primeira coisa que você tem que ter na sua relação com o povo é ser muito verdadeiro com o povo. Normalmente, a classe política, ela adora ir para o meio do povo quando ela está bem na pesquisa, e ela tem muito medo do povo quando ela está mal na pesquisa. Quando você é candidato, você adora andar em carro aberto, dando a mão para todo mundo; quando você se elege, você é doido para andar em um carro blindado, sem ninguém te ver. Eu estabeleci uma relação com o povo que era a única que eu sabia fazer e a única que é melhor. Quando eu deixar a Presidência da República, eu quero ser tratado, eu quero ser chamado de “companheiro Lula”, pelos que me chamavam de “companheiro Lula” antes de eu ser presidente da República.
(…) Então, conversar com o povo é ser sincero, é você ter coragem de dizer não, quando precisa dizer não; dizer sim, quando precisa dizer sim; fazer um esforço necessário para atender às pessoas; se não puder atender, dizer que não; estabelecer uma relação leal, uma relação de parceria, que ele se sinta…
(…) Não ter medo, nunca, do povo. Porque o que nós temos que compreender, gente? Mesmo quando você encontra um pessoal nervoso, reivindicando, aquilo faz parte do povo brasileiro. O que nós, políticos, precisamos ter noção é que Deus, quando colocou a gente com duas orelhas, é para a gente ouvir mais do que falar. E, para mim, o aplauso tem a mesma importância da vaia. O cara vaia porque não gosta; o cara aplaude porque gosta. De vez em quando, eu acho uma loucura um político ficar brigando com quem está vaiando. O cara dedica o discurso dele a quem está vaiando, a brigar com quem está vaiando; a vaia só aumenta. Você tem que falar o que você tem que falar, acreditando que você vai convencer as pessoas. Eu nasci assim, aprendi a fazer sindicalismo assim, construí o PT assim, exerço a Presidência assim e quero morrer assim, sendo o mais verdadeiro possível na minha relação humana.
Eu gosto de pegar no braço das pessoas. Tem gente que acha que eu quebro muito protocolo. Eu, às vezes, já cheguei a dar tapinha na cabeça de pessoal que caiu a peruca, já… “Presidente, não faça mais isso”. Paciência, eu vou lá, pego e levanto. Mas eu vou ser assim o resto da vida.
Saudade da agitação
Eu acho que eu vou sentir saudade é da agitação do cargo. Eu lembro que, quando eu fui preso e eu voltei para o Sindicato, eu estava cassado, eu levantava de manhã e ficava que nem uma barata tonta, sem ter o que fazer. Eu não tinha para onde ir. O Felipe González disse uma coisa que é uma coisa verdadeira: ex-presidente é que nem um vaso chinês; quando você está no palácio, você tem um monte de lugar para colocar o vaso chinês, mas, quando você sai, você vai para o seu apartamentozinho, não tem onde colocar vaso chinês. O que você faz com um vaso chinês? Um ex-presidente é sempre um vaso chinês. O que ele precisa tomar cuidado é para não atrapalhar os outros, ou seja, tem que deixar espaço para os outros morarem.
Dura rotina
O ritual de ser presidente é muito pesado. Ou seja, você tem um ajudante de ordem que diz o que você tem que fazer a cada hora. Você tem um chefe de cerimonial que escolhe a cadeira para você sentar. Você tem a equipe que prepara… É um negócio que você… Tem vez que você se sente sufocado. Tem vez que é tanta gente fazendo as coisas para você, que tem hora que dá vontade de gritar: “Gente, pelo amor de Deus, deixa eu respirar, deixa eu fazer alguma coisa. Deixa eu pensar”. (…) o que eu quero me livrar mais é da máquina burocrata que toma conta do presidente.
Veja, eu vou terminar o meu mandato, eu nunca fui num restaurante jantar. Eu nunca fui num aniversário, eu nunca fui numa janta, eu nunca fui num casamento, a não ser de um sobrinho meu, num bairro lá em São Bernardo do Campo, sem ninguém saber. Por quê? Porque eu resolvi fazer do meu mandato um sacerdócio, ou seja, isso aqui, eu briguei muito para chegar aqui, então eu tenho que me dedicar de corpo e alma a isso aqui. Noventa e nove por cento do meu tempo, com a dona Marisa é eu sair daqui dez horas da noite e ir lá para casa, é passar sábado e domingo sozinho, eu não convido nenhum ministro, porque são muitos, se eu convidar um o outro vai ficar com ciúme, então eu não convido ninguém. Mas eu vou gostar de me livrar do sufoco, do Cezar Alvarez que todo dia diz o que eu tenho que fazer, “9 horas isso, 10 horas isso, 11 horas isso. Não tem um minuto que eu falo: “Meu, deixa esse minuto para mim, pelo amor de Deus.” As pessoas não se lembram de que você tem que ir ao banheiro, não se lembram. Se vocês fizerem uma agenda comigo, vocês vão perceber que não é fácil.
Populismo
Um populista não tem uma relação como eu tenho com o povo. O populismo, o populismo é uma coisa… É um ato de fazer política de propostas de cima para baixo, sem nenhuma relação orgânica como eu tenho com a sociedade. Sinceramente, eu acho que a pessoa que fala isso não conhece nem de populismo e nem de popular. A pessoa sabe… A pessoa precisa saber o que é uma coisa populista. Populista é uma coisa fictícia. O populismo é quase uma mentira. Você fica… Você faz uma pesquisa e fica inventando proposta de cima para baixo. “Pobrezinho”. Eu não faço isso. A minha relação é direta, é direta. Eu não tenho nenhum problema de almoçar na casa de um companheiro meu, que mora em uma favela, e, de noite, comer com o empresário mais rico deste país. Não tenho nenhum problema de fazer um discurso na porta da Volkswagen e, à noite, repetir esse discurso na reunião da Febraban, nenhum. E fazer o mesmo discurso. Como não tive nenhum problema de fazer um discurso no Fórum Social, em Porto Alegre, e ir para Davos e fazer o mesmo discurso. Não tenho nenhum problema, eu sou sincero com os dois lados.
Relação com empresários
Eu acho que ela foi bem mais fácil do que eu imaginava, porque tinha muitos empresários que tinham medo, tinham dúvidas e era normal que tivessem dúvida, o que falavam de mim, o que falavam do PT, o medo do sindicalista, o medo da República sindical, falava-se um monte… São coisas… Porque em um país que tem liberdade, cada um fala o que quer e na hora que quer. E nós construímos… Primeiro, nós fizemos um fórum, o Fórum do Desenvolvimento Social, trazendo empresários trabalhadores, ou seja, que o fórum hoje está consagrado como um fórum que contribuiu muito com as políticas públicas que nós colocamos em prática. Os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como ganham no meu governo, nunca ganharam tanto dinheiro. Ou seja, se você pegar o histórico dessas empresas todas, você vai perceber que as empresas, sobretudo a construção civil, ou seja, esse setor, desde o final do governo Geisel estava praticamente sem obras públicas neste país. Difícil você lembrar uma grande obra pública feita no país nos últimos 25 anos. Ou seja, eles, hoje, estão ganhando dinheiro como nunca, porque tem obras como nunca, porque hoje está faltando pedreiro, está faltando maquinista, está faltando uma série de coisas, e é uma coisa importante. Está faltando, nós precisamos formar mais.
E, hoje, eu posso dizer para você que pode ter ainda empresário que desconfie, que não goste, porque aí é uma questão ideológica, às vezes pode ser uma questão de pele. Mas do ponto de vista das políticas feitas pelo governo, sinceramente, eu acho que os empresários nunca tiveram… Eu falo isso, eu sei que muita gente pode virar o nariz, mas os cientistas políticos vão ter que explicar por que é exatamente um operário metalúrgico que chega à Presidência e que mantém uma relação com os empresários que nenhum outro Presidente teve, mesmo quando era empresário. Eu ouço isso todo dia dos empresários.
Relação com a imprensa
Eu duvido, eu duvido que tenha alguém da imprensa no Brasil que possa dizer que houve algum momento de maior liberdade de imprensa do que o que nós estamos vivendo hoje. Neste país, todos vocês, jornalistas, sabem que vocês podem escrever o que vocês quiserem, publicar o que vocês quiserem, que não haverá a menor interferência do governo. No meu governo, a gente aprendeu que o juiz é o leitor, é o telespectador e é o ouvinte e, agora, o internauta, esse é o juiz.
Lição da internet
E a grande imprensa ainda não aprendeu a lição que, hoje, hoje, 68 milhões de brasileiros acessam a internet, onde a informação é mais rápida, mais ágil, e ela não aparece com gosto de pão velho, que é a imprensa tradicional. Aconteceu uma coisa hoje, nove horas da manhã, você vai comprar um jornal e ler amanhã, nove horas da manhã. Não, na internet, é “pão, pão; queijo, queijo”. Falou, está lá, no dia, na hora, todo mundo vendo, acompanhando, com uma vantagem, que eu acho que é importante, é a vantagem que é uma coisa interativa. Ou seja, o cidadão participa do processo, ele participa. Quer dizer, eu não sei onde nós vamos chegar, mas o dado concreto é que eu acho uma revolução, que acho que nenhum de nós tinha noção do que iria acontecer.
Informação em tempos de internet
Se dependesse de algumas capas de jornais, eu, nessas alturas do campeonato, teria zero, na pesquisa. Ibope: “Lula, zero”; “Ruim e péssimo, 90”. Seria assim, mas não é. Por quê? Porque o povo tem outros instrumentos de comunicação, outros e muitos. Eu tenho experiência com os meus filhos, em casa. O que eles navegam nessa internet o dia inteiro, o que eles dão de palpite, o que eles divergem, o que eles debatem em política é um negócio que jamais a gente viu neste país. É preciso apenas os donos dos meios de comunicação compreenderem que algo está mudando neste país e atentem para isso. Vocês já existem há dez anos, desde 2000, e vocês, muitas vezes, dão coisas na frente de tudo o que é meio de comunicação. Daqui a pouco a gente tem 100 milhões navegando; daqui a pouco a gente vai ter 120 milhões navegando.
Marco Regulatório de Comunicação
Nós obviamente que queremos a contribuição de todo mundo no debate que nós vamos fazer sobre o Marco Regulatório de Comunicação. Vocês sabem que não pode ficar do jeito que está, porque nós temos o Marco Regulatório de 1962, quando não tinha TV digital, quando não tinha TV a cabo, quando não tinha internet, quando não tinha nada. Então, nós não podemos continuar com o Marco Regulatório de 62, e queremos fazer discutindo com a sociedade. Não é uma coisa do governo. Nós queremos que a sociedade construa para ela algo que lhe dê segurança, sem censura, porque, de vez em quando, aparece um malandro querendo, em nome da moralidade, censurar a internet, e, pelo menos enquanto eu for Presidente, isso não vai acontecer.
Então, no Marco Regulatório é que a gente pode balizar uma coisa que dê garantia para vocês que trabalham, que dê garantia para o usuário e que dê garantia para a sociedade brasileira. Os velhos padrões da televisão vão ficar cada vez mais cansativos, os velhos padrões do jornal vão ter que se modernizar, as revistas semanais, que vivem um sufoco danado. Porque eu compreendo a dificuldade de fazer uma revista semanal. Antigamente você tinha um jornal que superava ela todo dia, a televisão e o rádio todo dia, mas, agora, você tem a internet, que supera a todo minuto. Quase tudo que você fizer ficou velho. Então, tudo isso é um processo que nós precisamos juntos…
Tem muita gente aí que entende muito disso. O que nós queremos é pegar a inteligência brasileira que conhece do assunto, para a gente tentar fazer uma coisa na dimensão do que o Brasil precisa.
A imagem que fica
Eu, sinceramente, não sei. Veja, eu, às vezes, vejo pessoas que são casadas há 30 anos, e se separam, e depois de 29 anos dizendo bem, a pessoa é lembrada pelo dia que errou, que provocou o desquite. Então, eu acho que tem muitas, muitas imagens para as pessoas lembrarem do governo Lula. Acho que… E cada um vai ter uma. É como se fosse uma fotografia pessoal, você vai ter uma imagem, você vai ter outra, o Nelson vai ter outra, você vai ter outra, cada um vai ter uma fotografia do governo Lula. O resultado que vai balizar o comportamento da sociedade, são os resultados finais do governo. E os resultados finais do governo, ele não termina em 2010, porque parte das coisas que nós fizemos começa a aparecer pelo IBGE de 2011 e 2012. Então, o tempo é que vai dar essa fotografia final do governo Lula. Eu te diria uma coisa, eu penso que nós mudamos a relação governo e sociedade; governo, Estado e sociedade.
Maior realização
Olha, é difícil. Se vocês me permitissem, eu diria para vocês o seguinte: a maior realização que eu tenho é poder terminar o meu governo tendo vencido todos os preconceitos que foram colocados como obstáculos para que eu chegasse à Presidência da República. Nunca, na vida, os empresários brasileiros ganharam tanto dinheiro de todos os segmentos. Nunca os trabalhadores fizeram tantos acordos com aumentos reais e, nunca, os pobres, tiveram tanta ascensão como tem agora. Está resolvido tudo? Não, apenas começamos. Vai algumas décadas para que a gente possa transformar este país em um país realmente justo. Daí porque o novo marco regulatório do pré-sal e daí porque criar o fundo para cuidar da educação, da pobreza, da ciência e tecnologia, da questão da cultura.
Então, eu acho que tem muitas coisas, tem muitas coisas que as pessoas vão lembrando. Quem sabe se a gente, um dia, conversar, seis meses depois que eu deixar a Presidência da República, quem sabe eu já tenha maturado, na minha cabeça, as coisas que você deu muita importância pelo que você fez e as coisas que você lamenta não ter feito.
Pior momento
Agora, do ponto de vista da política, política, o período do Mensalão foi o pior possível. Eu quero estar vivo para ver o desfecho de tudo isso. Porque tem coisa um pouco esquisita, que eu não consigo entender. Talvez a minha sabedoria não me permita entender. Mas o acusador do Mensalão, ele foi cassado por falta de prova. O texto da cassação dele, na Câmara dos Deputados, diz que o cidadão fulano de tal vai ser cassado por falta de decoro parlamentar, porque não provou as acusações que fez, e o processo continuou como se nada tivesse acontecido. Ou seja, se criou um clima político no Brasil, eu diria, muito temeroso e muito desconfortável. Eu, um dia, comecei a meditar e eu disse o seguinte: “Olha, o Getúlio Vargas foi muito forte entre 30 e 45, mas não aguentou quatro anos de democracia e se matou. O João Goulart… O Jânio Quadros, que era representante de um setor atrasado da política brasileira, foi eleito presidente da República e, com seis meses, puxou o carro. O João Goulart foi convidado… (incompreensível) não vou fazer isso, vão ter que me vencer é na rua. Então, porque, a partir daí, a partir daí, ou seja, quando você… Tinha um clima político muito… Ah, vamos ser francos, os setores mais conservadores no Congresso Nacional pensaram em chegar ao impeachment, pensaram. Não chegaram porque não tiveram coragem ou porque acharam que eu ia… que era o meu fim.
Eu não vou contar o santo, mas vou contar o milagre. Uma vez eu tive uma janta com um pessoal de imprensa. E conversa vai, conversa vem, eu estava muito otimista, estava falando coisa, falando coisa, tal. Quando eu saí, uma das pessoas que estava no jantar falou: “Puxa, o Presidente está bem. Eu achei que o Presidente estava abatido. O Presidente está muito otimista”. E aí um cidadão, influente naquele meio de comunicação: “É fingimento. Ele sabe que ele não vai ser candidato, ele não tem coragem de ser candidato e ele sabe que ele vai ser massacrado se ele for candidato”. Olha, se um cidadão desse ganhar bônus para dar informação para o seu chefe, ele vai levar o jornal à falência. Porque foi um momento de muitas verdades, de muitas mentiras, de muitas insinuações, de muitas… Bom, que tudo isso termina na Justiça. Tudo isso termina na Justiça, que é o bom da democracia, que é o bom da democracia. A gente só dá valor à democracia quando a gente está sendo atacado. Quando a gente está sendo atacado, como é bom ter justiça!
Então, você veja uma coisa: todo regime autoritário começa assim. Todo. O regime militar não sabe esperar, não sabe esperar apuração, a Justiça. Pego você, Tales e desapareço com você. Está feita a justiça, acabou, ninguém vai saber.
Cabeça de eleitor
A cabeça do povo é um cofre de informações, que está à espera de coisas para ele captar, para guardar ou para jogar fora imediatamente. Então, muitas vezes, a gente pensa que um discurso nosso abafou. Sabe aquele negócio: “Eu me amo”? Você faz um discurso e você fala: “Ah, foi…”. Tem gente que fala assim: “Eu arrasei”. Aí, quando você coloca aquele discurso em uma qualitativa, às vezes, de dez pessoas que estão no grupo, nove jogam fora o discurso. Quando você faz campanha e você acompanha… Por exemplo, você vai para um debate na televisão e você acompanha em tempo real os debates… No debate que eu fiz com o Alckmin, em 2006, em que ele estava muito agressivo, naquele… Aquele da Bandeirantes. Eu recebia, a cada intervalo, a informação: quanto mais agressivo o Alckmin ficava, mais ponto ele perdia. Ele não se deu conta que ele estava diante, não de um adversário, ele não se deu conta que ele estava diante do presidente da República. E, para o povo, você respeitar a instituição tem um valor importante. E ele não se deu conta disso.
Na hora do debate, nós tínhamos 12 grupos reunidos, em vários lugares do país. Então, qual foi o grande erro do Alckmin? Ele se deixou seduzir pelos aplausos de meia dúzia de pessoas dele, que estavam na frente dele. E eu aprendi que, quando você está falando para a televisão, não é a pessoa que está do seu lado que importa, é o cidadão que está sentado em um sofá, um aposentado, um adolescente, uma senhora que acabou de brigar com o marido ou uma menina que acabou de receber um telefonema do namorado, convidando ela para casar. Você está falando para milhões, mas individualmente, e isso a gente vai aprendendo.
Pesquisas
Hoje em dia, esse negócio de a gente falar que não acredita em pesquisa é só quando a gente está por baixo. Em 82, eu era candidato a governador, o Estadão publica uma pesquisa, faltando acho que uns três ou quatro dias para as eleições: “Montoro, não sei quanto; Reynaldo de Barros, não sei quanto; Jânio, não sei quanto; Lula, 10%”. Eu tinha feito um comício no Pacaembu, que eu saí de lá com a convicção que eu ia ganhar as eleições. E aí você já fala: “Porque essa imprensa burguesa, porque essa imprensa e tal”. Bom, o dado concreto é que, depois das eleições, eu tive exatamente os 10% da pesquisa (risos). A partir dali eu comecei a acreditar em um certo critério científico e em uma certa… Muita importância para a pesquisa. Hoje eu acredito muito em pesquisa, dou muita importância. Obviamente que ela pode ser mudada.
Lições da derrota
Eu aprendi com muita derrota, aprendi com muita derrota e com muita humildade. Por exemplo, eu lembro que, na campanha de 2002, tinha uma pesquisa que dizia o seguinte: “O povo quer reforma agrária pacífica e tranquila”. E eu tinha sido educado durante 30 anos para fazer um discurso: “Reforma Agrária ampla e radical sob o controle dos trabalhadores”. Eu levei mais de cinco dias para a minha boca conseguir dizer: “Reforma Agrária tranquila”. E aí, quando você faz essas coisas, você percebe que nem sempre a tua verdade é absoluta, que é sempre bom você ouvir as pessoas. De dez conselhos que você ouve, um pode ser bom para você, dois podem ser bom, pode te ajudar.
Comportamento de ex-presidente
É fechando a boca e deixando quem foi eleito governar. Quem governou teve a sua chance, fez o que tinha que fazer, dá palpite se pedido, se for para ajudar, para atrapalhar, nunca. E tem que deixar quem foi eleito governar. Até o direito de errar, quem é eleito, tem o direito de errar até para
aprender com seus erros. Quem é eleito presidente da República não precisa de tutor, a pessoa tem que navegar e aprender.
(…) Então, quando essa ficha cair, aí eu estou preparado para tocar a vida para frente. Eu não quero nem tomar decisão, eu não quero nem tomar decisão do que fazer antes de alguns meses, porque eu não quero ficar tomando decisão errada. Então, eu tenho que maturar. Maturar, calejar, para, depois, tomar decisão.
Bom humor
Hoje eu acredito em coisas que eu não acreditava, eu sou um homem… Eu só tenho motivo para ter alegria. Eu, todo santo dia, agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo, porque eu pude provar coisas que pareciam ser impossíveis de serem provadas em um mandato. Eu pude conhecer outros governantes que a gente vendo daqui… Porque nós, brasileiros, sempre nos víamos como inferiores, era quase natural, da herança colonial que nós recebemos, que tudo o que acontecesse nos States era melhor do que nós, tudo que acontecesse na França era melhor do que nós, tudo que acontecesse na Alemanha. De repente, a gente começa a conviver com esses dirigentes, começa a conviver com os problemas, e a gente percebe que, na política, nós somos mais nós, que você tem questões importantes para serem feitas em cada país, a soberania de cada país, o respeito de cada país, e que a gente não pode abdicar disso.
Então, eu sou uma pessoa, hoje, muito, muito, muito, muito feliz, muito… Sairei da Presidência pela porta da frente, com a consciência tranquila de que eu fiz muito, mas, ao mesmo tempo, com a consciência tranquila de que esse muito que nós fizemos apenas descobriu que nós temos muito mais para fazer, que é a coisa extraordinária da democracia. Ou seja, quanto mais a sociedade conquista, mais ela quer; quanto mais conquista, mais ela quer. É quase uma criança na fase de pré-adolescente, pode pôr quantos pratos quiser que ele tritura e não tem azia, não tem dor de estômago, não tem nada. Então, a sociedade, ela está ávida por conquista, muito, mas muito, muito, muito, muito. Então, ela aprendeu a conquistar. Eu acho que isso é muito bom para o Brasil e todo mundo vai aprender.
A coisa boa do capitalismo
Eu trabalhei em linha de produção, e, na linha de produção, às vezes, dois companheiros, parceiros, um de noite e um de dia, faz a mesma peça, e, quando você chega para trabalhar de noite, você fica doido para contar as peças do teu parceiro que trabalhou de dia, que é o adversário, porque você não pode produzir menos do que ele. Então, a primeira coisa que você começa a fazer é ir lá, onde estão as peças, contar quantas peças fez… “Ah, ele fez 18; então, vou ter que fazer 19”. Essa é a coisa boa do capitalismo, é que ele impulsiona a competitividade entre os seres humanos, que não se dão conta que cada dia vão produzindo um pouco a mais e o salário continua o mesmo. Então, essa coisa, essa coisa, para mim, é extraordinária: a sociedade pressionar para que quem vier depois de mim… tem que fazer mais, porque tem que fazer mais, porque nós já aprendemos a fazer mais, está provado que é possível, e aí, se todo mundo fizer um pouco mais, o Brasil vai, no século 21, tirar todo o atraso que ele teve no século 19 e no século 20. Veja, se a gente tiver mais um presidente que faça mais 14 universidades, outro fizer mais veja, Olhe, precisamos nós consolidar 14, outro fizer mais 200 escolas técnicas, outro fizer mais 1,6 mil creches, aí, daqui a dez, 15 anos, nós vamos ter um país, do ponto de vista da Educação, comparado a um país de primeiro mundo.

Contra a baixaria na mídia. Contra o golpismo midiático. A favor da democracia

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na “presunção da culpa”, numa afronta à Constituição que fixa a “presunção da inocência”.
Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.
Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.
A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.
Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – já mostraram seu desapreço pela democracia.
É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão – com apoio do movimento de blogueiros progressistas – um ato em defesa da democracia.
Participe! Vamos dar um basta às baixarias da direita!
Abaixo o golpismo midiático!
Viva a democracia!

Data: 23 de setembro, 19 horas
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo -
Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista.
Presenças: dirigentes do PT, PCdoB, PSB, PDT, de representantes da CUT, FS, CTB, CGTB, MST e UNE e de blogueiros progressistas.