sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"CFJ não tem nada a ver com censura e os traumas da ditadura", diz diretor da FENAJ

Eduardo Neco/Redação Portal IMPRENSA

No ano de 2009, a categoria dos jornalistas se prepara para enfrentar questões delicadas como a luta pela obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, bem como a discussão da necessidade de um Conselho de Imprensa que divide os profissionais do setor. Uns veem a iniciativa como necessária. Outros, associam qualquer tipo de controle aos órgãos de imprensa com os anos de chumbo da ditadura. José Carlos Torves, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), discute estas questões e os caminhos do jornalismo brasileiro no ano de 2009. O diretor fala, ainda, das metas da instituição, reforma sindical e a elaboração de uma nova Lei de Imprensa.

Portal IMPRENSA - Quais as principais pautas de reivindicação da FENAJ para o ano de 2009?
José Carlos Torves -As principais pautas, continuam sendo a defesa do diploma para o exercício da profissão; a campanha pela Realização da Conferência Nacional de Comunicação; Conselho Federal dos Jornalistas (CFJ); uma Nova Lei de Imprensa; a revisão e fiscalização da qualidade do ensino do Jornalismo, através da Comissão instalada pelo MEC sob a coordenação do Prof. Marques de Melo; Luta contra a Precarização do trabalho do Jornalista; melhores salários e piso nacional para a categoria. Campanha contra o Assédio Moral dentro das redações e acompanhamento das transformações no trabalho dos jornalistas com as novas tecnologias e implantação do sistema digital de rádio no Brasil.

Portal IMPRENSA - A instituição acredita que a luta pela obrigatoriedade do diploma ainda se arraste por muito tempo?
Torves - Acreditamos que essa decisão deverá acontecer no primeiro semestre de 2009.

IMPRENSA - Um conselho é viável num país tão traumatizado pela censura e pela ditadura?
Torves - Acreditamos na viabilidade do Conselho Federal dos Jornalistas, que não tem absolutamente nada a ver com censura e os traumas da ditadura. Isto foi uma falácia da grande mídia que enganou a sociedade brasileira. O Conselho tem por objetivo regular e fiscalizar a profissão a exemplo do que ocorre com centenas de outras categorias. Não queremos continuar sendo tutelados pelo Estado. O Conselho também terá a função de fiscalizar a ética no exercício da profissão, como ocorre com a OAB em relação aos advogados e com os Médicos pelo Conselho Nacional de Medicina e tantas outras categorias. Em 2008, tivemos a exemplo de anos anteriores, um clamor da sociedade contra situações que revoltaram a todos, apenas um exemplo para corroborar
essa demanda foi o "caso Eloá".

IMPRENSA - Como a FENAJ se posiciona em relação a uma nova Lei de imprensa? Quais pontos devem ser abordados nela?
Torves - Entendemos que a atual Lei de Imprensa editada no período da ditadura não corresponde mais a realidade brasileira, no entanto lutamos por uma nova lei de imprensa. Não concordamos com a posição de que melhor é lei nenhuma, como o que temos na comunicação, com leis arcaicas, com mais de 50 anos e vários artigos da constituição que até hoje não foram regulamentados. Há um projeto de uma nova lei de imprensa, do ex-deputado Vilmar Rocha, que dorme no Congresso há mais de dez anos e não caminhou por pressão dos empresários da comunicação.

IMPRENSA - Na sua opinião, a reforma sindical tende a fortalecer ou enfraquecer os sindicatos de Jornalistas?
Torves - Primeiramente, nos termos que esta posta uma reforma seria prejudicial. Os ajustes a que me refiro seria um período de carência para o fim do imposto sindical para que as entidades não quebrem e no projeto de lei ficasse bem claro de que forma seria o sustento das entidades, que tipo de taxa, forma de aprovação, imagino que seja assembléia da categoria, também deveria ficar claro se todos deveriam contribuir ou seria apenas os sócios do sindicato e se também apenas os sócios ou todos teriam direito as conquistas conseguidas pelo sindicato. De que forma se daria a independência dos sindicatos, hoje tutelada pelo Estado. A possibilidade de sindicatos se formarem por ramo, substituindo o modelo atual que é por categoria e por último estabelecer com clareza se sendo por ramo apenas um sindicato representa determinada base ou se pode se fragmentar chegando até a sindicatos por empresa. Enfim, são questões que ainda necessitam de debate e clareza. O fim do imposto sindical é apenas a ponta do iceberg. Nós somos pelo fim do imposto sindical, mas a categoria tem que ter a liberdade de escolher outra forma de sustentação do sindicato.

A miopia ideológica da imprensa

Luciano Martins Costa

O leitor de jornais vai precisar de muito mais do que informações para entender o noticiário de hoje sobre o pacote do governo americano contra a crise.

A primeira impressão que se tem, ao ler as manchetes dos principais diários, e não apenas os brasileiros, é de que o presidente Barack Obama já perdeu sua batalha pela recuperação econômica.

Observe-se, por exemplo, as manchetes da Folha de S.Paulo, "Bolsa reage mal a plano de Obama para bancos" e do Estado de S.Paulo, "Plano de Obama para resgate de bancos desanima mercados".

O Globo foi mais contido: "Vitorioso no Senado, Obama dá mais US$ 2 trilhões a bancos", diz a manchete.

O Estado e a Folha, refletindo o pessimismo de publicações internacionais predominantemente voltadas para o mundo financeiro, como o Financial Times, olham apenas a reação do mercado de ações.

O mesmo comportamento pode ser observado em nove entre dez colunistas estrelados do jornalismo nacional.

Bastaria prestar atenção a uma frase de Obama para deixar em segundo plano a reação do mercado e prestar atenção na economia real.

O que disse Obama? – "Acho que Wall Street ainda está na esperança de uma saída fácil, e não haverá saída fácil", foi o que declarou o novo presidente americano.

Para construir uma manchete de primeira página, é preciso observar o retrato inteiro daquilo que está sendo apresentado pelo noticiário.

E nossos jornais, com exceção do Globo, viram apenas o efeito do pacote de Obama no mercado de ações.

Ora, se o mercado de ações, transformado em cassino, é o ninho onde o ovo da crise foi aquecido, fica difícil entender por que grande parte da imprensa ainda lhe concede tamanha relevância.

A própria natureza da crise, apontando para os fatos de que as empresas não conseguem mais se financiar nas bolsas, e que o sistema de crédito, esgotado pelas perdas com a especulação, precisa da ajuda do Tesouro, deveria induzir os editores a prestar atenção aos outros atores do teatro econômico, para os quais é dirigida a maior parte das medidas definidas ontem pelo governo dos Estados Unidos.

Mas a maioria dos editores e os mais reluzentes colunistas só enxergam Wall Street e, no Brasil, a Bovespa.

Já não se trata mais de escolhas equivocadas.

É um caso grave de miopia ideológica.

Quem paga para ler?

Analistas se debruçam sobre a crise que afeta os jornais impressos nos últimos anos.

Entre outras coisas, discute-se a cobrança pelo acesso a conteúdo jornalístico na internet.

Mas por trás de tudo está a qualidade do conteúdo oferecido.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

- A crise dos jornais impressos ainda não tem hora para terminar, mas já começam a se esboçar reações mais estruturadas para enfrentar o rojão. Se no Brasil ainda há alguma demanda reprimida, que faz o sucesso dos jornais populares de baixo preço, nos Estados Unidos a situação é dramática, para dizer o mínimo.

Um estudo da consultoria Deloitte prevê que o faturamento obtido em 2009 com os anúncios classificados – uma histórica e até então mais que segura fonte de receita dos jornais – deve cair 30% em relação ao ano passado, em termos mundiais. Esta tendência levará, muito em breve, à extinção desse tipo de publicidade no suporte impresso. Por que pagar por pequeno anúncio se ele pode ser veiculado gratuitamente na internet?

Na outra ponta, os grandes jornais começam a reavaliar a estratégia de oferecer conteúdo gratuito na rede. Segundo analistas como Walter Isaacson, ex-diretor de redação da revista Time, isso fazia sentido no começo da internet. Agora, com a crise, não mais. Os americanos, por exemplo – e sobretudo os jovens –, estão lendo cada vez mais notícias na web em detrimento da plataforma impressa. "Quem pode culpá-los?", pergunta Isaacson, conforme anotou a edição de ontem do jornal O Globo. Ele continua: "Até um velho viciado em jornais como eu deixou de assinar o New York Times, porque, se este não acha adequado cobrar por seu conteúdo, eu me sentiria um tolo pagando por ele". De fato, faz sentido.