terça-feira, 24 de junho de 2008

Beira-Rio: as obras que eu quero


Falam que as obras da popular e da cobertura do Beira-Rio começarão em breve. Prefiro deixá-las para depois.

A obra que eu quero tem que ser construída no miolo da defesa do meu Inter. Ela precisa de um muro intransponível onde os atacantes rivais sejam barrados a cada investida.

A obra que eu quero não pode ter uma cerquinha de madeira, derrubada a cada bola alçada para nossa área.

A obra que eu quero deve ter um corredor de concreto no meio de campo, capaz de impedir o avanço de jogadores de qualidade discutível.

A obra que eu quero precisa de cobertura para suprir os avanços tresloucados de nossos laterais em direção ao ataque.

A obra que eu quero precisa de uma ligação firme entre o meio de campo e o ataque, sem a qual não teremos gols para comemorar.

A obra que eu quero necessita de uma ponte aérea entre e Europa e Porto Alegre, capaz de trazer para jogadores como Fabiano Eller, Tinga, Daniel Carvalho e Sobis, entre outros.

Depois de erguidas estas obras, podem começar a derrubar o fosso que separa a coréia do campo e erguer as estruturas de cobertura de nosso estádio.

Pauta Rural: Imprensa, o coronel e o Jeca Tatu

Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa


O olhar continuado e observador sobre a imprensa brasileira permite destacar alguns temas recorrentes em praticamente todas as mídias que tratam da economia: a inflação, quase sempre associada à escalada de preços dos alimentos e de outros produtos básicos; a questão dos combustíveis, que envolve a permanência do preço do petróleo em patamares superiores a 130 dólares o barril e coloca sobre a mesa a questão da bioenergia; e, como pano de fundo, o desafio da preservação do patrimônio ambiental. Paralelamente, o noticiário sobre o mundo rural apresenta eventualmente a sobrevivência de práticas inaceitáveis na relação entre capital e trabalho.

Teoricamente, esse noticiário deveria oferecer ao público essencialmente urbano dos jornais e revistas uma visão ampla da economia brasileira e de sua extrema dependência das atividades rurais. Afinal, quando se fala de alimentos ou de combustíveis, está-se tratando de questões que afetam diretamente a qualidade de vida nas cidades, onde a grande densidade populacional também representa a concentração maior de opiniões, os maiores mercados e a grande fonte de poder político.

No entanto, por sua dificuldade de apresentar uma visão abrangente, sistêmica e interconectada desses temas, a imprensa não consegue mostrar a seus leitores a relevância do mundo dos agronegócios, ao quais eles se relacionam. Assim, o leitor fica privado de entender a natureza de questões que afetam diretamente sua vida, continua distanciado da realidade no campo e se mantém desinformado para formar opinião a respeito de políticas públicas que podem definir o futuro do Brasil.

Questões sonegadas

A dificuldade para interligar essas questões e colocar as notícias num contexto que interesse mais o leitor – ou que o faça avaliar corretamente esses fatos – deriva em parte da falta de especialistas nas redações, mas há muitas indicações de que a verdadeira causa dessa falha é pura falta de interesse ou preconceito. Jornais como a Folha de S.Paulo ou o Estado de S.Paulo – este com grande tradição na cobertura rural – não deveriam descuidar desse elemento essencial ao entendimento de como funciona o Brasil. Afinal, a economia paulista depende em grande parte da força do campo.

A alegação de que o leitor urbano tem pouco interesse nos fatos da zona rural, presente nos debates sobre gestão das empresas de comunicação, não sobrevive à constatação de que todos os temas da pauta rural apresentados pela imprensa afetam diretamente a vida nas cidades. Desde a questão da produção e da produtividade agrícola até a oferta de alternativas para o petróleo, tudo o que se noticia sobre o campo deveria interessar o leitor das grandes cidades. Tudo isso é agronegócio.

Também está relacionada ao agronegócio a questão ambiental, que afeta o clima global e, portanto, interessa a todos. O problema do trabalho infantil nas carvoarias, o trabalho escravo na pecuária extensiva da Região Norte, as jornadas em condições desumanas no corte da cana, tudo isso representa estados de tensão que acabam empurrando levas de retirantes da zona rural para as cidades. Isso tem tudo a ver com o leitor de jornais.

Se praticamente todas as notícias da zona rural vão afetar de alguma forma a qualidade de vida dos moradores das cidades, leitores de jornais e revistas, por que razão a imprensa persiste no equívoco de mostrar os problemas do campo como questões alienadas da problemática econômica, política e social?

Olhar desorientado

Segundo alguns observadores, a imprensa brasileira ainda se orienta pela visão oferecida nos anos 1950 e 60 pelos pesquisadores da Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe –, segundo a qual a ação das oligarquias rurais em todas as expressões de poder no campo seria o principal obstáculo ao desenvolvimento dos países do continente. Se isso ainda pode ser constatado em algumas regiões, em especial nas fronteiras agrícolas onde o Estado é refém de aventureiros, há muito tempo deixou de ser um bom retrato da realidade no campo.

Essa interpretação alimentou a figura do Jeca Tatu como estereótipo do lavrador, que persiste até hoje, e pinta um cenário no qual o homem do campo oscila entre o papel de vítima do capitalismo rural e o de elemento subversivo que invade e depreda propriedades produtivas. Da mesma forma, essa visão fragmentada deixa espaço para a idéia de que a defesa do patrimônio ambiental corresponde a uma atitude contrária ao desenvolvimento econômico.

O pensamento da Cepal evoluiu a partir dos anos 1980, como se pode constatar com a leitura da coletânea Cinquenta anos de pensamento na Cepal, organizada por Ricardo Bielschowski e publicada pela Editora Record. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vocalizou essa nova perspectiva, há mais de dez anos, quando sugeriu que seus críticos esquecessem o que havia escrito. Se o texto Dependência e Desenvolvimento na América Latina, que ele publicou em 1969 em parceria com o sociólogo chileno Enzo Faletto, parece antiquado na economia globalizada, o olhar da imprensa sobre o mundo rural parece mais do que desorientado. Parece que a imprensa não sabe e não quer saber.