quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Participe do congresso ambiental

Não esqueça que o 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental está chegando.
Vai de 10 a 12 de outubro em Porto Alegre.
Confirme tua presença.

Valeu, Marta & Cia. O que vier agora é lucro

Tive o privilégio de ver a seleção brasileira feminina de futebol hoje pela manhã. Escrevo só agora porque o dia foi corrido, mas pude constatar que muito mais gente está maravilhada com a mistura de talento e força demonstrada pelas nossas atletas. O Brasil goleou os EUA por 4 a 0, exibindo um futebol de encher os olhos, com direito a dois golaços de Marta - especialmente o último. Com justiça, é a maior jogadora do Mundo. Na foto da Reuters ao lado, ela vibra depois de um dos gols.
Para mim, basta. O que vier na final da Copa do Mundo com a Alemanha às 8h da "madrugada" de domingo, na China, será lucro. Afinal, as jogadas do Brasil já estão sendo mostradas em todo o mundo e nossas representantes chegaram onde nunca tinham ido. O bom desta partida foi ver a habilidade de nossas atletas diante do burocrático futebol norte-americano. Foi uma resposta ao técnico deles, que acusara a violência do Brasil. O troco foi um show de bola. E legal que tenha sido contra um time com um currículo de causar inveja: desde 2004, não teve nenhum revés em 49 jogos.
Avante Marta, Cristiane, Formiga, Andréia e Pretinha, entre outras. Tomara que, agora, os jornais dêem mais destaque do que vinham oferecendo à campanha brasileira: rodapés e cantos de páginas. Afinal, as gurias merecem mais espaço que muitos times de machos que disputam o atual Brasileirão.

O caminho para Samarra

Maravilhoso, como sempre, este texto do Leonardo Boff, teólogo e professor emérito de ética da UERJ, publicado originalmente no site Correio da Cidadania. Vale a pena ler até o final.

Um soldado da antiga Bassora, na Mesopotânia, cheio de medo, foi ao rei e lhe disse: "Meu Senhor, salva-me, ajuda-me a fugir daqui; estava na praça do mercado e encontrei a Morte vestida toda de preto que me mirou com um olhar mortal; empresta-me seu cavalo real para que possa correr depressa para Samarra que fica longe daqui; temo por minha vida se ficar na cidade". O rei fez-lhe a vontade. Mais tarde o rei encontrou a Morte na rua e lhe disse: " O meu soldado estava apavorado; contou-me que te encontrou e que tu o olhavas de forma estranhíssima". "Oh não", respondeu a Morte, "o meu olhar era apenas de estupefação, pois me perguntava como esse homem iria chegar a Samarra que fica tão longe daqui, porque o esperava esta noite lá".

Essa estória é uma parábola da aceleração do crescimento feito à custa da devastação da natureza e da exclusão das grandes maiorias. Ele nos está levando para Samarra. Em outras palavras: temos pouquíssimo tempo à disposição para entender o caos no sistema-Terra e tomar as medidas necessárias antes que ela desencadeie conseqüências irreversíveis. Já sabemos que não podemos mais evitar o aquecimento global, apenas impedir que seja catastrófico. No âmbito dos governos, não se está fazendo nada de realmente significativo que responda à gravidade do desafio. Muitos crêem na capacidade mágica da tecno-ciência: no momento decisivo ela seria capaz de sustar os efeitos destrutivos. Mas a coisa não é bem assim. Há danos que uma vez ocorridos produzem um efeito-avalanche.

A natureza no campo físico-químico e mesmo as doenças humanas nos servem de exemplo. Uma vez desencadeada, não se pode mais bloquear uma explosão nuclear. Rompidos os diques de Nova Orleans nos USA, não é mais possível frear a invasão do mar. Na maioria das doenças humanas ocorre a mesma lógica. O abuso de álcool e de fumo, o excesso na alimentação e a vida sedentária começam a princípio produzindo efeitos sem maior significação. Mas o organismo lentamente vai acumulando modificações, primeiramente funcionais, depois orgânicas e, por fim, atingindo certo patamar, surge uma doença não mais reversível.

É o que está ocorrendo com a Terra. A "colônia" humana em relação ao organismo-Terra está se comportando como um grupo de células que, num dado momento, começa a se replicar caoticamente, a invadir os tecidos circundantes, a produzir substâncias tóxicas que acaba por envenenar todo o organismo. Nós fizemos isso, ocupando 83% do planeta.


O sistema econômico e produtivo se desenvolveu já há três séculos sem tomar em conta sua compatibilidade com o sistema ecológico. Hoje nos damos conta de que ecologia e modo industrialista de produção que implica o saque desertificante da natureza são contraditórios. Ou mudamos ou chegaremos à Samarra, onde nos espera algo sinistro.

A Terra como um todo é a fronteira. Ela coloca em crise os atuais modos de produção que sacrificam o capital natural e as formações sociais construídas sobre o consumismo, o desperdício, o mau trato dos rejeitos e a exclusão social. Três problemas básicos nos afligem: a alimentação que inclui a água potável, as fontes de energia e a superpopulação. Para cada um destes problemas não temos soluções globais à vista. E o tempo do relógio corrre contra nós. Agora é o momento de crise coletiva que nos obriga a pensar, a madurar e a tomar decisões de vida ou de morte.