quinta-feira, 29 de maio de 2008

O que é notícia?

Parece que muita gente do meio jornalístico que ainda não aprendeu a velha e surrada lição dos tempos de faculdade: na relação entre o homem e o cachorro, só é motivo de divulgação se o primeiro morder o segundo. Ou seja, merece manchete quando o dono, acometivo de fúria, avançar sobre o animal e lhe desferir umas mordidas. O contrário é corriqueiro. Pois vejam o caso de Abel Braga, treinador do Internacional, após três derrotas consecutivas do time. Na ausência de uma notícia mais forte no Beira-Rio, a tristeza, o mau-humor e a insônia do técnico são sintomas que estão merecendo destaque em jornais, televisões e internet. Entendo que tanta badalação deveria ocorrer se o comandante colorado confessasse estar alegre, exultante e dormisse oito horas por noite, sem qualquer pesadelo. Trata-se de um típico caso de inversão da notícia!

1968 não interessa à mídia de hoje. E aos jornalistas também

O portal Observatório da Imprensa colocou uma enquete na sua página da Internet perguntando se a mídia está sabendo explicar os acontecimentos políticos de maio de 1968. O resultado parcial não me surpreende por duas razões já conhecidas no meio jornalístico:
1. Falta memória nas redações. Com a juvenilização cada vez forte, jornalistas com idades entre 20 e 30 anos não tinham nascido e nem têm interesse em ler publicações a respeito. O dia-a-dia atual lhes toma todo o tempo.
2. Se antes a direita acusava a politização das redações - que seria de esquerda na totalidade -, hoje está acontecendo o inverso. Falta politização (não confundir com militância em partido político) e, por isso, impera o superficialismo na mídia. Tratar o que aconteceu em 1968 implicaria em aprofundar o debate sobre a reação da juventude no período de uma ditadura sanguinária.
Portanto, o resultado da pesquisa abaixo até ao meio-dia de quinta-feira, 29 de maio, é o retrato do que ocorre nas redações de hoje.


Resultado

A mídia tem conseguido explicar o que ocorreu em maio de 1968, quarenta anos depois?

1. Sim 10% 30 votos

2. Não 90% 257 votos

Total: 287 votos

Ser jornalista

Tenho recebido inúmeros questionamentos de pessoas que querem fazer Jornalismo ou estão no início do curso. Os jovens têm dúvida, e entendo que a melhor lição que devemos passá-los é mostrar como é a vida do jornalista na hora em que está numa redação de jornal, na televisão, no rádio, numa assessoria de imprensa e, mais recentemente, na web. Recebi três perguntas de uma curiosa estudante e enviei as seguintes respostas. Se servir para outros jovens que acessarem este blog, estarei recompensado. Aceito também contribuições, acréscimo e contestações...

Para você o que é ser jornalista?

Ser jornalista é gostar das histórias do mundo e ter a oportunidade de transmiti-las pelos meios de comunicação. Jornalista é um dom que adquirimos em um momento de nossa vida, cabendo a nós cultivando-lo com retidão, ética e imparcialidade. Não vejo outra forma de praticarmos o Jornalismo sem paixão, dedicação e o coração pulsando. Sou repórter durante toda a minha carreira e acho esta função a mais nobre da profissão. Nesta condição, tive a oportunidade de visitar pessoas desconhecidas em lugares desconhecidos e, de um dia para o outro, a história delas e de suas atividades estavam na página do jornal.

O que te motivou a escolher esta profissão?

Gostava de ler e escrever muito, mesmo que a condição financeira de minha família não me permitisse comprar livros, jornais e revistas. Fui atrás deles. Queria ser jornalista esportivo porque eu adorava ouvir as narrações e coberturas de futebol pelo rádio. Formado, fui trabalhar em jornal e, em raras ocasiões, fiz matérias esportivas. Meu caminho se direcionou para a editoria de economia e não me arrependo de tê-lo seguido. Detalhe: não pense em ficar rico com a profissão. Este é um privilégio de poucos. O segredo é dedicar-se e fazer o melhor que se gosta para conquistar avanços em seu local de trabalho.


Dá para conciliar numa boa a corridíssima vida de jornalista com a vida pessoal?

Quem decide ser jornalista deve preparar-se para ter uma vida diferente da que é desfrutada por outros profissionais. O jornalista tem que estar disponível 24 horas porque, a qualquer momento, pode ser chamado para fazer cobertura de um fato importante. Normalmente, as pessoas falam dos bons momentos que é chegar cedo em casa ou passar em um barzinho para relaxar da labuta diária. Pois é neste momento que a maioria dos jornalistas está trabalhando duro: ou na entrega das matérias, ou na edição delas. O "baixamento" - jargão das redações - de boa parte dos jornais vai até a meia-noite. Mais: não pense em domingos e feriados. Os jornais circulam todos os dias, e o trabalho também. É claro que existem escalas e o jornalista terá folga em algum fim de semana. Por isso, quem convive com um jornalista (marido, mulher, pais e filhos) deve estar preparado para esta rotina.

Quem está em grande enrascada: a Igreja, a Ciência ou a Humanidade?

Importante a artigo deste bispo mineiro a respeito do emprego das células-tronco. Quem ler, saberá que a Igreja não tem uma posição tão consensual como parecia.

A Igreja numa grande enrascada

Dom Paulo Francisco Machado

Bispo Diocesano de Uberlândia

Continuamente a Igreja vem sendo questionada acerca do emprego das células-tronco nas pesquisas científicas para descobertas de curas e terapias de alguns graves problemas de saúde que afligem a humanidade, como: diabetes, doenças neurodegenerativas, hematológicas, renais, acidentes vasculares do coração e do cérebro, traumas na medula espinhal. O grande mérito de tais estudos é a possibilidade de livrar-nos de uma série de doenças relacionadas aos tecidos ósseos, nervoso, muscular, sanguíneos. As tão famosas células são encontradas no cordão umbilical, na placenta, na medula óssea, etc.

É claro que a possibilidade de tais conquistas, anunciadas entusiasticamente pelos meios de comunicação de massa, enchem de esperança tantas pessoas acometidas por tais males. E, é claro que a Igreja não pode de modo algum deixar de se regozijar com tão importantes conquistas da humanidade, uma vez que ela é anunciadora do Evangelho da Vida: "Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida... Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham abundantemente". Diante disso não podemos ter outro caminho que acolher a proposta do Senhor, escolhendo a vida ("Escolhe, pois a vida").

Dito isto, cabe-nos esclarecer que as células-tronco podem ser extraídas de células adultas, encontradas no sangue, no cordão umbilical, na medula óssea ou, de células embrionárias que parecem ter alto poder de diferenciação na formação de células de outros tecidos do nosso organismo. As pesquisas e aplicações das células adultas não ferem a moral, portanto merecem todo louvor os cientistas que, respeitando o valor da vida, atuam nesse campo. Já o uso de células embrionárias para pesquisas contraria a moral, porquanto, até a presente data, é necessário destruir, matar o embrião para sua aquisição.

Na verdade não há o suposto conflito entre a Igreja e a Ciência: esse se encontra entre a Ciência e a Moral. Acontece que a Ciência, junto com a sua homenageada irmã siamesa, a Tecnologia, não tem autoridade no campo Moral. A Ciência e a Tecnologia produziram as armas – pense, por exemplo, no famoso punhal de Toledo ou na bomba H – mas é a Moral que, delimitando as fronteiras do verdadeiro bem, vai nos apontar o que devemos fazer. A ela compete delimitar o campo de pesquisa de uma Ciência, dizendo-nos se essa corresponde ao bem da humanidade. Há muitos anos guardo um texto de um cientista alemão naturalizado americano, Werner von Braun, que insiste, para a sobrevivência da humanidade, na necessidade de nos atermos aos princípios Morais, Éticos. Dizia-nos: "Hoje, mais do que nunca, a sobrevivência – a sua, a minha, a dos nossos filhos – depende de nossa adesão aos princípios Éticos. Só a Ética decidirá se a energia atômica vai ser uma bênção ou a origem da destruição total da Humanidade". Continuando o pensamento desse grande cientista, tecnólogo e sábio posso dizer que a Ética já tem uma resposta quanto ao uso das células embrionárias: "Não se pode matar um embrião, destruir uma vida humana que vem se desenvolvendo, para se produzir órgãos "sobressalentes" para curar, ou mesmo, salvar um adulto". Se o primitivo antropófago se alimentava da carne dos seus inimigos com a expectativa de reter sua força, os novos antropófagos estão na ânsia de comer o fígado, cérebro, pâncreas, coração de seus irmãos para conservar suas vidas.

Não se pode interromper o misterioso processo, a audaciosa e grande aventura de prosseguir o caminho já iniciado da vida humana. O embrião não é um cristal, um tumor, não é algo, é alguém que deu a partida para o mais fantástico grande prêmio, tem amplas possibilidades de subir ao pódio do parto e, assim celebrar mais uma vitória da vida. Afinal de contas o embrião humano não é a célula mater de uma barata ou de um orangotango, pois tem a estrutura genética própria dos humanos. É, sem dúvida, um organismo imaturo, mas tem em si as potencialidades de prosseguir a sua aventura vital e, assim, um dia poderá pronunciar as mais queridas palavras forjadas na nossa linguagem: "papai...mamãe ... eu te amo...". Logo no seu início distingue-se da célula paterna e materna: é alguém único no mundo.

Talvez tenha que advertir que o desprezo da Ética e da Moral terá efeitos desastrosos para o futuro humano. Se incentivarmos a "Cultura da Morte" e, hoje, não defendermos o "Evangelho da Vida", não faltará quem irá propor uma injusta lei de eliminação de todos quantos são pesados para o erário público, que tornam os impostos tão altos.

Deixo ao caro leitor as questões para reflexão:

1. Um ser humano, no início de sua vida, de sua existência é ou não sujeito de direitos, inclusive do fundamental direito a prosseguir na sua admirável aventura de mostrar o seu rosto e fazer sua peregrinação vital, como todos nós neste mundo?

2. Quando se inicia para alguém o direito de existir?

3. A quem compete o direito de determinar quando começa a vida humana, para que essa possa gozar dos direitos de cidadania?

Não penso que possamos barrar, com as nossas ponderações, todo o processo de pesquisas com as células embrionárias. Faço votos para que se possam encontrar meios eficientes de extraí-las sem danificar ou matar o embrião, que já é sujeito do grande direito de viver, de crescer, um dia mostrar seu rosto para todos. Se não conseguirmos, a Ciência e a Tecnologia serão julgadas pela História. Há anos a Igreja reconheceu o erro de alguns de seus membros em condenar Galileu. Será que a Ciência terá a humildade de, no futuro, reconhecer seu erro e seu crime?

Afinal de contas, quem está em grande enrascada: a Igreja, a Ciência ou a Humanidade?