segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vamos para cima do Barça



Internacional, amanhã estarás representando mais uma vez o Brasil em plagas distantes. Conquistaste este direito com muita luta, garra e futebol reconhecido em todo o mundo. Ao lado de outros gigantes do futebol mundial, vives a brilhar. Eu e milhões de colorados estaremos torcendo por ti porque és motivo de festa em nossos corações. Honras teu nome. Vamos, vamos Inter.

Dia radiante

Neste momento, 23,3ºC, sol brilhando e céu de brigadeiro na capital dos gaúchos. Vejo as pessoas alegres na rua e não entocadas dentro de casa, como na semana passada. Lá vou eu...

Nossas vidas e nossas mortes

Divulgo grande artigo da pedagoga, professora e escritora Jaqueline Bernardes, que consegue unir o reencontro com um ex-aluno, a paixão pelo filho e a morte da cantora Amy Winehouse. Bela construção de texto.

Fernando, Amy e eu

Hoje pela manhã fui ao supermercado. Na saída, ao atravessar a rua, vi um carro estacionando, rente ao meu, quase atingindo-o. Sacolas ajeitadas no banco traseiro, sem susto diante do quase ocorrido, acomodei-me ao volante. Nessa semana chuvosa, pela primeira vez na vida, raspei a lateral ao tirar  o carro do pátio. Olhei e até achei bonitinho. Um carro com cicatriz - assim feito joelho de criança. Há coisas nesse mundo que não recebem um segundo olhar meu ou uma grandiosidade que não possui, ou melhor, que não lhe atribuo. Eu perdi a pessoa que eu mais amava depois de um processo de Quimioterapia e quem já vivenciou uma experiência igual ou prima dessa sabe a que me refiro. Eu tenho em mim um amor incondicional pela vida e pelo agora. Isso não me torna uma pessoa inconsequente, ao contrário, me faz dar valor ao que realmente tem valor nessa vida. Eu sou apaixonada por sorrisos e gente. Eu amo estar viva. Mas voltando ao supermercado...
Acomodando-me ao volante, vi aproximar-se um homem alto, loiro e de olhos azuis. Ele vinha do carro estacionado, com andar determinado e me tocou no ombro, como quem quer um abraço. Enquanto ele estava sério, fiquei com aquela cara de ponto de interrogação que todos ficamos nessas horas, buscando lá nos bolsos da memória a fisionomia da pessoa que está ali “plantada”. Mas bastou um sorriso - um sorriso só  - para que eu lembrasse do Fernando: um aluno da minha primeira turma, quando iniciei no Magistério - aos 18 anos. Naquela época, a diferença de idade me fazia uma adulta e o tornava uma criança, mas agora eu estava diante de um homem de quase dois metros. Enchi os olhos de água quando vi aquele sorriso...Eu coleciono sorrisos e os trago comigo pela vida...
O Fernando falou-me das minhas aulas e à princípio, confesso, me deu um medão. Sabe lá os erros que já cometi !!! Na verdade, sou apaixonada pela minha profissão porque ela é a única, no mundo inteiro, que reúne todas as outras. Mas isso já é assunto para outra hora... Eu o marquei positivamente, mesmo com todos os erros de principiante. Quando estamos imbuídos do bem, Deus nos ajuda nos passos. O Fernando me contou da faculdade, dos amigos que viajaram para a Holanda, do que fez na vida... Éramos familiares, apesar de anos de afastamento. Quando olhares partilham e comungam a mesma estrada e as mesmas vivências, assemelham-se na alegria do reencontro e do belo. Ambos estávamos radiantes, numa manhã simples de domingo, numa rua qualquer de uma cidade escondida no mapa. Ninguém no mundo soube o que acontecia.
Quando nos despedimos, o Lucas - meu filho de seis anos - me perguntou se a minha escola existia fazia milhões de anos. Eu disse-lhe que não, sabendo que a conclusão -  baseada na sua lógica infantil - viria:
- Mas então tu é professora desde o tempo dos dinossauros? - disse-me ele, de testa franzida.
Ri muito e fiquei pensando que faz tempo mesmo que eu acredito em certas coisas e as trago comigo, me constituindo assim - de um jeito que eu ainda considero imprescindível para que o mundo possa ser um pouquinho melhor... Eu não sou pretensiosa, mas  quero quitar a minha parcela antes de partir. Onde quero chegar com tudo isso? Na morte da Amy! Ontem postei um comentário no Facebook, comentando a publicação de um amigo. Transcrevo-o: "Dizem que os gênios cometem o suicídio... Eu quero é ser normal e continuar escrevendo no Face e em papel de pão... Amanhã eu sei que vou continuar vendo o sol nascer e, se pagar em prestações, no verão - quem sabe? - estico até Fortaleza! Ser universal é adentrar, verdadeiramente, a si mesmo. Podem vir pedras de todos os lados, mas nada como cheirar as gosmas dos pés de "acácia ' e sentir o cheiro do pão saindo quentinho do forno, nas infâncias de antigamente. Eu sou do tempo em que a gente se contentava em cheirar as provas mimeografadas. E quem é assim, não cresce torto... Faltava malandragem? Penso que não... Sobravam motivos para sermos felizes, mesmo tendo um par de congas... Cada um, na vida, cumpre o papel que julga que lhe compete. Às vezes o que aprendemos com alguns exemplos é o que não devemos seguir. Acredito que agora ela esteja bem. Eu sempre penso que quem apronta por aqui leva uns puxões de orelha a mais, mas é bem recebido. Ainda bem que eu sou orelhuda!"
Encontrar o Fernando um homem jovem e feliz, constituído no caminho das pessoas comuns e imprescindíveis, me fez tecer um comparativo entre as várias formas com que as pessoas constituem as suas existências. Li vários comentários sobre a morte de Amy. Respeito-os todos, porque cada pessoa traz em si a sua verdade. Entretanto, li opiniões como " a realidade do mundo em que a gente vive é dura demais para a sensibilidade de um artista. Quem se contenta com  um mundo desigual e doente como o atual consegue viver em seu mundinho desprezível, vivendo uma vida medíocre. "
Fiquei pensando se no mundo há vidas medíocres... Se o artista transcende o humano, a ponto de necessitar viver em outra dimensão... Tudo o que é belo morre no homem, mas não na Arte. " Assim, como pode existir legado sem Arte? Como pode haver Arte sem inspiração? Como pode haver inspiração, se o mundo é desigual e doente? Perdoem-me... O mundo é grandioso e belo na sua totalidade. Há focos de doenças sim e desigualdades, mas elas podem e deveriam ser combatidas pela ação do olhar universal de quem - por desejo próprio - expandiu-se no mundo através da Arte. Vi uma Amy mutilar-se fisicamente em rede mundial e saber da sua morte me dói, porque sei que ela nunca terá a chance de ter 40 anos e agir de outra forma. Amo a obra de Elis, de Cazuza e do Renato, mas penso que todos foram pessoas tristes - daquela tristeza de quem não aguenta ficar "só consigo mesmo". A genialidade tem disso. Mais do que a dor dos fãs, penso na dor da família da Amy. É lá que sobrará um lugar à mesa e que faltará um abraço nas datas especiais. A dor da família dela não difere, em nada,  da dor das pessoas comuns que cruzam conosco nas esquinas e que também perderam entes queridos. Concluo, então, que nenhuma vida é medíocre. As pessoas constituem-se pelas histórias familiares, pela força de vontade e pelo amor - inclusive o amor à vida... Cada um vive de acordo com as suas concepções de felicidade...A vida nos é dada para ser preservada. Quando optamos por maltratá-la, ferimos a nós mesmos e a quem amamos - que chorarão a nossa ausência...
Há pessoas que agem e transformam o mundo em silêncio, sem estardalhaço. Nunca estarão nos noticiários [...], por opção. Às vezes é melhor ter poucos seguidores e pouco dinheiro, mas ter saúde, fazer arte e deixar um legado igualmente rico - para a universalidade que nos margeia... Descanse em paz, Amy.