quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Texto essencial de Márcia Martins

Este texto maravilhoso da jornalista Márcia Martins, na foto comigo, foi publicado originalmente no site coletiva.net. Pela qualidade, sinceridade e objetividade, reproduzo aqui. Merece ser disseminado.
 

Ah, eu sou mulher

Márcia Martins

Ser mulher é administrar, com sucesso, todos os dias e noites na complicada rotina de funções de trabalhadora, assalariada ou autônoma, dona de casa, esposa, amante, ou companheira e mãe em tempo integral. Ser mulher é sangrar uma vez por mês, no mínimo dos 10 anos aos 50 anos, com pequenos intervalos para aquelas que optam pela maternidade. Aliás, ser mulher é gerar os filhos, alimentá-los e acompanhá-los, enquanto são apenas seus e quando passam a ser filhos do mundo. Mas ser mulher, desde esta quarta-feira, 21 de setembro, é também abrir, pela primeira vez, uma assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, e falar com voz feminina e segura para representantes líderes de mais de 190 países.
Não é relevante, neste caso, se o meu voto, em outubro de 2010, foi um dos 55 milhões que ajudaram a eleger Dilma Rousseff a primeira mulher presidente do Brasil. Não se trata, também, de enaltecer a filiação partidária da presidente e nem lembrar do seu currículo. Até é melhor esquecer que, durante a campanha majoritária no ano passado, a oposição entupia os nossos e-mails com denúncias de que Dilma havia sido presa nos Estados Unidos e, uma vez presidente, jamais poderia entrar novamente naquele país. Pois a assembleia da ONU é onde mesmo?
O que importa é que, nunca antes na história da ONU, uma voz feminina inaugurou a sessão. O que devemos lembrar é que durante o seu discurso, que teve apenas o tempo necessário, ela foi seguidamente interrompida com salva de palmas. O que é preciso ser destacado é que ao abrir o encontro mais importante de chefes de Estado do planeta, a presidente de um país emergente, falou com o mesmo tom enfático sobre crise econômica internacional e paz no mundo. O que me emocionou é Dilma citar palavras importantes e que na língua portuguesa são palavras femininas, como esperança, coragem e sinceridade. O que guardarei na memória é Dilma iniciar seu pronunciamento dizendo que sua voz era da democracia e da igualdade. A voz feminina.
Uma voz de mulher ouvida e aplaudida por homens de todos os planetas. Uma voz de mulher que mesmo depois de chegar ao poder não esquece de solicitar o apoio essencial da família e tinha, na platéia, uma atenta companheira, a sua filha Paula, que não conseguia esconder a emoção. Uma voz suave, quando necessário, e firme para exigir o silêncio do auditório ao defender suas posições.
Se foi com o meu voto (embora todos saibam que sim). Se é do meu partido político (embora todos saibam que é). Se estava lendo no telepronter ou tinha algum equipamento mais moderno lhe auxiliando para ler o discurso. Se não fez as pausas adequadas para facilitar a tradução. Nada disso me interessa. Nada vai tirar o brilho deste dia 21 de setembro. E diminuir o meu orgulho de ser mulher.

marfermartins@hotmail.com

Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela PUC. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou carreira profissional, na Zero Hora, no Correio do Povo, em assessorias de comunicação social empresariais e públicas, e atualmente trabalha no Governo do Estado. É poeta, diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS. E tem o blog marcinhaprodigio.blogspot.com.