terça-feira, 1 de novembro de 2011

Isca

Piscas, feito isca.
Me ilude, afunde.
Nada no instante
que não queres
nada, nada, nada.
Se fosses nadar,
na onda flutuar.
Mas nem isso
queres amar.

Lamentável decisão do Grupo Record

A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul procura manter uma postura de respeito para com as empresas de comunicação do Estado. Nesse sentido, saudou, há alguns anos, a chegada do Grupo Record ao Rio Grande do Sul, como fez com outros empreendimentos na área. As promessas de mexer com o mercado de trabalho, estagnado há longos anos, motivou também os profissionais que atuavam na antiga empresa dirigida pela família Ribeiro, muitos deles com mais de dez anos de casa. Porém, ao longo do tempo, percebeu-se a deterioração das relações de trabalho, e o que era para ser investimento no produto e nos trabalhadores dá lugar a represálias. Os leitores de décadas foram surpreendidos, hoje, com a não-publicação da tradicional coluna de Economia. Um fato preocupante.

Sabemos que não temos o direito de dizer o que um veículo de comunicação deve ou não fazer nos seus periódicos, mas como representantes legais dos jornalistas gaúchos temos o dever de acompanhar de perto esse processo, para o bem da categoria e, acima de tudo, da sociedade como um todo. Falar do Correio do Povo significa falar de um dos maiores patrimônios da Imprensa gaúcha, e esse deve ser o mesmo olhar dado pelos empresários, que pelo visto estão bem longe de ter essa visão. O fim de uma coluna econômica em um jornal que tem mais de 110 anos significa dar um passo atrás em uma das áreas de maior interesse da sociedade, e contraria toda a lógica do mercado.

Mesmo sem qualquer poder ou interesse de mexer na linha editorial dos veículos de comunicação, a direção do
Sindicato lamenta e repudia qualquer tipo de represália aos profissionais. Chama a atenção de toda a sociedade para esse equivoco editorial da direção da Record. Por fim, queremos nos solidarizar com todos os jornalistas que hoje desempenham suas atividades no Grupo Record, profissionais responsáveis pela verdadeira liberdade de Imprensa.

Preconceito nas críticas a Lula

Críticas revelam preconceito contra ascensão de Lula. Para a pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Sandra Regina Nunes, "as críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido".
Dayanne Sousa

A notícia de que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva passará por um tratamento contra câncer na laringe no hospital Sírio Libanês foi recebida com protestos em redes sociais. Na internet, um grupo pede que o petista utilize hospitais públicos e o Sistema Único de Saúde (SUS). Para a pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Sandra Regina Nunes, "as críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido".
- Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: "Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça" - questiona Sandra, membro do Laboratório de Estudos da Intolerância e professora de comunicação da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).
Uma campanha no Facebook pedindo que Lula se trate no SUS já ganhou mais de 800 adeptos. Os internautas também se organizam para divulgar as críticas em sites de notícias. A rede de TV internacional CNN, por exemplo, publicou a informação sobre a doença do ex-presidente e recebeu uma série de comentários irônicos de brasileiros sobre o sistema de saúde nacional.
Leia a entrevista.
Terra Magazine - O anúncio de que o ex-presidente Lula sofre de câncer foi seguido por manifestações críticas e um protesto para que ele se trate no SUS. Por que esse tipo de expressão acontece e se espalha na internet?
Sandra Regina Nunes - O que me parece é que tem algo bastante próprio daqui do Brasil. As críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido. Isso é visto quase como uma afronta. Faz com que as pessoas acreditem que necessariamente ele deveria ser fiel àquilo que ele pregava. Por muitas vezes ouvi pessoas dizendo "Ah, ele era trabalhador, não podia estar usando Armani". Agora dizem que o Lula tem que usar o SUS. Não me parece que aconteceu isso quando alguém do PSDB tem algum tipo de problema de saúde. Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: "Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça".
É curioso porque em geral anúncios como o do ex-presidente - de uma doença - geram apenas comoção...
Eu acho que as pessoas não estão tratando como doença. A ideia é mais questionar o motivo de Lula estar usando um produto de luxo.
As redes sociais ampliam esse tipo de reação negativa?
As redes sociais fizeram com que as pessoas tivessem maior liberdade de expressão. Eu acredito que as pessoas poderiam usar isso de forma mais interessante. Existem na rede movimentos bastante positivos, por exemplo, em apoio à saúde da mulher. Então, utilizar as redes sociais para dar vazão à indignação pode ser ruim, mas tem lados positivos. As redes sociais têm essa dimensão que é muito boa. É a possibilidade de expressão.
Seria papel da imprensa desestimular?
Eu acho que o gesto de expressão não deve se impedir jamais. É preciso dar voz a todo mundo. Mas o papel da imprensa deve ser pontuar o que determinadas falas representam. Ou seja, dizer que tipo de movimento é esse e o que é que ele traz.
 

Lula: comentaristas torcedores

De leigos oposicionistas, raivosos, tudo é possível. Mas de comentaristas, que deveriam ser isentos, imparciais e humanistas, choca mesmo. É bom ler o comentário do Nassif.
"Agora que as notícias dão conta da boa perspectiva de restabelecimento do Lula, é curioso debruçar nas análises apressadas sobre uma era pós-Lula.
Aliás, chocante a maneira como algumas comentaristas celebraram a doença de Lula. Até nos ambientes mais selvagens - das guerras, por exemplo - há a ética do guerreiro, de embainhar as armas quando vê o inimigo caído, por doença, tragédia ou mesmo na derrota. Por aqui, não: é selvageria em estado puro.
A analista-torcedora supos que, com a doença de Lula, haveria uma mudança radical no quadro político. Sem voz, Lula seria como um Sansão sem cabelos. Sem Lula, não haveria Fernando Haddad. Sem contar os diagnósticos médico-políticos-morais, de que Lula foi castigado por sua vida desregrada. Zerado o jogo político, concluiu triunfante.
Num de seus discursos mais conhecidos, Lula bradava para a multidão: "Se cortarem um braço meu, vocês serão meu braço; se calarem a minha voz, vocês serão minha voz...".
Qualquer tragédia com Lula o alçaria à condição de semideus, como foi com Vargas. O suicídio de Vargas pavimentou por dez anos as eleições de seus seguidores. É só imaginar o que seriam os comícios com a reprodução dos discursos de Lula. Haveria comoção geral.
A falta de Lula seria visível em outra ponta: é ele quem segura a peteca da radicalização. Quem seguraria suas hostes, em caso da sua falta? Seu grande feito político foi promover um pacto que envolveu os mais diversos setores do país, dos movimentos sociais e sindicais aos grandes grupos empresariais. E em nenhum momento ter cedido a esbirros autoritários, a represálias contra seus adversários - a não ser no campo do voto -, mesmo sofrendo ataques implacáveis.
Ouvindo os analistas radicais, lembrando-se da campanha passada, como seria o país caso Serra tivesse sido eleito? É um bom exercício. Não sobraria inteiro um adversário. Na fase Lula, há dois poderes se contrapondo: o do Estado e o da mídia e um presidente que nunca exorbitou de suas funções. No caso de Serra, haveria a junção desses dois poderes, em mãos absolutamente raivosas, vingativas.
 

De presidente para presidente

Da presidente Dilma, após visitar o presidente Lula no hospital: "Quero dizer ao povo brasileiro, que torce por ele, que pode ter certeza: ele é um guerreiro. Ele vai sair dessa feliz e ainda dar muitas contribuições para esse país."
Com certeza, Dilma! Ele seguirá protagonista.