quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um tiro, muitos gatilhos

Por Ayrton Centeno (retirado do blog RS Urgente)

O tiro que partiu da boca da espingarda 12 rumo ao corpo do sem terra Élton Brum da Silva foi disparado muito antes da manhã triste de inverno no coração da Campanha gaúcha. A bala começou a voar em tempos pretéritos, antes até do também triste governo de Yeda Crusius ser inaugurado com a governadora desfraldando invertida a bandeira do Rio Grande do Sul na sacada do Palácio Piratini. E o lema estampado no brasão “Liberdade, Igualdade, Humanidade”, que vai beber na fonte da Revolução Francesa e dos direitos fundamentais do homem, ficou de cabeça para baixo. Era um mau presságio.


Foto: Eduardo Seidl

O tiro com sua bala vem viajando, na verdade, desde décadas mas apressou-se nos últimos anos. Seu apetite tornou-se mais urgente. A nomeação de um militar com o perfil psicológico do coronel Paulo Roberto Mendes para o comando da Brigada Militar garantiu-lhe um impulso extra. Esta figura extemporânea aportou no governo – curiosamente de um partido que se diz social e democrata – um duplo ódio às manifestações da sociedade na democracia. Tudo bem, as palavras são, com freqüência, um biombo atrás do qual se perpetram os crimes mais hediondos contra o seu sentido original e a social-democracia em questão é somente uma alegoria no nosso carnaval político, a comissão de frente da direita no Brasil. Mas, convenhamos, seria uma demonstração de elegância protocolar que, ao menos, as aparências fossem mantidas. Nada disso. Sob a égide do PSDB, a bala passou a voar mais celeremente em busca do seu alimento.
O tiro aligeirou-se mas ainda zanzava a procura de seu alvo. Durante seu reinado, Mendes, o Bravo, destruiu acampamentos e seus soldados não menos bravamente despejaram terra nas panelas de comida que alimentariam homens, mulheres e crianças. Fez sangrar manifestantes, do campo e da cidade, até ser despachado para uma sinecura no Tribunal Militar do Estado, uma instituição fora de tempo e lugar, altamente merecedora do oficial de notável saber jurídico que passou a integrá-la.
O tiro que tanto espaço percorrera para saciar sua fome achou, enfim, seu repasto na dia 21 de agosto, ao se encontrar com Élton. Mendes partira mas outro coronel, Lauro Binsfield, ficou na linha de frente da repressão. Denunciado à Organização dos Estados Americanos (OEA) por violação dos direitos humanos, foi mantido, mesmo assim, à testa das operações de guerra da BM no campo.
O tiro, peculiarmente, não foi deflagrado por apenas uma arma. Ele cumpriu seu fado sinistro porque muitos dedos apertaram muitos gatilhos. É ilusório pensar que o disparo só pertence a quem apontou a espingarda para desferí-lo.
O tiro não surgiu necessariamente como tiro. Nasceu, por exemplo, do entendimento de que a questão social é um caso de polícia e assim tem que ser tratada. Nasceu de uma caneta correndo sua tinta sobre o decreto de uma nomeação.
O tiro também partiu dos microfones, dos teclados, dos teleprompters. Da voz do dono e dos aquários. Brotou de uma ação ou mesmo de uma omissão. Na mídia, são muitos os dedos e os gatilhos que foram apertados. Uma imprensa para a qual a democracia não fosse somente uma palavra-biombo questionaria, por exemplo, a entrega do bastão do aparelho repressor a alguém desprovido das mínimas condições para empunhá-lo. Em vez disso, o que se viu foi um constrangedor capachismo dedicado à criação de mitologias reacionárias para afagar os sentimentos mais mesquinhos da classe média. Mas há torpezas piores. O fuzilamento sumário do MST nas manchetes, matérias, fotos, editoriais, artigos construiu um rancor belicoso no imaginário social contra famílias que reivindicam um pedaço de terra. E ocultou que os países importantes do mundo realizaram sua reforma agrária ainda no século 19 ou nos meados do século passado, medida que as elites brasileiras, até recorrendo ao golpe como aconteceu em 1964, impediram desde sempre.
O tiro viajou como outros viajaram no passado. Um dos filmes mais odiosos jamais feitos, O Eterno Judeu, de Franz Hippler, estreou em 1940, em Berlim, perante uma platéia sofisticada: artistas, cientistas, damas da sociedade e a fina flor do partido nazista. Na montagem alternam-se as cenas dos judeus, mostrados como preguiçosos, sujos e indignos, com moscas numa parede. É preciso convencer as pessoas de que aquilo é uma praga e precisa ser exterminada – mais tarde, um pesticida, o Ziklon B, será empregado na solução final. A arte de Hippler prepara o holocausto. Alguém dirá: mas esta é uma comparação extremada, vivemos em uma democracia! Sim, é verdade, apesar do coronel Binsfield. Mas não se pretende aqui, supor equivalentes a época, as partes, o tamanho da violência. O interesse está no processo. Quando a intenção é destruir o adversário – e isto se faz de diversas formas, como ao superexpor seus erros e/ou sonegar suas virtudes, usando do poder devastador dos conglomerados de mídia — o modus operandi é similar., Se o objetivo final, conscientemente ou não, é negar a humanidade do outro, tudo é possível. Porque o outro, então, está fora da proteção do arcabouço jurídico. Não é gente. E o passo seguinte pode ser sua eliminação, física inclusive.
Outros tiros continuam viajando para encontrar suas presas. E muitos outros irão se juntar a eles. Aquele que se refestelou na carne e no sangue de Élton, 44 anos, dois filhos, deixou de viajar. Nas redações, muitas mãos têm resíduos de pólvora.

Saber perdoar

1.Perdoar é saber curar-se sem quebrar, é ser suficientemente forte para suportar o peso do sofrimento e ter capacidade de recuperar. Aprende a perdoar!

2.A vida nunca é perfeita e muitas vezes é bastante injusta. Aprende a perdoar as falhas da vida que são inevitáveis.

3.Perdoa a ti próprio tudo aquilo que te arrependes de ter feito; por não teres conseguido aquilo que desejavas.

4.O perdão a ti próprio tonifica a tua alma, afastando para muito longe o fantasma da culpa e da vergonha. Depois de aprenderes a perdoar os próprios erros, nascerá em ti a capacidade de perdoar os outros.

5.Tens todo o direito de te sentires triste, ressentido e magoado, ao seres traído por alguém. Compreende, aceita e expressa os teus sentimentos. Verás que se os esconderes de ti mesmo eles acabarão por se manifestar noutro lugar e noutra altura.

6.Enfrenta aqueles que te magoam; diz-lhes tudo aquilo que sentes. Quando isso não for possível ou te fizer sofrer a ti mesmo ou a alguém, mesmo assim não deixes de tomar posição, ainda que seja só em pensamento.

7.Perdoar não significa pactuar com abusos futuros ou continuar uma relação destrutiva. Estabelece limites, determinado e mostrando claramente aos outros o que para ti é aceitável. Mostra que todos somos responsáveis pelas nossas acções.

8.A justiça pode melhorar o que está errado, mas o perdão cura a ferida. Tenta conseguir o perdão para além da justiça.

9.Por vezes as pessoas magoam-te porque, tal como tu, estão a aprender a crescer. Perdoa as suas imperfeições, a sua fraqueza humana.

10. Ao recusares perdoar os outros continuas a alimentar a mágoa existente dentro de ti. A tua falta de capacidade em perdoar fará com que te feches sobre ti mesmo. Em vez disso, procura abrir-te aos outros e verás que também em ti há um coração que sabe perdoar.

11. Tenta compreender a razão pela qual não foste capaz de perdoar. Se guardares dentro de ti todos esses fantasmas do passado, acabarás por desperdiçar a energia que poderias ter utilizado para valorizar o mais importante de tudo – a vida.

12. As vítimas são pessoas indefesas perante o ofensor. Se mostrares piedade perante aqueles que te ofendem verás como o jogo se inverte e passas tu a ter o controlo da situação. Perdoar também é ganhar.

13. Aprende a perdoar é sempre possível, mesmo em situações muito ofensivas, ou a alguém que julgues não merecer o teu perdão. Essa é a maior prova de bondade que o Criador depositou em ti, desde o primeiro momento do teu ser.

14. Perdoar é realmente o único remédio para a dor causada pelo comportamento de alguém. Só tu podes fazer a melhor escolha – saber perdoar.

15. Pensa no perdão como uma grandiosa capacidade de sobrevivência. Saber perdoar ajudar-te-á a encontrar um caminho alternativo a maldade, à falta de compreensão à mágoa, ao ressentimento e ao ódio.

16. Se tiveres dificuldade em perdoar os teus pais por algo de errado ou injusto que eles tenham feito, lembra-te de uma coisa: Aquilo que são hoje é, em boa parte, resultado da educação que tiveram por parte dos seus pais, que por sua vez também foram influenciados pelo modo como os seus pais os educaram, e assim sucessivamente...

17. Nunca penses em esquecer uma ofensa. Por vezes isso é completamente impossível – e em alguns momentos nem sequer o desejamos verdadeiramente. Portanto, procura continuar o teu caminho, transformando, aos poucos, em perdão, uma má recordação do passado.

18. Faz com que o teu perdão seja o catalizador de uma reacção em cadeia muito saudável. Perdoar “desinfecta” a ferida criada, permitindo a sua cura rapidamente. A energia que daí resulta é tão benefica que te ajudará a crescer.

19. Por mais amor que exista, numa relação há sempre momentos de sofrimento e tristeza. Mas todas as feridas de amor podem ser curadas com o simples perdão daqueles que se amam.

20. Não há ofensa nenhuma que seja imperdoável – a não ser que o teu coração decida que isso aconteça. Utiliza a tua força para nunca seres injusto, dando sempre mais uma oportunidade àqueles que te magoaram.

21. Quando sentires que é difícil perdoar, lembra-te de algum momento em que tu próprio quiseste ser perdoado por alguém. Dá aos outros tudo aquilo que desejas para ti.

22. Saber perdoar requer um treino muito intenso e bastante paciência. Começa por perdoar pequenos erros e depois vai progredindo, tentando perdoar outros um pouco maiores.

23. Saber perdoar requer uma aprendizagem que dura toda a vida. Vai perdoando sempre – mesmo os erros que outrora já tinhas perdoado.

24. O perdão pode parecer-te por vezes inútil, principalmente quando não consegues ver quaisqueres resultados. No entanto sarar as feridas e crescer em harmonia com os outros são coisas que, como o vinho, necessitam de algum tempo para amadurecer e ganhar força – e não como aquele puré de batata instantâneo. Dá tempo ao tempo para que o perdão se fortaleça no teu coração.

25. Se não deixares, ninguém consegue fazer-te sentir mal. És tu que tens de escolher entre guardar ressentimento e mágoa ou mostrar aos outros a razão por que erraram perdoando-lhes. Tens que ser tu o responsável pelos teus sentimentos. Mostra a todos como és forte.

26. Nunca conseguirás ensinar nada a ninguém se fores o primeiro a mostrar má vontade. Essa atitude só te fará mudar a ti mesmo – e para pior.

27. Pergunta a ti mesmo: quando digo que “não posso perdoar” é o mesmo que dizer que “nunca te perdoarei”? Quando reflectires, aceita toda a grandeza de Deus e deixa que o teu coração siga por esse caminho – o do amor.

28. É preciso muita coragem para conseguires perdoar. Mas, se procurares bem fundo dentro de ti vais ver que encontrarás toda a força de que necessitas para perdoar.

29. Se permitires, vais ver que perdoar abrir-te-à a porta da reconciliação. Aquele que hoje te magoa poderá um dia ser teu amigo.

30. Aceita a ideia de ser possível reconstruir uma relação. As ofensas do passado podem ser destruídas e enterradas definitivamente, e verás como, daquilo que parece um vazio pode nascer algo muito grande e melhor.

31. Nunca imponhas condições para perdoar alguém, pois caso contrário, a tua paz interior dependerá sempre da decisão, que a pessoa que te magoou possa tomar. Só tu podes escolher o melhor.

32. Quando alguém não te perdoa, não pagues com a mesma moeda. Com isso estarias a enredar-te nas mesmas correntes que o prendem. Liberta-te perdoa!

33. Para que te seja mais fácil perdoar o outro, imagina-o completamente envolto pela luz de Deus. Pensa como seria se tu próprio entrasses nessa luz e ambos pudessem sentir a presença reconciliadora de Deus.

34. Perdoa, mesmo que não te tenham pedido desculpa ou reparado o dano que causaram. Pois se o teu perdão depende de sentires que foi feita justiça, arriscares-te-ás a viver para sempre com o amargo sentimento de culpa devido a não teres deixado resolver o problema; ou a viver para sempre em função das acções dos outros.

35. Perdoar não é só um bem que podes fazer aos outros. É algo de muito bom para ti! Procura enriquecer-te com a dádiva que é saber perdoar os erros dos outros.

Aposentados reagem

Ontem, postei um comentário com críticas ao acordo do governo federal e das centrais sindicais para reajuste das aposentadorias e para o fim (ilusório) do fator previdenciário. Pois hoje a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap) reage, dizendo que considera pouco o reajuste proposto e apoia os projetos em tramitação no Congresso. É lamentável que parlamentares da base governistas tenham alijado a entidade dos aposentados da discussão e coloquem a decisão como fato consumado. Até o combativo senador Paulo Paim parece estar sendo convencido que é melhor uma migalha do que nada.