sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Histórias de taxistas

                 Avesso à direção, não tenho carro, só ando de carona. De táxi, com frequência. Nestes momentos, colho histórias interessantes, ouvidas de muitos motoristas, autores contumazes de um tradicional bordão: “daria um livro”. De fato, já fui protagonista ou ouvinte de casos que não ouviria se estivesse sozinho ao volante nas minhas andanças. Não conto situações em que entro, sento e me vejo diante de um “mudo” na entrada e na saída. Não existe coisa mais chata. Nem a temperatura aceita discutir. Só o valor da corrida pronuncia.
                O caso mais pitoresco aconteceu diretamente comigo. Dias destes, atrasado para minha aula na PUCRS, apelei para um táxi. O primeiro motorista desacelerou, avançou e deu marcha à ré. Parecia indeciso o homem. Abriu a porta e foi logo perguntando:
                - Para onde tu vais?
                - Vou até a PUC - disse, já metendo o pé dentro do carro.
                - Espera um pouco, não vou poder te levar. Pensei que fosse uma corrida curta - atirou, para minha surpresa.
                - Mas...
                - É que eu tenho que almoçar - justificou.
                Desci e o cara saiu em disparada com seu Fiesta. Não deu tempo de pensar e já ataquei outro veículo que vinha em seguida. Não foi outro o assunto com o motorista sem fome que peguei. Ele me ouviu atentamente. Eu não conseguia entender como um cara recusara uma corrida com valor médio de R$ 15 por causa de um almoço. Este valor pagaria até duas refeições. O outro motorista me deu razão e disse que já recusara uma corrida curta, mas não de média distância como minha. Ficou feliz com o presente do colega. Ah, ele não tinha almoçado também.
                Em se tratando de corrida, ouvi uma que anda no sentido contrário da minha. Um taxista transitava sem passageiro em Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre, quando ouviu um chamado pelo rádio.
                - Preciso de um carro grande, com ar condicionado, no Estádio Beira-Rio.
                - É comigo – avisou, já pensando numa bela corrida que ultrapassasse os limites de Porto Alegre.
                Chegando ao estádio do Internacional, ficou mais alegre. Dois homens, bem vestidos, paletó e gravata, e com duas sacolas de compras, o esperavam. Quando entraram, o taxista fez a tradicional pergunta:
                - Onde os levo?
                - No shopping Praia de Belas - disse um deles, para decepção do motorista, que percorrera cerca de 2 quilômetros para fazer uma corrida de pouco mais de 500 metros.
                Depois de dois minutos, estava no shopping e anunciou o que o taxímetro registrara: R$ 5,50. Recebeu R$ 10 e pensou que ficaria assim. Não, os homens esperaram o troco.
                 - Vida de taxista é assim, meu amigo. Eles não estavam errados, mas tive prejuízo e não pude discutir ou xingá-los - disse-me.
                 Tem taxista que recusa corrida por questão de consciência ou medo. Instalado há 20 anos num dos pontos mais concorridos de Porto Alegre, o profissional está ameaçado de trocar de lugar porque se recusou a fazer trabalhos que considera “sujos”.  Consumidores de drogas escolheram o ponto para solicitar que os motoristas se desloquem até locais tradicionais para buscar o produto. A maioria aceita, mas alguns evitam.
                 - Não é meu trabalho e não concordo com isso. E se eu sou pego com o bagulho? – pergunta.