quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Sociólogo quer um grande jornal de esquerda no país

Sob o título "A necessidade de uma nova imprensa", o sociólogo Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa, divulgou um artigo, onde defende a construção de um grande jornal de esquerda no país.Para ele, essa é a questão central da democracia brasileira. "Precisamos inventar a imprensa democrática", defendeu. O importante é que sua idéia está sendo disseminada. Já vi o artigo em dezenas de sites e blogs de entidades sindicais e partidos políticos.


Veja a íntegra do artigo de Caroni:

A necessidade de uma nova imprensa

O deputado federal Ciro Gomes (PSB) foi certeiro ao definir a importância do holofote no comportamento político da oposição, em entrevista concedida à revista Imprensa, em dezembro de 2005. Em meio a crises que pareciam anunciar novos retrocessos político-institucionais, o então ministro da Integração Nacional diagnosticou com precisão: "eu participo da vida pública brasileira há 30 anos e é a primeira crise pautada por garotos alucinados por aparecer na televisão. E eles estão tocando a República! Eu acompanho a CPI, vejo parlamentares que olham para a câmera e dizem: "senhor presidente, senhores deputados, senhores depoentes e senhores telespectadores"! O que é isso? Os excessos são mais prováveis, pois há uma sensação de que as informações são descartáveis. Só que não é bem assim, há valores imateriais fundamentais em jogo e eu gostaria de ressaltar aqui a importância da linguagem".
Dois anos se passaram, os atores fizeram novas oficinas, ensaiaram textos no plenário, armazenaram informações, mas, a julgar pelos resultados, a teatralização da política não logrou os resultados esperados. A construção de representações sociais dominantes não obteve o êxito habitual. A velha mídia não descobriu o novo público. E foi aí que começou a história de sua coleção de derrotas.
Alguma fratura travou o espetáculo. Ao contrário das últimas décadas, produções como o " Mensalão", " Aloprados" e " Apagão Aéreo" se tornaram, passado o impacto inicial, fracassos de crítica e de público. Organizaçôes Globo, Civitas, Mesquitas e outros barões da imprensa brasileira parecem não ter acertado a mão, e o resultado são melancólicos folhetins sem qualquer vestígio de arte. Farsas baratas para produções que exigiram vultuosas somas e transformismos colossais.
Péssima direção e elenco de baixíssimo nível? Certamente, mas isso não é tudo. Nem sempre basta a imagem como critério da história. Às vezes, a trama, por mais recurso visuais que disponha, requer retórica convincente. Sem ela, inexiste a legitimação que precede o êxtase, e o plano que oculta o golpismo latente das elites se torna se torna visível demais.
A crença em um desmesurado poder manipulatório da mídia revela indigência de análise. O espetáculo só é possível porque a produção simbólica não se esgota em seu campo. Como destaca Silverstone, a circulação de significados, sua rica intertextualidade, não faz do senso comum um alvo passivo de versões deliberadamente distorcidas. Ele também produz, significa a partir de mediações da sua própria vida concreta. Não auscultar seu cambiante sistema simbólico custa caro aos pretensos "formadores de opinião".
Em suma, o êxito de qualquer projeto ideológico depende de profunda afinidade eletiva entre produtores-consumidores e consumidores-produtores de bens simbólicos. Sem troca não há fluxo eficaz.
O que a grande imprensa ignorou - e parece continuar ignorando - é a crescente organização da sociedade civil. Sua capacidade de não só recusar a narrativa oferecida, como construir uma eficiente articulação contra-hegemônica. A mídia se perdeu de si mesma quando acreditou que seus estatutos de verdade eram imunes a qualquer alteração substantiva da formação social onde pretende interferir.
Cabe ao campo democrático-popular não alimentar ilusões. Se os meios de comunicação são fatores centrais e constitutivos de uma nova esfera pública em formação, não se deve esperar conversões éticas de uma imprensa cuja estruturação está umbilicalmente ligada ao destino de conhecidas oligarquias. Trabalhar com contradições internas do campo comunicativo existente é uma aposta fadada ao fracasso.
Com a experiência acumulada em veículos como Carta Maior, Caros Amigos e Brasil de Fato, entre tantos outros, talvez tenha chegado a hora de investir em um grande jornal de esquerda. Como viabilizá-lo operacionalmente não cabe no espaço desse artigo, mas com a massa crítica acumulada já passou da hora. Essa é a questão central da democracia brasileira. Precisamos inventar a imprensa democrática.

Fonte: Agência Carta Maior

Big Brother lidera o 13º Ranking da Baixaria na TV



A coordenação da campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania" divulgou ontem o 13º Ranking da Baixaria na TV, que analisa os programas televisivos que receberam maior número de reclamações. O campeão de denúncias foi o Big Brother Brasil 7, da Rede Globo, em razão de reclamações que incluem a exposição de pessoas ao ridículo, discriminação, vocabulário inadequado e apelo sexual.
Em segundo lugar, vem o programa Pra Valer, da Rede Bandeirantes, que recebeu muitas das reclamações, a maioria por incitar a discriminação religiosa e a violência contra animais. A novela Pé na Jaca (Rede Globo) ficou em terceiro lugar no ranking da baixaria, seguido pelo programa A Tarde é Sua (Rede TV). Em quinto lugar, figurou outra novela Paraíso Tropical, da Globo.

A campanha foi lançada em novembro de 2002 e já registrou um total de 31.875 denúncias, sendo que, de janeiro a agosto deste ano, foram contabilizadas aproximadamente 2 mil reclamações de telespectadores insatisfeitos com a qualidade e a falta de ética da programação televisiva, além do desrespeito aos direitos humanos. As denúncias foram analisadas pelo Comitê de Acompanhamento da Programação, formado por representantes das mais de 60 entidades que assessoram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara na campanha.

O presidente da comissão, deputado Luiz Couto (PT-PB), destacou que a sociedade brasileira "quer dar um basta" à baixaria. "Os resultados mostram que a campanha é muito importante para o país. A população não aceita mais cenas de sexo, desonestidades e incitação à violência", afirmou.

Segundo Luiz Couto, a população está atenta à programação da televisão. "Ela quer programas de qualidade. Quer programas que tragam o reforço a valores como honestidade, liberdade, paz, justiça e dignidade do ser humano. Isso prova que a própria campanha vai levando as pessoas a perceber que é preciso combater esse tipo de programa. Afinal de contas, somos nós que estamos financiando", disse.

Couto defendeu ainda a necessidade de classificação indicativa dos programas de televisão. "É preciso ter algum critério. Não podemos aceitar que um programa como o Big Brother, que em Brasília passa às 21h, passe no Acre às 19h. É preciso ter adequação do horário de acordo com o fuso horário", disse.

Para o presidente da comissão, a TV Pública, anunciada pelo governo federal, deve provocar a elevação da qualidade da programação. "Será um elemento de confronto. E isso explica a reação da mídia privada, que não quer um sistema público de comunicação", afirmou.


O que é
A campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania" tem como um de seus principais instrumentos de atuação a divulgação do ranking dos programas que receberam maior número de reclamações, fazendo assim ecoar a voz da opinião pública que é decisiva para provocar mudanças na programação televisiva.
A décima terceira sistematização dos programas mais denunciados estão disponíveis no site www.eticanatv.org.br.