segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Garrincha partiu há 25 anos


Garrincha
, um dos maiores jogadores de futebol do mundo, morreu há 25 anos, aos 49 anos de idade. A partida já era esperada porque o artista das pernas tortas sucumbiu à fama e às más companhias, se entregando ao consumo exagerado de álcool. Não vi uma única partida do craque, mas assisti incontáveis filmes em que Garrincha entortava seus marcadores, partia em direção à área adversária e fazia gols maravilhosos ou dava passes sensacionais para seus colegas. Hoje, quando vejo zagueiros toscos "partindo ao meio" jogadores altamente técnicos, imagino que a sobrevida do jogador bicampeão mundial pela Seleção Brasileira seria menor. Na primeira negaceada de corpo, seria mandado para fora de campo. Garrincha morreu, mas a lenda permanece intocável.

Foto ao lado do site www.rajuabju.com/elat/images/sports/garrincha.jpg

Febre amarela: "politicagem barata"

A amiga e militante política Márcia Balmberg manda e-mail com a intenção de alertar para o que chama de "epidemia da histeria". Lembra que a atual pauta da imprensa é a epidemia (?) de febre amarela que assola nosso gigante dos trópicos. Para ela, quem se utiliza do termo "epidemia" para classificar os casos registrados até agora não tem a menor noção do que o termo realmente representa.
"A corrida aos postos de vacinação é lamentável. Coisa de quem assiste o Jornal Nacional ou lê a coluna da jornalista (?) Eliane Cantanhêde", destaca Márcia, ressaltando que epidemia, mesmo, só se for de histeria. E posta também um e-mail enviado pelo nefrologista Pedro Saraiva ao site Vi o mundo, do colega Luiz Carlos Azenha.
Efetivamente, é um texto interessante e muito elucidativo, que deve ser multiplicado por pessoas que gostam da verdade.


MÉDICO DIZ QUE ESTÃO USANDO A SAÚDE "PARA POLITICAGEM BARATA"

Caro Azenha, sou médico clínico geral e nefrologista formado pela UFRJ. Sou seu leitor assíduo, e resolvi escrever-lhe para ver se pelo menos aqui, no seu blog, um médico consegue espaço para falar sobre essa histeria que envolve a febre amarela.
A cobertura da grande imprensa parece que não consegue chegar ao fundo do poço. Depois de inúmeros factóides e de acusar o presidente até de derrubar aviões comerciais, eles agora aparecem com essa irresponsabilidade de criar pânico na população através de um problema de saúde pública. Tive acesso a um texto da jornalista da Folha, Eliane Cantanhêde (que aliás, parece ser casada com um dos donos de uma produtora ligada as campanhas eleitorais do PSDB), que dizia o seguinte logo no primeiro parágrafo:
"Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo! "
E depois de alguns parágrafos em que não esclarece nada, termina assim:
"O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes."
ABSURDO! ESTÃO USANDO A SAÚDE PÚBLICA PARA POLITICAGEM BARATA!
Alguns esclarecimentos:
Colunistas falam de epidemia com uma facilidade incrível para quem não entende o que quer dizer o termo. Epidemia não é o aparecimento de casos de uma doença no jornal. Uma epidemia só se caracteriza quando ocorre um aumento maior que 2x o desvio padrão sobre a incidência média de uma doença nos últimos anos.
Ou seja: Incidência média + 2x desvio padrão.
Não vi até agora nenhum jornal mostrar a incidência da febre amarela nos últimos 10 anos para uma comparação. Repare na média de casos do período FHC e Lula, será por isso que ninguém mostra os números?
1996 - 15 casos
1997 - 3 casos
1998- 34 casos
1999 - 76 casos
2000- 85 casos e 42 mortes
2001 - 41 casos e 22 mortes
2002 - 15 casos e 6 mortes
2003 - 64 casos e 22 mortes - obs: 58 dos casos diagnosticados na região sudeste, principalmente MG
2004 - 5 casos e 3 mortes
2005 - 3 casos e 3 mortes
2006 - 2 casos e 2 mortes
2007 - 6 casos e 5 mortes
(Fonte : Ministério da Saúde)
Todos esses casos são da forma de transmissão em área silvestre da febre amarela. Desde a década de 1940 que não há relatos da transmissão urbana da febre amarela. Veja bem, transmissão em zona urbana é diferente de diagnóstico em zona urbana. A forma silvestre é endêmica pincipalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e se comporta de forma cíclica, com surtos a cada 5-7 anos A transmissão em área silvestre é feita pelo mosquito do gênero Haemagogus, e se dá através, principalmente, de macacos infectados para humanos não imunizados por vacina. A forma urbana é transmitida do homem para homem através do Aedes aegypti, o mesmo da dengue. O risco de retorno da forma urbana não é novo, e existe desde a década de 80 quando houve a reintrodução do Aedes aegypti no Brasil.
Até o momento (15/01/08), apesar de toda histeria, apenas 2 casos foram comprovadamente de febre amarela este ano. E todos contraídos em áreas silvestres. Ou seja, nada de anormal.
Feitos os esclarecimentos, vamos aos comentários sobre a cobertura da mídia.
1- Estão noticiando morte de macacos, supostamente com febre amarela, como se isso fosse um sinal de que a doença está fora de controle. O pior, vários dos macacos noticiados tiveram exame negativo para febre amarela. Ou seja, estão noticiando apenas morte de macacos.
2- Estão noticiando as mortes por febre amarela como um fato novo do governo Lula, como se ninguém morresse da doença nos anos anteriores. Estão confundindo a ausência de casos urbanos com ausência de casos em geral.
3- E o mais grave, estão criando pânico na população e levando a uma corrida desnecessária e prejudicial aos postos de vacinação. Os comentários dos leitores nas edições da internet do Globo por exemplo, são assustadores. A mídia informa mal os leitores, e deixa que o boca-a-boca crie teorias da conspiração contra o governo.
A vacina da febre amarela não é vitamina C. Ela é feita com vírus vivo atenuado e por isso apresenta contra-indicações e efeitos colaterais. Quem não mora em área de risco ou não vai viajar para uma, não precisa e não deve receber a vacina. Além de tudo, ainda há o risco de falta da vacina para quem precisa.
Contra- indicações
· Crianças com 4 meses ou menos de idade, devido ao risco de encefalite viral (contra-indicação absoluta).
· Gestantes, em razão de um possível risco de infecção para o feto.
· Pessoas com imunodeficiência resultante de doenças ou de terapêutica: infecção pelo HIV, neoplasias em geral (incluindo leucemias e linfomas ), Aids, uso de medicações ou tratamento imunossupressores (corticóides, metotrexate, quimioterapia, radioterapia), disfunção do timo (retirada cirúrgica ou doenças como miastenia gravis, síndrome de Di George ou timoma).
· Pessoas que tenham alergia a ovos, uma vez que a vacina é preparada em ovos embrionados.
· Pessoas com alergia a eritromicina, um antibiótico que faz parte da composição da vacina.
· Pessoas com alergia a gelatina, que faz parte da composição da vacina.
· Pessoas com antecedentes de reação alérgica a dose prévia da vacina anti-amarílica.
Efeitos colaterais.
· Reação alérgica grave (anafilática) ocorre em aproximadamente 1 em cada 131.000 doses aplicadas.
· Reações no sistema nervoso central (encefalite), cerca de 1 caso para cada 150.000 - 250.000 doses.
· Comprometimento de múltiplos órgãos com o vírus da febre amarela vacinal - aproximadamente 1 caso para cada 200.000 - 300.000 doses.
Acima de 60 anos a incidência desta complicação é maior (cerca de 1 caso para cada 40.000 - 50.000 doses). Mais da metade dos indivíduos com febre amarela vacinal evoluem para o óbito.
Se na remota hipótese de alguém morrer por tomar desnecessariamente a vacina a Sra. Eliane Cantanhêde vai se responsabilizar?
Ou vai culpar o governo de novo?
Em vez de focar nos inúmeros problemas reais do nosso sistema de saúde, a imprensa prefere criar factóides que em nada ajudam a
população.