segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Desconfie do auto-elogio

Nos anos 80, a minha editora no jornal Zero Hora era a melhor de todas, mas tinha um comportamento distinto dos demais profissionais. Distribuía críticas para matérias mal aprofundadas e com texto fraco, deixando jovens repórteres incomodados. Isso porque o elogio não aparecia na mesma proporção quando acontecia o contrário, ou seja, uma grande matéria aplaudida por todos. Sua justificativa: apurar e escrever bem é obrigação do bom repórter. Foi uma das grandes lições que aprendi ao longo de minha carreira.
No entanto, parece que o comportamento na mídia mudou. O elogio e, especialmente, o auto-elogio fazem parte da política vigente, especialmente no diálogo com o público externo. Eu não sucumbo ao auto-elogio, especialmente quando ele é infundado, reincidente, despropositado, gratuito e desnecessário. Quando alguém faz isso é porque algo não está bem. Primeiro porque é melhor deixar que os outros falem da gente. Depois, porque enfraquece a capacidade dos profissionais de superarem as expectativas.
Prefiro os jornais que têm um ombudsman, profissional que está ali para dar voz a quem lê os periódicos. Dedica-se a receber, investigar e encaminhar as queixas dos leitores. Realiza a crítica interna do jornal e, uma vez por semana, produz uma coluna de comentários críticos sobre os meios de comunicação, sendo o jornal em que trabalha o alvo preferido. O maior exemplo deste comportamento é o jornal Folha de S.Paulo. Portanto, desconfie do auto-elogio, especialmente quando ele for feito de forma escancarada nas páginas dos jornais. Ou mesmo nos espaços de opinião das televisões e das rádios.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro colega, gostei muito de teu comentário. Mas faço uma pergunta que pode justificar teu pensamento: qual a idade média das redações atualmente? Sim, é inferior a 30 anos. Muitos recém saídos dos 20. Esta turma, meu companheiro, gosta de um elogio, mesmo que infundado, como dizes no artigo. E está na cara que os diretores que elogiam o jornal, as matérias e os artigos querem é manter o lugar. Será que os donos vêem isso?
Observadora

Anônimo disse...

Jorge, conheço muita gente que elogiou, puxou tanto o saco e logo em seguida recebeu um ponta-pé naquele lugar. Estava certa a tua editora. Quem faz uma bom trabalho não precisa de elogio. No máximo um incentivo, tipo "continua assim". Nunca algo como "você é o máximo, brilhante..."
Mas isso acontece em todas as profissões e não apenas no jornalismo. O diferente é que os caras do jornal se elogiam nas páginas do próprio. Beira o ridículo.