sábado, 3 de outubro de 2009

Jornalismo: a arte de renovar as novidades

Minha memória não é curta. Vai longe. Lembro, por exemplo, da primeira e subsequentes matérias que fiz sobre o galope do cavalo em direção aos grandes centros urbanos. Faz mais de uma década. Trabalhando na editoria de Campo & Lavoura do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, tratei do assunto em função do fascínio exercido pelo cavalo Crioulo no Rio Grande do Sul e em outros rincões deste Brasil. Boa parte dos animais estava saindo das estâncias do interior para ingressar em pequenos sítios pertencentes a profissionais liberais (médicos, advogados e engenheiros, entre outros) nas regiões metropolitanas das capitais. Até hotéis foram montados para receber os animais de quem ainda não tinha um pedaço de terra. Os leilões, realizados quase que semanalmente, transformaram-se em grande termômetro desta realidade.
Colegas de ZH e do Canal Rural também fizeram matérias semelhantes ao longo dos últimos anos. Recordo este fato ao receber newsletter de revista de circulação nacional, anunciando a capa da edição que está chegando às bancas. "Cavalo vira bom negócio" é a chamada de capa, e o texto das notícias em destaque diz o seguinte:

Mercado a galope
O cavalo está virando febre no Brasil. Saem das pistas os animais de vitrine e entram aqueles que deixam o suor na lida com o gado e em competições, atraindo a classe média urbana.

Novidade? Para mim e para colegas de ZH e do Canal Rural, não. Para os leitores e telespectadores destes - milhares - também não. O cavalo já era negócio antes da virada do século. Muitas vezes, o jornalismo funciona assim, sem que haja consulta ao leitor. Carentes de pautas diferenciadas, algumas redações renovam as novidades. No jargão jornalístico, requentam. A memória e a pesquisa vão para a lata do lixo. Ou, em uma linguagem mais atual, são deletadas...

Um comentário:

Gentil disse...

Jorge, sei do que vc fala. Não é novidade, sabes bem. Criar é mais difícil, o melhor é copiar e repetir pautas. Aliás, o teu jornal tem bém faz isso. Está faltando criatividade no jornalismo, meu amigo.