Oportuno artigo do estudante Jadilson Rodrigues (Salvador - BA) - publicado
originalmente no Observatório da Imprensa - sobre a pressa do jornalista
atual em repassar uma informação, o que elimina importantes etapas como
apuração e análise.
O jornalismo nosso de cada dia
No decorrer desses dias tão acelerados e com a velocidade cada vez
maior da produção de informações, nos perdemos e acabamos não as
passando pelo processo de análise e apropriação e, principalmente, a
compreensão da forma e com que intenções a informação é produzida e
veiculada nos meios de comunicação. Lembro-me do tempo em que os jornais
impressos possuíam matérias detalhadas nas quais, independentemente do
conteúdo e da intenção de quem a escreveu, enxergávamos que havia por
detrás uma pesquisa robusta para construção do texto, da informação que
seria passada ao leitor.
Esse tempo parece que ficou para trás...
Dia desses, na edição online da Folha de S.Paulo, lia na
coluna de Mônica Bergamo sobre um comediante que tinha sido processado e
condenado a pagar uma indenização por um comentário que fizera. O que
me surpreendeu foi o fato que a notícia era simples citação de uma
postagem do próprio comediante feita numa rede social.
Esse fato repetiu-se no fim de 2012 por duas vezes em outros portais de
notícias em que as matérias consistiam da veiculação de fotos postadas
em outra rede social: de uma jogadora de vôlei curtindo as férias (ver aqui) e de um jogador de futebol que estava retornando ao país para jogar num clube (aqui).
A essência da informação
Esses acontecimentos intercalaram-se com o meu acompanhamento do seriado The Newsroom, produzido pela HBO, ficção que mostra os bastidores do programa News Night,
exibido pela emissora a cabo de notícias Atlantis Cable News (ACN),
comandado por Will McAvoy (Jeff Daniels) e pela produtora executiva
Mackenzie McHale (Emily Mortimer).
O noticiário cita vários casos verídicos e recentes acontecidos nos EUA
e no mundo, quando o âncora e sua equipe tentam colocá-los no ar, mesmo
enfrentando vários obstáculos pessoais, comerciais e corporativos. Nos
bastidores do noticiário podemos observar a busca pela informação para
produzir outra, que seja robusta e que faça com que quem a está
recebendo tenha substância para formar seu próprio juízo de valor sobre
os fatos.
A série The Newsroom e as notícias produzidas nos jornais,
principalmente nas suas edições online, geram um questionamento: é tão
fácil produzir um conteúdo de cunho jornalístico ou a capacidade de
nossos produtores de informação liquefez-se ao sabor das facilidades da
internet? Podemos considerar uma informação que tenha valor jornalístico
um print dado em um perfil nas redes sociais de alguma “celebridade” e veiculado no portal de notícias?
Uma rápida comparação entre o processo de produção da informação na redação do fictício noticiário de The Newsroom
e os métodos utilizados por portais jornalísticos nos faz pensar que o
tempo acelerado que roda o nosso dia fez o jornalismo perder muito, ao
deixar de lado seu princípio investigativo para veicular a informação em
primeiro lugar, fragmentando-a e pasteurizando-a, custando à informação
a perda da sua essência: a capacidade de nos oferecer pontos de vista e
substância para formação de opinião.
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