Depoimento de Rosina Duarte, amiga consciente que não aceita as adjetivações que estão sendo distribuídas. É cabelo branco,
como eu, e revolucionária.
"Ando de ônibus e fui na passeata contra o
aumento das passagens, na última segunda-feira. Não vi vândalos,
vagabundos ou depredadores. Só jovens defendendo o direito de toda uma
população que é carregada como gado e, na maioria das vezes, reage como
ovelha. Eu, inclusive. E pior: paga R$ 6,10 por dia.
Violentos, eles? Violência é esperar mais de hora por um ônibus na parada, é quebrar uma costela porque
o veículo estava tão cheio que os passageiros não conseguiam chegar à
porta e arrastavam quem estava no caminho como um tsunami humano.
Violência é o ônibus andar antes da pessoa pisar no chão e seguir viagem
deixando a criatura de pé quebrado estirada no meio da rua. Violência é
apertar uma grávida contra um banco a ponto da criança virar dentro da
barriga e sair da posição de parto.
Por isso, senti vergonha quando
um menino possivelmente mais moço do que meu filho, se aproximou de
mim, enquanto eu gritava:"Recua, polícia, recua. É o poder popular que
está na rua". Não sei como era seu rosto, porque estava meio coberto por
um chale palestino. Mas era magrelinha, levava um crisântemo amarelo na
mão e seus olhos claros sorriam quando me disse: "Aprendemos com
vocês". Custei um pouco a compreender que se referia a minha idade, a
minha geração. Só que não havia muitos da minha geração caminhando com
ele e comigo.
Então, menino dos olhos claros, se aprendeste alguma
coisa conosco, acho que está na hora de reaprendermos com vocês.
Portanto convoco todos os de cabelos brancos ou pintados para a passeata
de quinta-feira com o grito de guerra da gurizada: Vem pá luta vem,
contra o aumento!"
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