sábado, 5 de dezembro de 2009

DCE da UFRGS: neutralidade em xeque

Miguel Idiart Gomes (*).

Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, neutro é quem não toma partido nem a favor nem contra, numa discussão, contenda, etc. Que julga sem paixão; imparcial, neutral. Não distintamente marcado ou colorido. Indefinido, vago, distinto, indeterminado. Que se mostra indiferente, insensível.
A neutralidade pressupõe, do ponto de vista científico, o não envolvimento do cientista com o objeto de sua ciência. Isto porque, em qualquer atividade do conhecimento humano haverá sempre, no mínimo, uma escolha, nem que seja no que diz respeito ao próprio objeto de pesquisa.
Desta forma, quem exige e impõe uma neutralidade, ao contrário do que se pensa, não está de forma alguma sendo neutro, pois aquele que propuser a neutralidade acaba tomando uma posição. No cotidiano, as nossas decisões são baseadas na experiência de vida, nascemos e somos criados a partir de uma cultura, de hábitos, de crenças, de paixões ideológicas e assim por diante.

Toda atividade política tem lado, principalmente no parlamento, nos sindicatos, no movimento estudantil, nas associações de moradores, etc.
Nas ultimas eleições do DCE da UFRGS, quatro eram as chapas que disputavam a entidade, três delas consideradas de esquerda e outra, de direita. A soma de votos das três chapas de esquerda ultrapassou a da eleita, mas como não existe segundo turno a chapa vencedora foi a da direita. Não cabe aqui uma avaliação do processo, mas chamar a atenção para quem vai comandar a entidade daqui para a frente.
É necessário resgatar que a UFRGS é pública e tem na sua história o registro de enfrentamento e resistência ao regime militar, reforma MEC/USAID, sustentado na época também pela Arena, que mudou para PDS, depois para PPB e atualmente PP.

É verdade que há anos a esquerda estava na entidade e muito contribuiu para a sociedade, participou nos movimentos Fora Collor, FHC, Britto e Yeda.
Vale lembrar que esse grupo eleito está comprometido com as elites. São oriundos do movimento anti-cotistas da universidade, período em que apareceu a pichação em frente ao curso de Direito com a frase: “Negro só se for na Cozinha do R.U., cotas não!”.
O discurso de que o partido do DCE são os estudantes e ações populistas como a diminuição do preço da carteirinha escolar, ou de realizar convênios com empresas privadas, demonstra o lado da neutralidade, escondendo os verdadeiros “interesses” em jogo.
Afinal de contas, não seria sincero declarar aos estudantes de que lado realmente o DCE da UFRGS está?


(*) Ex-presidente reeleito do Grêmio Estudantil do Julinho, ex-vice-sul da UBES, ex-presidente reeleito do CASTA PUCRS.

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