quinta-feira, 4 de abril de 2013

História de uma conquista




Tenho tantas história de amor com o Internacional. Neste dia em que o clube completa 104 anos, vou contar uma. O 12 de dezembro de 1976 marcou a final do campeonato brasileiro, com o Internacional enfrentando o Corinthians em um Beira-Rio completamente lotado. Se ganhasse, o colorado seria bicampeão. Este era o problema. Durante a semana, na empresa em que trabalhava (Amrigs), o colega Zé Carlos chegou ao pé do meu ouvido e confessou:
- Acho que vamos perder. Não cumpri a minha promessa.
- Opa, que promessa é esta, cara? – questionei, assustado.
- No ano passado, quando ganhamos o primeiro título, prometi que iria a pé de Porto Alegre ao santuário do Padre Reus, em São Leopoldo – esclareceu.
Aparício, que escutava na espreita, não teve dúvida:
- Então vamos, tchê!
O problema é que trabalhávamos durante toda a semana e o jogo era domingo. Restava o sábado. Nos entreolhamos e concordamos que iríamos percorrer os 38 quilômetros até o santuário. No dia marcado, pegamos um ônibus na Praça Parobé e fomos até o Monumento ao Laçador, ponto de partida da marcha pela vitória. No início, os passos foram céleres, pois a temperatura era amena. Nos próximos minutos e horas seguintes, esquentou e fomos diminuindo o ritmo. Por volta das 11h, o Aparício cravou o olho num bar e sugeriu:
- Vamos iniciar os trabalhos?
Todo mundo estava pensando na cerveja gelada, para amenizar o calor. Não lembro quantas foram, mas sei que, durante o trajeto, descansamos novamente em bares da rodovia para molhar a garganta com Antarctica e Brahma – as duas preferidas da época. Entre caminhadas e paradas, chegamos ao santuário por volta das 18 horas. Estávamos completamente extenuados e encharcados (de ceva). Rezamos bastante e, com certeza, o Padre Reus nos perdoou.
Obviamente, não voltaríamos a pé para Porto Alegre. Malandro, Zé Carlos não tinha colocado esta possibilidade na promessa. De volta a casa, fui direto para o banho e para a cama porque, no outro dia, era hora de decisão. Foi difícil, em função do cansaço e da bebedeira, mas nos encontramos no estádio às 10 horas. O Beira-Rio estava apinhado de colorados e, incrivelmente, de uma massa de corintianos.
Sabíamos que a promessa garantia a vitória. E assim foi. Aos 29 minutos do primeiro tempo, Dario saltou alto para cabecear e abrir o placar. Na etapa final, aos 12 minutos, Valdomiro cobrou uma falta, a bola bateu no travessão e cruzou a linha do gol. O árbitro José Roberto Wright, apoiado na informação do assistente Luiz Carlos Félix, validou o gol para a explosão vermelha no Beira-Rio: 2 a 0. Os corintianos fizeram de tudo para estragar nossa festa. Torcedores ameaçaram invadir o estádio e o time queria abandonar o campo. Puro desespero. A segunda estrela estava garantida em função da campanha maravilhosa: 19 vitórias, três derrotas e um empate. E também por causa da promessa cumprida no dia anterior. Não contei quantas cevas tomamos neste dia. Mas equivaleu ao volume do dia anterior. O Inter mereceu.

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